Escatologia do Evangelho de Marcos
Como Paulo e a comunidade em Qumran, o autor de Marcos acreditava que as promessas das Escrituras (nosso AT) estavam sendo cumpridas em e por sua comunidade de crentes. Marcos começa com a proclamação de que uma antiga profecia tinha sido cumprida na missão de João Batista, que preparou o caminho para a obra de Jesus. A mensagem de Jesus é apresentada como escatológica; o reino de Deus está perto (1.14-15). A atividade de Jesus, na qual os exorcismos exerceram um papel importante, é apresentada como um conflito cósmico e escatológico com Satanás e seus aliados demoníacos, os poderes do mal (J. M. Robinson, The Problem of History in Mark [SBT 21; London, 1957]). Um título importante de Cristo em Marcos é Filho do Homem. A origem e desenvolvimento deste título é um dos problemas mais debatidos nos estudos do NT (Jesus, 78:38-41). Em Marcos, o papel de Jesus como Filho do Homem possui três fases: (1) sua atividade na terra antes da paixão (2,10.28); (2) o sofrimento e morte do Filho do Homem que haveria de ressuscitar (8,31;9,9.12.31; 10,33.45; 14,21.41); (3) o exaltado Filho do Homem que retornaria nas nuvens e exerceria julgamento (8,38; 13,26; 14,62). A esperança escatológica de Marcos concentra-se na vinda do Filho do Homem. A morte de Cristo, em Marcos, é um acontecimento escatológico, porque ela torna possível a libertação da humanidade do poder de Satanás (10,45). A ressurreição não é em si o ponto principal; ela demonstra a eficácia da morte de Jesus, sua vindicação, e é um sinal da salvação vindoura dos crentes (8,34-35). Mas se o Evangelho terminou em 16,8, como parece provável (Marcos, 41:108), a ressurreição de Jesus não é o cumprimento de modo significativo da esperança escatológica. Ela é a preparação para a segunda vinda, um acontecimento para o qual Marcos expressa uma expectativa iminente (9,1; 13,24-37).
FONTE: Comentário Bíblico São Jerônimo do Novo Testamento, p. 1541