Estudo sobre Colossenses 2

Estudo sobre Colossenses 2

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2.1-7. O apóstolo, que em Mileto instou os anciãos efésios a cuidar da igreja, mostra o seu próprio cuidado profundo por esses convertidos que não conhecia pessoalmente. O erro causa divisão, mas o objetivo de Paulo em oração é o encorajamento e a harmonia deles, pois o amor fraternal é uma condição indispensável para o desenvolvimento espiritual (cf. Ef 3.18,19; 4.16). Dessa forma, eles podem ser conduzidos à riqueza da compreensão plena da sabedoria divina, um conhecimento mais amplo do mistério revelado de Deus, até do próprio Cristo, em quem a sabedoria divina está contida. Este é o propósito da sua carta: que eles sejam protegidos de ser desviados por argumentos plausíveis. Até mesmo ao escrever para estranhos, Paulo consegue se sentir espiritualmente presente com eles, alegrando-se com a solidez da sua fé centrada em Cristo, uma associação mais feliz do que quando teve de tratar a questão da disciplina de um irmão faltoso na igreja de Corinto (ICo 5). Ele, então, os encoraja dizendo que por não estarem recebendo mera tradição de palavras, mas o próprio Cristo, devem andar e viver de tal forma que o seu caminhar e pensar se conformem com o caminho de Cristo e estejam centrados nele. Por meio de uma rápida mudança de metáforas, ele os assemelha a uma árvore arraigada em Cristo de uma vez por todas, depois a uma construção edificada sobre ele como fundamento e consolidada na verdade. Ao fazerem isso, eles permaneceriam fiéis ao ensino de Epafras, e isso deveria ser feito com ação de graças.
v. 2. o mistério de Deus, a saber, Cristo-, essa, provavelmente, é a versão correta, colocando Cristo como aposto de o mistério de Deus, e as muitas variações (discutidas em Lightfoot, p. 252-3) são explicações ou modificações disso. Em 1.27, o mistério é Cristo, “a esperança da glória”, habitando o coração dos gentios; aqui é Cristo como encarnação da sabedoria divina.
v. 5. como estão vivendo em ordem e como estáfirme a fé que vocês têm em Cristo-, como uma metáfora militar retratando a ordem deles e uma falange unida e compacta resistindo à infiltração gnóstica, isso faz muito sentido (assim Lightfoot e C. F. D. Moule). Mas o primeiro termo pode descrever organização doméstica ou nacional (cf. Abbott e tb. ICo 14.40) enquanto o segundo talvez faça eco de um termo gnóstico denotando a barreira entre os domínios superior e inferior (assim F. F. Bruce citando H. Chadwick). Este ocorre também na LXX com o significado de “firmamento”.
v. 7. na fé-, Lightfoot prefere “por meio da sua fé”, nesse caso significando “confiança”, e não “convicções”.

III. SALVAGUARDAS CONTRA O ERRO (2.8—3.4)
1) A plenitude de Cristo (2.8-10)
Aqui em linguagem vívida e ilustrativa Paulo os adverte a não permitirem que ninguém os seduza e conduza como cativos por meio de filosofias ilusórias e fantasiosas (vãs e enganosas). O apóstolo claramente condena a filosofia falsa, embora certamente também teria condenado qualquer ensino que se fundamentasse na razão humana, inadequada como fonte de verdades espirituais. A sua mensagem não era “de origem humana” (G1 1.11), mas a deles dependia de tradições humanas que eram o seu padrão no lugar de Cristo. Ela estava de acordo com os espíritos elementares do Universo, e não de acordo com Cristo, e isso era fatal para essa filosofia, pois nele, em Cristo, reside toda a plenitude da divindade e, como tal, ele precisa ser a fonte do significado e da verdade. Em Cristo, eles possuíam essa plenitude, uma correção evidente do ensino falso que inclui degraus de iniciação ou a necessidade de rituais ou poderes de mediação para que se possa compartilhar desse plérõma. Cristo é a cabeça, não somente o soberano, mas a fonte de todo o poder e autoridade, não somente precedendo outros poderes (1.17), mas triunfando sobre eles (2.15), e isso deve anular toda exigência de sujeição a eles.
v. 8. princípios elementares deste mundo-, a palavra stoichea significava originariamente coisas em uma série, e.g., o alfabeto, e, portanto, os rudimentos do conhecimento (e.g., o á-bê-cê) e é assim usada em Hb 5.12. Depois passou a significar “os elementos do mundo” na LXX e em 2Pe 3.10, e finalmente, no sincretismo helenístico, “espíritos cósmicos”. Ocorre aqui, 2.20, e em G14.3,9. Com base numa referência a dias e estações (G1 4.10), parece possível que tenham conduzido a vida religiosa deles por meio da observação das estrelas, às quais associavam certos poderes angelicais, daí a interpretação aceita anteriormente, mas C. F. D. Moule prefere “ensinos elementares”, como está no significado posterior, exceto essas possíveis referências do NT. Se interpretarmos G1 4 como significando simplesmente dias sagrados judaicos, então uma recaída a ensinos elementares faz sentido. V. mais detalhes em Hendriksen, p. 135-7, que aceita o ponto de vista de Moule.
v. 9. habita corporalmente-. Lightfoot parece ter apoio gramatical para interpretar “corporalmente” como referência à encarnação, e o tempo presente de “habita” não apresenta necessariamente nenhuma dificuldade à sua aplicação também ao corpo glorificado de Cristo (Fp 3.21). Outras interpretações incluem “corporativamente”, em vez de “corporalmente” ou “na totalidade”, a incorporação completa em contraste com a suposta distribuição entre os intermediários (C. H. Dodd e F. F. Bruce), ou “na realidade” em oposição à sombra (Arndt-Gingrich). Talvez a intenção seja o duplo sentido. Mas v. Lightfoot, p. 182, Moule, p. 92-4, Hendriksen, p. 112.

2) A circuncisão espiritual (2.11,12)
O tema do restante do capítulo é o da realidade contrastada com a sombra. Para o judeu, a circuncisão era o sinal exterior da união, o estabelecimento da aliança, embora Paulo (Rm 2.28,29) esteja em harmonia com o AT quando ressalta que a verdadeira circuncisão é a interior, a do coração. Assim, na morte de Cristo, a sua verdadeira “circuncisão” (como também era um “batismo”, Mc 10.38) da qual a circuncisão literal havia sido um “sinal antecipatório” (Bruce), o cristão também tem participação. Ele é, portanto, circuncidado, o que equivale a dizer que houve o despojar do corpo da carne ou “do velho homem”, a sua velha natureza no seu estado não-regenerado de rebeldia contra Deus. Essa “circuncisão”, então, é interior, e não exterior; do todo, e não de uma parte. Gomo em Rm 6, o batismo aqui também é retratado como ilustração do sepultamento com Cristo da velha vida e, portanto, um compartilhar da sua ressurreição, mas essa vida é compartilhada por meio da fé.
3)    A vitória de Cristo (2.13-15)
Paulo agora passa aos resultados. Embora anteriormente mortos, destituídos do princípio da vida espiritual em virtude do pecado, e fora da aliança, os crentes se tornam espiritualmente vivos, compartilhando a vida de Cristo, e são totalmente perdoados. Isso é possível em virtude da cruz em que Cristo lidou com a escrita de dívidas, o código legal de ordenanças com o qual o judeu havia se comprometido e ao qual até a consciência dos gentios tinha em parte dado consentimento (Rm 2.14,15). Cristo tomou essa escrita de dívidas e a cancelou, pregando-a na cruz como um desafio aos principados e poderes que ele havia derrotado e conduzido em vitória, assim evitando que usassem essa escrita de dívidas cancelada para intimidar a sua consciência.
v. 13. Deus os vivificou-, a regeneração é uma nova vida moral e espiritual agora e que continua após a morte, portanto é presente e futura.
v. 14. pregando-, não há nenhuma evidência do costume mencionado com fre-quência nesse contexto de se cancelar títulos de dívidas ao furá-los com um prego. Visto que não há nenhuma mudança evidente de sujeito de “Deus” para “Cristo”, entende-se que Deus estava agindo em Cristo. O verbo apekdysamenos poderia significar “despiu-se de” poderes hostis que o atacaram (assim os pais gregos e Lightfoot), ou “despiu” o seu corpo na cruz (assim os pais latinos e alguns autores atuais), ou simplesmente despojando ou “frustrando”, e a voz média sugere o seu interesse nessa ação, o que parece mais adequado para o contexto.

4)    A liberdade cristã (2.16-19)
Aqui Paulo fornece brevemente algumas indicações das crenças e práticas dos falsos mestres. Primeiro ele discute a questão de alimentos e festividades religiosas e nega a necessidade do asceticismo. A lei levítica, de fato, proibia alguns alimentos, mas não bebidas, e a observância de determinadas épocas era obrigatória. Mas Cristo, por meio de sua morte, anulou essas exigências legais, e olhar para elas significa preferir a sombra à essência que é o próprio Cristo. A carta aos Hebreus é, na verdade, um comentário detalhado deste versículo (v. 17). A segunda advertência é dirigida contra a adoração de anjos, poderes mediadores, o que significa que se prestava respeito ao inferior, em vez de à cabeça. Os cristãos não devem ser condenados por não observarem regras e rituais por aqueles que insistem na sujeição a anjos com base nas suas supostas visões, às quais dedicam consideração elevada demais. Apesar de toda a sua exibição oficial de humildade, uma humildade em que a pessoa tem prazer não é nada mais do que orgulho excessivo que brota de uma natureza não espiritual. Ao agirem assim, não aderem à cabeça que é Cristo, e assim promovem desintegração, em vez de unidade (cf. Ef 4.16). Nessa verdadeira unidade, há crescimento divino, à medida que cada um faz a sua parte em amor.
v. 18. ninguém [...] os impeça (gr. katabrabeuetõ)-. “impedir”, provavelmente, deveria ser traduzido por “condenar” ou “decidir contra”. A negação (VA) precisa ser omitida como na NVI. embateuõn: conta detalhadamente [suas visões], A formulação “toma sua posição acerca de”, como na RSV, embora questionada por C. F. D. Moule, de fato parece admissível (cf. F. F. Bruce citando sir William Ramsay).

5) Nossa morte com Cristo (2.20-23)
Se de fato esses colossenses estão mortos com Cristo, suas vidas já não devem ser condicionadas por interesses neste mundo, restritos por aquilo que afinal existe somente na “categoria do que é perecível” (Lightfoot). Aqui a proibição religiosa atingiu o seu clímax: esses crentes receberam a instrução de não manusear, experimentar nem mesmo tocar certas coisas, mas isso são regras de origem humana, do tipo mais adequado para o desenvolvimento de crianças do que para a conduta de homens livres. Superficialmente, isso pode parecer ter a forma de sabedoria na sua humildade aparente, embora tradições humanas possam significar que o coração está distante de Deus (Is 29.13). Aliás, esse asceticismo, longe de ser de algum valor, serve somente para entregar-se à carne, a antiga natureza não-regenerada.
v. 23. Nesse versículo difícil, logos tem sido interpretado como “exibição” ou aparência de sabedoria, pros como “contra”, i.e., agir contra ou combater os desejos da carne.