Assunção de Moisés

Assunção de MoisésAssunção de Moisés

(Enciclopédia Bíblica Online)

Trata-se de uma obra judaica composta, que data do começo do século I D.C., e que provavelmente teve um original hebraico. Contém um discurso que supostamente Moisés fez a Josué, contendo relatos da morte do legislador e sua ascensão ao céu.

1. Os manuscritos. 

Só existe um manuscrito, um palimpsesto escrito em latim, do século V D.C. Foi descoberto na biblioteca Ambrosiana por A. M. Ceriani e publicado por ele em 1861. Parte do texto é indecifrável, e grande parte está corrompido. Há evidências de que o texto em latim foi tradução do grego, e este, por sua vez, fora traduzido do hebraico. Há expressões idiomáticas hebraicas que sobreviveram até mesmo nessa tradução latina da tradução grega.

2. Unidade.

As listas dos livros apócrifos apresentam o Testamento de Moisés seguido pela Assunção de Moisés. Citações de antigos escritores certamente indicam que originalmente eram duas obras distintas, mas que, com o tempo, passaram a ser editadas juntam ente. O Testamento é representado por manuscritos latinos, e a Assunção é representada em citações dos pais da Igreja. A obra composta atualmente é chamada de Assunção.

3. Autor. 

Nenhum indivíduo particular pode ser nomeado como autor, mas a obra revela um tanto da personalidade do mesmo. Parece que ele era fariseu. Fala com severidade contra os saduceus e aguarda o reino teocrático sobre a terra. Não era um zelote, porquanto fez silêncio sobre o movimento dos Macabeus. O fato de que ele demonstra interesse pelo futuro do templo e seus holocaustos mostra que ele não era um essênio, os quais se tinham separado da corrente central do judaísmo. O autor exalta o ideal das antigas tradições, a par de uma atitude de resignação, entregando a sua causa aos cuidados de Deus.

4. Data. 

Em Assunção 6:6 tem-se a impressão que Herodes já havia falecido, e em 6:7 o autor antecipa que seus filhos, Filipe e Antipas, haveriam de reinar por curtos períodos. Mas, na realidade, eles reinaram por longo tempo. Isso mostra que a obra deve ter sido escrita antes de 30 D.C. Arquelau foi o único filho que reinou por menos tempo que seu pai. Visto que ele foi deposto em 6 D.C., é provável que o livro tenha sido escrito antes desse acontecimento, visto que não reflete ter conhecimento do evento.

5. Conteúdo. 

Os manuscritos latinos têm doze capítulos que devem ser divididos de acordo com o assunto tratado, como segue: a. Moisés nomeia Josué, que haveria de liderar o povo de Israel até à Terra Prometida, onde eles cairiam na idolatria (caps. 1 e 2). b. Um rei do Oriente haveria de destruir Jerusalém e impor um cativeiro de setenta anos, do qual poucos judeus retornariam (caps. 3 e 4). c. Maus sacerdotes e reis surgiriam, culminando no reinado dê um tirano por trinta e quatro anos (caps. 5 e 6). Herodes é esse tirano, d. Seguir-se-ia um período agitado, envolvendo impiedade, perseguições, etc., durante o qual um herói, Taxo, preferiria a morte a ver a corrupção da lei. Finalmente, Deus faria uma intervenção, fazendo sobrevir o julgamento, e os justos seriam recompensados, com a consequente restauração e bênção de Israel, de maneira singular (caps. 7-12).

6. Teologia. 

O autor não demonstra qualquer afinidade com o legalismo rabínico, mas baseava-se solidamente nos ideais do Antigo Testamento, exibindo o conceito de responsabilidade moral alicerçada sobre o pacto com Deus. Não há qualquer esperança messiânica no livro. Talvez o autor rejeitasse a ideia de um Messias político e guerreiro, pelo que simplesmente não incluiu tal conceito em sua obra. O reino pelo qual ele esperava seria inaugurado mediante o arrependimento e a intervenção divina. Moisés era o homem especialmente enviado por Deus, enquanto esteve na terra; mas, mesmo tendo morrido, continuava sua obra, no mundo espiritual.

7. Influência sobre o Novo Testamento. 

Com base em citações feitas por Gelásio de Cízico (século V D.C.), e outras citações patrísticas, torna-se claro que a obra original aludia à crônica sobre a disputa entre Miguel e Satanás, acerca do corpo de Moisés, o que é aludido em Judas 9. Judas também reflete algo do Testamento de Moisés 7:7,9 e 5:5. Alguns estudiosos têm rejeitado a canonicidade de Judas, porquanto ali é utilizado esse material pseudepígrafo- (Ver a discussão sobre esse particular, no NTI, em Judas 9). Orígenes (Quanto aos Primeiros Princípios III.2,I) afirma especificamente que Judas empregou a Assunção nesse ponto de seu livro. Também parece haver uma alusão à Assunção no trecho de II Pedro 2:13 (Assunção de Moisés 7:5,8), e também em Atos 7:36 (Assunção de Moisés 3:11).

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