Significado de Rute 4
Rute 4
Em Rute 4, a narrativa atinge seu clímax com a resolução dos vários enredos da história. Boaz toma medidas deliberadas para garantir seu papel como parente redentor de Rute e marido em potencial. Ele se envolve em uma transação legal no portão da cidade, onde negocia com um parente mais próximo que inicialmente tinha o direito de resgatar a propriedade de Noemi e se casar com Rute. Quando esse parente declina devido a preocupações de comprometer sua própria herança, Boaz assume publicamente o papel de parente redentor e anuncia sua intenção de se casar com Rute.Por meio desse ato, Boaz não apenas cumpre seu dever para com a família de Noemi, mas também incorpora os temas de lealdade, redenção e amor que foram tecidos ao longo da narrativa. O capítulo termina com o nascimento de um filho de Rute e Boaz, chamado Obede. Este evento significativo traz grande alegria a Noemi e destaca a conexão entre Rute, Boaz e a linhagem do rei Davi. Rute 4 encapsula lindamente temas de redenção, lealdade e providência de Deus, demonstrando como escolhas e circunstâncias individuais podem se tornar parte de um plano maior que impacta as gerações futuras. Em última análise, o capítulo destaca o poder do compromisso fiel e a maneira pela qual Deus orquestra vidas para Seus propósitos, levando a bênçãos e a um legado que se estende além da história imediata.
Significado
4.1, 2 Negócios comerciais e legais tipicamente aconteciam às portas da cidade. Então, era natural Boaz falar com o outro remidor mais próximo naquele local, na presença dos anciãos da comunidade, para fins de julgamento público.4.3, 5, 9 Uma das atribuições do remidor era resgatar as propriedades que tivessem sido vendidas da família devido à pobreza. O verbo vendeu aqui poderia ter sido melhor traduzido como prestes a vender. O versículo 5 indica que a suposta venda estaria ainda por acontecer, e o versículo 9 declara que Boaz comprou a terra de Noemi. Portanto, devemos concluir que, provavelmente, Noemi estava prestes a vender as terras de Elimeleque. O uso desse tempo verbal em hebraico descreve uma ação em processo de conclusão. Em Jeremias, fica subentendido que os membros da família tinham o direito de comprar as terras de seus parentes antes de elas serem vendidas a alguém de fora da família (Jr 32.6-12). Esta, provavelmente, é a situação descrita aqui.
4.4 Boaz ofereceu a terra que fora de Elimeleque ao parente mais próximo primeiro. Este homem, inicialmente, concordou em comprá-la. A Lei garantia que a terra ficasse dentro da família, mesmo que tivesse de ser vendida temporariamente, devido à pobreza. O vendedor ou um parente mais próximo poderia resgatá-la depois. Se nenhuma dessas alternativas fossem cabíveis, a terra seria devolvida à família de origem no Ano do Jubileu. As terras não eram vendidas permanentemente, porque, em última instância, pertenciam a Deus (Lv 25.23).
4.5 A frase para suscitar o nome do falecido sobre a sua herdade deixa claro que o parente mais próximo precisava, além de resgatar a terra, assumir Rute como sua esposa, em obediência à lei do levirato, para prover um herdeiro ao parente falecido. Aqui, o parente falecido era Malom, marido de Rute (Rt 4.10). Gerar um filho de Malom asseguraria a linhagem deste e de Elimeleque, o patriarca da família.
4.6 Quando o remidor descobriu que teria de casar com Rute, recusou o seu direito de remissão, porque sua própria herdade poderia ser arruinada. Aparentemente, ele não queria a dupla responsabilidade de comprar a terra e sustentar Rute e Noemi. Inclusive, não queria que as suas terras fossem herdadas pelo filho de Rute e não pelos membros da sua própria família.
4.7, 8 O ato de descalçar o sapato e dá-lo ao seii próximo selava uma transação comercial no antigo Israel (Dt 25.8-10). Atualmente, isso corresponderia à assinatura de um contrato. Ao descalçar e entregar seu sapato a outrem, o remidor estava, simbolicamente, abdicando de seu direito sobre a terra e de seu dever de suscitar um herdeiro para o falecido.
4.9 Sois, hoje, testemunhas de que tomei tudo quanto foi de Elimeleque, e de Quiliom, e de Malom da mão de Noemi. As testemunhas que estavam às portas da cidade tiveram uma participação significativa na validação da transação. Quiliom e Malom, os filhos de Elimeleque, teriam sido os herdeiros das terras do seu pai, se não tivessem morrido. No entanto, como isto ocorreu, a terra foi comprada da mão de Noemi, a viúva de Elimeleque.
4.10 Além de resgatar as terras, Boaz resgatou Rute, ao tomá-la como sua esposa. Ao contrário do que aconteceu com as terras, Rute não foi comprada por dinheiro. Boaz, voluntariamente, escolheu ser o seu redentor. Ele era um parente de Elimeleque e tinha condições financeiras para assumir as responsabilidades de um resgate. Neste versículo, um detalhe que fora omitido no capítulo 1 é acrescido: o fato de Rute ter sido esposa de Malom.
4.11 O povo que estava à porta e os anciãos confirmaram o procedimento legal de negociação com a seguinte resposta: somos testemunhas. Então a multidão deu a Rute uma notável bênção, pedindo ao Senhor que fizesse dela o mesmo que fez a Raquel e a Léia [tornou-as férteis e mulheres sábias], que edificaram a casa de Israel (Gn 35.23-26). Embora Rute fosse uma moabita, foi total e calorosamente aceita pelos filhos de Israel. A Lei de Moisés exigia a exclusão dos moabitas da congregação de Israel por dez gerações (Dt 1.4).
Nesse caso excepcional, vemos um bonito exemplo do espírito da Lei sendo mantido. Tanto o amor leal de Rute como o de Deus são demonstrados nessa história. Rute, lealmente, amou Noemi, deixando sua terra natal e servindo à sua sogra mesmo na pior das circunstâncias. Em retribuição, Deus recompensou Rute estendendo o Seu amor leal a ela também. Ele deu a essa estrangeira um homem fiel e digno como marido, aceitou-a como uma de Suas filhas e deu a ela um filho que seria um ancestral do rei Davi e, por conseguinte, de Jesus (Rt 4.13,22).
4.12 O livro de Rute está repleto de alusões ao Pentateuco. Aqui, o nome de Tamar se refere à outra história em que o espírito da Lei é aludido (Gn 38). Certamente, o comportamento de Tamar normalmente não seria aprovado. Ela estava desesperada porque os irmãos do seu marido não queriam assumir a responsabilidade para com ela, mas, no final, Judá a considerou mais reta do que ele mesmo (Gn 38.26). Mesmo na situação deplorável em que Tamar se encontrava, o Deus de misericórdia a abençoou com um filho, e esse filho, Perez, foi um ancestral do rei Davi (Rt 4-18). Mais uma mulher teve uma experiência extremamente parecida com a de Rute: Raabe, a mãe de Boaz (Mt 1.5). Como Rute: Raabe era uma mulher gentia. Ainda assim, Deus estendeu Seu amor leal a ela, devido à sua fé nele, e o nome dela consta na linhagem messiânica.
4.13 O Senhor concedeu a Rute o dom da maternidade. Filhos são herança do Senhor. Ele os conhece quando ainda são substancia informe no útero da mãe (SI 139.13).
4.14, 15 Aqui o remidor, cujo nome seria afamado em Israel, não é Boaz, mas o descendente de Rute [uma possível alusão ao Messias]. As mulheres louvaram o Senhor por Sua provisão a Noemi. Elas abençoaram o menino, pedindo a Deus que sua fama se espalhasse por todo o Israel e que ele confortasse Noemi e provesse sustento a ela em sua velhice. Com o nascimento dessa criança, a escassez de Noemi foi substituída por abundância. Filhos são considerados uma grande recompensa, então, o fato de as mulheres declararem que Rute era melhor para Noemi do que sete filhos foi um grande elogio a Rute.
4.16, 17 O tema da abundância continua predominando, pois as vizinhas declararam que uma criança havia nascido para provisão e alegria de Noemi. O nome da criança era Obede, que significa aquele que serve. O autor desse livro finalmente revela como Rute se tornou parte da linhagem real de Davi e, portanto, da linhagem messiânica (Mt 1.5). Sua inclusão nessa genealogia representa outra bela ilustração do amor fiel (hb. hesed) de Yahweh e Seu comprometimento em incluir os gentios na Sua aliança.
4.18-22 A história é concluída com a alusão à genealogia de Davi, começando por Perez, o filho de Judá e Tamar. Essa genealogia pode ter sido adicionada ao livro muito depois de o registro original ter sido concluído; porém, provavelmente, o livro, como um todo, foi composto em uma data posterior aos eventos descritos. A genealogia de Davi não é apenas um apêndice; é um elemento essencial que demonstra o propósito do autor e o propósito do Senhor na linhagem do rei Davi e do Messias. A história do resgate de uma mulher estrangeira aponta para a grande redenção que seria feita por Jesus de todos que nele creem.