Interpretação de Jó 9
Jó 9
A Resposta de Jó a Bildade. 9:1 – 10:22.
Seguindo o padrão geral de sua resposta anterior, Jó
se dirige primeiramente aos seus amigos (9:1-24) e depois mais ou menos
diretamente a Deus (9: 25 – 10:22). Ele começa sua refutação a Bildade
endossando sarcasticamente o tema inicial (e fundamental) do seu amigo (9:2;
cons. 8:3) e conclui com veemente contradição da conclusão de Bildade e sua
alegação (dominante) (9:22-24; cons. 8:20-22). Depois Jó retoma seu lamento
dirigido a Deus, assumindo a temerária oposição à qual o conselho dos seus
amigos o açulou. Neste discurso ele mergulha nas mais negras profundezas de sua
imaginária alienação de Deus. Embora, em sua agitação, comece blasfemando, ele
não se afasta de Deus amaldiçoando-O, mas luta em oração. Pois Satanás não pode
arrancá-lo da mão do seu Pai.
Jó 9
9:1-24. Na verdade sei que é assim (v. 2a). Veja comentário sobre 8:3. O
aspecto judicial da situação agora volta-se favorável a Jó. Deus se lhe
apresenta como um juiz em ação.
2b. Como pode o homem ser justo para com Deus? Embora esta pergunta seja parecida na
forma à revelação de Eh faz (4:17), seu significado é diferente. Jó não diz que
o homem, sendo mortal decaído, não possa permanecer em sua própria integridade
diante de Deus. Ele diz (conforme vemos no versículo seguinte) que seja qual
for a justiça da causa de um homem, ele é demasiado insignificante e ignorante
para defendê-la com sucesso no tribunal, diante da sabedoria e poder
esmagadores de Deus. A ideia da transcendência divina levou Jó a perguntar por
que Deus deveria se dar ao trabalho de afligir o homem tão frágil. Agora o
mesmo pensamento provoca a pergunta: Por que deveria um homem tão frágil se
incomodar em contender com Deus? Esta pergunta expõe a perda de Jó da percepção
da benevolência divina. O Todo-poderoso parece-lhe opor-se como um adversário
gigantesco.
10a. Quem faz grandes coisas, que se não podem
esquadrinhar. Novamente Jó
faz uma nova aplicação a uma citação de Elifaz (cons. 5:9) para responder a
Bildade. Elifaz pronunciou estas palavras como base para Jó entregar sua causa
a Deus (5:8) e as ilustrou com graciosas obras da providência (5:10-16).
Jó as repete para mostrar como estas palavras são
fúteis para apresentar o seu caso a Deus. Ele ilustra com os exemplos mais
sinistros da onipotência absoluta do governo cósmico de Deus (vs. 5-13). Na
ilustração final Jó adota novamente, ao que parece, a imagem retórica da
mitologia usual, os auxiliadores do Egito (v. 13b), para descrever o
governo divino sobre o mar (cons. 26:12). Nem a uma de mil coisas lhe poderá
responder . . . ainda que eu fosse justo, não file responderia; antes ao meu
Juiz pediria misericórdia (vs. 3b,15). Isto antecipa extraordinariamente a
teofania subsequente (38:3 e segs) e a resposta de Jó (40:3-5). Contudo essa
prévia exposição está novamente velada com sutileza pelo equívoco. Pois a
realidade que se comprovará ser o prelúdio da alegria reconquistada, parece
aqui, a Jó, ser uma contingência melancólica.
21a. Eu sou integro. Esta seção termina com um crescendo de denúncias, as
exclamações de Jó quase se transformando em um staccato incoerente. Em completo
desespero de não conseguir estabelecer sua integridade diante do Deus
irresistível, que parece determinado a quebrá-lo, despedaçando-o sem causa (v.
17b; cons. 2:3), Jó contudo afirma desafiadoramente sua honestidade.
22b. Tanto destrói ele o integro como o perverso. A afirmativa dos amigos de que só os
perversos são carregados com dolência precisa de correção; Jó, contudo,
fracassa em discernir o amor de Deus na morte do justo.
23b. Então se rirá do desespero do inocente, exatamente como, assentado inatacável nos
céus, ele “ri-se” (Sl. 2:4, a mesma palavra) dos rebeldes que se enfurecem
contra o seu trono. Os amigos condenaram Jó, afirmando que Deus devia ser justo
– de acordo com o padrão deles. Jó, defendendo-se contra suas insinuações
injustificadas, é levado a condenar Deus para que ele mesmo possa ser
justificado (cons. 40:8).
9:25 – 10:22. O sofredor lamenta suas mágoas, continuando a interpretá-las
como prova de condenação divina. Ele não pode impedir seu anseio por um dia no
tribunal, embora não tenha esperanças de receber tal privilégio. Portanto, ele
discute veementemente com o Deus estranho, criação fantástica de suas dúvidas
loucas.
25a. Os meus dias foram mais velozes do que um
corredor. A oportunidade
para o Juiz de revogar sua decisão e devolver a prosperidade de Jó logo se
desfará. Jó compara a rápida passagem de sua vida miserável com aquelas coisas
que são as mais rápidas na terra (v. 25), no mar (v. 26a) e no ar (v. 26b).
Mesmo assim me submergirás no lodo (v. 31a). Mesmo se o caso fosse ao tribunal
e Jó comprovasse sua inocência tanto quanto fosse possível à eficiência humana
(v. 30), o Juiz o sobrepujaria com acusações de culpa. Não há entre nós árbitro
(v. 33a). Aqui, estando a fé de Jó em seu ponto mais baixo, surge nesta forma
negativa do lamento o conceito do Mediador, que mais tarde viria a se tornar
para Jó uma convicção positiva. Este conceito alcança sua expressão mais alta
no discurso (cap. 19) que marca o topo atingido pela fé de Jó dentro do
andamento do debate. Pois à falta de um árbitro, Jó treme diante do Onipotente,
que parece decidido a aterrorizá-lo até o silêncio (vs. 33-35) e declará-lo
culpado.
Índice: Jó 1 Jó 2 Jó 3 Jó 4 Jó 5 Jó 6 Jó 7 Jó 8 Jó 9 Jó 10 Jó 11 Jó 12 Jó 13 Jó 14 Jó 15 Jó 16 Jó 17 Jó 18 Jó 19 Jó 20 Jó 21 Jó 22 Jó 23 Jó 24 Jó 25 Jó 26 Jó 27 Jó 28 Jó 29 Jó 30 Jó 31 Jó 32 Jó 33 Jó 34 Jó 35 Jó 36 Jó 37 Jó 38 Jó 39 Jó 40 Jó 41 Jó 42