Panorama do Livro de 1 Crônicas
Panorama do Livro de 1 Crônicas
Este livro de Primeiro Crônicas se divide naturalmente em duas partes: os primeiros 9 capítulos, que tratam primariamente de genealogias, e os últimos 20 capítulos, que abrangem eventos durante os 40 anos desde a morte de Saul até o fim do reinado de Davi.
As genealogias ( 1:1–9:44)
Estes capítulos alistam a genealogia desde Adão até a linhagem de Zorobabel. (1:1; 3:19-24) As versões de muitas traduções levam a linhagem de Zorobabel até a décima geração. Uma vez que ele retornou a Jerusalém em 537 AEC, não haveria tempo suficiente para tantas gerações terem nascido até 460 AEC, quando Esdras evidentemente completou a escrita. Entretanto, o texto hebraico é incompleto nesta parte, e não se pode determinar qual era o parentesco da maioria dos homens alistados com Zorobabel. Assim, não há motivo para se favorecer uma data mais tardia para a escrita de Crônicas, como fazem alguns.
Primeiro, fornecem-se as dez gerações desde Adão até Noé, e depois as dez gerações até Abraão. São alistados os filhos de Abraão e sua prole; a posteridade de Esaú e de Seir, que residia na região montanhosa de Seir; e os primitivos reis de Edom. A partir do segundo capítulo, porém, o registro trata dos descendentes de Israel, ou Jacó, a partir de quem se traça primeiro a genealogia através de Judá e, daí, por dez gerações até Davi. (2:1-14) São alistadas também as demais tribos, com referência especial à tribo de Levi e aos sumos sacerdotes, terminando com uma genealogia da tribo de Benjamim, como forma de apresentar o Rei Saul, um benjamita, com quem começa então, em sentido estrito, a narrativa histórica. Às vezes, talvez pareça haver contradições entre as genealogias apresentadas por Esdras e outras passagens bíblicas. Todavia, é preciso lembrar que certas pessoas eram também conhecidas por outros nomes, e que a língua se transforma, de modo que com o passar do tempo a grafia de alguns nomes podia mudar. Um estudo cuidadoso elimina a maioria das dificuldades.
Esdras intercala as genealogias, aqui e ali, com um pouco de informações históricas e geográficas que servem de esclarecimento e lembretes importantes. Por exemplo, ao alistar os descendentes de Rubem, Esdras acrescenta uma importante informação: “E os filhos de Rubem, primogênito de Israel — pois era o primogênito; mas por profanar o leito conjugal de seu pai deu-se o seu direito de primogênito aos filhos de José, filho de Israel, de modo que não foi registrado genealogicamente para o direito de primogênito. Porque o próprio Judá mostrou-se superior entre os seus irmãos e o líder procedia dele; mas a primogenitura era de José.” (5:1, 2) Estas poucas palavras explicam muita coisa. Ademais, é apenas em Crônicas que ficamos sabendo que Joabe, Amasa, e Abisai eram todos sobrinhos de Davi, o que nos ajuda a avaliar os diversos eventos que os envolveram. — 2:16, 17.
A infidelidade de Saul resulta em sua morte (10:1-14)
A narrativa começa com o avanço do ataque dos filisteus na batalha do monte Gilboa. Três dos filhos de Saul, incluindo Jonatã, são mortos. Daí, Saul é ferido. Não desejando ser capturado pelo inimigo, insta com seu escudeiro: “Puxa a tua espada e traspassa-me com ela, para que não venham estes incircuncisos e certamente abusem de mim.” Quando seu escudeiro se recusa a fazê-lo, Saul se mata. Assim morre Saul por agir “sem fé contra Yahweh referente à palavra de Yahweh que não guardou e também por pedir a um médium espírita que fizesse uma consulta. E não consultou a Yahweh.” (10:4, 13, 14) Yahweh dá o reino a Davi.
Davi é confirmado no reino (11:1–12:40)
Com o tempo, as 12 tribos se reúnem a Davi em Hébron e o ungem rei sobre todo o Israel. Ele captura Sião e prossegue ‘ficando cada vez maior, porque Yahweh dos exércitos está com ele’. (11:9) Homens poderosos são colocados no comando do exército, e por meio deles, Yahweh salva “com uma grande salvação”. (11:14) Davi recebe apoio unido ao passo que os homens de guerra se reúnem unanimemente para torná-lo rei. Há festejo e regozijo em Israel.
Davi e a arca de Yahweh (13:1–16:36)
Davi consulta os líderes nacionais, e estes concordam em mudar a Arca de Quiriate-Jearim, onde já está há cerca de 70 anos, para Jerusalém. No caminho, Uzá morre por irreverentemente desconsiderar as instruções de Deus, e a Arca é deixada por algum tempo na casa de Obede-Edom. (Núm. 4:15) Os filisteus recomeçam suas incursões, mas Davi os derrota esmagadoramente duas vezes, em Baal-Perazim e em Gibeão. Instruídos por Davi, os levitas seguem então o procedimento teocrático ao transportar a Arca com segurança a Jerusalém, onde é colocada numa tenda que Davi havia armado para ela, em meio a dança e regozijo. Oferecem-se sacrifícios e cânticos, o próprio Davi contribuindo com um cântico de agradecimento a Yahweh pela ocasião. Este atinge seu grandioso clímax no seguinte tema: “Alegrem-se os céus, e jubile a terra, e digam entre as nações: ‘O próprio Yahweh se tornou rei!’” (1 Crô. 16:31) Que ocasião emocionante e inspiradora de fé! Mais tarde, este cântico de Davi é adaptado como base para novos cânticos, um dos quais é o Salmo 96. Outro é registrado nos primeiros 15 versículos do Salmo 105.
Davi e a casa de Yahweh (16:37–17:27)
Existe agora um arranjo incomum em Israel. A arca do pacto reside numa tenda em Jerusalém onde Asafe e seus irmãos assistem, ao passo que alguns quilômetros a noroeste de Jerusalém, em Gibeão, Zadoque, o sumo sacerdote, e seus irmãos oferecem no tabernáculo os sacrifícios prescritos. Tendo sempre presente exaltar e unificar a adoração de Yahweh, Davi indica seu desejo de construir uma casa para a arca do pacto de Yahweh. Mas, Yahweh declara que não será Davi, e sim seu filho quem construirá uma casa para Ele, e que Ele ‘há de estabelecer firmemente o seu trono por tempo indefinido’, mostrando benevolência como de pai para filho. (17:11-13) Esta promessa maravilhosa de Yahweh — este pacto para um reino eterno — comove a Davi. Seus agradecimentos transbordam na petição para que o nome de Yahweh ‘se mostre fiel e se torne grande por tempo indefinido’ e para que Sua bênção esteja sobre a casa de Davi. — 17:24.
As conquistas de Davi (18:1–21:17)
Mediante Davi, Yahweh cumpre agora Sua promessa de dar a inteira Terra Prometida à semente de Abraão. (18:3) Numa rápida série de campanhas, Yahweh dá “salvação a Davi” onde quer que ele vá. (18:6) Em esmagadoras vitórias militares, Davi subjuga os filisteus, abate os moabitas, derrota os zobaítas, obriga os sírios a pagar tributo e conquista Edom e Amom, bem como Amaleque. Contudo, Satanás incita Davi a fazer o recenseamento de Israel e assim pecar. Yahweh envia uma pestilência como punição, mas misericordiosamente põe fim à calamidade na eira de Ornã, depois de 70.000 terem sido executados.
Os preparativos de Davi para o templo (21:18–22:19)
Davi recebe um aviso angélico por meio de Gade no sentido “de erigir um altar a Yahweh na eira de Ornã, o jebuseu”. (21:18) Depois de comprar o local de Ornã, Davi obedientemente oferece sacrifícios ali e invoca a Yahweh, que lhe responde “com fogo desde os céus sobre o altar da oferta queimada”. (21:26) Davi conclui que Yahweh deseja que Sua casa seja construída ali, e inicia o trabalho de modelar os materiais e reuni-los, dizendo: “Salomão, meu filho, é moço e delicado, e a casa a ser construída para Yahweh é para ser extremamente magnífica em belo destaque para todas as terras. Então, deixa-me fazer preparativos para ele.” (22:5) Explica a Salomão que Yahweh não lhe permitiu construir a casa, por ter ele sido homem de guerras e sangue. Exorta seu filho a ser corajoso e forte neste empreendimento, dizendo: “Levanta-te e age, e que Yahweh mostre estar contigo.” — 22:16.
Davi faz preparativos para a adoração de Yahweh (23:1–29:30)
Faz-se um recenseamento, desta vez pela vontade de Deus, para reorganizar o sacerdócio e os serviços levíticos. Os serviços levíticos são descritos aqui com mais pormenores do que em qualquer outra parte das Escrituras. A seguir, delineiam-se as divisões do serviço do rei.
Perto do fim de seu reinado cheio de eventos, Davi congrega os representantes da inteira nação, “a congregação de Yahweh”. (28:8) O rei se põe de pé. “Ouvi-me, meus irmãos e meu povo.” Ele lhes fala então sobre o desejo do seu coração, ‘a casa do verdadeiro Deus’. Na presença deles, ele comissiona a Salomão: “E tu, Salomão, meu filho, conhece o Deus de teu pai e serve-o de pleno coração e de alma agradável; porque Yahweh sonda todos os corações e discerne toda inclinação dos pensamentos. Se o buscares, deixar-se-á achar por ti; mas se o deixares, deitar-te-á fora para sempre. Vê agora, porque o próprio Yahweh te escolheu para construíres uma casa como santuário. Sê corajoso e age.” (28:2, 9, 10, 12) Ele dá ao jovem Salomão os projetos arquitetônicos pormenorizados recebidos por inspiração de Yahweh e contribui uma imensa fortuna pessoal para o projeto de construção — 3.000 talentos de ouro e 7.000 talentos de prata, que havia economizado com este propósito. Diante de tal exemplo esplêndido, os príncipes e o povo reagem doando ouro no valor de 5.000 talentos e 10.000 daricos e prata no valor de 10.000 talentos, bem como muito ferro e cobre. (29:3-7) O povo se regozija com tal privilégio.
Davi louva, então, a Yahweh em oração, reconhecendo que toda esta oferta abundante procedeu realmente de Sua mão, e pedindo que Sua contínua bênção esteja sobre o povo e sobre Salomão. Esta oração final de Davi atinge sublimes apogeus ao exaltar o reino de Yahweh e Seu glorioso nome: “Bendito sejas, ó Yahweh, Deus de Israel, nosso pai, de tempo indefinido a tempo indefinido. Tuas, ó Yahweh, são a grandeza, e a potência, e a beleza, e a excelência, e a dignidade; pois teu é tudo nos céus e na terra. Teu é o reino, ó Yahweh, que te ergues como cabeça sobre todos. As riquezas e a glória existem por tua causa e tu dominas sobre tudo; e na tua mão há poder e potência, e na tua mão há a capacidade para engrandecer e para dar força a todos. E agora, ó nosso Deus, te agradecemos e louvamos o teu belo nome.” — 29:10-13.
Salomão é ungido uma segunda vez e começa a sentar-se no “trono de Yahweh” em lugar do idoso Davi. Após um reinado de 40 anos, Davi morre “numa boa velhice, saciado de dias, de riquezas e de glória”. (29:23, 28) Esdras conclui então Primeiro Crônicas em tom majestoso, frisando a superioridade do reino de Davi sobre todos os reinos das nações.