Interpretação de Jó 31
31:1-40. Jó protesta sua inocência o tempo todo. Aqui,
elaboradamente formulado, esse protesto se transforma no clímax de sua
peroração. Na forma, é um juramento retroativo de lealdade à aliança (cons. v.
1a). Em tais juramentos o orador invoca maldições sobre si mesmo para comprovar
violações do código moral (cons., por exemplo, o Juramento dos Soldados Heteus,
ANET, 353, 354). Até as figuras dos exemplos existentes de tais juramentos
antigos correspondem como de Jó (por exemplo, perda de colheitas, trabalho duro,
fratura de ossos, lavoura infestada de mato. Veja vs. 8, 10, 22, 40). O quadro,
portanto, é o do vassalo convencional declarando sua lealdade às várias
estipulações que file foram impostas, atônito porque o seu soberano o afligira
com maldições e não com as bênçãos da aliança (cons. Dt. 28:18, 31, 35 ). Jó
tem a impressão de que Deus abandonou o seu papel de suserano protetor e
estranhamente se tornou o inimigo de um vassalo obediente.
1-8. Jó começa negando pecados escondidos no coração – concupiscência (v.
1), trapaça (v. 5), cobiça (v. 7). Nisto exibe profunda penetração na
espiritualidade da lei divina (cons. o Sermão do Monte, Mt. 5; 6; 7). Sua
profunda preocupação com o iminente juízo do Suserano vem à tona frequentemente
(vs. 2-4; cons. 11, 12, 14, 23, 28), mais notavelmente em suas automaldições
(v. 8; cons. Dt. 28: 30c, 33). Com estas referências às sanções penais da
aliança Jó torna solene o seu juramento de inocência. Mesclado do reverente
temor de Jó para com o seu Juiz está seu anseio confiante de comparecer diante
dEle, eloquentemente proclamado nos vs. 35-37 e mais simplesmente aqui (v. 6).
9-23. O patriarca também repudia pecados públicos contra seus próximos
adultério (v. 9), maus tratos dispensações a empregados (v.13), negligência das
obrigações sociais de caridade para com os necessitados (vs. 16, 17, 19-21).
Automaldições estão ligadas à primeira e última cláusulas condicionais desta
seção. Além disso, Jó nega vigorosamente, reforçando suas negativas: o
adultério, denunciando severamente tal abuso (vs. 11,12); o abuso com servos,
contando com a investigação divina (v. 14) e reconhecendo a origem comum das
criaturas (v. 15); e falta de caridade, afirmando positivamente o oposto (v.
18) e confessando o seu temor a Deus (v. 23).
24-27. A acusação de hipocrisia e iniquidade secreta que os conselheiros
lançaram contra ele, por falta de evidência dos supostos crimes de Jó, já foram
negados através dos seus protestos. Agora a repudia diretamente, negando
pecados ocultos em seu relacionamento com Deus, seus inimigos e estranhos. Nem
a ilusão das riquezas (vs. 24, 25), nem a fascinação dos cultos pagãos às
entidades celestes (vs. 26, 27) conseguiram engodá-lo em idolatria dissimulada,
a transgressão da exigência mais fundamental da lealdade a Deus (v. 28).
Malícia secreta contra inimigos (v. 29) ele a nega firmemente (v. 30). Os
íntimos da casa, conhecedores de sua vida particular, podem garantir que ele
não teve má vontade de conceder hospitalidade ao forasteiro (vs. 31 e 32).
Resumindo, ele nega sob juramento qualquer semelhança com Adão, que tentou
encobrir o seu pecado (v. 33; cons. 13:20; Gn. 3:7-10). Jó não deve temer o
escrutínio público da sociedade (Jó 31:34) ou de Deus (v. 35 e segs.). Em total
contraste ao temor e fuga de Adão quando da aproximação do Senhor. Jó deseja
apaixonadamente confrontar-se com Deus (v. 35a; cons. 13:3, 22; 23:3-9; 30-20).
Eis aqui a minha defesa assinada (v. 35b). Dramatizando a desejada
audiência com Deus, Jó representa a defesa que ele acabou de oferecer como um documento
legal assinado e selado. Então, com arrogância consumada, ele declara como
desfilará diante de Deus como um príncipe (v. 37b), coroado com o próprio rolo
de sua iniciação (vs. 35c e 36) que se transformará em um emblema de honra para
ele, sendo refutada acusação por acusação (v. 37a).
38-40. O ímpio desafio que acabou de ser proferido (vs. 35-37), enquanto
respondia à condição “Se, como Adão” (vs. 33, 34), forma uma refutação tão
satisfatória de todo o catálogo de pecados e uma conclusão tão grandiloquente
para todo o discurso que muitos mestres consideram os versículos 38-40
anticlimáticos e como estando fora de lugar. Quanto ao estilo, entretanto, o
autor de Jó é apaixonado pelo penúltimo clímax (cons. por exemplo 3: 23 e
segs.;14:15 e segs.). E materialmente este último pecado (vs. 38,39) e esta
última imprecação (v. 40) seguem naturalmente a alusão à queda de Adão (v. 33 e
segs.), pois Jó aqui invoca a maldição primeva elementar com fundamento (Gn.
3:17, 18; cons. Gn. 4:11,12).
Os
protestos de inocência de Jó acompanharam o ritmo de sua percepção aprofundante
das exigências divinas de santidade. Mas agora sua exibição de notável
penetração nas exigências morais divinas denunciam uma igualmente notável
profundidade de justiça própria. Tal cegueira para com a depravação e ilusão do
seu próprio coração não negam a genuinidade da obra redentora divina em Jó. Mas
constitui uma séria necessidade espiritual que deve ser sanada – conforme Eliú
estava para destacar (cap. 32 e segs.) – um dos propósitos de Deus (embora não
fosse o propósito principal) ao determinar os sofrimentos de Jó.
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