Interpretação de João 15

João 15

Em João 15, Jesus usa a metáfora da videira e dos ramos para ilustrar a importância de permanecer nele. Ele enfatiza que ele é a videira verdadeira e que seus seguidores são os ramos. Para dar frutos e experimentar o crescimento espiritual, eles devem permanecer ligados a ele através da fé e da obediência. Jesus também ensina sobre o significado do amor e da obediência, declarando que seus seguidores são seus amigos se fizerem o que ele ordena. Ele prenuncia a hostilidade do mundo para com eles, mas assegura-lhes que o Espírito Santo virá para capacitá-los e guiá-los. O capítulo sublinha a importância de um relacionamento próximo e duradouro com Jesus e do chamado para dar frutos através do amor e da obediência.

Interpretação

No capítulo 15 percebemos as seguintes linhas de pensamento: produção de frutos através da permanência em Cristo (vs. 1-11); o amor como fruto supremo (vs. 12 -17); o ódio do mundo pelos discípulos, como também por Cristo (vs. 18-25); o testemunho divino e humano de Cristo (vs. 25-27).

15:1. Eu sou a videira verdadeira. Provavelmente houve intenção de se estabelecer um contraste com Israel, a vinha plantada por Deus que provou ser estéril (Is. 5:1-7). Verdadeira. Tudo o que uma videira deveria ser no sentido espiritual. Cristo não é simplesmente a raiz ou o tronco, mas toda a planta. Incluído nEle está o Seu povo. Agricultor. Ambos, proprietário e tratador.

15:2. Todo ramo que, estando em mim. Estar em Cristo é um fato espiritual de importância incalculável. Não der fruto. Não é um seguidor presuntivo. Assim como a planta possui brotos que sorvem a seiva mas nada lhe acrescentam, precisando por isso serem cortados, da mesma maneira um filho de Deus, estéril, que insiste em fazer a sua própria vontade deve aguardar ser posto de lado. A mão disciplinadora de Deus pode até remover tal pessoa através da morte. Limpa. Isto se aplica ao ramo que dá fruto. Ele é mantido limpo de qualquer tendência para a apatia ou de mero crescimento sem produção de frutos. O objetivo é mais fruto.

15:3. Já estais limpos (literalmente, por causa da) pela palavra. Separados dos outros, tendo recebido a revelação de Deus em Cristo.

15:4. Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Isto faz lembrar 14:20, Mas ali o pensamento se relaciona com a posição; aqui se relaciona com a vontade, a decisão de depender conscientemente de Cristo como a condição de produção e fruto. A resposta de cristo é uma manifestação interior – eu... vós. Um ramo destacado da videira é necessariamente estéril. A intenção é a união vital.

15:5. A videira e as varas são distintas. Da videira vem a vida; das varas, como resultado, vem o fruto. A ordem é a mesma de 14:20 e 15:4. Nossa permanência em Cristo relaciona-nos com a fonte da vida. Sua habitação em nós produz um fornecimento constante de fruto – muito fruto. Sem mim. Separados de Mim, cortados de Mim

15:6. É um fato conhecido que além da produção de uvas a videira não tem nenhuma utilidade a não ser como combustível (cons. Ez. 15:6). Alguém... o. ”A indefinição do sujeito corresponde ao mistério do ato simbolizado” (Westcott). Uma vez que o sujeito é a produção do fruto e não a vida eterna, o fogo é um juízo sobre a esterilidade, não um abandono à eterna destruição. A vara é o potencial de produção de fruto, não a própria pessoa. Aqui está se falando de obras infrutíferas (cons. I Co. 3:15).

15:7. As minhas palavras. As palavras de Cristo, como também a pessoa de Cristo, podem permanecer no crente. É o ensinamento de Cristo que desperta a oração do tipo adequado. Quando a palavra de Cristo habita abundantemente em nós (Cl. 3:16), pode-se seguir seguramente o que quisermos, e será feito. O ensinamento é semelhante ao de Jo. 14:13, 14.

15:8. O discipulado é um crescimento, uma coisa dinâmica. Quanto mais fruto produzimos, mais verdadeiramente estamos nos encaixando no padrão de discípulos, aqueles que aprendem de Cristo a fim de se parecerem com Ele. Deus é glorificado com isso. Ele é vindicado e recompensado pelo Seu investimento na vinha.

15:9 A menção do amor nesta altura sugere que este é o item principal no fruto que o Pai está preocupado em achar nos Seus filhos (cons. Gl. 5:22). Mas este não é o amor no sentido geral – antes, o meu amor, o amor de Cristo. Quando Ele entra para habitar, traz junto o Seu autor, que por seu lado é o próprio amor do Pai desfrutado por Cristo. O amor cristão tomar-se, assim, divino em seu caráter. Permanecei no meu amor. Não aceite substitutos.

15:10 O gozo do amor do Salvador está condicionado na obediência aos Seus mandamentos. Esta não é uma exigência arbitrária, pois Cristo mesmo também operou debaixo desta regra no Seu relacionamento com O Pai. O discípulo não está acima do seu Senhor.

15:11 A vida de amor produz gozo. Cristo a teve em primeiro lugar como resultado da execução perfeita da vontade do Pai e desfrutando o Seu amor. Isto Ele transmite aos Seus, e no processo personaliza-se de modo do que se transforma no gozo deles. No começo a posse pode ser parcial, mas o alvo é ser completo, não deixando lugar para o medo ou insatisfação. A sessão seguinte começa e termina com a ordem de se amarem uns aos outros.

15:12, 13 Eis aqui uma epitomização da obrigação do cristão. Não é mais uma advertência de guardar os mandamentos de Cristo para permanecer no Seu amor (v. 10). É antes uma injunção para concentração no mandamento do amor de uns aos outros. Assim como eu vos amei. A medida do amor de Cristo pelos Seus é o auto-sacrifício, do qual eles se beneficiam (cons. I Jo. 3:16). Tal padrão pode ser alcançado só quando o amor do próprio Cristo tem permissão de fluir através da vida do Seu povo. A anunciação da cruz feita por Jesus nos sinóticos enfatiza a necessidade divina; aqui a motivação é amor. A cruz não é algo imposto mas algo aceito – dar alguém a sua própria vida. Prova imediata de amor é a prontidão em dar indicação antecipada do propósito de morrer por aqueles que são amigos Morrer por eles de modo nenhum contradiz o propósito de morrer por um círculo maior, até mesmo pelo próprio mundo.

15:14 A amizade com Jesus não elimina a necessidade da obediência.

15:15 Se esta necessidade parece tornar os amigos em servos, existe uma diferença. O servo não tem a confiança do seu senhor. Prova do “status” de amigos, no caso dos discípulos, foi a admissão que tiveram nos segredos de cristo, inclusive de tudo aquilo que o Pai tinha revelado ao Filho. Nada foi retido. Isto não significa que tudo tenha sido compreendido pelos seguidores de Jesus.

15:16 Para que os discípulos não ficassem com a impressão de que somente eles estavam nos planos de Deus, Cristo esclarece agora que eles tiveram o privilégio de receber uma posição especial para transmitirem a mensagem aos outros. Eles foram escolhidos, não para seu próprio prazer ou orgulho. Antes, Cristo os nomeou tendo um serviço em mente. Vades e deis frutos. Anteriormente o fruto era o amor. Agora tem de ser o amor em ação, a proclamação da mensagem da salvação e o ganhar de almas. Há uma relação íntima de pensamento com João 12:24. Permaneça. A mesma palavra foi traduzida habite em outro lugar no capítulo. Que haveria fruto permanente foi uma promessa graciosa à vista dos resultados desapontadores durante o ministério de Jesus, quando muitos professaram interessar-se por Ele, para deixá-lO logo após algum tempo.

15:17 Este versículo é transicional. Os discípulos tinham de amar uns aos outros, pois não obteriam amor do mundo. A esta altura a palavra “amor” quase desaparece da passagem, sendo substituída por “odiar” e “perseguir” (nove vezes em nove versículos).

15:18 O mundo. A sociedade não redimida, separada de Deus, presa nas garras do pecado e do mal, cega às verdades espirituais e hostil para com aqueles que têm a vida de Deus neles. O ódio não visitaria os discípulos em um espírito de anti-semitismo, mas como uma continuação da hostilidade e do ódio contra Cristo. O ataque passaria do Pastor para as ovelhas. Tão certo quanto suas vidas refletiriam Cristo, atrairiam também o ódio dos homens pecadores (cons. Gl. 4:29).

15:19 A hostilidade tem raízes na dessemelhança espiritual. O mundo sente-se confortável na presença do que é seu. Tem a capacidade de sentir certa afeição por esses. A exclusividade da sociedade cristã, uma comunidade redimida dentro da não redimida, desperta o desprazer. Repreendido pela santidade daqueles que são de Cristo (cons. v. 22), o mundo exibe seu ressentimento.

15:20 A prova da genuinidade do discipulado está na correspondência que há entre a reação dos homens ao ministério dos seguidores de Jesus e a reação dos homens a Cristo nos dias da sua carne. Alguns homens os perseguirão; outros guardarão suas palavras. Lembrai-vos da palavra. A referência é a Jo. 13:16. Atos 4:13 é uma poderosa ilustração dos ensinamentos de Jesus nesta passagem. Tendo se livrado de Jesus, como pensavam, os líderes ficaram consternados quando tiveram de enfrentar os discípulos que agiam como Ele.

15:21 Por causa do meu nome. Cristo sofreu rejeição porque os homens realmente não conheciam Aquele que o enviou. Os discípulos estavam sendo iniciados nesse círculo de má compreensão, participando dessa honra com o seu Senhor.

15:22 Esta ignorância da identidade de Cristo e sua missão baseava-se no pecado dos homens. Embora Cristo não viesse para julgar mas para salvar, Sua simples presença e testemunho despertava a manifestação do pecado que de outro modo permaneceria dormente. Expostos pelo salvador, seus inimigos não tinham onde se esconder. Seu último recurso consistia em banir Cristo de diante dos olhos deles. Não teriam pecado. O pecado culminante da incredulidade e rejeição do Salvador.

15:23 O custo de odiar Cristo é a condenação de odiar o Pai também. Os homens não podem tratar o Pai de um modo e o Filho de outro.

15:24 As obras (complementando a palavra de Cristo no v. 22) eram de tal caráter que os homens tinham de pronunciar um veredicto contra ou a favor dEle. Ao rejeitá-lO, pecavam. Era pecado acompanhado de ódio que logicamente envolvia o Pai em cujo nome viera o Filho.

15:25 Sua lei. As próprias Escrituras que os judeus tanto exaltavam levantavam-se contra para condená-los (Sl. 69:4). Sem motivo (dôrean). Um ódio assim não tem defesa. Falta-lhe base contra o objeto odiado. A mestria palavra ocorre, com o mesmo significado, em Rm. 3:24, onde a base da salvação está apresentada como sendo o próprio Deus e não a dignidade do homem. Tal ódio exige um forte e destemido testemunho diante do mundo. João descreve agora a natureza desse testemunho.

15:26, 27 Os discípulos não teriam de enfrentar o mundo sozinhos. Teriam um ajudador divino, o Espírito da verdade. Ele traria à baila a verdade sobre a condição pecadora dos homens e a verdade sobre Cristo, o remédio para esse pecado. O Espírito viria em dupla missão, por assim dizer, sendo enviado do Filho pelo Pai, a fim de testificar de Cristo (cons. 16:7-13). E vós também testemunhareis. Provavelmente mais indicativo que imperativo. Do ponto de vista da associação com Jesus, a qual lhes deu o conhecimento necessário para um testemunho válido, já estavam qualificados, uma vez que estiveram com Ele desde o princípio - o começo do seu ministério. Mas, para vigorar, seu testemunho tinha de se juntar ao do Espírito operando neles e através deles (cons. Atos 5:32).

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