Estudo sobre Colossenses 3
6) Nossa vida com Cristo
(3.1-4)
O apóstolo agora desenvolve
o seu ensino ético, edificando, como é seu costume, a sua superestrutura moral
sobre um sólido fundamento doutrinário. O tema do restante da carta é
um simples desafio a eles para que se tornem na experiência o que pela
graça de Deus já são: “Vocês ressuscitaram com Cristo, ele argumenta,
portanto deixem que os seus pensamentos e aspirações se elevem ao
mesmo nível, para que seus alvos sejam atingidos em Cristo, e a sua
conduta caracterizada pela sabedoria celestial. Ao compartilharem da morte
dele, vocês também compartilham da sua ressurreição com uma nova vida
cuja perspectiva eterna o mundo não consegue entender. Porque sua vida
está unida com Cristo, a futura manifestação dele também será de
vocês”. Paulo escreve em linhas um tanto semelhantes em Fp 3.19,20; lá
é para censurar a sensualidade, aqui o asceticismo.
IV. A VIDA CRISTÃ EM AÇÃO
(3.5—4.6)
1) Despir-se do velho
(3.5-11)
v. 5.façam morrer, o
argumento de Paulo continua como segue: “Apesar da sua vida celestial,
vocês estão vivendo agora na terra e, portanto, estão com algum grau de
tensão. Há de fato espaço para o asceticismo cristão, mas esse é
interior, e não exterior, que é a renúncia das propensões pertencentes à
velha vida”. Cinco delas são citadas, entre elas, sem dúvida, a
imoralidade e a impureza, tanto no pensamento quanto nos desejos,
atingindo o seu clímax na ganância igualada à idolatria. Aqui Paulo
adota o mesmo padrão do Sermão do Monte, indo do ato exterior para
a motivação interior, culminando no espírito de cobiça que se torna o
deus da riqueza. Essas coisas não são tratadas por esforços humanos, mas
pela morte, um resultado daquela incorporação com Cristo descrita nos v.
1-4, e se tornam prática pela fé (cf. Rm 6.6,11). Se isso deixar de
acontecer, a continuação nas práticas ímpias características da velha
vida de desobediência requer o julgamento, a ira de Deus, que
não é nenhuma paixão impulsiva, e tampouco um mero princípio moral impessoal.
E Deus que age em juízo (cf. Rm 1.18; Ef 5.6) contra a
desobediência, uma condição que uma vez tinha sido verdadeira em relação a
eles. Agora eles precisam se despir dos pecados mencionados, como
quando se tira um manto, e a lista anterior (v. 5) destaca a sensualidade,
e esta, a falta de amor que está em desarmonia com a nova vida. Paulo
trata especialmente da língua (cf. Tg 3.2-10), mas ele deixa
claro que não foram somente os hábitos ou a conduta que foram deixados de lado;
é algo mais profundo, é o homem interior, o velho homem, e
agora eles se revestiram do novo homem, sendo renovados na
semelhança de Deus como era a intenção original (cf. Gn 1.27; ICo 15.45;
G1 3.27). Essa renovação da
mente e do espírito resulta da incorporação a Cristo; aqui todas as
barreiras se vão, quer raciais, quer religiosas, quer culturais, quer sociais.
O evangelho remove todas as distinções, simbolizadas tão visivelmente
pelo muro divisório no templo (Ef 2.14).
v. 5ss. “despir-se”, “vestir”,
“sujeitar-se”, “vigiar e orar” estão entre as palavras-chave que se
considera terem sido usadas para resumir alguns dos ensinamentos do
cristianismo primitivo.
2) Vestir o novo (3.12-17)
Visto que os colossenses
foram escolhidos para serem santos, precisam revestir-se das vestimentas
da salvação, o novo manto do caráter cuja textura é compaixão,
bondade, humildade, mansidão e paciência, pois eles são o novo
Israel. Essas são as qualidades que servem para evitar o atrito e vão
ajudar a resolver as suas dissensões, se é que existem, e o seu perdão vai
ser encorajado pelo perdão de Cristo a eles, como se espera deles (Mt 5.9;
Lc 6.36; Mt 18.33). Acima de tudo, precisam revestir-se do amor,
não uma vestimenta adicional, mas um cinturão para manter no lugar as outras
partes, pois é ele o elo perfeito (teleiotõs). O apóstolo, então,
se refere à paz, que na carta aos Efésios tem a função do cinturão
aqui representado pelo amor. Essas semelhanças parciais representam não um
autor diferente, mas o funcionamento da mente do apóstolo em linhas semelhantes
mas não idênticas. Aqui a paz, que em Fp 4.7 deve guardar o coração, deve
ser o árbitro ou juiz, para disciplinar a mente a tomar decisões quando há
conflitos de motivações ou impulsos, para promover a unidade de propósito
em espírito de gratidão.
v. 16. Eles devem permitir
que a palavra de Cristo habite ricamente neles, ou, o que é mais
provável, entre eles na comunidade, embora necessariamente também precise
habitar o coração de cada um em particular. Dessa forma, eles vão ensinar
e aconselhar uns aos outros com toda a sabedoria por meio de salmos,
tendo os hinos e cânticos espirituais um valor didático (Ef 5.19).
O novo convertido pode facilmente absorver conceitos teológicos de hinos
cuidadosamente escolhidos, e não faltam indicações deles entretecidos no texto
do NT. Entretanto, isso não deve ser um mero cântico exterior de louvor,
mas precisa vir acompanhado de emoção interior, precisa vir do coração.
v. 17. Paulo trata agora de
motivações; seja em ação, seja por palavras, tudo precisa ser feito em
nome de Cristo, com atitude de gratidão ao Pai. Cristãos maduros não
necessitam de códigos de regras, mas somente desse princípio básico
aplicado aos diversos relacionamentos, e essas aplicações são consideradas
parte de um corpo bem definido de ensinamentos da catequese (cf. tb. Ef
5.22).
3) Relacionamentos sociais
(3.18— 4.1)
A sujeição da esposa ao
marido indica a hierarquia divina (cf. tb. IPe 2.18—3.7), e o que torna
isso extraordinário é a sua ênfase em responsabilidades recíprocas, todas
procedentes do relacionamento fundamental com o Salvador, pois eles
precisam fazer o que é apropriado no Senhor. Filhos e pais também
têm responsabilidades mútuas, estes de paciência, aqueles de obediência. Talvez porque
tenha Onésimo em mente, Paulo trate das obrigações dos escravos em mais
detalhes. Reconhecendo as distinções humanas entre senhores e escravos,
ele desafia a muito mais do que um serviço meramente superficial para
chamar a atenção e ganhar favor humano, mas insta à dedicação integral
de coração feita como que para Cristo, pois, embora neste mundo o
relacionamento senhor— escravo sobreviva, para os membros da
igreja existe um relacionamento mais elevado que abarca todos debaixo
de um Senhor de quem todos receberão a recompensa. Não importa a
posição humana deles, todos são filhos que vão compartilhar a herança
divina. Enquanto Ef 6 amplia a ideia da recompensa, aqui se destaca
uma nota de advertência, e deve haver ações justas, pois não haverá favoritismo divino
nem para o escravo infiel nem para o senhor injusto.