Sandália — Estudos Bíblicos
SANDÁLIA (SAPATO)
A arqueologia tem podido
mostrar o uso antiquíssimo de diferentes tipos de calçados, dos quais o mais
comum eram as sandálias. Tal como hoje em dia, era essencialmente uma sola,
presa aos pés por meio de correias. Elas têm sido encontradas
na Babilônia, no Egito, em Israel, na Grécia e em Roma. O
termo hebraico é naal, com frequência traduzido por “sandálias”,
no Antigo Testamento. Ver Êxo. 3:5; 12:11; Deu. 25:9,10; 29:5; Jos. 5:15;
I Reis 2:5; Rute 4:7,8. As palavras gregas usadas são upódema e
sandálion (ver Mar. 6:9; Atos 12:8). Sapato é a tradução comum para upódema.
Essa palavra ocorre por dez vezes no Novo Testamento: Mat. 3:11; 10:10; Mar.
1:7; Luc. 3:16; 10:4; 15:22; 22:35; João 1:27; Atos 7:33 (citando Êxo. 3:5);
13:25. Sua forma verbal é upodéo, que significa “amarrar”,
provavelmente estando em foco a sandália, na maioria das ocorrências. Os
calçados variavam, segundo a necessidade da ocasião, e havia muitos tipos de
calçados para as diversas profissões. Ver o artigo geral intitulado Vestuário.
Os formatos dos calçados
antigos têm sido amplamente demonstrados em monumentos, desenhos etc.,
principalmente aqueles de origem assíria, babilônica, egípcia e persa. Algum
tipo de proteção para os pés pode ser visto nas gravuras desde o quarto
milênio A.C. O painel de Beni-Hassan, de cerca de 1900 A.C., mostra um
grupo do asiáticos, que vinham do Egito, usando uma espécie de
sandália que revestia o calcanhar e o peito do pé. As mulheres usavam
botas que chegavam acima dos tornozelos, com uma faixa branca no
alto. O obelisco negro de Salmaneser III (século IX A.C.) mostra Jeú e
os israelitas com calçados de ponta virada para cima, sem dúvida
com propósitos decorativos, e sem qualquer utilidade prática.
Os calçados eram tirados
quando se entrava em alguma casa, e o lava-pés era um ato comum de cortesia e
hospitalidade (ver Luc. 7:44). Nas famílias mais abastadas, eram escravos
que realizavam esse humilde serviço.
Usos Figurados:
1. O sumo sacerdote de
Israel não usava calçados quando cumpria seus deveres; seus pés descalços simbolizavam
respeito, porque ninguém podia usar calçados na presença de Yahweh.
Talvez isso proviesse da idéia de andar descalço em terra santa (ver Êxo. 3:5),
quiçá envolvendo a idéia de que os calçados, que pisam o chão, estão
geralmente sujos. Ver o sexto ponto, abaixo.
2. A sandália com
correias era um calçado barato, feito de material que até mesmo os pobres
podiam comprar. Assim, Abraão não concordou em ficar nem com a mais
insignificante possessão do rei de Sodoma (ver Gên. 14:23). Em Amós 2:6 e
8:6, comprar “os necessitados por um par de sandálias” era vendê-los por
preço irrisório.
3. O calçado, tão ao
nível do chão, representa a parte mais humilde ou a porção mais humilde de
uma pessoa. João Batista disse que não era digno nem mesmo de tocar nas
sandálias de Jesus (ver Mat. 3:11; Miq. 1:7; Atos 13:25).
4. Os calçados falam
sobre a preparação para alguma viagem (Êxo. 12:11).
5. Não precisar de dois
pares de sandálias aponta para as provisões adequadas, conferidas por Jesus aos
seus discípulos (ver Mat. 10:10; Luc. 10:4; 22:35).
6. As sandálias e os pés
ficam sujos devido às imundícias com as quais entram em contacto. Isso
simboliza como a vida diária contamina espiritualmente o indivíduo, e como o
crente precisa de purificação diária. Provavelmente, essa foi a razão pela qual
Deus ordenou que Moisés tirasse as sandálias, quando este se achava
em terreno santo (ver Êxo. 3:5). Essa é também a lição espiritual
por detrás da cerimônia do lava-pés, descrita com detalhes no
sexto capítulo do evangelho de João.
7. A remoção dos calçados
poderia simbolizar transferência de propriedades ou direitos, ou a
desistência em um direito, como no caso da responsabilidade pelo casamento
levirato. Um homem que se recusasse a casar-se com a viúva de um seu
irmão, para gerar filhos em nome dele, tinha de remover os calçados como
sinal de sua recusa em assumir tal responsabilidade. Ver Deu. 25:9,10 e
comparar com Rute 4:7,8. Talvez por detrás desse costume houvesse a idéia
de que pisar uma propriedade conferia, ao que assim fizesse, direitos
sobre ela. Tirar os calçados e entregá-los a outrem indicava
a transferência dos direitos acerca de alguma propriedade. Israel
precisava pisar a Terra Prometida, como símbolo de que tomava posse dela.
Ver Deu. 11:24,25.
8. Fazer algo, calçado,
indicava fazê-lo com vigor, força e de modo completo, visto que a maioria
das pessoas tem pés por demais delicados para fazerem muita coisa
descalços.
9. Lançar fora os
calçados simbolizava rejeitar alguém ou alguma coisa, depois de ter tirado
proveito desse alguém ou coisa. Usualmente, a expressão exprime alguma
injustiça nesse ato de rejeição.
10. Nos sonhos e nas
visões, amarrar um calçado é símbolo de morte, provavelmente devido ao
fato de que, quando as pessoas amarram os sapatos, preparam-se para
viajar. A morte é uma viagem para o além.