Estudo sobre Eclesiastes


ECLESIASTES = Do grego ekklesiastes, o que se assenta e  fala a uma assembléia, ou a uma igreja.
Nome este, emprestado da tradução dos Setenta e aplicado ao livro do Antigo Testamento, chamado em hebraico koheleth, cujo sentido não está ainda fixado. Etimologicamente relaciona-se com a palavra que tem o sentido de congregação. O Eclesiastes, ou pregador, como diz a V. B., é claramente de Salomão, “filho de Davi, rei de Jerusalém”, 1:1, que excedeu em sabedoria e riqueza a todos quantos o precederam, 1:16; 2:7, 9. Este livro pode ser recebido como obra original de Salomão, escrita por ele próprio nos anos avançados de sua idade, ou por alguém que, com a máxima fidelidade compendiou os ensinos do grande rei, exprimindo os sentimentos que o animavam, fazendo o retrospecto de sua vida. O sentido do cap. 1:12, 13, segundo o ensino gramatical hebraico, é o seguinte:
“Quanto a mim, durante o meu reinado (que ainda continua) apliquei o coração em busca da sabedoria,  achei que tudo era vaidade.” Ou este outro: “Quando eu era rei (porque agora já não sou) apliquei o coração em busca da sabedoria,  achei que tudo era vaidade.” Esta última forma é a mais correta por ser a que mais se compadece com o vocabulário e com a construção gramatical usada nas Escrituras depois do exílio, e com o aramaico, empregado nos livros de Daniel e de Esdras. 
O livro registra os sentimentos, as experiências e as observações feitas por um sábio, nas circunstâncias do rei Salomão.
O estudo diz respeito, ou tem como objetivo, a atual vida sobre a terra, propondo a seguinte questão: “Que tira mais o homem de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol? 1:3. O método de investigação, ele o expõe no v. 13. Pela observação e pela experiência, o pregador descobre que o homem tem em si mesmo uma fonte de satisfação” no exercício normal e salutar de suas faculdades do corpo e do espírito, em harmonia com as leis físicas  e morais do universo, onde ele se acha, 2:24; 3:12, 13, 22; 5:18; 9:7-10. A sabedoria e o prazer são coisas vãs, 1:12-18; 2:1-11; ainda assim têm seu valor, comparadas com a estultícia, 2:12-23. Conclui que o melhor de tudo é gozar as recompensas do seu trabalho, 2:24; comp. 5:12. Esta conclusão é reforçada, considerando que as atividades do homem se ligam aos graus de seu desenvolvimento. Existe um período de tempo fixo e inalterável para o exercício de cada uma das faculdades do corpo e do espírito, e tudo parece bem em seu próprio tempo, 3:1-11. A injustiça e a opressão tornam impossível qualquer gozo, 3:16; até 4:3. O formalismo e a desonestidade são coisas estultas;  a riqueza é muitas vezes perigo  menos desejável que a morte, 5:1 até cap. 6:9. O pregador fala do valor de um bom nome,  ensina os meios de o alcançar, 7:1-10;  bem assim, o preço que a sabedoria tem como elemento de defesa e proteção, 7:11-22; dá instruções sobre o modo de nos portarmos diante dos reis, 8:1-9,  declara serem bem sucedidos os tementes a Deus, que respeitam a sua face, 8:10-15.
 A morte atinge à todos igualmente; o homem deve comprazer-se, comendo o seu pão com alegria, sua porção aqui na terra, 9:2-10. Depois de várias outras observações judiciosas, o pregador volta ao seu assunto principal: exorta o jovem a regozijar-se na sua mocidade, a viver alegre no seu coração, porém, sujeito às leis da sabedoria; exorta o moço a que se lembre do seu Criador nos dias de sua mocidade,  termina com esta sabia e piedosa sentença: Teme a Deus e observa os seus mandamentos; porque isto é o tudo do homem. Porque Deus fará dar conta no seu juízo de tudo quanto se comete, seja boa ou má essa coisa, qualquer que for, 11:9 a cap. 12:14.
 Em seu argumento, o  escritor apela para os relações do homem com o seu Deus, até onde o permite o conhecimento que dele tem pela natureza e pela experiência. As referências que ele faz a Deus, estão em harmonia com os métodos da escola filosófica a que pertencia (Vide Sabedoria), indispensáveis a uma discussão completa dos meios de nos ajustarmos às condições que aprendemos pela experiência, as quais nos são impostas e sobre cujo poder vivemos.
As feições impressionantes de alguns conceitos contidos neste livro do Eclesiastes, lavaram alguns judeus a por em dúvida os direitos que lhe assistiram a ter lugar entre os livros inspirados. Finalmente, a despeito de tais objeções, o livro faz parte do cânon por unânime consenso das autoridades eclesiásticas. O Novo Testamento não contém nenhuma alusão direta ou indireta a este livro.