Interpretação de Levítico 16

Levítico 16

16:1-34 Apesar de todos os sacrifícios feitos durante o ano pelos membros da congregação de Israel e pelos próprios sacerdotes, ainda ficavam pecados e imundícias que exigiam expiação para que houvesse um relacionamento adequado entre Deus e o Seu povo. Por isso um dia particular foi inaugurado, no qual o ritual executado pelo sumo sacerdote realizaria a reconciliação da nação com o seu Deus. Hebreus 9 dá o significado da cerimônia para o cristão dum quadro claro que Lv. 16 pode verdadeiramente ser chamado de pináculo do sistema sacrificial do V.T.

16:2. Não entre no santuário em todo tempo. Arão não tinha permissão de frequentes entradas no Lugar Santo por trás do véu (paraket) ou “divisor”, diante do propiciatório (kapporet) descrito em Êx. 25:17-21. Este kapporet vem do verbo keipar, “cobrir, perdoar ou expiar”. Por isso a tampa da arca, ou propiciatório, podia ser assim chamada. Conforme prescrito nos versículos 29, 30, a entrada só devia acontecer uma vez por ano. E só devia ser feita de acordo com o que fora prescrito.

16:3. Entrará Arão no santuário com isto. Uma vez que o próprio sacerdote tinha de ser purificado antes de poder oferecer sacrifício pelo povo, tinha de trazer um novilho como oferta pelo pecado e um carneiro como oferta queimada. Do povo (v. 5) tinha de tomar dois bodes para uma oferta pelo pecado e um carneiro para uma oferta queimada, a serem oferecidas pelo povo.

16:4. Vestirá ele a túnica de linho. Depois de se lavar, o sacerdote devia vestir as vestes sacerdotais.

16:6. Arão trará o novilho da sua oferta. O novilho devia ser uma oferta pelo pecado do sacerdote e sua família (cons. v. 11). Compare esta descrição com a de Jesus em Hb. 7:26, 27.

16:7. Também tomará ambos os bodes. Os dois bodes, depois de serem “apresentados ao Senhor” eram escolhidos por sorte, uru para o Senhor e outro como “bode emissário” (‘azei’zel). A identidade e significado de ’azei’zel não são explicados, mas as referências tornam claro que era alguma espécie de demônio que representava para o povo judeu aquilo que se opunha a Jeová. Deve-se notar, contudo, que enquanto um bode devia ser sacrificado ao Senhor (vs. 9, 15), o outro não devia ser sacrificado a ’azei’zel, mas simplesmente solto no deserto depois de ter sido apresentado vivo diante do Senhor (cons. vs. 20-22).

Outra interpretação do ’azei’zel é que a palavra hebraica é um substantivo abstrato significando “remoção completa” (cons. ASV tradução marginal). Neste caso ’azei’zel é formado de um radical intensivo da raiz verbal ’azal encontrado na linguagem árabe cognata com o significado de “remover”. Levítico 17:7 proíbe expressamente qualquer sacrifício aos demônios. A função real do bode vivo era levar para longe todos os pecados de Israel e tornar evidente o efeito da grande obra da expiação. Esta cerimônia única envolvendo o segundo bode ensina a remoção completa dos pecados expiados pelo sacrifício (cons. Sl. 103:12; Is. 38:17; 43:25; Jr. 31:34; Mq. 7:19; Jo. 1:29; Hb. 9:26).

16:12. Tomará também o incensário. A primeira entrada do sumo sacerdote no Santíssimo Lugar era com o propósito de introduzir o incensário com brasas vivas e dois punhados de incenso.

16:13 O testemunho (hei’edut) é um termo usado com referência às duas tábuas dadas a Moisés no Sinai e subsequentemente colocadas na arca (cons. Êx. 25:16; 31:18; 32:15). A nuvem resultante do incenso tinha o intuito, talvez, de esconder aos olhos do sacerdote a manifestação de Deus sobre o propiciatório para que não morresse (Êx. 33:20).

16:14 Tomará do sangue. Entende-se aqui que o sumo sacerdote devia sair do Santíssimo Lugar a fim de buscar o sangue do novilho, voltando então uma segunda vez para aspergir o sangue sobre e diante do propiciatório conforme indicado.

16:15. Depois imolará. Depois devia sair novamente, matar o bode da oferta pelo pecado do povo, entrando no Lugar Santíssimo uma terceira vez, repetindo com o sangue do bode o procedimento descrito no versículo 14.

16:16. Fará expiação. Assim o sumo sacerdote expiaria os pecados do povo, e a consequente imundícia do Lugar Santo e do Tabernáculo, que exigia uma purificação periódica.

16:20. Fará chegar o bode vivo. O bode vivo do versículo 10 devia ser trazido, depois do que, Arão colocada as duas mãos sobre ele, e confessaria todos os pecarias do povo de Israel. Considerava-se que este ato simbolizava a transferência dos pecados para o bode, o qual era depois solto no deserto, presumivelmente para morrer. Já dissemos (v. 8) que ’azei’zel representava para os judeus aquilo que se opunha ao Senhor. Assim como o primeiro bode era o meio de expiação dos pecados de Israel com referência ao Senhor, o segundo bode era um meio de expiação com referência ao que se opunha ao Senhor, fazendo voltar para ele, com o bode, os pecados pelos quais era responsável. Mas, enquanto o bode designado para o Senhor era sacrificado, o bode designado para ’azei’zel não era. Se, na realidade, considerava-se o segundo bode portador de todos os pecados (isto é, os pecados arbitrários como também os involuntários) dos filhos de Israel não está claro.

16:23-25. Depois Arão virá à tenda da congregação. Arão devia entrar no Tabernáculo, remover suas vestes de linho, lavar-se, e vestir outra roupa. As vestes usadas a esta altura não são descritas, embora pareça que eram as vestes formais do sumo sacerdote (cons. Êx. 28). Depois devia sacrificar sobre o altar um carneiro como oferta queimada pelo povo, depois do que a gordura da oferta pelo pecado. (cons. Lv. 16:11, 19) devia ser queimada.

16:26. Aquele que tiver levado o bode. O homem que se tornara imundo ao levar o bode para o deserto (v. 21) tinha de lavar suas roupas e banhar-se antes de retomar à comunidade.

16:27 O novilho e o bode... serão levados. As partes restantes do novilho e do bode usados nas ofertas pelos pecados deviam ser levadas para fora do acampamento e destruídas pelo fogo. Aqueles que tomassem esta providência deviam lavar suas vestes e corpos antes de retornar.

16:29 Afligireis as vossas almas. O estabelecimento perpétuo do Dia da Expiação, yom hakkippurim (cons. 23: 27), e sua comemoração pelo sumo sacerdote e o povo é o que se segue nos demais versículos do capítulo. O dia décimo do sétimo mês foi indicado para a comemoração, e nesse dia o povo devia se humilhar (te’annu) e abster-se de todo trabalho. Este humilhar-se ou afligir-se costumava ser feito através do jejum (cons. Sl. 35:13 ; Ez. 8:21; Is. 58:3, 5 ), subjugando os apetites terrenos a fim de manifestar-se penitente pelos erros cometidos.

16:31 Sábado de descanso. As palavras shabbat shabbaton significam “um sábado de solene descanso” (RSV), isto é, um sábado importante, um sábado especial

16:32 Quem... fará a expiação. Devia-se seguir o ritual prescrito uma vez por ano (v. 34) pelo indivíduo que ocupava o posto de sumo sacerdote. Todo o ritual, imperfeito e sujeito à repetição como era, tinha apenas o objetivo de tornar o devoto ansioso pela vinda do Sumo Sacerdote e do Mediador Perfeito que cumpriria, de uma só vez para todo o sempre, todas as exigências necessárias para efetuar a perfeita reconciliação com o Pai.

O Dia da Expiação

Levítico 16:1–34

O Dia da Expiação era comemorado anualmente no décimo dia do mês de Tishri (início do outono; veja a tabela). Seu propósito era fazer expiação pelos pecados dos sacerdotes e do povo de Israel, bem como purificar o Lugar Santíssimo, a tenda de reunião e o altar (Lv 16,33; cf. Hb 9,7). . Os israelitas não deveriam trabalhar no Dia da Expiação, pois era “um dia de descanso sabático” (Lv 16:31; 23:32). Eles também deveriam “negar a si mesmos” (16:29,31; 23:27), uma expressão interpretada para indicar uma exigência de jejum (ver nota em 16:29,31).

A ordem do procedimento do tabernáculo (mais tarde, templo) para o Dia da Expiação era a seguinte: (1) O sumo sacerdote ia até a bacia no pátio, tirava suas vestes normais, lavava-se e entrava no Lugar Santo para vestir o vestes especiais para o Dia da Expiação (v. 4). (2) Ele saiu para sacrificar um novilho no altar do holocausto (ver foto) como oferta pelo pecado por si mesmo e pelos outros sacerdotes (v. 11). (3) Ele entrou no Lugar Santíssimo com um pouco do sangue do novilho, com incenso e com as brasas do altar do holocausto (vv. 12–13). O incenso foi colocado nas brasas, e a fumaça do incenso escondeu a arca de vista. (4) Ele aspergiu um pouco do sangue do touro sobre e na frente da tampa da arca da expiação (v. 14). (5) Ele saiu do tabernáculo e lançou sortes sobre dois bodes para ver qual seria o sacrificado e qual seria o bode expiatório (vv. 7–8). (6) No altar do holocausto, o sumo sacerdote matava o bode para a oferta pelo pecado do povo, e pela segunda vez ele entrava no Lugar Santíssimo, desta vez para aspergir o sangue do bode na frente e sobre a expiação cobertura (vv. 5,9,15–16a). (7) Ele voltou ao Lugar Santo (chamado de “tenda da congregação” no v. 16) e aspergiu o sangue do bode ali (v. 16b). (8) Ele saiu para o altar do holocausto e aspergiu o sangue do bode e do touro sobre ele “para consagrá-lo da impureza dos israelitas” (com “os israelitas” aqui, aparentemente incluindo Aarão e sua família [ v. 11] e todo o resto do povo [v. 15]). (9) Enquanto estava no pátio, ele impôs as duas mãos sobre o segundo bode, simbolizando assim a transferência do pecado de Israel, e o enviou para o deserto (vv. 20–22). (10) Um homem escolhido para levar o bode embora (v. 21), depois de ter feito isso, lavou a si mesmo e suas roupas fora do acampamento (v. 26) antes de se juntar ao povo. (11) O sumo sacerdote entrava no Santo Lugar para tirar suas vestes especiais (v. 23). (12) Ele foi à bacia para se lavar e vestir suas roupas normais de sacerdote (v. 24). (13) Como sacrifício final, ele foi ao altar e ofereceu um carneiro (v. 3) como holocausto para si mesmo, e outro carneiro (v. 5) para o povo (v. 24). (14) A conclusão de todo o dia era a remoção dos sacrifícios pelas ofertas pelo pecado para um local fora do acampamento, onde eram queimados, e ali o homem que realizava esse ritual tomava banho e lavava suas roupas (vv. 27–28). ) antes de se juntar ao povo.

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