Viagem — Estudos Bíblicos

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VIAGEM

O artigo a seguir é, essencialmente, um breve resumo de um longo artigo apresentado na Zondervan Pictorial Encyclopedia ofthe Bible. Esse assunto é raro nos materiais de referência para o estudo bíblico, mas não deve ser omitido.
I.    As Estradas
II.    Principais Estradas da Palestina
III.    Estradas Secundárias da Palestina
IV.    Viagens Internacionais através da Palestina
V.    Viagens por Via Fluvial e Marítima
VI.    Viagens Terrestres no Novo Testamento
VII.    Viagens Marítimas no Novo Testamento
VIII. Razões para Viagens nos Tempos Bíblicos
I.    As Estradas
Nos tempos bíblicos iniciais, apenas os fenícios dominavam as viagens por mar, e, embora Israel fosse um país que habitava ao lado do mar, não era do mar. A maioria das viagens na Palestina era feita por terra, algo comum em todo o período do Antigo Testamento. As rotas primitivas de caravanas foram possibilitadas com o uso de burros, mas os camelos, a longo prazo, tornaram-se os “cavalos do deserto”. Os cavalos eram empregados apenas para propósitos militares. As carruagens não eram usadas em rotas de caravanas, pois não se adaptavam às más condições que as estradas, inevitavelmente, apresentavam. Carroças pesadas serviam para transportar cargas grandes, pois havia um limite ao que burros ou camelos conseguiam carregar. O tabernáculo portátil era transportado em uma carroça (Núm. 7.3 ss.), e os filisteus usaram o mesmo meio para conduzir a arca da aliança depois de lê-la roubado do tabernáculo em Silo e levado a peça para a Filístia. Tais veículos tinham rodas sólidas de madeira, e a variedade de duas rodas era a mais comum, embora existissem carroças com quatro rodas.
Grandes caravanas empregavam centenas de animais, variando entre 1.000 e 5.000, o que significa que muitos dos suprimentos alimentares precisavam ser levados junto com a carga que seria vendida ou trocada em alguma terra distante.
As estradas eram extremamente ruins pelos padrões modernos, piores do que as piores estradas até mesmo nos países mais pobres de hoje. Isto significa que a viagem era extremamente lenta. As estradas serviam essencialmente para uso durante tempo bom, até que os romanos pavimentaram suas melhores estradas com pedras. Nas estações chuvosas, rotas de caravanas eram pouco utilizadas, sendo que, como hoje, as estradas nas montanhas ficam fechadas no inverno por causa da neve. As caravanas dependiam de oásis por causa de sua necessidade de renovação de água e suprimentos.
II.    Principais Estradas da Palestina
A rota norte-sul mais importante para o comércio na Palestina era chamada de “via do mar”, que recebeu esse nome porque seguia o mar
Mediterrâneo do Egito a Gaza. Dali ia a Jope, e então ao canto da planície de Sarom. Depois prosseguia à Galiléia até chegar à junção com Hazor. Nesse ponto cruzava o rio Jordão no lago Hulé. Então ia até a Síria e diretamente a Damasco. Essa era a estrada mais rápida na Palestina e a estrada internacional mais usada na época.
Outra estrada internacional chamava-se Estrada do Rei. Ela passava pelo alto platô ao leste da Jordânia e era por onde se dava o comércio árabe de Eziom-Geber a Maan, posteriormente substituída por Petra. Dali a estrada ia ao norte, entre o deserto e as montanhas, finalmente alcançando o vale do Jordão. Entre &s cidades que se situavam no caminho, estavam Quir de Moabe, Dibom, Medeba, Hesbom, Rabate Amom, Edrei e Damasco.
Uma estrada estritamente nacional (israelita) era a que ia de norte a sul, começando em Berseba e estendendo-se à crista central do oeste da Palestina em Hebrom. Dali continuava até Jerusalém, Betei, Siquém, Samaria, Dotã e a planície de Esdrelom. Se a pessoa desejasse continuar dali, teria de passar à estrada internacional descrita acima.
Estradas de Leste a Oeste. Havia duas estradas principais nesse sentido. Uma partia do mar Mediterrâneo, em Jope, e ia para o noroeste, até Siquém, passando entre o monte Gerizim e o monte Ebal. Dali descia o vale até o rio Jordão, que cruzava em Adão. Na Transjordânia, ela passava pelo vale de Jaboque, atravessando Gileade. A estrada encontrava a Estrada do Rei, que levava os viajantes a Damasco.
Outra rota de leste a oeste era curta, mas importante. Corria ao longo do mar Mediterrâneo, de Aco em direção ao sudeste, a uma planície de Acre, indo até a Planície de Esdraion, e então a Jezeel, cruzando o rio Jordão em Bete-Seã. Dali ascendia até o grande planalto produtor de trigo, onde encontrava com a Estrada do Rei, próximo a Damasco.
III.    Estradas Secundárias da Palestina
1. Uma estrada curta que passava ao longo do mar Mediterrâneo de Aco (chamada de Ptolomaida no Novo Testamento) a Tiro e Sidom.
2.  Uma estrada que ia de Siquém à Planície de Esdrelom, via Samaria.
3. Uma pequena estrada de norte a sul cruzava o vale do Jordão, de Jerico a Cafarnaum.
4. Na Transjordânia, uma pequena estrada seguia paralela à Estrada do Rei em parte de seu percurso. Passava ao lado do deserto.
5. Uma estrada de leste a oeste passava ao sul de Siquém, subia pelo vale do Aijalom até a crista central. Naquele ponto, um ramo dela ia para o sul, até Jerusalém. Essa era a única estrada militar de uma planície filistéia até aquela cidade. Outro ramo ia para o norte, até Betei, a poucos quilômetros de distância, e então descia ao rio Jordão, a Jericó. Finalmente subia até Rabate-Amom.
6.  Outra estrada curta, mas importante, de leste a oeste, ia de Aco até a depressão chamada Sahl Battuf, e então até o mar da Galiléia.
7.  Outra pequena estrada de leste a oeste ia do porto de Asquelom até Hebrom.
8.  Outra estrada ia de Gaza a Berseba.
IV.  Viagens Internacionais através da Palestina
Viagens internacionais eram realizadas por dois motivos principais em épocas antigas: campanhas militares e comércio. As grandes civilizações da época tinham esse tipo de intercâmbio constantemente. Na época do Antigo Testamento, havia dois grandes centros de civilização fora de Israel: ao sul, o eterno Império Egípcio; ao norte, as civilizações do crescente fértil, primeiro a Assíria e então a Babilônia, que ocupou essencialmente o mesmo território. As pessoas estavam interessadas em guerrear e ganhar dinheiro, e isso tornava as estradas descritas acima (nas seções I e II) lugares movimentados. A viagem pela água também dava apoio às guerras e à economia, mas aparecia bem menos do que viagem por terra, pelo menos até o período romano (ver a seção V). Embora não se comparassem à grandiosidade das grandes civilizações ao norte e ao sul, dentro da própria Palestina havia civilizações notáveis que provocavam guerras e faziam comércio. Alem de Israel, havia sete pequenas nações que os hebreus/judeus finalmente conseguiram deslocar. Ver II Sam. 5.17-25; 8.10; 12.26-31; 21.15-22: I Crõ. 18.1. As maiores civilizações do norte e do sul tinham contato com as localidades mais distantes, como aquelas ao longo do mar Mediterrâneo (como através de comércio com os fenícios), na Ásia e na índia, de forma que os produtos daqueles lugares distantes de comércio chegavam à Palestina.
V.  Viagens por Via Fluvial e Marítima
O único grande poder marítimo antes da época romana foi a Fenícia. Os hebreus sempre foram essencialmente ignorantes em ciência e matemática e não tinham capacidade de construir embarcações confiáveis e tentar viajar pelo mar. É claro que Salomão teve sua aventura marítima e ganhou muito dinheiro, mas para tanto teve de alistar a cooperação da Fenícia (I Reis 9.26 28; 10.11, 12, 22). Salomão detinha o monopólio da indústria do cobre, o principal fator econômico que lhe permitiu trazer a época áurea a Israel. Os compradores do cobre de Salomão estavam localizados ao longo das rotas de comércio marítimo e, sem a ajuda da Fenícia, Israel não teria alcançado sua grandeza como poder militar e econômico na época de Salomão.
Os fenícios conseguiram dominar todo o mar Mediterrâneo, chegando a Társis (Espanha) e até as Ilhas Britânicas, onde havia comércio de latão. Sólidas evidências mostram que os fenícios chegaram até a América do Norte, mas, exceto por algumas inscrições, essa parte da história foi perdida.
Portos importantes da época eram Gaza, Jope, Dor, Ofir, Eziom-Geber no Golfo de Ácaba e Elate.
Para maiores detalhes, ver o artigo geral sobre a Fenícia, especialmente o ponto III, História 5. A Fenícia como Senhora dos Mares.
VI.  Viagens Terrestres no Novo Testamento
O único fator revolucionário que se desenvolveu na época do Novo Testamento em contraste com os do Antigo Testamento para viagens por terra foram as estradas pavimentadas dos romanos. Essas estradas, de modo geral da largura apenas de uma faixa de sua contrapartida moderna, eram pavimentadas com rochas, e algumas partes delas sobrevivem ainda hoje. Embora a Palestina, na época de Jesus e de Paulo, provavelmente tivesse bem poucas ou nenhuma estrada romana, o mundo “lá fora”, ao redor do mar Mediterrâneo, tinha, e isso facilitou consideravelmente a propagação do evangelho cristão. As viagens missionárias de Paulo através da Ásia Menor e por partes da Europa, principalmente pela Grécia, certamente foram facilitadas por melhores estradas. Mais pessoas, mais carruagens, mais carroças de frete “corriam” pelas estradas, isso e por mais tempo durante o ano: os problemas causados pela lama tinham sido resolvidos parcialmente. Antigas fontes informam que era comum que as pessoas viajassem a cavalo até 70 km por dia servindo às agências do governo. Os negócios, é claro, floresceram. As viagens internacionais foram facilitadas e era possível chegar à Alemanha, à China, aos países escandinavos, à Rússia e à África Centra
VII.  Viagens Marítimas no Novo Testamento
Os romanos tinham a vantagem do progresso que os fenícios haviam feito pelo mar. As embarcações eram propulsionadas por velas e remos. Os romanos não inventaram nenhum novo sistema de propulsão, mas escavaram canais artificiais que encurtavam consideravelmente as viagens. Um exemplo é o Istmo de Corinto (8 km de largura), que evitava uma viagem de cerca de 300 km ao redor do cabo Malea, onde ocorreram muitos desastres de navios. Assim, a segurança foi melhorada, não apenas a velocidade.
As embarcações eram grandes e pequenas. Uma embarcação grande era um navio de grãos da Alexandria, que poderia chegar a medir 60 m e transportar cerca de 1.200 toneladas de carga. Josefo sofreu um desastre de navio em uma embarcação com 600 tripulantes, o que exigia, obviamente, um tamanho razoável. Estudos de embarcações antigas encontradas no fundo do mar auxiliaram na determinação de sua natureza exata.
VIII. Razões para as Viagens nos Tempos Bíblicos
1Dinheiro sempre foi o grande negócio. Viajar fazia parte do comércio, da compra e venda de muitos produtos que qualquer área particular não tivesse como produzir.
2. A guerra sempre foi algo grande. Rotas de viagem eram naturalmente usadas por exércitos quando saíam para matar ou para serem mortos.
3. Emprego internacional. As pessoas viajavam para conseguir empregos melhores ou para vender seus produtos em diversos lugares. Havia vendedores viajantes, mercadores, comerciantes, banqueiros.
4. Romanas religiosas. As pessoas viajavam para chegar aos santuários, como o templo de Jerusalém, ou a outros lugares sagrados para os povos. Na época do Novo Testamento, romarias religiosas levavam pessoas de todo o mundo conhecido da época a Jerusalém (Atos 2.5-11). Santuários pagãos que atraíam muitos viajantes nacionais e internacionais eram Atenas, Efeso e Elêusis. As pessoas viajavam para conseguir cura, consultar nráculos, pagar promessas, orar pelos mortos e buscar ajuda para resolver problemas pessoais e familiares.
5. Eventos de atletismo. Os Jogos Olímpicos atraíam pessoas de toda a área do Mediterrâneo. Os locais de tais jogos variavam, acontecendo em locais tão distantes quanto a Espanha e até a Antioquia. Atletas profissionais viajavam e os fãs dos esportes os seguiam de um lugar para outro.
6. Educação. Centros educacionais como Alexandria, Atenas, Roma e Jerusalém atraíam professores e estudantes interessados em muitas buscas intelectuais. Alexandre, o Grande, que mantinha ávido interesse peias ciências e pela filosofia (Aristóteles foi um de seus primeiros professores), levou cientistas e professores junto com ele em suas campanhas militares e encorajava o aprendizado em todos os lugares aonde ia.
7. A migração de povos era “viagem em massa”. Algumas migrações foram forçadas, como no caso dos cativeiros assírio e babilônico, mas algumas eram voluntárias. Os heteus (povo indo-europeu), por exemplo, acabaram na Palestina e tornaram-se inimigos de Israel!
8. Turismo. Como agora, naquela época muitas pessoas que tinham dinheiro viajavam “para ver o mundo”, o que para algumas pessoas é um grande prazer. Pausânio até escreveu um livro de guia para turistas, e um pouco da História de Heródoto é turismo puro. Mas tudo o que ele aconselhava era “Vá ver”. No tangente ao Egito, ele disse: “Você tem de ver para acreditar”. Os antigos não eram bons em fazer viagens durante o inverno, portanto a maioria das viagens de navio não era permitida (exceto em casos de extrema emergência) entre cerca de 10 de novembro e 10 de março.
9. Serviço de correio. Os persas inventaram um serviço de correio relativamente rápido que empregava cavalos que corriam por certa rota, com outros esperando para continuar “para fazer o correio chegar". A maioria das cartas, contudo, era entregue por agentes do governo que se especializavam na profissão, ou por amigos pessoais do escritor que por acaso estavam indo naquela direção ou que, por amizade, realizavam a tarefa de entregar uma carta ou livro. A maioria das cartas de Paulo foi transportadas por amigos pessoais. Algumas dessas cartas chegaram ao nosso Novo Testamento, e quem sabe quantas não chegaram.