Interpretação de Juízes 11

Em Juízes 11, Jefté, um guerreiro gileadita e filho ilegítimo, é convocado pelos anciãos de Gileade para liderá-los contra os amonitas. Antes de ir para a batalha, Jefté faz um voto precipitado a Deus, prometendo sacrificar a primeira coisa que sair de sua casa se for vitorioso. Após uma vitória bem-sucedida sobre os amonitas, a própria filha de Jefté sai para cumprimentá-lo, levando a um trágico cumprimento de sua promessa. O capítulo destaca o caráter complexo de Jefté, sua posição como juiz e o contexto cultural de fazer votos a Deus. Também ressalta a gravidade das promessas precipitadas e as tristes consequências que podem trazer. Juízes 11 levanta questões sobre o custo da liderança, as normas culturais da época e a necessidade de sabedoria e discernimento ao assumir compromissos com Deus.

Juízes 11
11:1. Era então Jefté, o gileadita, homem valente.
As palavras o descrevem como grande guerreiro (cons. Gideão, 6:12; Quis. I Sm. 9:1; Naamã, II Reis 5:1). Era ele, contudo, filho duma prostituta, o que lhe dava posição inferior dentro da família.

11:2. (Eles) expulsaram a Jefté. Os filhos legítimos de Gileade chamavam Jefté de filho de outra mulher e procuraram deserdá-lo.

11:3. Então Jefté... habitou na terra de Tobe. Tobe ficava provavelmente a nordeste de Gileade. Mais tarde os homens de Tobe aliaram-se aos amonitas na guerra contra Davi (II Sm. 10:6-8). Era uma espécie de distrito limítrofe, onde homens como Jefté podiam viver fora da lei e à beira da sociedade. E homens levianos se ajuntaram com ele, e com ele saíam. Jefté e seus companheiros eram considerados levianos (reqim, “vazios”), isto é, selvagens e temerários, em contraste com os “respeitáveis” membros da sociedade.

11:5. Foram os anciãos de Gileade buscar a Jefté. Quando a guerra começou entre os amonitas e os gileaditas, estes últimos se lembraram de Jefté como líder em potencial.

11:7. Por que, pois, vindes a mim, agora, quando estais em aperto? Jefté reprovou a delegação de gileaditas por não o terem ajudado quando precisava. Eles o tinham expulsado, confiantes em seu próprio valor. Agora vinham a ele, pedindo ajuda.

11:8. Sê o nosso chefe sobre todos os moradores de Gileade. Os homens não responderam à queixa de Jefté, mas estavam prontos a lhe conceder todo o poder se os ajudasse no momento da necessidade.

11:11. Então Jefté foi com os anciãos de Gileade, e o povo o pôs por cabeça e chefe. Depois de receber confirmação de que o seu governo seria reconhecido após a remoção da ameaça amonita, Jefté aceitou a posição oferecida. A escolha foi aprovada pelo povo (cons. Saul, I Sm. 11:15; Roboão, I Reis 12:1; Jeroboão, I Reis 12:20).

11:12. Enviou Jefté mensageiros ao rei dos filhos de Amom. Como líder oficial de Gileade, Jefté enviou mensageiros aos líderes amonitas, a fim de perguntar as razões que eles tinham para atacarem território israelita.

11:13. É porque saindo Israel do Egito, me tomou a terra. O discutido território era limitado pelo Arnom ao sul e o Jaboque ao norte, e estendia-se na direção do oeste até o Jordão. Esta terra fora do reino de Siom quando da entrada de Israel em Canaã, e Siom a arrebatara de Moabe (Nm. 21:26). Amonitas e moabitas que eram confederados no tempo de Jefté, sentiam que tinham direitos sobre este território confiscado.

11:15. Israel não tomou, nem a terra dos moabitas nem aterra dos filhos de Amom. Jefté rejeitou a acusação. Israel tivera o cuidado de pedir permissão aos reis de Edom e Moabe para atravessarem suas terras. Não receberam permissão, e assim Israel escrupulosamente evitou tocar nas fronteiras de Edom e Moabe. Quando Siom, o rei dos amorreus, recusou dar a Israel a permissão de passar em Hesbom, houve uma batalha em Jaaz. O Deus de Israel concedeu vitória do Seu povo sobre Siom, e “Israel desapossou os amorreus das terras” (v. 21).

11:24. Não é certo que aquilo que Camos, teu deus, te dá, consideras como tua possessão? Jefté argumentou que um povo deve ocupar o território que seu deus lhe dá. Tal método de consignar territórios era por meio das vitórias concedidas pelo deus do povo no campo da batalha. O povo de Camos devia, naturalmente, ocupar o território que Camos o capacitasse a conquistar. Uma vez que o Deus de Israel dera a Seu povo a terra por direito de conquista, era de se esperar que os israelitas a ocupassem. A Pedra Moabita atribui as vitórias de Moabe aos favores de Camos, e as vitórias de Israel sobre Moabe à ira de Camos. Estritamente falando, Milcom (ou Moloque) era o deus de Amom e Camos, o deus de Moabe. Moabe e Amom descendiam do mesmo pai, Ló, e tinham muita coisa em comum; e tanto Jefté como o rei amonita os considerava um só povo. Uma confederação pode ser a justificativa histórica para esta terminologia. O argumento ad hominem de Jefté não significa que os israelitas daquele tempo cressem realmente no poder de Camos. Considerando seus antecedentes e sua conduta subseqüente, Jefté poderia, contudo, defender tal conceito. Havia uma forte tendência de tornar o Deus de Israel em um dos deuses que deveriam ser reconhecidos.

11:25. És tu melhor do que... Balaque? O rei moabita, Balaque, não disputou a posse de Israel nas terras ao norte de Arnom. Embora convocasse um adivinho para enunciar uma maldição sobre Israel, Balaque jamais se arriscou a enfrentar Israel em uma batalha. Será que o atual rei de Amom julgava-se melhor do que Balaque para tentar subjugar Israel?

11:26. Enquanto Israel habitou... em Hesbom... e em Aroer. Aroer, a cidade no extremo sul de Israel, a leste do Jordão, estava localizada às margens do Arnom, Jefté deu a entender que os moabitas, deixando de reclamar quando Israel ocupou o reino de Siom, tacitamente reconheceu que o território não era deles.

11:27. O Senhor, que é juiz, julgue hoje entre os filhos de Israel e os filhos de Amom. Jefté resumiu sua defesa. Israel não fizera nada errado. Durante três séculos (número redondo), o direito de Israel nas cidades da Transjordânia fora reconhecido. Se Amom agora insistia na batalha, o resultado poderia ser deixado nas mãos do Deus de Israel.

11:29. Então o Espírito do Senhor veio sobre Jefté. Jefté não era mero oportunista. Recebeu poder de Deus para liderar os gileaditas na vitória contra seus opressores. Lemos sobre uma série de viagens feitas por Jefté. Passou até Mispa de Gileade, onde estava localizado o acampamento dos israelitas, e então dirigiu-se contra os amonitas.

11:30. Fez Jefté um voto ao Senhor. A forma do voto de Jefté é uma reminiscência de seus antecedentes meio pagãos. Fez o voto de oferecer como sacrifício queimado, qualquer coisa que primeiro saísse pela porta de sua casa, ao seu encontro, quando retornasse vitorioso da guerra contra os amonitas.

11:33. Este os derrotou desde Aroer, até as proximidades de Minite, vinte cidades. Jefté foi vitorioso em sua campanha. Esta Aroer não é a cidade sobre o Arnom (v. 26) mas outra cidade com o mesmo nome, a leste de Rabate-Amom (Js. 13:25). Abe1-Queramim, a planície das videiras, nome de um lugar.

11:34. Saiu-lhe a filha ao seu encontro. Talvez Jefté esperasse um servo, A lembrança do seu voto e a visão de sua filha mudou a alegria do vencedor, na tristeza de um pai que vai perder seu único filho.

11:35. Fiz voto ao Senhor, e não tornarei atrás. Para Jefté o voto era sagrado, e tinha de ser cumprido. Sacrifícios humanos eram proibidos em Israel, mas Jefté estivera vivendo à beira da sociedade, onde as ideias pagãs prevaleciam.

11:37. Deixa-me por dois meses. A filha de Jefté submeteu-se às exigências do voto sem recuar. Ela pediu um período de dois meses para chorar a sua virgindade junto com suas companheiras. Ela considerava a sua morte iminente como dupla tragédia. Além de ser oferecida em holocausto, teria de morrer sem filhos, sem ter-se casado.

11:39. Tornou ela para seu pai, o qual lhe fez segundo o voto por ele preferido. Após o período de dois meses, Jefté cumpriu o seu voto. Embora alguns comentaristas dão a entender que a virgindade perpétua teria sido o cumprimento do voto, o texto não parece deixar dúvidas quanto à morte da filha de Jefté pelas mãos do seu pai.

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