Interpretação de João 20

João 20

Em João 20, o capítulo começa com a descoberta do túmulo vazio de Jesus por Maria Madalena. Ela corre para informar Pedro e outro discípulo, provavelmente o próprio João, que o corpo de Jesus desapareceu. Eles correm para o túmulo, encontram-no vazio e veem as toalhas cuidadosamente dobradas.

Mais tarde naquele dia, Jesus aparece a Maria Madalena e se revela como o Senhor ressuscitado. Maria informa aos discípulos que viu Jesus vivo. À noite, Jesus aparece aos discípulos, embora as portas estejam trancadas, e mostra-lhes as mãos e o lado para provar a sua identidade.

No entanto, Tomé, um dos discípulos, inicialmente é cético e expressa dúvidas sobre a ressurreição de Jesus. Mais tarde, quando Jesus aparece novamente aos discípulos, Tomé está presente e acredita ao ver as feridas no corpo de Jesus.

Este capítulo sublinha a crença cristã central na ressurreição de Jesus, bem como a importância da fé e da crença nele como o Senhor ressuscitado. Também destaca o papel de Maria Madalena como a primeira testemunha do túmulo vazio e do Cristo ressuscitado.

Interpretação

20:1-29 O descanso em Jerusalém é envolvido no silêncio. O corpo de Cristo está na quietude da sepultura. Mas o “convinha” de Mt. 16:21 inclui a ressurreição além do sofrimento e morte. O teste supremo das proclamações de Jesus de Nazaré estava por acontecer.

20:1. No primeiro dia da semana. O dia depois do sábado, ou o terceiro dia a partir da crucificação de Cristo, de acordo com o método que os judeus usavam, cálculo inclusivo. A ressurreição de Jesus nesse dia determinou o dia cristão para adoração (Atos 20:7). Maria Madalena. Era bem sabido que diversas mulheres foram cedo à sepultura, mas João concentra sua narrativa em Maria somente. A presença de outros fica subentendida pelo “não sabemos” do versículo 2. Era propósito das mulheres ungir o corpo de Jesus de maneira permanente (Mt. 16:1). A pedra estava removida. Com a pedra no lugar, Maria teria tido o problema de entrar na sepultura; com a pedra removida, teve um problema de natureza diferente. Em sua mente, a situação piorou.

20:2 Maria pensou nos discípulos líderes – Simão Pedro e o “discípulo amado “ e correu para lhes levar a notícia. É interessante que aos olhos de Maria, Pedro continuou sendo o líder do grupo, apesar de sua negativa. João, até certo ponto responsável pelo fracasso de Pedro (18:16), foi à procura dele para confortá-lo. A notícia de Maria sobre a sepultura aberta criou nos dois discípulos o mesmo temor que se apossara do coração dela - alguém levara o corpo.

20:3, 4 A preocupação levou os dois discípulos a correr, deixando Maria para trás. A mesma preocupação levou João a correr rapidamente à frente de Pedro, apesar de ambos terem partido à mesma hora. João devia ser o mais jovem.

20:5 Abaixando-se. O pensamento seria melhor representado pela nossa palavra “perscrutando”. Reprimido pelo espanto e pela timidez, João examinou a sepultura mas não entrou.

20:6, 7 Com sua característica ousada, Pedro não parou na entrada para olhar, mas entrou, e pôde por isso ver melhor do que João a disposição das vestes no sepulcro. Observou que não estavam todas amontoadas, mas que o lenço que estivera na cabeça estava bem dobrado e colocado num lugar ao lado. Se o corpo fosse removido, seria estranho terem deixado os lençóis, e mais estranho ainda que o lenço estivesse tão cuidadosamente arrumado. Estivera sobre a cabeça. Este verbo se usou com referência ao ato do enrolamento das vestes funerais à volta do corpo de Jesus antes do sepultamento (Mt. 27:59; Lc. 23:53). Talvez signifique que a cabeça passou através do lenço, deixando-o em seu formato circular, ou que Jesus deliberadamente o dobrou antes de deixar a sepultura.

20:8 Encorajado pela entrada de Pedro, João juntou-se-lhe, observou a cena e creu que o Senhor ressuscitara. Não se diz o mesmo de Pedro.

20:9 Os discípulos não receberam instruções de Cristo relacionando sua ressurreição com passagens do V.T. (Lc. 24:46). Jesus predisse a sua ressurreição, mas eles não a entenderam literalmente (Mc. 9:10).

20:10 Para casa. A expressão é literalmente, para eles mesmos, significando que eles retomaram aos seus alojamentos e à sua gente. Maria (cons. 19:27) ficou logo sabendo que a sepultura estava vazia.

20:11 Maria Madalena permaneceu no lugar, esperando encontrar alguma pista sobre onde Jesus se encontrava, lutando com sua dupla tristeza - a morte e o desaparecimento de Seu corpo sagrado. Abaixou-se (cons. v. 5).

20:12 Ela viu algo que os dois discípulos não viram – dois anjos. Essa foi a experiência das outras mulheres também (Lc. 24:22, 23).

20:13 Normalmente a visão de anjos provocaria um sentimento emocionante, mas Maria estava por demais tomada de tristeza para sentir qualquer coisa. Ela se afastou antes de receber qualquer informação deles sobre a ressurreição de Jesus (cons. Mc. 16:6).

20:14, 15 Do mesmo modo não se sentiu interessada na outra forma que assomou diante dela quando se voltou na direção do jardim. Sua única preocupação era insistir na busca do corpo, e havia uma possibilidade deste homem ser o jardineiro e tê-lo removido para outro lugar.

20:16 Eletrificada ao ouvir seu nome pronunciado com a familiar voz de Jesus, ela explodiu, Raboni (Mestre ou Senhor). Originalmente a palavra significa Meu Magnífico, mas passou a ser usado sem a força do possessivo. Não é muito surpreendente que Maria reconhecesse a voz de Jesus quando Ele a chamou, mas não quando a interrogou pela primeira vez. Até mesmo o familiar pode nos parecer estranho quando o encontramos inesperadamente.

20:17. Não me detenhas. O grego exige uma outra tradução: Deixe de me segurar. Parece que o primeiro impulso de Maria, na sua alegria arrebatada, foi o de agarrar a sagrada forma. Jesus não repreendeu as outras mulheres por se apegarem aos Seus pés (Mt. 28:9), pois era uma atitude de adoração; nem se esquivou de convidar Tomé a tocá-lO (Jo. 20:27). Mas Maria precisava aprender que o Senhor não estava mais com ela com base no antigo relacionamento. Ele já estava glorificado. Ele pertencia agora ao reino celeste, ainda que quisesse ficar um pouco mais para se encontrar com Seus amigos. Ainda não subi. A implicação era que Maria poderia tocar em Jesus de alguma forma depois da Ascensão, isto é, ela poderia tocá-lO pela fé na bendita vida do Espírito. A intimidade desse novo relacionamento evidenciou-se pelo fato de se referir aos Seus seguidores chamando-os de irmãos (cons. a antecipação disto em Mt. 12:49). Mesmo na intimidade da nova ordem, entretanto, Cristo manteve seu próprio relacionamento especial a Deus Pai. Meu Pai é a linguagem da divindade; meu Deus é a linguagem da humanidade.

20:18 O sentido da utilidade, de cumprir a ordem de Jesus para ir aos discípulos, aliviou qualquer sentimento de mágoa que Maria poderia ter experimentado diante da repreensão que recebeu. Sua tarefa foi uma miniatura da que a Igreja recebeu como um todo – ir e contar que Jesus ressuscitou.

20:19 Os discípulos, tendo recebido a mensagem de Maria, tiveram agora sua primeira oportunidade, como um grupo, de ver Jesus em seu estado ressuscitado. Era a tarde do dia da ressurreição. Com medo dos judeus. Era natural à vista de sua fuga no jardim, da inquirição de Anás a respeito deles (18:19), e diante da expectativa criada pelo ensinamento de Jesus que se sofresse, eles também deviam esperar o sofrimento (Mt. 16:24; Jo. 15:20). A implicação de que Jesus passou pelas portas fechadas está clara. Ele tinha o poder de desmaterializar o Seu corpo. Paz seja convosco (cons. 14:27; 16:33).

20:20 A palavra de paz aliviou o temor. Agora estava na hora de se identificar. Lhes mostrou as suas mãos e o lado. De acordo com Lucas, houve necessidade de uma demonstração ainda mais viva para despertar a convicção (Lc. 24:37-43). Alegraram-se, portanto, os discípulos. (cons. 16:22).

20:21 A primeira paz (v, 19) foi para aquietar seus corações; a segunda foi para prepará-los para uma nova declaração de sua missão (cons. 17:18). Nada mudara no plano do Mestre para eles.

20:22 Soprou sobre eles. Isto faz lembrar a criação do homem (Gn. 2:7), como anunciando a nova criação, resultando não tanto da inspiração do hálito de Deus como da recepção do Espírito Santo (cons. 7:39). Isto não exclui nenhuma relação como Espírito nos primeiros dias do discipulado, como também não exclui a vinda do Espírito sobre eles no Pentecostes. Aqui o Espírito foi o equipamento necessário para a tarefa que estava à frente deles, conforme veremos a seguir.

20:23 Cristo deu autoridade aos apóstolos e possivelmente a outros (cons. Lc. 24:33 e segs.) para perdoarem e reterem os pecados dos homens. “Ou... os discípulos deviam possuir uma visão infalível do coração do homem (como em certos casos foi concedido a um apóstolo, cons. Atos 5:3), ou a remissão que eles proclamavam tinha de ser condicionalmente proclamada. Ninguém pode defender a primeira alternativa. Segue-se, portanto, que nosso Senhor aqui confia aos Seus discípulos, à Sua Igreja, o direito de autoridade de declarar, em Seu nome, que há perdão para o pecado do homem, e sobre que condições o pecado será perdoado” (Milligan e Moulton, Commentary on John). Esta cena envolve a morte de Cristo (suas feridas foram apresentadas), Sua ressurreição (declarada por Sua presença viva), a resultante missão de ir e dar testemunho, o equipamento para esta tarefa, e a mensagem propriamente dita, centralizando-se no perdão dos pecados.

20:24, 25 João conta a ausência de Tomé mas não a explica. Considerando que Jesus não repreendeu Tomé por causa da perda de interesse no seu discipulado, também não podemos fazê-lo. Talvez ele preferisse ficar sozinho na sua tristeza por causa da morte do Salvador. A narrativa dos outros dizendo que estiveram com Jesus enfatizava que viram as mãos e o lado feridos do Salvador. Além de querer vê-los, Tomé exigiu tacá-los como condição para crer que Jesus estava vivo.

20:26 Uma semana mais tarde, nas mesmas condições, inclusive as portas fechadas, Jesus veio uma segunda vez e com a mesma saudação de Paz.

20:27 Através de sua linguagem o Senhor revelou que Ele sabia o que Tomé tinha declarado. Portanto Ele devia estar vivo quando o duvidante apóstolo disse essas palavras sobre as mãos e o lado.

20:28 Tendo suas dúvidas completamente removidas, Tomé mostrou se à altura de uma grandiosa declaração de fé diante do desafio de Jesus. Senhor meu, e Deus meu! Ele sabia que se encontrava na presença da divindade.

20:29 Porque me viste. Nada indica que Tomé tocou no Salvador. A visão foi suficiente. Mas o que dizer das multidões que não teriam a oportunidade dessa visão? Uma bênção foi pronunciada sobre aqueles que se aventuraram a crer (cons. I Pe. 1:8).

20:30, 31 Os sinais que abundam na narrativa de João chegaram ao clímax no maior de todos eles, a Ressurreição. Para que o leitor não pense de modo diferente, o escritor apressa-se a observar que os sinais foram muitos. Só alguns poucos foram incluídos neste livro. Mas o escritor espera que estes capacitem o leitor a crer que Jesus é o Cristo (o objeto da expectativa judia, baseada na profecia do V.T., quando essa expectativa não é pervertida por falsos aspectos do messiado) e o Filho de Deus, revelando o Pai através de palavras e obras e culminando na obediência à vontade do Pai até à morte. Creiais inclui as ideias do ato inicial da fé, como também da fé progressiva. Vida em seu nome, isto é, em união com a Sua pessoa. Uma vez que esta parece ser a conclusão natural do Evangelho, alguns mestres concluíram que o capítulo seguinte foi acrescentado mais tarde, ou por João ou por outra pessoa. Mas nada há que exija a aceitação de tal ponto de vista sobre o capítulo final. Ele está cheio de sugestões sobre como a contínua presença do Senhor e Seu poder capacitaram a Igreja a cumprir seu ministério no mundo.

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