Panorama do Livro de Cânticos
Panorama do Livro de Cânticos
A matéria do livro é apresentada na forma de uma série de conversas. Há constante mudança de personagens. As pessoas que desempenham o papel das partes faladas são Salomão, rei de Jerusalém, um pastor, sua amada sulamita, os irmãos dela, as damas da corte (“filhas de Jerusalém”) e as mulheres de Jerusalém (“filhas de Sião”). (Cân. 1:5-7; 3:5, 11) São identificadas por aquilo que elas próprias dizem ou pelas palavras dirigidas a elas. O drama se desenrola perto de Suném, ou Sulém, onde Salomão está acampado com sua comitiva da corte. Expressa um tema comovente — o amor de uma jovem camponesa, da aldeia de Suném, pelo seu companheiro pastor.
A sulamita no acampamento de Salomão (1:1-14)
A jovem aparece nas tendas reais, onde o rei a introduziu, mas ela só anseia ver seu amado pastor. Com saudades do seu amado, ela fala como se ele estivesse presente. As damas da corte (“filhas de Jerusalém”) que assistem o rei olham curiosamente para a sulamita por causa da sua tez morena. Ela explica que está queimada do sol por cuidar dos vinhedos de seus irmãos. Daí, fala ao seu amado como se ela estivesse livre, e pergunta onde o pode encontrar. As damas da corte mandam-na ir pastorear o seu rebanho perto das tendas dos pastores.
Salomão entra em cena. Não está disposto a deixá-la partir. Ele exalta a beleza dela e promete adorná-la com “argolinhas de ouro” e “botõezinhos de prata”. Mas a sulamita resiste aos avanços dele e deixa-lhe saber que o único amor que ela sente é pelo seu amado. — 1:11.
O amado pastor aparece (1:15–2:2)
O amado da sulamita consegue penetrar no acampamento de Salomão e a encoraja. Ele lhe expressa todo o seu amor. A sulamita anseia que seu querido fique perto dela e quer ter o simples prazer de viver unida com ele nos campos e nos bosques. A sulamita é uma moça modesta. “Sou apenas um açafrão da planície costeira”, diz ela. Seu amado pastor a julga incomparável: “Como lírio entre as plantas espinhosas, assim é minha companheira entre as filhas.” — 2:1, 2.
A donzela sente saudades de seu pastor (2:3–3:5)
Separada de novo de seu amado, a sulamita mostra o quanto o preza acima de todos, e diz às filhas de Jerusalém que elas estão sob juramento de não tentarem despertar nela um amor não desejado por outro. A sulamita relembra o tempo em que seu pastor respondeu à sua chamada e a convidou a passear nas colinas na primavera. Ela o revê subir os montes, pulando de alegria. A sulamita o ouve gritar para ela: “Levanta-te, vem, ó companheira minha, minha bela, e vem.” Mas, seus irmãos, que duvidavam da sua constância, zangaram-se e ordenaram-lhe trabalhar na guarda dos vinhedos. Ela declara: “Meu querido é meu e eu sou dele”, e implora-lhe que se apresse a vir para junto dela. — 2:13, 16.
A sulamita descreve sua detenção no acampamento de Salomão. De noite, na cama, sente saudades de seu pastor. Novamente lembra as filhas de Jerusalém que estão sob juramento de não despertarem nela um amor não desejado.
A sulamita em Jerusalém (3:6–5:1)
Salomão retorna com grande pompa a Jerusalém, e o povo admira o seu cortejo. Nessa hora cruciante, o amado pastor não abandona a sulamita. Ele segue a sua companheira, que está usando um véu, e entra em contato com ela. Ele encoraja a sua amada com palavras de ternura. Ela lhe diz que quer libertar-se e abandonar a cidade; ele então cai num êxtase de amor, e diz: “Tu és inteiramente bela, ó companheira minha.” (4:7) Um simples olhar dele para ela faz o coração dele bater mais rápido. Suas expressões de afeto são melhores do que o vinho, sua fragrância é como a fragrância do Líbano e a sua pele é como um paraíso de romãs. A moça convida seu amado a vir ao ‘jardim dele’, e ele aceita. As amistosas mulheres de Jerusalém os encorajam, dizendo: “Comei, companheiros! Bebei e embriagai-vos com expressões de afeto!” — 4:16; 5:1.
O sonho da donzela (5:2–6:3)
A sulamita conta às mulheres da corte um sonho em que ouve alguém bater. Seu amado está lá fora e pede-lhe que o deixe entrar. Mas ela está deitada. Quando finalmente se levanta para abrir a porta, ele desapareceu no meio da noite. Ela sai para procurá-lo, mas não o encontra. Os vigias a maltratam. Ela diz às damas da corte que estão sob juramento de dizer a seu amado, se o encontrarem, que ela desfalece de amor. Elas lhe perguntam o que faz com que ele seja tão notável. Ela responde com uma descrição encantadora dele, dizendo que ele é “deslumbrante e corado, o mais conspícuo de dez mil”. (5:10) As damas da corte lhe perguntam onde ele foi. Ela responde que foi pastorear entre os jardins.
Os últimos avanços de Salomão (6:4–8:4)
O Rei Salomão se aproxima da sulamita. Novamente lhe diz quão bela ela é, mais bela do que “sessenta rainhas e oitenta concubinas”, mas ela o rejeita. (6:8) Só está ali porque uma incumbência de serviço a levou perto do acampamento dele. ‘O que vê em mim?’ pergunta ela. Salomão tira partido de sua pergunta ingênua e lhe diz quão bela ela é, dos pés à cabeça, mas a donzela repele os avanços dele. Declara corajosamente sua devoção a seu pastor, clamando para que ele venha. Pela terceira vez diz às filhas de Jerusalém que estão sob juramento de não despertarem nela um amor não espontâneo. Salomão deixa-a partir. Fracassou em conquistar o amor da sulamita.
O retorno da sulamita (8:5-14)
Os irmãos dela vêem-na aproximar-se, mas ela não está sozinha. Está “encostando-se no seu querido”. Ela relembra ter conhecido seu amado debaixo de uma macieira, e declara o seu inquebrantável amor por ele. São mencionados alguns comentários anteriores de seus irmãos sobre a preocupação destes a respeito dela quando “pequena irmã”, mas ela diz que revelou ser mulher madura e estável. (8:8) Que seus irmãos consintam agora no seu casamento. O Rei Salomão pode ficar com a sua riqueza! Ela se contenta com o seu único vinhedo, pois ama alguém que lhe é exclusivamente querido. No seu caso, seu amor é tão forte quanto a morte e suas labaredas como “a chama de Jah”. A insistência na devoção exclusiva, “tão inexorável como o Seol”, triunfou e conduziu à elevação sublime de união com seu amado pastor.