Adoção de Jesus como Filho de Deus
Adoção de
Jesus como Filho de Deus
Grande
número de diferentes interpretações tem surgido em torno deste vers., no que
diz respeito à natureza da filiação de Jesus Cristo. O vocábulo grego aqui
traduzido por demonstrado pode ter
outros significados, e são justamente esses outros sentidos possíveis que
modificam a interpretação do versículo. Por exemplo, algumas traduções dizem
que Cristo foi “nomeado” Filho de Deus; mas outras preferem dizer que Cristo
foi “instalado” como Filho de Deus, sugestão esta que dá a impressão de que
Jesus não era realmente o Filho de Deus enquanto não atingiu a ressurreição. As
interpretações centrais a esse respeito são as seguintes:
1.
A cristologia da adoção pura. — Alguns dos primitivos cristãos acreditavam que,
em algum tempo da vida de Jesus, ele “tomou-se” Filho de Deus, e não que
eternamente o tivesse sido, ou que tivesse nascido já com esse elevado ofício.
Assim sendo, Cristo teria sido “adotado” como Filho porque veio merecer tal adoção,
através de sua vida de santidade. A maioria dos que defendiam essa teoria afirmava
que no batismo é que Cristo chegara ao ponto, dentro do tempo, de receber sua
divindade, quando foi batizado pelo Espírito Santo. Nessa oportunidade é que ele
teria recebido sua natureza especial elevada e seus poderes extraordinários.
Outros estudiosos, seguindo a suposta indicação dada por este versículo, creem que
a plena adoção não ocorreu enquanto Jesus Cristo não ressuscitou. O termo aqui
empregado, “Filho de Deus”, pode subentender divindade; mas, de conformidade com
essa teoria, Cristo se tornou divino por um a dádiva de Deus, tendo sido
elevado a essa categoria, e não porque o fosse eternamente, ainda que,
olhando-se para o futuro, ele o seja eternamente.
2. O ponto de vista da teoria da adoção radical.
Alguns dos antigos gnósticos ensinavam que o Verbo eterno se apossou do corpo
humano de Jesus, quando de seu batismo, mas que não podem ser identificadas essas
duas personalidades, por não serem iguais. Isso significaria que o homem Jesus
jamais foi divino, mas que o ser divino se apossou de seu corpo quando do batismo
no rio Jordão. A inda de acordo com essa teoria, o Verbo eterno teria
abandonado o corpo de Jesus quando de sua morte na cruz. Essa ideia, naturalmente,
não se adapta bem dentro da cristologia ordinária do N.T., e nem mesmo a este presente
versículo, que faz da ressurreição de Cristo um acontecimento especial. É
evidente que para fazer este versículo ensinar tal teoria, seria mister
supormos um “retorno” do Verbo eterno para reavivar o corpo morto de Jesus, e
novamente produzir a adoção. No entanto,
esse retorno, incoerentemente, não faz parte da teoria dos “adopcionistas”,
isto é, daqueles que ensinam essa teoria.
3.
Em contraste com a teoria da adoção, acima descrita, encontramos o ensino
verdadeiro sobre a encarnação, conforme ela é tão enfática e claramente ensinada
no primeiro capítulo do evangelho de João. O Verbo eterno não é nenhuma
personagem separada do homem Jesus; mas antes, assumiu sobre si mesmo a
natureza humana, ao mesmo tempo que jamais deixou de ser divino. Para sermos
francos, não sabem os dizer como é que tal coisa pôde suceder; mas, apesar
disso, podemos continuar afirmando, com base nas Escrituras, a dualidade da
personalidade de Cristo. Assim sendo, Jesus Cristo não foi “adotado” por Deus
para ser divino, porquanto já pertencia à divindade, e desde a eternidade, já
que a preexistência eterna do Senhor Jesus é também claramente ensinada na
Bíblia. Assim sendo, não podemos aceitar traduções que digam que Jesus foi “instalado”
como Filho de Deus, ou “feito”, ou “nomeado”, — todos esses termos podem ser
tradução de um termo grego um tanto ambíguo; mas antes, devemos traduzi-lo por
demonstrado, “designado” ou “declarado”
Filho de Deus. A filiação de Jesus Cristo foi declarada, foi demonstrada pela
sua ressurreição, não tendo sido criada naquele momento. Jesus sempre foi o
Filho de Deus; mas a ressurreição dentre os mortos se tornou a demonstração
poderosa dessa filiação divina, uma prova empírica da mesma. Essa é a
interpretação ordinária sobre a passagem em pauta, ainda que alguns intérpretes
acreditem que este versículo reflita o ponto de vista da “adoção”, e que alguns
dos crentes de Roma, ou talvez até mesmo aquela comunidade inteira, defendiam
essa teoria, e que o apóstolo Paulo, propositalmente, usou um vocábulo de
sentido ambíguo a fim de não ofender aqueles para quem escrevia. Não temos meio
algum para julgar as crenças doutrinárias dos crentes de Roma a esse respeito;
mas sabem os, com base no segundo capítulo da epístola aos Colossenses, que uma
teoria de “adoção” pura e radical é contrária à teologia paulina.
4.
Adoção modificada. Uma verdade da teoria da adoção. — Considerado apenas como
homem, inteiramente à parte de sua identidade com o Logos, por ser o Pioneiro
de nossa fé (ver Heb. 2:10), por haver aprendido coisas por meio daquilo que
sofreu (ver Heb. 5:8,9), e por ter sido aperfeiçoado através desse sofrimento,
Jesus tornou-se divino naquele sentido em que o homem-Jesus não era divino. Ele
se tornou o primeiro Deus-homem.
a.
Jesus, nesta capacidade, é o arquétipo da redenção humana.
b.
Essa form a de filiação divina ele dá a todos quantos nele confiam (ver II Cor.
3:18).
c.
Ele compartilha de sua plenitude com os homens (isto é, sua natureza divina e
os atributos acompanhantes), e assim os homens, em Cristo, são adotados na
filiação divina (ver Col. 2:10).
d.
Um novo tipo de ser divino veio à existência quando Jesus saiu imortalizado do
túmulo, através de sua ressurreição. (Ver I Cor. 5:20 quanto ao significado da “ressurreição”).
A ressurreição de Jesus produziu uma nova forma de vida, da qual os homens podem
participar, pois Deus está duplicando o Filho nos filhos. Não é provável,
entretanto, que o apóstolo tenha propositalmente usado uma palavra grega
ambígua pata agradar aos romanos que não compartilhavam de seus pontos de vista
cristológicos. Historicamente, entretanto, sabem os que alguns dos primitivos cristãos
aferravam-se à teoria da “adoção”. Foi preciso um longo tempo para que as
verdades cristológicas ficassem esclarecidas na igreja cristã, e alguns pontos de
vista distintos vieram a ser aceitos de modo geral.
Naturalmente
durante toda a história eclesiástica têm persistido grandes divergências em
torno dessa questão. Sem importar a interpretação que aceitarmos, é óbvio que a
ressurreição é encarada nas Escrituras como um acontecimento literal,
revestindo-se de capital importância, tanto para Jesus Cristo, em sua posição
cosmológica, como para todos quantos nele confiam.