Significado de Gênesis 50

Gênesis 50

Gênesis 50 é o capítulo final do livro de Gênesis e encerra a história de José e sua família. Este capítulo começa com a morte de Jacó, e vemos a reação de José ao falecimento de seu pai. Também testemunhamos a reconciliação de José com seus irmãos e o eventual retorno de sua família à terra de Canaã. Este capítulo enfatiza temas como perdão, família e fé na soberania de Deus.

Um dos temas significativos de Gênesis 50 é o perdão. Apesar da traição e das dificuldades que José experimentou nas mãos de seus irmãos, ele escolheu perdoá-los e trabalhar pela reconciliação. Este capítulo nos lembra do poder do perdão e de sua capacidade de trazer cura e restauração, mesmo em meio à dor e ao sofrimento.

Outro tema-chave em Gênesis 50 é a família. Este capítulo destaca a importância da família e dos laços que existem entre parentes. Demonstra como, mesmo em meio a dificuldades e conflitos, os membros da família podem se unir e apoiar uns aos outros. É um lembrete de que as relações familiares são essenciais e devem ser nutridas e protegidas.

Gênesis 50 é um capítulo que encerra a história de José e sua família, enfatizando temas como perdão, família e fé na soberania de Deus. Isso nos lembra da importância do perdão e do poder das relações familiares. Também nos desafia a confiar no plano de Deus, mesmo quando as coisas estão difíceis, e a ter fé de que Ele está operando todas as coisas para o bem.

I. A Septuaginta e o Texto Hebraico

Segue uma análise acadêmica, em texto corrido, de Gênesis 50 com foco no diálogo entre o hebraico massorético, a tradução grega da Septuaginta (LXX) e ecos no Novo Testamento, com atenção à fraseologia, sintaxe e léxico hebraico-grego. Adoto apenas transliteração (padrão SBL) para os termos originais.

O capítulo fecha Gênesis com um tríptico temático — luto e honra a Jacó (Gênesis 50:1–14), reconciliação e teologia da providência (Gênesis 50:15–21), e a esperança do “visitar” divino que sustenta o juramento sobre os ossos de José (Gênesis 50:22–26). No início, o hebraico fala de rōp̄eʾîm “médicos” e do verbo ḥānaṭ “embalsamar” (Gênesis 50:2), enquanto a LXX verte a cena com o tecnicismo funerário refletido nas versões inglesas (“embalmers”) e mantém o quadro egípcio de pranto nacional: “cumpriram-se quarenta dias” e “o Egito o pranteou setenta dias” (Gênesis 50:3). A referência hebraica aos rōp̄eʾîm e ao ḥānaṭ (prática egípcia) ancora historicamente o relato; a LXX, por sua vez, enfatiza a solenidade pública do luto com léxico como kopetos e penthos, termos que reaparecem no grego bíblico para lamentação solene (Gênesis 50:10–11 LXX). Esse enquadramento cultural não rompe, mas reforça a unidade bíblica ao mostrar Israel honrando patriarcas segundo protocolos de seu contexto de exílio, algo que o Novo Testamento também sabe integrar quando acolhe, adapta e ressignifica realidades culturais (cf. Atos dos Apóstolos 7).

A seção central (Gênesis 50:15–21) explicita a teologia da providência em chave lexical e sintática que a LXX torna transparente para leitores cristãos. O hebraico contrapõe ḥašavtem… rāʿāh (“vós intentastes o mal”) e ʾĕlōhîm ḥašāḇâ lĕṭōḇâ (“Deus o intentou para o bem”, Gênesis 50:20). A LXX reproduz a antítese com o mesmo verbo em pares (bouleuomai): hymeis ebouleusasthe… eis ponērá; ho de theos ebouleusato… eis agathá — isto é, o conselho humano versus o conselho divino, com a preposição eis marcando o telos (“para o bem”). Essa fraseologia greco-bíblica cria uma ponte direta com Romanos, onde Paulo condensa a mesma teleologia em synergei eis agathon (Romanos 8:28). A continuidade semântica de eis agathon (LXX) com eis agathon (NT) explica por que a leitura cristã da história de José moldou a esperança de que Deus reconduz o mal ao bem no drama da salvação. Além disso, o consolo de José opera com termos que a LXX normaliza no campo parenético do NT: ele “confortou” e “falou ao coração” de seus irmãos — parekalesen e elalēsen eis tēn kardian (Gênesis 50:21 LXX) — ecoando o duplo imperativo de Isaías (“falai ao coração… parakalesate”, Isaías 40:2 LXX) e adubando o solo para o uso neotestamentário de parakaleō no ministério pastoral. Assim, providência (bouleuomai… eis agathon) e parênese (parakaleō, kardia) convergem num eixo que percorre Gênesis–LXX–NT.

Ainda no campo ético-teológico, a reconciliação em Gênesis 50:17 mobiliza um par jurídico-cultual típico: pešaʿ (“transgressão”) e ḥaṭṭāʾt (“pecado”), com o pedido śāʾ-nāʾ (“perdoa, suplicamos”). A LXX traduz com aphes… tēn adikian kai tēn hamartian, calibrando o binômio grego adikia/hamartia que se tornará corrente na pregação apostólica acerca de “perdão dos pecados” (aphesis hamartiōn; Lucas 24:47; Atos dos Apóstolos 2:38). Desse modo, a mesma tessitura lexical que pede perdão em José é a que anuncia perdão em Cristo, reforçando a coerência canônica do eixo culpa-perdão. Além disso, a autolimitação de José — “estou eu no lugar de Deus?” — comparece na LXX como uma renúncia ao juízo que ressoa no ensino apostólico: “não vos vingueis… está escrito: ‘A mim pertence a vingança’” (Romanos 12:19). A semântica do perdão (aphienai) e a renúncia à vingança se interpenetram, fazendo da reconciliação de Gênesis uma prefiguração ética abraçada e universalizada no NT.

A conclusão (Gênesis 50:22–26) articula esperança por meio de uma construção hebraica enfática, pāqōḏ yipqōḏ (“Deus certamente vos visitará”), que a LXX verte como episkopē episkepsetai — um substantivo seguido do verbo cognato, estratégia frequente da LXX para reproduzir a intensidade do infinitivo absoluto. Essa escolha lematiza para leitores gregos o campo semântico de episkopē/episkeptomai, que o NT herdará tanto para a visitação salvífica/judicial (Lucas 19:44; 1 Pedro 2:12) quanto para o ofício (episkopē em Atos dos Apóstolos 1:20). Ao mesmo tempo, José “faz jurar” (hišbîaʿ) à casa de Israel, e a LXX registra ōmosen ho theos quanto à promessa patriarcal (Gênesis 50:24 LXX), reforçando o elo com a teologia do juramento em Hebreus. O pedido sobre os “ossos” — hebraico ʿaṣmōt, grego ostea — migra literalmente para Hebreus 11:22, onde a fé de José é definida por essa instrução testamentária; e o próprio enredo de Atos dos Apóstolos (7:16; cf. Josué 24:32) pressupõe a memória coletiva dos “ossos de José” como sinal da esperança do Êxodo consumado. Até o último vocábulo do livro ressoa tematicamente: José é posto num ʾārōn (“cofre/arca”) — termo que no hebraico nomeia também a Arca da Aliança —, enquanto a LXX emprega soros “caixão”, mantendo distinção lexical (reserva kibōtos para a Arca e soros para o esquife), o que ajuda a perceber com precisão conceitual as tipologias que o NT irá acionar. Assim, a semântica de episkopē, de juramento e de “ossos/cofre” alinha a despedida de Gênesis com o horizonte escatológico e sacramental do NT.

Note-se como a LXX de Gênesis 50 não apenas traduz, mas interpreta por meio de microescolhas que o NT herdará como “língua franca” teológica: a duplicação hebraica intensiva (pāqōḏ yipqōḏ) vira par cognato grego (episkopē/episkeptomai), a antítese rāʿāh/ṭōḇāh verte-se em ponērá/agathá sob o verbo bouleuomai, e o consolo pastoral aparece com parakaleō e a locução lalein eis tēn kardian. Esses fios lexicais e sintáticos tecem a coerência canônica: a providência soberana que “consulta” o bem (bouleuomai… eis agathon) prepara Romanos; o perdão pedido com aphes e definido por adikia/hamartia alimenta a querigma de aphesis hamartiōn; a episkopē esperada em José torna-se a episkopē proclamada e discernida no NT. Longe de ser um apêndice funerário, Gênesis 50 é, na sua forma hebraica e na sua voz grega, um portal linguístico-teológico pelo qual os cristãos — que rezam, lêem e pensam em grego koiné — aprenderam a ouvir a Torá como promessa cumprida.

II. Comentário de Gênesis 50

Gênesis 50:1 José expressou um amor genuíno e intenso por seu pai (Gn 45.1-3; 46.29).

Gênesis 50:2 José ordenou que seu pai fosse embalsamado (hb. hanat, refere-se a especiarias), a fim de que pudesse ser sepultado em Canaã. Tempos depois, o próprio José também seria embalsamado (v- 26).

Gênesis 50:2, 3 O embalsamento teve sua origem no Egito. Os órgãos vitais eram removidos e colocados em recipientes para serem sepultados com a múmia. As cavidades do corpo eram preenchidas com sal, soda cáustica (carbonato de sódio), substâncias aromatizantes e resina, para que este secasse e fosse preservado. A cabeça, o troco e os membros eram fortemente enrolados com muitas camadas de tecido de linho. A posição de uma pessoa na sociedade determinava os rituais de sepultamento e os dias de luta.

Gênesis 50:4-9 José pediu o consentimento do faraó para que deixasse o Egito, a fim de sepultar o corpo de seu pai em Canaã. A expressão a casa de faraó ou a corte do faraó (NVI) indica que nem mesmo José tinha acesso direto ao rei do Egito.

Gênesis 50:10, 11 Na eira do espinhal, perto do Jordão, a delegação egípcia que acompanhava José permaneceu durante sete dias. Esta era a entrada da Terra Prometida. Os cananeus ficaram tão impressionados com a cerimônia de luto solene que nomearam o lugar em homenagem aos pranteadores.

Gênesis 50:12-15 Os irmãos de José novamente temeram a ira daquele que fora vendido anos antes como escravo. E se a bondade de José para com eles tivesse sido demonstrada somente para agradar a seu pai? Agora, com a morte de Jacó, José tentaria se vingar? Realmente eles não conheciam o coração do irmão!

Gênesis 50:16, 17 A mensagem que os irmãos enviaram a José pode ter sido sincera e verdadeira ou uma reação ao medo que sentiam diante do “braço direito” do rei do Egito. Eles se referem ao mal que fizeram a José. (Para verificar o uso das mesmas palavras de Jacó para Labão, veja Gn 31.36.) Então, José chorou. Ele aceitou a mensagem como uma confissão sincera de seus irmãos [mas também pode ter ficado triste de novamente terem pensado mal dele].

Gênesis 50:18-21 José falou abertamente de como via os acontecimentos de sua vida (Gn 45.4-8). Deus transformara as atitudes perversas daqueles homens em uma obra extraordinariamente boa. José não apenas teve a oportunidade de salvar muitas vidas no mundo antigo, como também testemunhou o poder e a benevolência do Deus vivo. O Senhor fez com que Sua boa obra fosse realizada a despeito dos planos maléficos das pessoas. Até os piores acontecimentos podem ser usados pela divina Providência para que sejam convertidos em bem. O maior e mais impressionante exemplo que temos disso é a morte de Jesus. O mal (a Queda) trouxe o melhor de Deus: Jesus Cristo. A experiência de José com seus irmãos foi uma demonstração em escala menor das ações divinas de salvação em Jesus, o Messias. Aqui, a descrição de José aponta para a vida do Salvador. Então, com palavras de grande alento, ele confortou seus irmãos e dispersou deles o medo.

Gênesis 50:22 Deus abençoou José com uma vida longa de 110 anos, assim como abençoara Abraão com os 175 (Gn 25.7). Isaque, com 180 (Gn 35.28) e Jacó, com 147 anos (Gn 47.28).

Gênesis 50:23 A menção aos filhos de Efraim antes dos filhos de Manassés é uma indicação do cumprimento da bênção de Jacó. O filho mais novo de José foi elevado perante seu irmão mais velho
(Gn 48.8-22).

Gênesis 50:24 Certamente, vos visitará Deus. Em seu leito de morte, José expressou sua fé inabalável nas promessas de Deus. Ele assegurou a seus irmãos que o Senhor continuaria a obra na família deles. A Seu tempo (Gn 15.12-16), Deus cumpriria a promessa de dar a terra de Canaã aos descendentes de Abraão (Gn 12.7; 26.3; 35.12; 46.4). A Abraão, a Isaque e a Jacó: esta expressão é a forma padrão de fazer referência à aliança de Deus com a família de Abrão (Gn 48.15; 49.25; Ex 2.24; 3.16). A citação dos três nomes reafirma a certeza da promessa e do comprometimento do Senhor em cumpri-la.

Gênesis 50:25 José sepultou seu pai em Canaã (Gn 50:7-14). Agora ele fez com que seus irmãos jurassem que levariam os restos mortais dele à Terra Prometida quando toda a nação de Israel retornasse a Canaã. No juramento, José expressou sua completa fé no fato de que Deus manteria a promessa de dar a terra de Canaã aos israelitas (Hb 11.22). Muitos anos mais tarde, Moisés sustentaria o juramento dos filhos de Israel ao levar os ossos de José junto com o povo ao deserto (Êx 13.19). Por fim, Josué enterraria os restos mortais de José em Siquém, após a conquista de Canaã (Js 24.32).

Gênesis 50:26 José foi embalsamado, como Jacó (v. 1-3) e todos os membros do governo egípcio.

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