Livros Apocalípticos do Antigo Testamento
Livros Apocalípticos do Antigo Testamento
(Enciclopédia Bíblica Online)O Termo
O vocábulo grego apokaluptein
significa “descobrir”, “desvendar”. Um tipo de pensamento que floresceu no
judaísmo posterior e no cristianismo antigo foi designado por esse nome (165
A.C. -120
D.C.). Os livros
apocalípticos foram escritos a fim de descrever eventos futuros preditos, que
poriam fim ao domínio do mal no mundo, de maneira extremamente abrupta. Alguns
deles descrevem esse fim como absoluto, com o holocausto de tudo, com a
completa destruição do mundo; mas outros falam em uma grande purificação,
por meio do fogo. Os justos haveríam de levantar-se para viver em
um mundo renovado, em uma era áurea.
Propósito.
O propósito psicológico dessas obras era o de ajudar
os judeus (e também os cristãos) a resistirem a tiranos terrenos e
a nações abusivas, já que assim era oferecida uma solução rápida para
momentosos problemas, mediante a intervenção divina. Julgava-se que os poderes
políticos, como em Roma, além de outros estados estrangeiros, eram
controlados por forças demoníacas — o que explicaria a malignidade dos
mesmos. Mas Deus haveria de prevalecer, finalmente. Os livros apocalípticos
caracteristicamente encaravam o fim como próximo, porquanto o espírito
humano se impacientava debaixo das perseguições. Esses livros ofereciam “um salto”
por cima das condições organizadas atuais. Tal salto dar-se-ia rápida e
prontamente, e a glória da vitória sobre as forças malignas não tardaria a
estabelecer-se.
I. O que é um Apocalipse?
Toda a literatura
apocalíptica é escatológica. Em outras palavras, aborda a questão dos “tempos
do fim”, o término do mundo segundo o conhecemos, o começo de um novo
ciclo, ou em alguns casos, o estado eterno. Nem toda a literatura
escatológica, porém, é apocalíptica. Pode-se falar, por exemplo, sobre a alma
e seu destino, e isso nos levaria a tratar de certo aspecto do
ensinamento escatológico normal, mas, ao mesmo tempo, nada de
distintamente apocalíptico estará sendo envolvido nesse ensino. Os
escritos que têm chegado até nós, que são chamados “apocalípticos”,
possuem características distintivas, o que é salientado na discussão que
se segue. De modo bem geral, pode-se afirmar que essa forma
literária trata da escatologia, pois visa a dizer-nos as condições que
haverá nos últimos tempos, nos tempos futuros remotos, mas sua
apresentação fala daqueles acontecimentos futuros que terão lugar
durante dias angustiosos, em que uma antiga era passará em meio a
tempestades e agonias, iniciando-se uma era inteiramente nova, através das
mais severas dores de parto. Mas isso não é uma característica normal e
necessária dos escritos escatológicos.
No que concerne à atividade
literária judaico-cristã, pode-se identificar o período dos escritos
apocalípticos entre 165 A.C. e 120 D.C. Essa literatura antecipa o fim de um
ciclo histórico, o ciclo judaico, o que se daria em meio a dores severas,
antes do nascimento da era cristã. Os “apocalipses” cristãos refletem o
desapontamento dos discípulos de Cristo por não se Ter materializado o Reino de
Deus em sua própria época. E esse desapontamento foi apenas natural, e
se pensou que os acontecimentos que sempre foram tomados como necessários
na inauguração do reino deveriam ser transferidos para outra época, o
tempo da “volta” de Jesus Cristo, não mais sendo atribuídos ao seu “primeiro
advento”. Isso preencheu um vácuo psicológico, pois manteve os homens na “esperança”
do estabelecimento do reino. No entanto, não há razão para crermos,
meramente porque esse tipo de literatura cumpre uma necessidade
psicológica, que as profecias contidas em nossos apocalipses bíblicos (os
livros de Daniel e de Apocalipse) não sejam válidas.
Os apocalipses judaicos
foram escritos na época de Antíoco Epifânio e posteriormente, acompanhando as
perseguições que houve naquele período histórico. Essa literatura apocalíptica
teve a finalidade de dar aos homens a “esperança quanto ao futuro”,
estando eles a passar por um presente dificílimo. Essa esperança
contemplava particularmente o livramento através do vindouro Messias,
bem como através do estabelecimento de seu reino. Pode-se ver facilmente
que, tal como no caso dos apocalipses cristãos, a literatura apocalíptica
judaica conservava a necessidade psicológica de “saltar por cima” de um
presente difícil, a fim de levar os homens a terem esperança e fé firme de
que se cumpriría uma nova era de vitória e realizações espirituais, embora
isso não dispensasse grande agonia. Também é verdade que apesar da
atividade da literatura apocalíptica nunca se ter tornado uma questão
central no judaísmo, e apesar de que a maioria dos rabinos judeus a
ignoravam essencialmente, contudo, esses escritos serviram ao seu propósito; e
embora nunca tivessem ganho posição canônica, não há razão para supormos
que não há ali certo discernimento quanto ao futuro misticamente
intuitivo, apesar de não ser diretamente inspirado pelo Espírito do Senhor.
Em contraste com isso, o
espírito apocalíptico dominava a igreja primitiva. 0 fato de que o reino de
Deus não se materializou então, deu, aos primeiros discípulos de Cristo, a
ardente esperança de que a “breve” e mesmo “iminente” segunda volta de
Cristo (a “parousia” dos escritos neotestamentários) haveria de desfazer o
erro de sua ”rejeição”, cumprindo todas as expectações da humanidade
acerca de uma era melhor. Mas essa era melhor não haverá de
iniciar-se senão através da morte agonizante e terrível da antiga era, e
a literatura apocalíptica é essencialmente a descrição dessa
morte febricitante, com descrições adicionais do glorioso nascimento
da nova era, que se seguirá.
A literatura apocalíptica,
pois, tem um propósito presente. Os fiéis necessitam de força
espiritual para passar pelas aflições, desapontamentos e pressões desta era
ímpia em que vivemos. Serão mais capazes disso se puderem antever a
vitória, a qual, finalmente, reverterá os terrores do momento presente. Os
escritos apolípticos prometem que os adversários de Deus não escaparão ao juízo
por causa daquilo que fizeram, por seus feitos ímpios que praticaram.
Além disso promete que aquilo contra o que os perversos têm-se oposto,
o governo de Deus sobre a terra, eventualmente se cumprirá, a despeito
deles. Outrossim, promete que até mesmo muitos daqueles que se têm oposto
a isso, através dos juízos haverão de reconhecer a mão de Deus na
história, acolhendo a seu Cristo como Senhor deles.
II. Caraterísticas
Há algumas características
distintivas da literatura apocalíptica. O termo grego “apokalupto” significa “desvendar”,
“revelar”. O apokalupsis, pois, é uma “revelação”, ou “desvendamento”; é
uma ”visão profética”. Consideremos os pontos seguintes a esse respeito:
1. Os livros apocalípticos são sempre reveladores. Há ali
atividade mística, revelações, sonhos, visões, viagens celestiais em espírito,
tudo o que transcende à era presente, pelos poderes da alma humana, com ou
sem a ajuda divina. Cremos que até mesmo os apocalipses não-canônicos
envolvem algumas experiências místicas válidas, ou seja, algum discernimento
válido quanto às questões espirituais, incluindo revelações sobre as condições
futuras. Os dois livros apocalípticos da Bíblia, Daniel e Apocalipse,
certamente contêm o esboço dos acontecimentos futuros, a maioria dos quais
tem sido confirmada pela atividade profética dos místicos atuais. Em
outras palavras, as profecias de nossos dias concordam com as previsões
bíblicas, de modo a narrar acontecimentos paralelos. Ver o artigo Tradição
Profética e a Nossa Época, que apresenta uma discussão geral sobre essa
questão.
2. São imitativos e pseudopreditivos. Apesar de
haver discernimento espiritual quase certamente “válido”, porquanto
os poderes de pré-conhecimento dos homens funcionam, quase sempre, com
resultados que podem ser medidos, esses livros apocalípticos tendem por
ser imitativos. 0 livro de Daniel servia de arquétipo original. Nesses escritos
há “invenções” que não refletem qualquer atividade mística genuína, pois as “profecias
de condenação”, com subidas aos céus e descidas ao inferno, se tornaram
artifícios literários, que visavam a ensinar verdades espirituais,
apresentando advertências e encorajamentos necessários. Portanto, apesar de
algumas previsões válidas estarem contidas nos apocalipses
não-canônicos, mais freqüentemente do que nunca, as profecias são
pseudopreditivas; e essas previsões tomam-se “meios” de ensino—em vez de
serem tentativas sérias de predizer o futuro.
3. Empregam verdades místicas e simbólicas, em vez de
verdades físicas e literais. A fé religiosa pode ser ensinada com
habilidade, sem base nos acontecimentos históricos reais, passados ou
em antecipação ao futuro. 0 meio de transmitir a verdade, dentro
do misticismo, é o símbolo. Um símbolo pode ser válido, sem
importar que por detrás dele haja ou não algum acontecimento físico e
literal. As parábolas de Jesus (pelo menos algumas delas) não tinham
o intuito de relacionarem-se com qualquer acontecimento real;
antes, eram “boas narrativas” sobre as verdades eternas, que eram
assim vividamente ilustradas. Assim sendo, um profeta podia falar soore
a descida ao inferno por parte de Enoque, e assim ensinar uma verdade
acerca do estado das almas perdidas, sem isso significar que Enoque tenha,
realmente, feito tal viagem. Até mesmo nos apocalipses canônicos, as “visões”
com freqüência não apresentam objetos “reais” ou “físicos”. Tomemos, por
exemplo, o caso da imagem com os dez dedos formados de ferro e barro. Isso
simtoliza os reinos e federações do mundo, embora não seja uma verdade
literal. Algumas obras apocalípticas chegam a extremos bizarros ao
pintarem condições e expectações espirituais. Alguns dos intérpretes mais
inclinados pela interpretação literal do Apocalipse de João procuram tornar literais
esses simbolismos. Assim, os “gafanhotos” e “escorpiões”, que são animais
simbólicos do nono capítulo do livro de Apocalipse, seriam insetos
literais que atacam os homens como praga. Porém, não são eles mais
literais do que os “cavaleiros” do sexto capítulo do mesmo livro. Todas
essas coisas simbolizam os terríveis julgamentos e as condições imediatamente
antes da “parousia” ou segundo advento de Cristo. A tentativa de emprestar um
caráter literal a esses símbolos redunda em fracasso, além de impedir o
entendimento da própria natureza mística dessas visões. Até mesmo os
sonhos ordinários nos falam por meio de “símbolos”. Por exemplo, uma ”criança”
simboliza o trabalho realizado por algum obreiro do evangelho, pois esse
trabalho, em certo sentido, é sua “criança”. A água é símbolo da “fonte da
vida”; sonhar com a “morte” indica o “fim” de algum aspecto da vida de uma
pessoa, ou alguma mudança drástica, muito mais do que o
falecimento—literal da mesma. Naturalmente, visões e sonhos algumas vezes falam
de acontecimentos literais, mas é um erro interpretar os mesmos
literalmente, “todas as vezes que se puder”. Essa atitude mais
provavelmente nos desviará da verdade, em vez de aproximar-nos da
mesma, pois é algo basicamente contraditório à própria natureza do misticismo.
4. Os livros apocalípticos com frequência são
pseudônimos. Isso significa que “em honra” a alguma antiga
personalidade famosa, um livro foi escrito por outrem, aproveitando-se do
prestigio do nome daquela personalidade, a fim de perpetuar sua tradição.
Assim é que o livro de Enoque, escrito no segundo século A.C., não foi
escrito por Enoque mas em sua memória. Nesse caso, não poderia haver
qualquer tentativa séria, da parte do seu autor, de fazer passar seu livro
como se realmente tivesse sido escrito por Enoque. É que os antigos não
viam nada de errado nesta prática, sem importar o propósito com que isso
fosse feito. Entre os livros apócrifos do Antigo e do Novo Testamentos,
bem como entre seus livros pseudepígrafos, há mais de cem livros que
certamente não foram escritos pelos indivíduos aos quais são atribuídos.
Sem importar o que nós, como modernos, possamos pensar da prática, isso em
nada altera a atitude dos antigos acerca da mesma. Em nosso N.T., por
exemplo, é possível que o livro de Judas seja uma pseudepigrafe. (Quanto a
notas sobre isso, ver o artigo sobre o Apocalipse, sob o
titulo “Autoria”), No entanto, os dois livros apocalípticos
bíblicos—Daniel e Apocalipse—não pertencem a essa natureza. Não obstante,
o “João” do livro de Apocalipse não é o mesmo apóstolo João, e, sim, o “ancião”,
ou talvez um bem conhecido “vidente” crente que habitava na Ásia Menor.
5. Os livros apocalípticos são altamente dualistas. Em
primeiro lugar, retratam a criação como algo envolvido em “uma luta de
morte” entre duas forças —uma boa e outra má. Outrossim, essas forças são “cósmicas”,
e não meramente humanas. A humanidade ver-se-á envolvida no conflito entre
Deus e Satanás, entre os anjos e os demônios, entre a razão absoluta e o
erro absoluto. Os homens poderão ser vitoriosos ou derrotados, dependendo
do lado que tomarem. 0 pecado, por conseguinte, nunca será questão apenas
humana. Trata-se da lealdade ao erro absoluto, da aprovação conferida
a Satanás e às suas obras más.
A oposição das duas grandes
forças cósmicas naturalmente envolve a oposição entre duas eras distintas.
Assim é que a “era presente” é dominada por Satanás, ao passo que a “era
vindoura” será governada por Deus, mediante o seu Messias. A era presente
envolve pecado e degradação, com a conseqüente perdição das almas; e a era
vindoura envolve o domínio da justiça e do bem-estar espiritual.
Essas forças opostas
naturalmente geraram o conceito dos “dois mundos”. Há um presente mundo, que é
terreno e pervertido. Trata-se de algo físico e temporal, sem quaisquer valores
absolutos. Mas também há o “mundo de amanhã”, que até mesmo agora existe
nas esferas invisíveis da realidade última. Este é um mundo de
domínio espiritual, de santidade, de paz e de bem-estar espiritual. 0 “outro mundo”,
finalmente, virá a exercer controle sobre este mundo terreno, e esse é um dos
aspectos do conflito entre o bem e o mal que atualmente começa a
concretizar-se.
Existem, pois, duas “forças
cósmicas” que se opõem, duas eras contrastantes que se digladiam,
dois “mundos” contrastantes que se combatem. Os homens, necessariamente, “tomam
partido” tornando-se associados e prestando lealdade a um lado ou outro
desses contrastes. As obras apocalípticas, portanto, apresentam aos
homens o desafio de escolherem Deus e o seu caminho, o seu mundo, a
sua era, rejeitando, ao mesmo tempo, o que Satanás tem a oferecer-lhes.
6. Os
livros apocalípticos são deterministas. Isso significa que a
vitória eventual do mundo vindouro sobre o mundo presente—o triunfo do bem
sobre o mal—é algo que foi determinado pela mão de Deus. 0 triunfo de Deus
é inevitável, embora pareça demorar-se por tempo excessivamente longo. Os
livros apocalípticos, por conseguinte, expõem uma espécie de filosofia da
história. Dizem-nos eles a natureza geral do que sucede e do que deverá
acontecer. Apesar de que há caos, devido ao pecado, somos assegurados de que o
processo histórico está do lado do bem e de Deus, e que nada pode alterar
isso, pois a vontade de Deus é Todo-poderosa. 0 seu propósito talvez precise de
longo tempo para materializar-se, mas tudo está determinado. Há um horário
divino predeterminado e o fim do domínio de Satanás ocorrerá súbita
e dramaticamente. A própria história é a crônica da luta entre Deus e
Satanás, e de como os seres inteligentes serão envolvidos até o fim da
mesma. Mas a história, apesar de envolver muitos elementos de sofrimento e
caos, finalmente está determinada para que sirva às finalidades divinas.
7. Os
livros apocalípticos, ao mesmo tempo, são altamente pessimistas e otimistas.
Expõem um quadro horrendamente negativo do que haverá de suceder a
este mundo, o que envolverá a intensa depravação dos homens. Ao mesmo
tempo, porém, uma vez que este mundo seja apropriadamente julgado, deverá
vir à existência um novo mundo de resplendente beleza e de incrível
progresso. Do lado ”pessimista”, os livros apocalípticos são “cataclísmicos”.
Os eventos que porão fim ao presente mundo mau serão radicais, como
se fora o decepar de um tumor canceroso. Os acontecimentos que darão
início à nova era também serão cataclísmicos. As mudanças se produzem
mediante acontecimentos bons ou maus, mas sempre repentinos, e não mediante
algum processo gradual. As grandes alterações na história resultam de
intervenções divinas.
8. Os
livros apocalípticos são intensamente éticos. Isso significa que
esses livros convocam os homens a abandonar o pecado, o
qual necessariamente produzirá acontecimentos cataclísmicos. Apesar
de tudo estar adredemente determinado, nada podendo derrotar facilmente o
pecado, Satanás e seu sistema. con*udo, serão preservados, entre esses
terríveis acontecimentos, os homens que mantiverem confiança em Deus e em seu
Messias. Em caso contrário haverão de participar imediatamente da glória de
Deus mediante o martírio; ou então haverão de ser gentilmente conduzidos à sua
presença, uma vez que tiverem sofrido como os homens terão de sofrer
durante aquelas horas fatais. As advertências ali dadas, pois, visam a “converter”os
homens, da maldade e da perversidade, e não são meras predições de uma
condenação inevitável.
III. Literatura Apocalíptica
Antigo Testamento:
A transição da literatura
profética para a apocalíptica ocorreu em vários livros proféticos do Antigo
Testamento, conforme se vê em Isa. 24-27; Eze. 38-39; Joel 2-3; Zac.
12-14. livro de Daniel,
produzido durante a crise dos Macabeus, é a obra mais importante dessa
classe, pertencente ao Antigo Testamento. II Esdras, entre os
livros apócrifos, também é uma obra apocalíptica. Ver o artigo sobre
os Livros Apócrifos. Vários desses livros contêm porções
apocalípticas.
I Enoque. Essa obra era
atribuída a Enoque o qual, após viver trezentos e sessenta e cinco anos, já não
era, porque Deus o tomou para si” (Gên.
5:21-24). Esse livro na verdade é uma série de livros, provenientes
dos séculos II e I A.C. Acredita-se que a porção mais antiga seja os caps.
83-90, de natureza totalmente apocalíptica. Consiste em visões dadas em forma
de sonhos, sobre o curso inteiro da história, desde o princípio até o
presumível fim. Os caps. 1-36 têm sido chamados de Dante judaico,
visto que descrevem as jornadas de Enoque através do submundo e dos
lugares celestiais. A história da descida de Cristo ao hades (I Ped. 3:18 - 4:6) tem um fraseado evidentemente
alicerçado em Enoque, mostrando que o autor sagrado tinha conhecimento desse
livro, e que aprovava a idéia geral das missões misericordiosas ao hades.
Os caps. 37-71 contêm as parábolas ou símiles de Enoque, retratando: 1. O
Julgamento dos ímpios; 2. a sorte dos incrédulos;
3. a bem-aventurança dos santos. Os caps. 72-82 são descrições
astronômicas, e os caps. 91-108 formam uma coletânea de exortações
religiosas. Por causa da história do pensamento religioso, ali contida, I
Enoque é considerado o mais importante de todos os escritos não-canônicos.
Provavelmente havia um original aramaico, o qual foi preservado em uma tradição
etíope e em alguns fragmentos gregos.
Assunção de
Moisés. Havia um original aramaico escrito na Palestina
durante os dias de Jesus. Supostamente apresenta as instruções finais de
Moisés, antes de seu corpo ser assunto ao céu. Expõe um quadro profético
da história e do futuro de Israel, começando pelos dias de Moisés e
estendendo-se até o estabelecimento do reino de Deus. Aparentemente o
autor foi um fariseu que aproveitou o ensejo para protestar contra a
secularização do seu grupo. Essa obra atualmente só é conhecida em um fragmento
latino, embora haja algumas alusões à mesma no Novo Testamento, em Judas e
II Pedro.
II Enoque. Um outro título
desse livro é Livro dos Segredos de Enoque. Foi originalmente
escrito em grego, por um judeu alexandrino, na primeira metade do século I
D.C. Sobrevive em uma versão eslavônica, pelo que é conhecido como Enoque
Eslavônico. Descreve como o patriarca Enoque subiu aos céus— dez ceus—em vista
do que foi capacitado a deixar instruções espirituais aos seus filhos. O livro
ensina a preexistência da alma, de acordo com idéias platônicas e
neoplatônicas, muito em voga em Alexandria. Os chamados pais alexandrinos
da Igreja, Clemente, Origenes e outros, ensinavam essa doutrina. Ver o
artigo sobre a alma, sob o título origens quanto
as várias idéias concernentes a essa questão.
II Baruque. Originalmente produzido em grego mas com frequência
chamado Apocalipse Siríaco de Baruque, por ter sido descoberta uma excelente
cópia do livro nesse idioma, em 1866. A obra contém pontos de vista
conflitantes e variações de estilo, sugerindo que a obra se compõe de vários
autores. O presumível autor do livro foi o amanuense de Jeremias; mas, na
realidade, foi escrito em cerca de 70 D C, Descreve o tempo da queda de
Jerusalém, em 586 A C; mas, na forma em que atualmente o livro existe, a
obra só foi terminada quando da queda de Jerusalém em 70 D.C. Trata das
misérias e perseguições dos judeus, do pecado original do homem, da
justiça divina e da vinda do Messias e Seu reino messiânico. As porções
finais do livro parecem ter sido influenciadas pelos escritos de Paulo.
III Baruque. Essa obra também se intitula Apocalipse Grego
de Baruque, visto que foi originalmente escrita em grego. Foi escrita
no começo do século II D.C. Aparentemente, o autor tinha
conhecimento de II Enoque e de II Baruque. Novamente, o alegado autor foi
o amanuense de Jeremias, que descreveu a ascensão de Jeremias através de
cinco céus. O livro descreve a mediação dos anjos, que expõem os méritos
humanos diante do arcanjo Miguel, para sua consideração. São dadas idéias
adicionais sobre a queda de Adão. Algumas dessas idéias influenciaram a
teologia cristã de data posterior.
Novo Testamento:
Generalizara-se o uso de
livros apocalípticos do Antigo Testamento, os quais inspiraram vários autores
da era cristã a continuarem essa forma de literatura. No próprio Novo
Testamento, diversos trechos podem ser classificados como apocalípticos, como Mar. 13, Mat. 24
e II Tess. Além disso, o Apocalipse de João, livro canônico do Novo
Testamento, é a mais completa expressão dessa atividade no Novo
Testamento, sendo também o maior de todos os apocalipses. Cita
continuamente o Antigo Testamento, e contém muitas passagens que refletem a
literatura apocalíptica veterotestamentária, descrita acima. Ver a Introdução
ao Apocalipse, no NTI, sob as seções I a IV, — no tocante a uma plena
demonstração do fato.
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