Talmude — Estudos Bíblicos
Estudos Bíblicos
TALMUDE
I. Nome
II.
Caracterização Geral
III. O
Desenvolvimento em Duas Camadas
1. O
Misna
2. O
Gemara
IV. A
Tora Oral
V. A
Importância do Talmude
I. Nome
No hebraico, lomed,
ou “estudar”, “aprender" O substantivo tem o sentido de “discípulo”. Os
mestres estudam e transmitem o que sabem, e os estudantes tomam-se seus
discípulos. O Grande Mestre foi Moisés, sendo que o Talmude é baseado
principaimente no Pentateuco.
II. Caracterização
Geral
O Talmude é um tipo de
enciclopédia da tradição judaica, que age como um suplemento à Bíblia. A obra
resume mais de sete séculos de crescimento cultural e ideias. Suas origens
orais remontam à época do cânon bíblico, e a obra não chegou à sua fase
final até o final do século 5. Embora lide principalmente com a lei,
particularmente interpretando e suplementando o Criador da Lei
(Moisés), também trata de religião geral, ética, instituições sociais,
história, folclore e ciência. Foram desenvolvidos dois Talmudes, um em
Israel, por volta de 400 D. C., e o outro na Babilônia, entre 500 D. C. e
600 D. C. O Talmude compilado na Palestina comenta as divisões do Misna
(ver a seção 111.1.), que se relaciona a uma variedade de assuntos como
agricultura, épocas de apontamento, mulheres e família lei e assuntos
pessoais. O Talmude da Babilônia cobre as épocas de apontamento, mulheres
e família, coisas sagradas e lei, mas omite a agricultura. Cerca de 90% do
Talmude da Palestina enfatizam a exegese do Misna (Mishnah). O Talmude da
Babilônia compartilha muito desse material, mas auxilia de uma forma
considerável comentários da Bíblia. Ambos incluem comentários especiais sobre
palavras e frases, os históricos bíblicos do Misna e contradições nos casos das
questões bíblicas que exigem explicação e harmonia. O palestino trata
quase por inteiro de questões do Misna, enquanto o babilónico adiciona
muitas passagens da Escritura com comentários.
Ambos os Talmudes
aceitam, sem questionamento, a autoridade da Tora como a palavra revelada de
Deus através de Moisés mas, à medida que as ideias e a cultura avançam,
novas interpretações são necessárias para tornar vivo a Tora para cada
geração. Por exemplo: Deu. 24.1 fala da
possibilidade de dissolver os laços do casamento, mas não entra em
detalhes. Os Talmudes entram em detalhes com suas interpretações e
comentários. À medida que a sociedade judaica se desenvolvia, havia necessidade
de fornecer regulamentações para o comércio, trabalho e indústria, coisas
com as quais a Tora não lidara o suficiente para estabelecer regras
adequadas. Os Talmudes tentam compensar tais deficiências,
sempre, presumivelmente, aplicando a sabedoria de Moisés ao máximo possível.
Historicamente, a
literatura do Talmude foi desenvolvida em duas camadas, a mais antiga do Misna,
e a segunda do Gemara, das quais se trata na seção III. Havia
visitas freqüentes dos rabinos que representavam ambos os Talmudes, de
forma que há grande nível de harmonia entre as duas tradições.
O Talmude, juntamente com
outras criações literárias da época, freqüentemente tem sido chamado de Tora
Oral, pois houve um período de tempo considerável em que os materiais
que existiam eram contidos apenas em tradição oral. Até o final do século
quinto D. C., as sociedades judaicas estavam em declínio tanto na
Palestina como na Babilônia, e como resultado que a atividade de
redação criativa do Talmude cessou.
III. O
Desenvolvimento em Duas Camadas
1. O
Misna (Mishnah)
2.
O Gemara
1. O Misna (Mishnah)
O Talmude teve um desenvolvimento histórico que
envolveu duas camadas ou estágios distintos. O estágio mais antigo foi o Misna
(Mishnah), que significa “repetir” ou “estudar”. Forneço um artigo
separado detalhado sobre o Mishnah, o que me permite fazer apenas uma
apresentação breve neste artigo. Primariamente, o Misna foi produto da
edição acadêmica do Rabino de Judá e de seus discípulos que estavam ativos
no terceiro século D. C. na Palestina. O hebraico do texto era claro e
lúcido, e o próprio texto era organizado em seis seções principais que
depois foram subdivididas em 63 tratados. Os tratados (ensaios)
eram então divididos em capítulos e parágrafos.
As Seis Seções. As
seções são chamadas de Sedarim, isto é, “ordens”, pelo fato de que cada
um representa uma organização ordenada de opiniões, leis e comentários
sobre um assunto específico:
1. Zeraim.
isto é, “sementes”, que trata de agricultura. Anexado a ela está um
importante tratado (ensaio) sobre a oração, chamado de Beracote.
2. Moed,
isto é, estivais, que trata de muitos festivais e dias sagrados judaicos,
dos sábados e das celebrações e banquetes do calendário judeu.
3. Nashim,
isto é, “mulheres”, que trata do casamento, do divórcio e da vida familiar.
4. Neziquim,
isto é, “ferimentos”, que trata da lei civil e criminal.
5. Kodashim,
ou “coisas sagradas”, que discute os sacrifícios e os cultos do templo.
6. Taharote,
isto é “limpeza”, que trata de questões de pureza ritual.
Os tratamentos são um
tanto breves, o que exigiu, por fim, revisões e adições. Assim, foi criado um
suplemento, ou segunda camada, chamado de Gemara.
2 O Gemara
Esta palavra deriva do
termo aramaico gemar, que significa “estudar, “ensinando”. O Gemara
existe em duas versões, ambas escritas nos vernáculos correntes,
respectivamente, entre os judeus da Palestina e da Babilônia, resultando,
assim, nas designações de Talmude Palestino e Talmude Babilónico. A
comunidade de estudiosos judeus da Palestina, a longo prazo, foi desafiada, mas
não ultrapassada pela sua contraparte da Babilônia, e ambas se
tornaram importantes centros do aprendizado e produção literária dos
judeus. A babilônica, finalmente, ultrapassou a sua “mãe” (Palestina).
De qualquer modo, houve contato contínuo entre os dois lados
para harmonizar o trabalho que estava sendo realizado.
Nem todos os 63 tratados
(ensaios) têm tratamento com suplementos no Gemara. O Gemara palestino,
também chamado de Yerushalmi (Jerusalém) suplementa 39 dos tratados. O Gemara
da Babilônia, embora lidando apenas com 36,5 dos tratados, é o trabalho mais
volumoso, sendo cerca de três vezes maior do que o palestino.
Unindo-se o Misna e o
Gemara originais, obtém-se o Talmude.
IV. A Tora Original
Forneço um artigo
detalhado sobre a Tora, que significa “lançar a sorte sagrada”, que fala
da prática de adivinhação oracular. Esse trabalho passou a designar o
Pentateuco, os livros atribuídos a Moisés que os judeus piedosos supunham
conter, em forma de semente, todas as leis divinas. Às vezes a palavra
refere-se a todos os livros revelatórios dos judeus, ou à coleção do
próprio Antigo Testamento, ou à Tora Divina, isto é, ao depósito de todo o
conhecimento da Mente Divina.
O Talmude, juntamente com
diversas outras literaturas relacionadas dos rabinos mais famosos do mesmo
período de produção, passou a ser chamado de Tora Oral. Por séculos
muito do material circulou oralmente antes de ter sido reduzido a
documentos escritos. Havia formas escritas de parte dele, derivadas de
épocas muito antigas. Além disso, sua redação também levou muito tempo antes
de poder ser considerada “produto final”. O Talmude palestino foi
concluído em alguma época no século 5. O babilônico foi concluído em um
período mais próximo ao final daquele mesmo século. Ambas as comunidades
entraram em declínio naquele século, em parte por causa das perseguições
promovidas pelas autoridades civis. Com o declínio das comunidades houve
uma cessação de produtos literários significativos, de modo que os Talmudes
congelaram em formas finais que não foram, em períodos posteriores,
desenvolvidas.
V. A Importância do Talmude
Não é errado falar de uma
canonização envolvida no Talmude, o mesmo que ocorreu com as Escrituras do
Antigo Testamento. Os judeus de períodos posteriores (depois do século 5
D. C.) reconheceram que o aprendizado e o domínio do Talmude era o
chamado mais alto e maior privilégio que uma pessoa poderia
experimentar. Para muitos, o conhecimento do Talmude era mantido com maior estima
do que o conhecimento das Escrituras do Antigo Testamento, e o conhecimento e
domínio de ambos produzia judeus fanáticos e piedosos que eram, e ainda são, os
líderes do zelo religioso. O liberalismo e a constante crítica do Antigo
Testamento abalaram a fé na historicidade daquela coleção de documentos, e
não é errado dizer que o judeu piedoso se refugiava no Talmude como
sendo, de alguma forma, mais preciso e mais puro do que o próprio
Antigo Testamento. Com o passar do tempo, a maioria dos judeus deu pouco
interesse à complexidade do Talmude e muitos converteram-se a uma forma
“kantiana" de filosofia, como a desenvolvida pelos filósofos judeus.
Mas, com o surgimento do estado judeu moderno, o interesse fanático foi
reavivado tanto pelo Antigo Testamento como pelo Talmude.
O estudioso cristão busca
introspecção de primeira mão no pensamento judeu produzido pelos próprios
judeus, que muitas vezes é mais iluminador do que os tratamentos comuns e de segunda
mão dados pelos estudiosos cristãos, destituídos de conhecimento
cultural para compreender muito do judaísmo. Muito daquilo que lemos nas
Escrituras sobre os judeus pode ser encontrado e muitas vezes explicado em
maior profundidade do que a apresentação das mesmas questões nos evangelhos. A
canonização final do Talmude trouxe cabo a uma das épocas mais criativas
da história da tradição e atividade literária judaicas. Mas o Talmude
agora vive de forma real no estado judeu moderno e na mente dos estudiosos
cristãos que buscam conhecimento mais perfeito.