Significado de Juízes 2

Juízes 2

Juízes 2 continua a narrativa das falhas dos israelitas em seguir fielmente ao Senhor após a morte de Josué e fornece uma visão geral do ciclo de desobediência, opressão, arrependimento e libertação que se repete ao longo do livro. O capítulo serve como uma introdução temática aos eventos que se desenrolam nos capítulos subsequentes. Aqui está um resumo dos principais pontos:

1. O Anjo do Senhor em Boquim (Juízes 2:1-5):
  • Um anjo do Senhor sobe de Gilgal a Boquim e repreende os israelitas por não cumprirem a aliança de Deus, ao não destruir os altares dos cananeus e fazer tratados com eles.
  • O anjo anuncia que, por causa de sua desobediência, Deus não expulsará mais os cananeus, que serão espinhos nos lados dos israelitas e seus deuses serão uma armadilha.
  • Os israelitas choram e oferecem sacrifícios ao Senhor em Boquim, reconhecendo seu pecado.

2. A Morte de Josué e a Geração Desobediente (Juízes 2:6-10):
  • A narrativa volta para o período da morte de Josué. Josué havia despedido o povo, e os israelitas foram tomar posse da terra, servindo ao Senhor enquanto Josué e os anciãos que o sobreviveram estavam vivos.
  • Após a morte de Josué, uma nova geração surge que não conhecia ao Senhor nem as obras que Ele havia feito por Israel, resultando em desobediência.

3. O Ciclo de Desobediência e Opressão (Juízes 2:11-15):
  • Os israelitas fazem o que é mau aos olhos do Senhor, servindo a Baal e os deuses cananeus, abandonando o Senhor, o Deus de seus pais.
  • A ira do Senhor se acende contra Israel, e Ele os entrega nas mãos de saqueadores e inimigos ao redor. Os israelitas são incapazes de resistir a seus adversários.
  • Sempre que saem à batalha, a mão do Senhor está contra eles para seu mal, conforme Ele havia jurado, trazendo grande aflição.

4. Juízes Levantados pelo Senhor (Juízes 2:16-19):
  • O Senhor, em sua misericórdia, levanta juízes para livrar os israelitas das mãos dos saqueadores.
  • Contudo, eles não obedecem aos juízes, mas se prostituem seguindo outros deuses, desviando-se rapidamente do caminho que seus pais seguiram.
  • Sempre que o Senhor levantava um juiz, Ele estava com o juiz e os livrava das mãos dos inimigos enquanto o juiz vivia, pois se compadecia do sofrimento deles.
  • Após a morte do juiz, o povo voltava a corromper-se ainda mais que seus pais, seguindo outros deuses, servindo-os e adorando-os, persistindo em seu comportamento obstinado e perverso.

5. Consequências da Desobediência (Juízes 2:20-23):
  • A ira do Senhor se acende contra Israel novamente, e Ele declara que, por terem violado Sua aliança e desobedecido a Seus mandamentos, Ele não expulsará mais nenhuma das nações que Josué deixou quando morreu.
  • Essas nações são deixadas para testar Israel, para ver se obedecem aos caminhos do Senhor como seus antepassados fizeram.
  • O Senhor decide não expulsar imediatamente as nações, nem as entregar nas mãos de Josué, mas deixá-las para testar Israel.

Este capítulo ilustra a infidelidade contínua dos israelitas a Deus e estabelece o padrão cíclico que caracteriza o livro de Juízes: desobediência a Deus, opressão pelos inimigos, clamor a Deus, e a subsequente libertação por meio dos juízes. Ele destaca a paciência e a misericórdia de Deus, apesar da persistente rebeldia do povo, e a necessidade de fidelidade à aliança com o Senhor.

Comentário de Juízes 2

Juízes 2.1 O Anjo do Senhor aparece como o representante de Deus na terra, falando ao povo com autoridade acerca da desobediência da aliança. Tal Anjo surge várias vezes em outras passagens em Juízes (Jz 2.1,4; 5.23; 6.11-22; 13.3-21). Em cada caso, o Anjo faz uma súbita aparição como o mensageiro do Altíssimo. Em todas as situações, Yahweh e seu Anjo aparentam estar estreitamente identificados um com o outro, como em Juízes 6, quando o Anjo se alterna com o próprio Yahweh na conversa com Gideão, e em Juízes 13, capítulo no qual, na percepção de Manoá, no momento em que viram o Anjo, ele e a mulher viram o próprio Deus. Gilgal foi o lugar onde Israel acampou pela primeira vez a oeste do Jordão (Js 4.19). Boquim localizava-se, possivelmente, perto de Betei. Do Egito vos fiz subir (cf. Êx 23.20-23). O Anjo remetia-se a toda nação.

Juízes 2.2-5 Não fareis concerto. As instruções de Deus de não fazer acordo com as nações pagãs e destruir seus altares são encontradas em Êxodo 23.32 e 34-13, bem como em Deuteronômio 12.3. Neste contexto, Juízes 2.1, 2 contêm uma série de comandos dados por Deus a Israel sob a liderança de Moisés. Entretanto, a desobediência do povo significava que as nações cananeias seriam como uma armadilha para os israelitas, exatamente como o Senhor havia avisado (Êx 23.33; Nm 33.55; Js 23.13). Um exemplo de ritual pagão que enredou Israel é dado em Juízes 8.27.

Juízes 2.6 —3.6 Esta seção constitui uma segunda introdução ao livro depois do prólogo em Juízes 1.1—2.5. Ela ilustra os conflitos políticos e espirituais do período e trabalha em cima do colapso moral apresentado no capítulo 1. O recorrente padrão, mostrado em Juízes 2.16-23, deve-se muito à desobediência crônica encontrada no capítulo 1. Cada vez que a nação era negligente, era mais oprimida por seus inimigos. A seção final (Jz 3.1-6) enfatiza os propósitos de Deus no teste a Israel (Jz 2.22; 3.1,4).

Juízes 2.6-10 O autor identifica a morte de Josué como o ponto inicial da instalação dos problemas. Esta passagem reflete estreitamente Josué 24-28-30, até mesmo palavra por palavra em alguns lugares, o que indica que o parágrafo adequado, quebrado aqui, deveria estar entre os versículos 5 e 6. A morte de Josué é mencionada no verso 8, embora, de acordo com Juízes 1.1, está já teria acontecido. A construção gramatical em Juízes 1.1 é bastante comum, e fica claro que os acontecimentos do capítulo 1 são eventos que se seguiram à morte de Josué. Provavelmente, a referência a este acontecimento em Juízes 1.1 é adequada, e a passagem seguinte foi inserida pelo autor fora da sequência. E como se fosse um flashback que conduz à segunda mais importante seção do livro (Jz 2.6—3.6). Sua semelhança com Josué 24.28-30 tem o propósito de ligar a era deste líder com a da próxima geração.

Juízes 2.10 Outra geração após eles se levantou, que não conhecia o Senhor. O clima pacífico que caracterizou o fim do livro de Josué deu lugar a um futuro nefasto. A expressão não conhecia o Senhor significava que as pessoas, deliberadamente, recusaram- se a reconhecer a autoridade divina. Elas não eram apenas ignorantes, mas também descrentes.

Juízes 2.11, 12 Então, fizeram os filhos de Israel o que parecia mal aos olhos do Senhor. Esta é uma declaração também encontrada em Juízes 3.7,12; 4-1; 6.1; 10.6; 13.1 e em 1 e 2 Reis. Israel dispersar- se-ia frequentemente do Senhor. Apenas a compaixão divina e a liderança de uns poucos homens e mulheres devotos poupariam a nação da corrupção completa. Sobre a expressão serviram aos baalins, leia o comentário em Juízes 3.7.

Juízes 2.13 Este versículo é quase idêntico à segunda metade de Juízes 3.7. Astarote (Astarte) era uma deusa da fertilidade, do amor e da guerra associada estreitamente a Baal (Jz 10.6; 1 Sm7.4; 12.10). Ela não é muito mencionada nos textos cananeus, mas aparece sob o nome de Ishtar nos manuscritos mesopotâmicos, os quais fazem menção aos santuários locais desta disseminada cultura (Jz 3.7).

Juízes 2.14 A ira do Senhor se acendeu. Quando a ira de Deus queimava contra os israelitas, seu padrão de julgamento era entregá-los nas mãos dos inimigos.

Juízes 2.15 Como o Senhor tinha dito. Faz referência às promessas do Senhor de entregar Israel nas mãos de seus adversários, caso a nação o abandonasse (Dt 28.25; Js 23.13).

Juízes 2.16 E levantou o Senhor juízes. Normalmente, os juízes de Israel não julgavam, não ouviam as reclamações nem tomavam decisões legais (exceto Débora — Jz 4-4,5). Contudo, eram líderes políticos que libertavam Israel da ameaça ou opressão estrangeira. Não obstante, a mensagem transmitida é a de que Deus, e somente Ele, é o verdadeiro Juiz de seu povo (Jz 11.27), concede bênção e dá punições.

Seis dos juízes (Sangar, Tola, Jair, Ibsã, Elom e Abdom) são conhecidos como juízes menores por causa dos poucos detalhes registrados sobre eles nesta narrativa. Os juízes maiores — Otniel [Otoniel, na nvi] , Eúde, Débora, Gideão, Jefté e Sansão — são diferenciados por sua coragem militar ou seus feitos heróicos. Muitos estudiosos sugeriram que estes resgataram Israel de seus inimigos, enquanto aqueles trabalharam na corte como magistrados. Entretanto, esse conceito está equivocado. Por exemplo, dois juízes menores, Sangar (Jz 3.31) e Tola (Jz 10.1,2), foram claramente heróis militares. Débora, uma juíza maior, era uma líder de guerra, mas também resolvia disputas entre os israelitas.

Juízes 2.17 Antes, se prostituíram. Esta é uma forte e familiar metáfora usada para descrever a traição de Israel em relação a Deus. Ezequiel [Ez 23.3] e Oseias [Os 1.2], em particular, usaram esta comparação para descrever a infidelidade israelita.

Juízes 2.18 O verbo hebraico [nacham] traduzido por se arrependia é traduzido em outros contextos no sentido de apiedar-se (1 Sm 15.29; Jn 3.10). Aqui, a ideia é a de que Deus mudou seu curso (isto é, teve misericórdia) por causa de Sua compaixão pelos israelitas sofredores (Jz 10.16).

Juízes 2.19 A expressão seus pais faz referência à geração precedente, enquanto no verso 17, país alude à época de Josué.

Juízes 2.20 Este povo [esta nação, na NTLH]. Os escritores hebraicos raramente usavam a palavra nação para fazer alusão a Israel. A expressão, neste contexto, possui uma conotação desdenhosa. Geralmente, o termo (hb. gôy) é utilizado para designar os vizinhos de Israel, enquanto Israel em si é chamado de o povo. A escolha pelo substantivo nação reflete a distância entre Deus e os israelitas.

Juízes 2.21-23 Tampouco desapossarei mais [...] nenhuma das nações. Isso cumpria uma promessa que Deus fizera aos israelitas por intermédio de Josué (Jz 2.15,23).

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