Tomás de Aquino

Tomás de Aquino

TOMÁS DE AQUINO

(Enciclopédia Bíblica Online)

Viveu entre 1224(?) e 1274. Teólogo, filósofo e monge dominicano. Nasceu na Itália, filho do conde de Aquino (daí o seu nome) e da condessa de Teatre. Em criança, foi educado pelos beneditinos (ver o artigo), no monte Cassino, em Nápoles. Aos vinte anos, uniu-se à ordem dominicana (ver o artigo a respeito), e por muitos anos estudou em Paris e em Colônia, sob Alberto o Grande. Aos trinta e dois anos, obteve permissão para ensinar em Paris e desde então foi professor ali e na Cúria Papal em Roma e em Nápoles. Suas obras escritas são volumosas, em bora as principais sejam estas: 1. Um comentário sobre as Sentenças de Pedro Lombardo; 2. Summa contra Gentiles,  um ataque contra os erros dos incrédulos, principalmente islamitas, mas que contém muitos elementos filosóficos e teológicos, à p arte da controvérsia; 3. Suma Theologiae,  sua obra-prima, sendo um compêndio de exposições breves, sistemáticas, abrangentes e bem pensadas das principais verdades da fé cristã. Desenvolveu-se a partir dos livros de sentenças do último período patrístico e do começo do período medieval, que a princípio eram coletâneas impessoais de extratos (sententiae) dos escritos dos pais da Igreja. As Sententiae de Pedro Lombardo, sobre as quais Aquino comentou, era um desses esforços. A Suma Teológica foi escrita entre 1267 e 1273, estando dividida em três partes. A primeira parte trata de Deus, a segunda do homem e suas relações com Deus, e a terceira trata de Cristo, Sua encarnação e Sua continuação por meio da Igreja e seus sacramentos. 4. Questiones Disputatae, discussões sobre temas como verdade, poder de Deus, o mal, etc.

1. Influências sofridas por Aquino,  e sua influência sobre outros. 

A princípio ele foi influenciado principalmente por Agostinho, e até certo ponto, sua filosofia-teologia sempre permaneceu atrelada à daquele. Platão sempre havia dominado a cena teológica, pelo menos até onde os teólogos usavam a filosofia p ara exprimir os seus dogmas. Porém , Tomás de Aquino introduziu Aristóteles como filósofo cujas obras podiam ser usadas para emprestar apoio racional à teologia. Em Aquino, Aristóteles é chamado de “o filósofo”. Até a época de Aquino, a maioria dos teólogos ou ignoravam ou se opunham a Aristóteles, e os islamitas usavam-no para expor um ponto de vista do mundo de sabor materialista, quino, ao usar as ideias de Aristóteles, levou seus discípulos, outros mestres e as universidades, a se familiarizarem com essas ideias. E elas vieram a tornar-se um permanente veículo para exprimir ideias cristãs.

2. Com adaptações, Aristóteles toma-se um teólogo cristão.  

Tomás de Aquino usava, adaptava e modificava as ideias de Aristóteles, e assim tornou-se muito endividado p ara com “o filósofo”. Em sua abordagem ética geral, na Suma Teológica,  ele aborda a felicidade, a virtude, as ações e emoções humanas; é fortíssima a influência aristoteliana. Na metafísica, A quino aplicava a distinção aristoteliana entre a realidade e a potencialidade (ver o artigo a respeito) a uma larga gama de tópicos e problemas. A madeira, como uma substância, é o que ela é (em sua realidade), mas pode sofrer modificações como quando se aquece e se queima. Essas modificações são chamadas potencialidade.  As realidades envolvidas nas alterações chamam-se formas.  

Há dois tipos: 1. Formas acidentais, que envolvem mudanças acidentais; 2. formas substanciais, que envolvem alterações na própria substância. A palavra matéria foi usada para designar aquilo que tem a capacidade de sofrer modificações substanciais. Todos os objetos terrestres consistem em matéria e forma. Mas, além das entidades compostas,  também há formas puras,  como se dá com os anjos, que não têm vínculo com a matéria, e que, por isso mesmo, são todos membros de uma mesma espécie. As coisas e os seres terrestres, por possuírem matéria, podem, e de fato, devem ser de diferentes tipos. Para que haja diferenças entre os anjos, é necessário que pertençam a m ais de um a espécie, cada qual com sua forma individual. A existência de todas as coisas, com a única exceção de Deus, é um a questão de atualização de potencialidade. Todas as criaturas são essências em potencial. Mas Deus combina essência e existência em Um só, pois a Sua existência é necessária em sentido ímpar, pelo que Ele é distinto de todas as criaturas, não tendo resultado de qualquer processo, conforme se dá com elas. Provas da existência de Deus. 

Neste ponto, Tomás de Aquino também deve muito a Aristóteles. Assim, em sua maneira de pensar sobre Deus, através de “cinco vias” (quinque viae), vemos que ele usou ideias filosóficas aristotélicas: 

a. Precisamos postular Deus, a fim de explicar os movimentos no mundo. 

Tais movimentos não consistem apenas na mudança de lugar dos objetos, mas também em todos os desenvolvimentos, como se dá com as criaturas vivas, ao que chamam os de crescimento. Se Tom ás de A quino tivesse tido conhecimento dos movimentos dos átomos, sem dúvida teria incluído a ideia. P ara explicar os movimentos, temos a ideia aristoteliana de Movedor Inamovível, aquela força cósmica que faz todas as coisas se movimentarem, por serem amadas. E esse Movedor primário é Deus. 

b. Argumento etiológico. 

Esse é necessário para postularmos uma “causa” (no grego, aitios).  Existem causas intermediárias, mas finalmente precisamos admitir um a causa primária, como também o princípio de causa, que faz todas as coisas continuarem ocorrendo. O coração pulsa, mas deve haver muitos fatores contribuintes, incluindo o de natureza cósmica (as condições favoráveis da Terra, dentro do sistema solar), para que essas pulsações continuem. Deus também é esse tipo de causa (sustentadora), e não apenas a Causa primária. Sem a causa não poderia haver o efeito, e portanto, nem a vida e nem a existência de qualquer tipo. 

c. Argumento baseado na contingência  e na necessidade.  

Sem um Ser necessário, outros seres, por serem contingentes, necessariamente desapareceriam da existência. O conceito do ser, por si mesmo, conduz-nos ao seu corolário, o conceito do Ser Necessário. Esse ser é Deus. Esse argumento pode haver sido sugerido pela abordagem aristoteliana da realidade e da substância eterna, o Movedor Inamovível. 

d. Argumento axiológico. 

Há graus de bondade, verdade, nobreza e valores morais. Para que nossos juízos sobre essas coisas façam sentido, precisamos postular a Bondade Absoluta, a Verdade Absoluta ou um Ser Supremo em quem estão incorporados todos os valores, o qual é, ao mesmo tempo, o alvo de toda a verdade e ação morais, bem como o inspirador das mesmas. e. Argumento teleológico.  Todas as coisas têm um alvo, bem como um propósito demonstrável. O estudo das ciências, em um importante sentido, é o estudo do desígnio que há na natureza, completo com suas invariabilidades. Sem esse fator, não poderia haver ciência. 

Se há desígnio, então deve haver um supremo Planejador, cuja inteligência garante a teleologia (no grego, telos,  “fim”, “finalidade”). A filosofia de Aristóteles repisa o conceito de desígnio, e Tomás de A quino inspirava-se no filósofo ao formular esse conceito, em bora não tivesse sido o primeiro a utilizar-se desses argumentos racionais. Quanto a uma mais completa exposição da questão, quanto às suas provas, ver o artigo sobre Deus, sob “Deus, Provas de Sua Existência”. 

3. Abordagem Geral. 

Nos parágrafos acima vimos como Aquino aplicava as ideias de Aristóteles. Isso demonstra em parte a sua abordagem, que visava incluir a filosofia aristoteliana dentro do arcabouço da fé cristã. Aquino dizia que a filosofia e a religião se complementam um a à outra. A filosofia enfatiza o exercício da razão, que é saudável à fé, pois Deus, afinal, é o Intelecto Supremo, e as almas humanas são intelectuais, tendo afinidade com Deus (ideias aristotélicas em essência). A fé pode aceitar muitas das doutrinas aceitas pela razão, mas também pode ultrapassar a razão, porquanto a fé religiosa também obtém informações por meio da intuição e das experiências místicas (por meio da revelação e de outras formas). Assim, a fé vai além da razão, embora não a contradiga. Algumas doutrinas repousam sobre a fé e a razão; e outras sobre a fé somente, por meio da revelação cristã, segundo se dá com as doutrinas da trindade e da encarnação, com seus mistérios e implicações. Essas doutrinas dependem da sabedoria de Deus, podendo ser conhecidas apenas imperfeitamente por meio da razão humana.

4. Teoria Moral. 

Tomás de A quino deu ao catolicismo romano sua teoria ética básica, pode ele também dependeu em muito de Aristóteles. Aquino mostrou sua capacidade de razão e analogia, dando à sua ética um a maciça estrutura , grande gama de ideias, análises completas, e rica interpretação, filosófica e teologicamente falando. Esses desenvolvimentos podem ser encontrado só em sua Suma Teológica. Sumário: 


a. O homem como agente moral responsável.

O homem foi criado como ser moralmente responsável, um a criatura racional cuja própria racionalidade é um a afinidade com o divino, outorgada por Deus. O homem está a meio caminho entre os animais e os anjos, dentro da escala do ser. A semelhança dos anjos, ele possui alma racional; à semelhança dos animais, tem um corpo físico. Seus impulsos e desejos físicos são derivados de suas faculdades apetitivas, sendo essencialmente animais em sua natureza. Mas sua racionalidade lhe fornece os meios para combater as paixões e desenvolver as virtudes. O homem busca o bem segundo sua razão preceitua. Sua razão deveria ser grande e boa, por ter sido criada e inspirada por Deus. Alvos retos são selecionados por Deus, e o homem, se seu aspecto racional for desenvolvido, naturalmente seguirá esses alvos. A queda no pecado não diminuiu essa qualidade em grande escala, embora tenha debilitado moralmente o homem. Não obstante, retém um a digna maneira de pensar. Com base em Aristóteles, A quino acrescenta aqui o fator teleológico. Há finalidades apropriadas a serem obtidas na ética, e o homem foi programado para isso. O homem possui livre-arbítrio, podendo fazer escolhas genuínas, pelas quais também torna-se responsável. A vontade de Deus é ativa quanto ao homem, e ajuda-o a fazer as escolhas certas. Sem isso, o homem n ad a poderia fazer. Contudo, há um esforço cooperativo envolvido em toda a ética. O homem não é um autômato. 

b. Os alvos podem ser alcançados.  

As quatro virtudes cardeais são a prudência,  a retidão,  o controle-próprio  e aforça de caráter (influências aristotélicas). Todos os homens, como seres racionais que são, compreendem essas virtudes e podem buscá-las mediante o ato do livre-arbítrio. A razão deve governar essas escolhas. A prudência,  que é a virtude intelectual, mostra-se proeminente como força diretriz em toda a ação moral. Bons hábitos morais resultam da prática diária, de contínuas boas escolhas. Seu alvo é a felicidade (filosofia eudemonística,  como em Aristóteles). Porém, esse bem-estar não equivale ao prazer (filosofia hedonista), embora tenha seus aprazimentos. As quatro virtudes aristotélicas, Aquino adicionava as virtudes cristãs básicas: a fé, a esperança e o amor. A origem destas seria a revelação divina. Há necessidade da graça sobrenatural para que essas virtudes sejam constantes no indivíduo. Mas a fé opera em união com a razão, e a razão fortalece a fé. A esperança é criada pela vontade, que assinala o alvo como algo exequível. A fé, ajudada pelo intelecto, apossa-se dos princípios transcendentais que precisam ser cridos. O amor fala sobre a união espiritual mediante a qual a vontade é transformada em um esforço sobrenatural. O amor é a m ais excelente das virtudes, derivado do amor de Deus. 

c. Ajuda divina.  

O homem não pode atingir a busca moral e sua mais alta realização sem a ajuda de Deus. Há diversas ajudas: 1. A lei eterna, na mente de Deus, transmitida à mente humana; 2. a lei natural que prevalece no mundo, e que aponta para os mesmos alvos; 3. leis humanas e decretadas, baixadas pelos governos humanos, que precisam ser obedecidas; 4. a lei divina, conforme é encontrada na Bíblia. Esta última concorda com a lei natural, embora vá além da mesma. O Espírito Santo grava essa lei no coração humano, conferindo ao homem as corretas disposições internas.

5. Influência de Tomás de Aquino.  

Sua influência foi grande, em sua época. Ele fez com que as universidades europeias, estudassem e aplicassem a filosofia aristotélica. Provei uma síntese de filosofia e fé, na verdade, um a síntese de tudo quanto se conhecia na época. Destarte, ele figura como um dos grandes pensadores universais, um dos principais teólogos e filósofos, havendo poucos que se rivalizassem a ele. Sua influência continuou poderosa, mesmo após a sua morte. Foi declarado santo pelo papa João XXII, a 18 de julho de 1323, e doutor da Igreja universal pelo papa Pio V, em 1567; e patrono de todas as escolas católicas pelo papa Leão XIII, em 1880, fazendo com que a sua filosofia se tomasse a filosofia universal de Igreja de Roma. Em 1918, o Codex Juris Canonici (Código da Lei Canônica) determinou que essa filosofia fosse ensinada nos seminários eclesiásticos.

6. Controvérsias, e para além das controvérsias. 

Vários teólogos, principalmente protestantes, têm objetado à ideia da inteira abordagem filosófica da fé religiosa. Muitas doutrinas tipicamente tomistas têm sido atacadas, mormente aquilo que parece ser uma mui débil ênfase sobre a fé evangélica, a graça e a conversão sobrenatural, e ênfase demasiada sobre a razão e suas realizações. Porém , no caso de um homem como Tomás de Aquino, temos de ir além das controvérsias. 

Em primeiro lugar, porque ele foi homem de grande piedade pessoal, o que a história inteira confirma. Em segundo lugar, porque ele foi homem de raciocínio profundo, de grande poder de análise; e suas maciças obras contêm tanto bem que se duvida que possam ser rejeitadas sem grande perda. Diz-se que poucos meses antes de sua morte, ao entrar na capela, recebeu poderosa iluminação em um a visão extática. D ali por diante nada mais escreveu, afirmando que seus escritos eram apenas palha, tão grande foi a iluminação que ele recebeu naquela experiência. Assim, a palha de Tomás de Aquino foi maior que o ouro de muitos homens, e sua iluminação foi tão divina que os outros homens só 249 podiam esperar que a graça divina lhes proviesse igual iluminação, quando estivessem preparados para isso, por meio do desenvolvimento da alma. Durante alguns meses, pois, ele pôs de lado as suas atividades como escritor de pensamentos de palha, penetrando na luz celeste, após ter vislumbrado, de antemão, aquela glória. Sobre isso podemos estar certos. 

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