Ascensão de Isaías

Ascensão de Isaías — Estudo BíblicoAscensão de Isaías



Esse titulo foi aposto ao livro que Orígenes chamava de O Apócrifo de Isaías,  desde os dias de Epifânio (Panar. xl.2). Também era conhecido como O Testamento de Ezequias ou A Visão de Isaías,  que se aplica mais corretamente a certos segmentos do livro. Vários pais da Igreja mencionaram a obra, pelo que era conhecido na Igreja antiga. R. Laurence trouxe-o à atenção de leitores modernos quando publicou um manuscrito etíope do mesmo, E (l), como uma porção desse livro. Aparentemente, a obra é uma compilação de várias obras mais antigas, mas cuja data de composição é o terceiro ou o quarto século D.C. A porção mais antiga, chamada Martírio de Isaías,  evidentemente pertence ao século I A.C. Ver abaixo sobre Unidade.

1. Manuscritos:  

a. Em grego: G (l), do século III D.C., mas atualmente perdido. A versão etíope e uma versão latina descendem desse texto. G(2), apenas na forma de fragmentos, pertencentes aos séculos V e VI D .C. O P àpiro Amherst I, em fragmentos, b. Em etíope: Uma reprodução da versão grega, e o único texto completo existente, representado por três manuscritos, c. Em latim: 1(1), contendo ii.14 - iii.l3; vii.1-29, do século VI D.C. L(2), que contém a maior parte da Visão de Isaías, vi.l - xi.19; xi.23-40. d. Em eslavônico, que aparentemente segue o G(2) e contém a Visão de Isaías. e. Em cóptico: fragmentos do Martírio e da Visão. A obra original seja em grego.

2. Data.  

Como obra composta, não antes do século II A.C., e mais provavelmente do século III D.C., embora o Martírio possa ser do século I A.C. A visão parece pertencer ao ano 100 D .C ., à qual foi acrescentada a história da ascensão, do século II D.C. O Martírio era conhecido pelos pais da Igreja Justino Mártir (Dial. c. Trypho,  cxx.14,15), Tertuliano, Orígenes, Jerônimo. Portanto, pelo menos esse segmento da obra é bastante antigo.

3. Autoria.  

Sendo obra composta, vários autores estão envolvidos, não havendo como nos mostrarmos específicos. Porém, o Martírio parece ser de origem puramente judaica, ao passo que o Testamento de Ezequias e a Visão parecem ser de origem cristã. Mas alguns estudiosos supõem que a obra total, é cristã, com um óbvio pano de fundo judaico. A questão ainda não está resolvida.

4. Unidade.  

Há muitas teorias a esse respeito, pelo que nada de certo pode ser dito que não esteja sujeito a objeções. Tem sido defendida até mesmo a unidade do livro. Porém, alguns eruditos vêem a obra como um livro composto. Abaixo damos uma sugestão (ver a bibliografia): a. Uma porção judaica, o Martírio de Isaías, do século I A.C. b. A isso foi adicionada uma porção cristã, a Visão de Isaías 3:13 - 4:18, com data de 100 D .C . e então foi adicionada a ascensão visionária de Isaías (6:11) , com data do século II D.C., ou mesmo mais tarde. Alguns eruditos passam então a dividir esses segmentos em porções menores, supondo que também teriam sido compilações.

5. Conteúdo:

a. O Martírio de Isaías i.I-iii.l3a, v. 1-14. Temos aqui uma exposição sermônica da Midrash de II Reis 21:16. Isaías profetizou sobre eventos do reinado de Manassés, incluindo o seu próprio martírio. Manassés seguia a Beliar, possuído por Sumael (Satanás); após a morte de Ezequias, levou o povo judeu a tomar-se idólatra. Isaías fugiu, mas Belquita, o falso profeta, deteve-o e trouxe-o à presença de Manassés. Isaías profetiza a destruição de Jerusalém, apelidando-a de Sodoma, e seus governantes de gomorritas (iii.1-12). Belquita tenta fazer Isaías retratar-se e ficar livre, mas Isaías recusa-se a isso e é martirizado, sendo serrado ao ‘meio. Parece que foi a esse evento que Justino se referiu, como tam bém Tertuliano e o Talmude (Yeb.  49b, Sanh.  10). O livro de IV Baruque menciona o martírio de Isaías, como também o fez Orígenes.

b. O Testamento de Ezequias iii.l3b - iv.18. Nesse segmento, Isaías tem uma visão, na qual fala sobre a descida do Amado (o Messias) desde o sétimo céu. Ele conta a história de Ezequias, o que explica o título dessa porção. A encarnação, o ministério terreno, a crucificação, a ressurreição e a ascensão do Messias são descritos. Em seguida há pormenores sobre a era da Igreja, com o aparecimento de lideres indignos, que ignoramos profetas do Antigo Testamento, conforme realmente sucedeu no gnosticismo. Beliar mescla-se com a realeza e, em Nero reencarnado, toma-se culpado de matricídio (Roma é destruída). Beliar imita a Cristo, realizando milagres. Estabelece uma imagem de si mesmo, a fim de ser adorado, e o seu reinado perdura por três anos, sete meses e vinte e sete dias, pois a informação tira proveito do trecho de Daniel 12:12. O Senhor vem com Seus exércitos e derrota Beliar e suas hordas. É inaugurado o reino messiânico, e os que participarem da primeira ressurreição obterão os benefícios do mesmo; mas então vem uma segunda ressurreição, e o julgamento dos ímpios no fogo. Essa porção, naturalmente, assemelha-se ao vigésimo capítulo do Apocalipse, juntamente com as passagens que falam sobre o Nero redivivo (ver Apo. 17:8ss).

c. A Visão de Isaías vi.l - xi.40. Nesse ponto há um conteúdo bem mais gnóstico. Isaías é conduzido ao sétimo céu, habitação de Deus, de Cristo, do Espírito Santo e dos justos mortos, em seus corpos espirituais. Por baixo do mesmo está o firmamento onde Samael (Satanás) habita, o qual governa o mundo físico e os seres deste mundo e onde o princípio do mal habita no corpo, refletindo uma ideia gnóstica. A visão expõe um ponto de vista docético (ver sobre o docetismo) do nascimento de Cristo (sem trabalho de parto, após apenas dois meses de gravidez). Cristo realiza milagres; Sua morte é provocada por Beliar; Ele desce ao hades (um paralelo da história de I Ped. 3:18 - 4:6; o que demonstra que os cristãos da época conheciam e aceitavam essa doutrina; ver sobre a Descida de Cristo ao Hades).  Em seguida vem a ressurreição, um a permanência de 545 dias na terra (uma ideia gnóstica) e a comissão entregue aos doze apóstolos. Então Cristo ascende ao sétimo céu e senta-se à mão direita de Deus, com o Espírito Santo à esquerda. Essa visão torna-se a causa da execução de Isaías, a mando de Manassés. A Visão tem muitas similaridades com as noções gnósticas, talvez da variedade orfita (Iren. 1,30).

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