Panorama do Livro de 2 Samuel
Panorama do Livro de 2 Samuel
Eventos no início do reinado de Davi ( 1:1-4:12)
Após a morte de Saul, junto ao monte Gilboa, um amalequita foge da batalha e apressadamente vai ter com Davi, em Ziclague, para lhe dar a notícia. Procurando agradar a Davi, inventa a história de que ele próprio tirou a vida de Saul. Em vez de elogios, o amalequita recebe como recompensa a morte, pois testifica contra si mesmo, dizendo que matou “o ungido de Yahweh”. (1:16) O novo rei, Davi, compõe então uma endecha, “O Arco”, na qual deplora a morte de Saul e de Jonatã. Este cântico atinge um belo clímax na expressão comovente do superabundante amor de Davi por Jonatã: “Estou aflito por ti, meu irmão Jonatã, tu me eras muito agradável. Teu amor a mim era mais maravilhoso do que o amor das mulheres. Como caíram os poderosos e pereceram as armas de guerra!” — 1:17, 18, 26, 27.
Sob a ordem de Yahweh, Davi e seus homens mudam-se com suas famílias para Hébron, no território de Judá. Ali, os anciãos da tribo ungem a Davi qual rei, em 1077 AEC. O general Joabe se torna o mais proeminente dos apoiadores de Davi. Contudo, Is-Bosete, filho de Saul, como rival no trono de Israel, é ungido por Abner, chefe do exército. Há choques periódicos entre as duas forças oponentes, e Abner mata um irmão de Joabe. Por fim, Abner passa para o lado de Davi. Ele leva para Davi a Mical, filha de Saul, por quem Davi havia pago muito tempo antes o dote do casamento. Mas Joabe aproveita a oportunidade para matar Abner, vingando assim a morte de seu irmão. Davi fica muito angustiado com isso, eximindo-se de qualquer culpa. Pouco depois, o próprio Is-Bosete é assassinado, enquanto ‘faz a sua sesta do meio-dia’. — 4:5.
Davi, rei em Jerusalém (5:1-6:23)
Embora esteja reinando em Judá já por sete anos e seis meses, Davi se torna agora o rei absoluto, e os representantes das tribos o ungem para ser rei sobre todo o Israel. Esta é a sua terceira unção (1070 AEC). Um dos primeiros atos de Davi na qualidade de rei do inteiro reino é capturar a fortaleza de Sião, em Jerusalém, ocupada pelos jebuseus; ele os surpreende, passando pelo túnel de água. Davi faz, então, de Jerusalém a sua capital. Yahweh dos exércitos abençoa a Davi, tornando-o grande, cada vez mais. Até mesmo Hirão, o rico rei de Tiro, envia a Davi cedros valiosos e também trabalhadores para a construção de uma casa para o rei. A família de Davi aumenta, e Yahweh faz prosperar o seu reino. Há mais duas batalhas com os combativos filisteus. No primeiro destes, Yahweh rompe as fileiras do inimigo diante de Davi, em Baal-Perazim, dando-lhe assim a vitória. No segundo combate, Yahweh realiza outro milagre, fazendo ouvir um “ruído de marcha nas copas dos lentiscos”, o que indica que Yahweh vai à frente de Israel para derrotar os exércitos dos filisteus. (5:24) Mais uma grande vitória para as forças de Yahweh!
Tomando consigo 30.000 homens, Davi põe-se a caminho para trazer a arca do pacto de Baale-Judá (Quiriate-Jearim) para Jerusalém. Ao ser transportada ao som da música e com grande alegria, a carroça em que é carregada dá um solavanco, e Uzá, que está caminhando do lado, estende a mão para segurar a Arca sagrada. “Nisso se acendeu a ira de Yahweh contra Uzá, e o verdadeiro Deus o golpeou ali pelo ato irreverente.” (6:7) A Arca fica na casa de Obede-Edom, e, nos três meses seguintes, Yahweh abençoa ricamente a casa de Obede-Edom. Depois de três meses, Davi põe-se a caminho para ir buscar a Arca e levá-la de modo correto pelo resto do caminho. A Arca é conduzida para a capital de Davi com gritos alegres, música e dança. Davi dá livre curso à sua grande alegria, dançando perante Yahweh, mas sua esposa Mical desaprova isto. Davi insiste: “Vou festejar perante Yahweh.” (6:21) Em conseqüência disso, Mical permanece sem filhos até morrer.
O pacto de Deus com Davi (7:1-29)
Chegamos, agora, a um dos mais importantes eventos da vida de Davi, diretamente relacionado com o tema central da Bíblia: a santificação do nome de Yahweh por meio do Reino, sob a Semente prometida. Este evento se origina do desejo de Davi de construir uma casa para a arca de Deus. Residindo ele próprio numa linda casa de cedro, Davi revela a Natã seu desejo de construir uma casa para a arca do pacto de Yahweh. Por intermédio de Natã, Yahweh reafirma a Davi Sua benevolência para com Israel e faz com ele um pacto que subsistirá para sempre. Entretanto, não será Davi, mas o seu descendente (semente) quem edificará uma casa para o nome de Yahweh. Além disso, Yahweh faz a amorosa promessa: “E tua casa e teu reino hão de ficar firmes por tempo indefinido diante de ti; teu próprio trono ficará firmemente estabelecido por tempo indefinido.” — 7:16.
Comovido pela bondade que Yahweh manifestou, fazendo este pacto do Reino, o coração de Davi transborda de gratidão por toda a benevolência de Deus: “Que única nação na terra é semelhante ao teu povo Israel, que Deus foi remir para si como povo e designar um nome para si, e fazer para eles coisas grandes e atemorizantes? . . . E tu mesmo, ó Yahweh, te tornaste seu Deus.” (7:23, 24) E Davi ora fervorosamente pela santificação do nome de Yahweh e para que a sua casa seja firmemente estabelecida perante Ele.
Davi estende o domínio de Israel (8:1-10:19)
Mas, Davi não reinará em paz. Restam combates a travar. Davi passa a derrubar os filisteus, os moabitas, os zobaítas, os sírios e os edomitas, estendendo assim o território de Israel até os limites fixados por Deus. (2 Sam. 8:1-5, 13-15; Deut. 11:24) Depois, ele volta a sua atenção para a casa de Saul, a fim de, em consideração a Jonatã, manifestar sua benevolência para quem quer que remanesça. Ziba, servo de Saul, chama a atenção de Davi para Mefibosete, filho de Jonatã, que tem os pés aleijados. Davi ordena imediatamente que todos os bens de Saul sejam entregues a Mefibosete e que suas terras sejam cultivadas por Ziba e seus servos, a fim de fornecerem sustento à casa de Mefibosete. Quanto ao próprio Mefibosete, comerá à mesa de Davi.
Morrendo o rei de Amom, Davi envia embaixadores a seu filho Hanum para lhe expressar sua benevolência. Mas os conselheiros de Hanum acusam Davi de os ter enviado para espiarem o país, e eles os humilham e os enviam de volta meio nus. Irritado com tal afronta, Davi envia Joabe com seu exército para vingar essa injúria. Dividindo as suas forças, ele derrota facilmente os amonitas e os sírios que haviam vindo para socorrê-los. Os sírios reúnem novamente as suas forças, só para sofrerem nova derrota causada pelos exércitos de Yahweh, sob o comando de Davi, e perdem 700 condutores de carros e 40.000 cavaleiros. Eis mais uma evidência do favor e da bênção de Yahweh sobre Davi.
Davi peca contra Yahweh (11:1-12:31)
No ano seguinte, na primavera, Davi envia de novo Joabe contra Amom, para sitiar a cidade de Rabá, mas ele próprio fica em Jerusalém. Certa noitinha, do terraço de sua casa, ele vê a linda Bate-Seba, esposa de Urias, o hitita, que se banha. Ele manda trazê-la para sua casa, tem relações sexuais com ela, e ela fica grávida. Davi tenta encobrir isto, mandando Urias vir da luta em Rabá e enviando-o para casa para se revigorar. Mas, Urias recusa agradar a si mesmo e ter relações sexuais com sua esposa enquanto a Arca e o exército “estão morando em barracas”. Davi, desesperado, manda Urias de volta para junto de Joabe com uma carta que diz: “Ponde Urias na frente das mais fortes cargas de batalha e tereis de retirar-vos de detrás dele, e ele terá de ser golpeado e morto.” (11:11, 15) Assim morre Urias. Depois de passados os dias de luto de Bate-Seba, Davi leva-a imediatamente para sua casa, onde ela se torna sua esposa, e nasce o filho deles, um menino.
Isto é mau aos olhos de Yahweh. Ele envia o profeta Natã a Davi com uma mensagem de julgamento. Natã diz a Davi que havia dois homens, um rico e outro pobre. Um tinha muitos rebanhos, mas o outro tinha uma só cordeirinha que criava como animal de estimação na família e era “como uma filha”. Mas, quando chegou a ocasião de fazer uma festa, o rico não tomou uma ovelha dos seus próprios rebanhos, mas a cordeirinha do homem pobre. Ouvindo isto, Davi fica irado e exclama: “Por Yahweh que vive, o homem que fez isso merece morrer!” Em resposta, vêm as palavras de Natã: “Tu mesmo és o homem!” (12:3, 5, 7) Ele pronuncia então um julgamento profético de que as esposas de Davi serão violadas publicamente por outro homem, a sua casa será flagelada por lutas internas e seu filho, nascido de Bate-Seba, morrerá.
Sinceramente desolado e arrependido, Davi reconhece abertamente sua falta: “Pequei contra Yahweh.” (12:13) Cumprindo-se a palavra de Yahweh, a criança, fruto da união adúltera, morre depois de sete dias de enfermidade. (Mais tarde, Davi tem outro filho com Bate-Seba; a este chamam de Salomão, nome que se deriva de uma raiz que significa “paz”. Entretanto, Yahweh manda, por intermédio de Natã, que o chamem também de Jedidias, que significa “Amado de Jah”.) Depois desta triste experiência, Joabe chama Davi a Rabá, onde tudo está pronto para o ataque final. Tendo capturado as reservas de água daquela cidade, Joabe, por respeito ao rei, deixa para este a honra de capturar a própria cidade.
As dificuldades na família de Davi (13:1- 18:33)
Começam as dificuldades na casa de Davi quando Amnom, um dos filhos de Davi, se apaixona por Tamar, irmã de seu meio-irmão, Absalão. Amnom finge estar doente e pede que lhe enviem a bela Tamar para cuidar dele. Ele a violenta, e daí a odeia intensamente, de modo que a manda embora em humilhação. Absalão planeja vingança, aguardando um momento oportuno. Cerca de dois anos mais tarde, ele organiza um banquete, ao qual Amnom e todos os demais filhos do rei são convidados. Quando o coração de Amnom está alegre pelo vinho, ele é apanhado de surpresa e morto por ordem de Absalão.
Temendo o desagrado do rei, Absalão foge para Gesur, onde vive em semi-exílio por três anos. No ínterim, Joabe, o chefe do exército de Davi, trama um meio de reconciliação entre Davi e Absalão. Faz com que uma mulher sábia de Tecoa conte ao rei uma história inventada sobre retribuição, banimento e punição. Quando o rei pronuncia o veredicto, a mulher lhe revela a verdadeira razão de sua presença: é que o próprio filho do rei, Absalão, está banido em Gesur. Davi percebe que Joabe planejou isto, mas dá permissão para que seu filho retorne a Jerusalém. Passam mais dois anos até o rei consentir ver Absalão face a face.
Apesar da benevolência de Davi, Absalão não tarda em conspirar contra seu pai para se apoderar de seu trono. Absalão é extraordinariamente belo entre todos os homens valentes de Israel, e isto contribui para torná-lo ambicioso e orgulhoso. Cada ano, o cabelo que se corta de sua bela cabeleira pesa uns dois quilos e trezentos gramas. (2 Sam. 14:26, nota) Por meio de diversas manobras astutas, Absalão começa a seduzir o coração dos homens de Israel. Por fim, a conspiração é revelada. Absalão, obtendo permissão de seu pai para ir a Hébron, anuncia ali o seu propósito rebelde e pede a ajuda de todo o Israel na sua insurreição contra Davi. Quando grande número de pessoas toma o lado deste seu filho rebelde, Davi foge de Jerusalém com uns poucos apoiadores leais, sendo típico destes Itai, o geteu, que declara: “Por Yahweh que vive e por meu senhor, o rei, que vive, no lugar em que meu senhor, o rei, vier a estar, quer para a morte quer para a vida, lá virá a estar o teu servo!” — 15:21.
Ao fugir de Jerusalém, Davi fica sabendo da traição de um de seus conselheiros de maior confiança, Aitofel. Ele ora: “Por favor, transforma em estultícia o conselho de Aitofel, ó Yahweh!” (15:31) Zadoque e Abiatar, sacerdotes leais a Davi, e Husai, o arquita, são enviados de volta a Jerusalém, para observarem as atividades de Absalão e darem notícias. Nesse meio tempo, no ermo, Davi se encontra com Ziba, o assistente de Mefibosete, que informa que seu amo espera que agora o reino seja devolvido à casa de Saul. Quando Davi passa por lá, Simei, da casa de Saul, amaldiçoa-o e atira pedras nele, mas Davi impede que seus homens se vinguem.
O usurpador Absalão, em Jerusalém, tem relações sexuais com as concubinas de seu pai “sob os olhares de todo o Israel”, seguindo a sugestão de Aitofel. Isto se dá em cumprimento do julgamento profético de Natã. (16:22; 12:11) Aitofel aconselha também Absalão a tomar uma força de 12.000 homens e ir perseguir Davi no ermo. No entanto, Husai, que ganhou a confiança de Absalão, recomenda outro plano. E, segundo a oração de Davi, o conselho de Aitofel é frustrado. Semelhante a Judas, o frustrado Aitofel vai para casa e se estrangula. Husai relata secretamente os planos do usurpador Absalão aos sacerdotes Zadoque e Abiatar, que, por sua vez, mandam transmitir a mensagem a Davi que se acha no ermo.
Isto possibilita que Davi atravesse o Jordão e escolha o lugar para a batalha na floresta de Maanaim. Ali, ele desdobra em ordem de combate suas tropas e ordena-lhes que tratem Absalão com bondade. Os rebeldes sofrem derrota esmagadora. Quando Absalão foge num mulo por entre a floresta fechada, a sua cabeça fica presa nos ramos mais baixos de uma grande árvore, e ali fica suspenso no ar. Encontrando-o em tal apuro, Joabe o mata, desconsiderando totalmente a ordem do rei. A profunda tristeza de Davi ao ouvir a notícia da morte de seu filho se reflete na sua lamentação: “Meu filho Absalão, meu filho, meu filho Absalão! Oh! que eu, eu mesmo, tivesse morrido em teu lugar, Absalão, meu filho, meu filho!” — 18:33.
Eventos finais do reinado de Davi (19:1-24:25)
Davi continua a lamentar amargamente até que Joabe insta com ele que reassuma a sua devida posição como rei. Ele nomeia agora a Amasa qual chefe sobre o exército, no lugar de Joabe. A caminho de volta, ele é bem acolhido pelo povo, também por Simei, cuja vida Davi poupa. Mefibosete também pleiteia a sua causa, e Davi lhe dá herança igual à de Ziba. Todo o Israel e Judá ficam de novo unidos sob Davi.
Entretanto, novas dificuldades hão de surgir. Seba, um benjamita, proclama-se rei e desvia de Davi a muitos. Amasa, a quem Davi instrui para convocar homens para pôr fim à rebelião, encontra Joabe que o assassina traiçoeiramente. Joabe assume então o controle do exército e persegue Seba até a cidade de Abel de Bete-Maacá, sitiando-a. Seguindo o conselho de uma mulher sábia da cidade, os habitantes executam Seba, e Joabe se retira. Por causa de culpa de sangue, não-vingada, em razão de Saul ter matado os gibeonitas, há uma fome em Israel que dura três anos. Para remover essa culpa de sangue, sete filhos da casa de Saul são executados. E, novamente em batalha contra os filisteus, a vida de Davi é salva por um triz por Abisai, seu sobrinho. Seus homens juram que ele não mais deverá sair à batalha com eles “para que não apagues a lâmpada de Israel!”. (21:17) Três de seus homens valentes se distinguem, destruindo os gigantes filisteus.
Nesta altura, o escritor insere no relato um cântico de Davi a Yahweh, que corresponde ao Salmo 18, e que expressa agradecimentos por livrá-lo “da palma da mão de todos os seus inimigos e da palma de Saul”. Com alegria, ele declara: “Yahweh é meu rochedo, e minha fortaleza, e Aquele que me põe a salvo. Aquele que faz grandes atos de salvação para o seu rei e usa de benevolência para com o seu ungido, para com Davi e para com a sua descendência por tempo indefinido.” (22:1, 2, 51) Segue-se, então, o último cântico de Davi, em que admite: “Foi o espírito de Yahweh que falou por meu intermédio, e a sua palavra estava na minha língua.” — 23:2.
Voltando à narrativa histórica, encontramos alistados os homens poderosos que pertencem a Davi; três dos quais são notáveis. Estes estão envolvidos num incidente que ocorre quando se estabelece um posto avançado dos filisteus em Belém, a cidade natal de Davi. Davi expressa o desejo: “Quem me dera beber da água da cisterna de Belém, que está junto ao portão!” (23:15) Com isso, os três homens valentes irrompem pelo acampamento dos filisteus, tiram água da cisterna e a trazem a Davi. Mas, Davi recusa beber. Em vez disso, derrama-a no chão, dizendo: “É inconcebível, da minha parte, ó Yahweh, fazer isso! Beberia eu o sangue dos homens que andam arriscando as suas almas?” (23:17) Para ele a água é equivalente ao sangue vital que arriscaram para obtê-la. A seguir são alistados os 30 homens mais poderosos de seu exército, bem como as façanhas.
Por fim, Davi peca por fazer a contagem do povo. Implorando misericórdia a Deus, propõe-se-lhe a escolha entre três tipos de punição: sete anos de fome, três meses de derrotas militares ou três dias de pestilência no país. Davi responde: “Caiamos na mão de Yahweh, porque são muitas as suas misericórdias; mas não caia eu na mão dum homem.” (24:14) A pestilência sobre a nação inteira mata 70.000 pessoas, e só pára quando Davi, agindo segundo as instruções de Yahweh, que recebe por intermédio de Gade, compra a eira de Araúna, onde oferece a Yahweh sacrifícios queimados e de participação em comum.