Significado do Livro de Eclesiastes

Significado do Livro de Eclesiastes


O livro de Eclesiastes é um dos mais incompreendidos da Bíblia. Os cristãos têm demonstrado a tendência de ignorar sua mensagem ou de vê-la como o testemunho de um homem que vive longe de Deus. É triste que se pense isso, porque o autor faz perguntas importantes e instigantes sobre o sentido da vida e declara a total inutilidade da existência se vivida longe do Senhor. Como toda a Bíblia, o livro de Eclesiastes beneficia e edifica os cristãos. Neste estudo, preparamos um comentário capítulo por capítulo com o significado do livro de Eclesiastes:

Eclesiastes é o livro da Bíblia que apresenta maior dificuldade de entendimento, tanto em termos de sua estrutura quanto de sua teologia. As afirmações aparentemente não ortodoxas e pessimistas encontradas no livro lhe renderam o rótulo de “ovelha negra da Bíblia”. Sua inclusão no cânon das Sagradas Escrituras tem sido tratada com grande suspeita. A interpretação do livro também tem sido controvertida. Muitos comentaristas consideram Eclesiastes produto do trabalho de dois, três e até mesmo nove escritores ou editores. Por exemplo, alguns dizem que certas seções foram escritas por Qohelet, outras por um Homem Piedoso, e outras, ainda, por um Homem Sábio. Esses estudiosos argumentam que Qohelet (o termo hebraico), ou o Pregador ou o Mestre nas versões em português, foi o escritor original responsável pelas insinuações rebeldes e pessimistas do livro. 

O Homem Piedoso teria acrescentado suas interpolações ortodoxas para contrapor-se às noções não ortodoxas de Qohelet. Finalmente, sendo fiel a sua tradição, o Homem Sábio teria salpicado o livro com os provérbios e as máximas que ali encontramos. Outros estudiosos acreditam que houve apenas um autor. Este comentário se inicia com a pressuposição de que, apesar das aparências, o livro vem das mãos de Qohelet, sendo, portanto, uma com posição unificada. Qohelet é identificado com Salomão, que é apresentado com o autor do livro (1:1 ,1 2 ). No entanto, mesmo entre os estudiosos que adotam essa posição, há grande variedade de opiniões no que concerne ao tem a do livro ou à ênfase principal de sua mensagem. Muitas dessas divergências ocorrem quando se focalizam certas passagens, em vez de considerar o livro com o um todo. Michel A. Eaton afirmou: “A procura por um relato convincente sobre o propósito ou tema de Eclesiastes deve começar com a aceitação da integridade textual do livro como nós o temos” (TOT). Esse processo deveria ser tão natural quanto apanhar qualquer livro e tentar descobrir o que o autor deseja dizer aos seus leitores. Onde procuramos por indícios sobre sua mensagem? Um prefácio, onde o autor explicita aquilo que planeja apresentar no restante do trabalho, é sempre útil. N um livro bem organizado, a conclusão normalmente apresenta um resumo do que o autor tentou comunicar a seus leitores. E, ao lermos o livro, aquilo que ocorre com frequência, com o um refrão num cântico, certam ente também será útil para a identificação da mensagem. Aplicando essas técnicas de investigação ao Eclesiastes, descobrimos vários indícios que nos ajudam a revelar o propósito do autor ao escrevê-lo. No prefácio, imediatamente após o versículo-título (1:1), o Pregador faz a seguinte declaração espantosa: “Vaidade de vaidades [...] tudo é vaidade” (1 :2). Essas palavras são repetidas em 12:8, no final do livro. 

Esses dois versículos formam, portanto, o que os estudiosos chamam de inclusio, significando que a seção do livro contida entre essas duas afirmações — isto é, o livro todo, com exceção apenas do versículo-título e da conclusão (12:9-14), deve ser entendida à luz desse refrão. Referências à vaidade da vida deste lado da eternidade ocorrem cerca de quarenta vezes ao longo do livro. Esse, no entanto, não é o único refrão repetido. Outras expressões recorrentes são “debaixo do sol” (ao lado de outra semelhante, embora menos frequente: “debaixo do céu’’), “correr atrás do vento”, afirmações que se referem a trabalho ou labor, à experiência ou observação do escritor (vi, tenho visto, entendi, considerei, apliquei, disse comigo, tudo isto vi), “comer e beber”, “grave mal”, perguntas com o “quem sabe que proveito tem o homem?”, ou “quem pode dizer?” e frases relacionadas ao tempo, ao acaso e ao temor a Deus. Chegam os, afinal, à conclusão que mencionamos anteriormente, embora alguns prefiram falar de uma conclusão dupla, ou de duas conclusões (12:9-12 e 12:1 3-14). Para o propósito deste comentário, adotarei uma divisão quíntupla, semelhante àquela que tem sido usada por muitos outros. Essa divisão respeita a integridade do texto e parece seguir os indícios mencionados nos parágrafos anteriores.