Interpretação de Jó 27
Jó 27
Uma vez que Zofar não se pronunciou, Jó continua,
dirigindo-se agora a todos os amigos (cons. plurais em 27:11,12). Cônscio de
sua capacidade, ele assume o papel de professor (27:11). Depois de mais de uma
vez declarar sua justiça, com um forte juramento (27:1-7), ele contrasta sua
própria experiência com a dos ímpios (27:8-23). O cap. 28 é uma introdução
artística ao caminho da sabedoria. Críticos modernos têm argumentado
forçadamente que o texto de 27:7 em diante sofreu alterações. Eles defendem que
os sentimentos expressos contradizem as observações anteriores de Jó, ou, no
caso do capítulo 28, são incompatíveis com a sequência. Parece possível,
entretanto, que se defenda a originalidade do presente arranjo textual, e a
exposição que se segue está baseada nele.
27:1-7. Tão certo como vive o Senhor, que me tirou o
direito (v. 2a). Esta imprecação epitomiza
notavelmente o dilema espiritual de Jó. De um lado, proclama Deus como o Deus
da verdade, e por outro lado, acusa-o de tratar Jó injustamente. Nunca os
meus lábios falarão injustiça (v. 4a). Este não é um voto; é uma declaração
de que a reivindicação irremovível de Jó quanto à sua integridade (vs. 5, 6) é
verdadeira quanto à consciência e fato. Seja como o perverso o meu inimigo (v.
7a). O leitor do Prólogo avalia como era diabólica a acusação de que a piedade
de Jó não era genuína.
8-23.
Porque qual será a esperança do ímpio, quando file for cortada a vida (v.
8a). Jó não se sentindo impelido aos extremos reacionários pela pressão do
debate, Jó atinge uma análise mais penetrantemente espiritual dos ímpios. Estão
sem Deus no mundo. Isto significa que, além de sofrerem perdição eterna (v.8),
não têm o refúgio divino no meio dos problemas presentes (vs. 9, 10; cons.
22b). Por que, pois alimentais vãs noções? (v. 12b). Os amigos deveriam
ter reconhecido pelo persistente clamor de Jó a Deus que a identificação que
fizeram dele com os ímpios era falsa (cons. 35: 9 e segs.). Eis qual será da
parte de Deus a porção do perverso (v. 13a; cons. 20: 29; 31: 2). A
prosperidade de uma família ímpia (vs. 14-18) não passa para as gerações
sucessivas. Quanto ao indivíduo perverso, a prosperidade não é o seu destino
final (vs. 19-23). Jó modifica tanto sua antiga declaração que chega a
concordar com seus oponentes emudecidos que a prosperidade dos perversos não é
a tendência dominante do mundo. Mas ainda reconhece que os perversos podem
prosperar por algum tempo. E qualquer exceção é fatal à lógica da teoria que o
condenava.
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