Estudo sobre Jonas 3

Estudo sobre Jonas 3

Estudo sobre Jonas 3




Jonas 3
III. CAPÍTULO 3: O Senhor SALVA OS ARREPENDIDOS NINIVITAS DO JUÍZO
v. 1-3. Com base na experiência aprofundada de primeira mão de Jonas com os “estrangeiros” e nas implicações de “somente um Deus, somente um evangelho”, o Senhor agora repete o seu chamado a Jonas. A LXX diz: “de acordo com a mensagem anterior que eu falei”. Dessa vez, Jonas obedeceu àpalavra do Senhor. A certeza do chamado de Deus é muito clara. [Nínive] era...-, muito se tem feito com esse verbo hebraico no perfeito. Muitos têm defendido uma data posterior do livro com base nesse versículo, que parece sugerir que Nínive já não era assim, e por isso se argumenta que o livro deve ter sido escrito depois da queda de Nínive (c. 612 a.C.). Esse versículo é crucial na datação do livro.
Diversas respostas são possíveis:
(1) O perfeito no hebraico pode ser usado sincronisticamente para significar “era e é”, ou seja, Nínive já era uma cidade grande quando Jonas entrou nela.
(2) A frase é introduzida com um “e” explicativo, e a forma da frase é a usada em uma observação parentética, e é possível que esta seja uma observação inserida posteriormente no texto por um editor. Comentaristas que argumentam a favor de uma data posterior estão inclinados a sugerir interpolações em outros trechos, e, portanto, não pareceria sábio para eles fundamentar argumentos a favor de uma data posterior nesse versículo (v. Wilson; v. tb. D. W. B. Robinson, NBCR).
(3) Outros ressaltam que toda a história perderia a sua força depois de Nínive ter sido definitivamente destruída em 612 a.C.
Urna cidade muito grande, para um provinciano da Galileia acostumado apenas com os pequenos povoados israelitas apinhados sobre os tell, a grande extensão de Nínive incluindo até mesmo espaços abertos dentro dos seus muros deve ter parecido enorme (Ellison). (Será que Jonas teve mais um choque cultural?). sendo necessários três dias para percorrê-la: as ruínas mostram que a Nínive histórica media menos do que 13 quilômetros de circunferência. Há sugestões de que as cidades-satélite de Nínive, Reobote-Ir, Calá e Resen, estão incluídas nessa medida, e o apoio para esse ponto de vista pode ser encontrado nas circunstâncias de Gênesis (10.10,11), em que as quatro juntas são chamadas “a grande cidade” (J. H. Hertz). A tradução hebraica ao usar Nínive em cada caso não distinguiu entre todo o distrito administrativo (assírio ninuajki]) e a metrópole (assírio [al]-ninua; cf. Wiseman, NBD, “Nínive”).
v. 4. entrou na cidade e a percorreu durante um dia: Jonas estava pregando a sua mensagem em cada esquina à medida que prosseguia, e isso explica o tempo necessário.
Proclamando: que língua Jonas usou? Isaías 36.11 e 2Rs 18.26 sugerem que o aramaico era a língua franca usada pelas classes cultas, compreendida tanto por judeus quanto por assírios como a língua diplomática. Daqui a quarenta dias Nínive será destruída: a mensagem de Jonas é resumida a somente cinco palavras hebraicas; o livro está mais interessado no profeta do que nos detalhes de sua mensagem. A LXX e a Antiga Latina trazem “três dias”, em vez de “quarenta dias”.
Houve épocas no século VIII a.C. com tais incertezas políticas com os cruéis montanheses de Urartu a apenas 160 quilômetros de distância de Nínive quando isso deve ter parecido uma possibilidade iminente, v. 5. creram em Deus: essa frase foi uma expressão de fé justificadora em Abraão (Gn 15.6; Rm 4.3), e o v. 10 indica que também houve arrependimento genuíno (Mt 12.41). pano de saco: a expressão é tomada por empréstimo do fenício no hebraico (saq), no grego (sakkos) e inglês (de acordo com Snaith) e também em português, como é evidente.
De acordo com Wiseman, até hoje não foram encontradas evidências externas nos registros assírios conhecidos de uma conversão dessas ao Senhor. Mas esse tipo de movimento de massas não é incomum, e todo missionário sabe que é possível trabalhar durante anos sem resultados e, de repente, haver um momento de conversão em massa somente explicável em termos da soberania divina, e.g., a Coréia ou Kampuchea. O fato de que a missão de Jonas não deixou marcas nos registros remanescentes da Assíria pode indicar que os seus efeitos não foram muito profundos ou duradouros. Seria imprudente, no entanto, deduzir que não houve esse momento de conversão. A lenda judaica diz que depois de quarenta anos os assírios se afastaram do caminho da piedade e se tornaram mais pecaminosos do que antes. Então o castigo ameaçado por Jonas os alcançou, e eles foram engolidos pela terra! (Louis Ginzberg, The Legends of the Jews, Filadélfia: Jewish Publication of America, 1913, v. IV, p. 252-3).
“Pois assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas” (Lc 11.30) são palavras misteriosas, que alguns entendem que significam que a experiência de Jonas no “grande peixe” se tornou conhecida dos ninivitas por meio da pregação de Jonas. Teria sido um sinal de que Jonas não tinha tido vontade alguma de ir, mas que o Senhor o havia obrigado a ir. E se o Senhor tinha tido misericórdia de Jonas quando este se arrependeu, assim teria misericórdia dos ninivitas. Mas por que eles iriam acreditar nessa história? Alguns eruditos associaram isso ao fato de que Nínive recebeu o nome em homenagem a Nina, o antigo nome sumério da deusa Ishtar escrito com um sinal que retrata um peixe.
Outros sugeriram de forma mais sensacionalista que a pele de Jonas havia sido alvejada pelos sucos digestivos do monstro marinho e sugerem que isso foi “um sinal para os ninivitas”. Seria imprudente negar essa possibilidade meramente com base no argumento do silêncio das Escrituras, mas certamente é mais imprudente ainda fazer o ponto central da história depender de algo que a Bíblia não menciona” (Ellison, p. 58). E melhor pegar o próprio Jonas e a sua experiência como o sinal, como foi também a experiência de Ezequiel (Ez 12.6,11; 24.24).
v. 6. rei de Nínive-. o seu nome não é revelado; alguns estudiosos argumentam que o seu título correto seria “rei da Assíria” e, por isso, sugerem que o autor deve ter escrito o livro bem mais tarde. Há várias repostas possíveis:
(1) A palavra hebraica para “rei” pode não significar mais do que governador (v. Wilson). E interessante que Is 10.5-8, que fala da Assíria como a “vara do meu furor”, também diga: “Os nossos príncipes (NVI: “comandantes”) não são todos reis?”
(2) No AT, os reis eram com freqüência denominados de acordo com a sua capital,
e.g., Acabe é chamado rei de Samaria, e não de Israel (1Rs 21.1), e Ben-Hadade é chamado rei de Damasco, e não da Síria (1Cr 24.3). Os estrangeiros são notoriamente vagos acerca de títulos corretos. No entanto, Nínive pode não ter sido a capital da Assíria até c. 705 a.C.
(3) A omissão do nome do rei tem um paralelo na história de Naamã (2Rs 5.1,2), e tanto Naum (3.18) quanto Isaías se referem ao “rei da Assíria” sem mencionar o seu nome. Entre os poderosos reis Adade-Nirari III e Tiglate-Pileser III, durante o período de 783 a 745 a.C., sabe-se que quatro reis reinaram na Assíria, que estava num estado de insurreição, peste e comoção quase contínuas (R. D. Wilson).
Observe que Jonas não advertiu o rei explicitamente (como Elias fez com Acabe, ou Natã com Davi), mas, antes, o povo em geral.
v. 7,8. animais-, a ideia de animais se juntando ao lamento aqui não é única (cf. Judite 4.10). Não que os animais precisem de perdão, mas reter a comida dos animais é mais uma penitência e lamento acrescentados aos seus proprietários (J. H. Hertz), violência-, um pecado especialmente grave dos assírios ilustrado em seus baixos-relevos. O povo de Nínive sabia por que poderia esperar o juízo caindo sobre eles. Deixem os seus maus caminhos: uma frase comum que ocorre com frequência em muitos profetas (Jr 26.3; 36.3, 7); observe também “se arrependeram” (Mt 12.41). v. 9. Talvez Deus se arrependa e abandone a sua ira: i.e., talvez JL 2.14a seja visto como uma alusão, especialmente em vista de uma correspondência de JL 2.13 com Jn 4.2.

v. 10. Deus se arrependeu e não os destruiu como tinha ameaçado: o ATOS não tem dificuldade alguma em dizer que Deus mudou de ideia. O próprio Deus nunca muda a sua natureza essencial, mas a sua natureza é tal que, quando os homens se arrependem e mudam, ele tem misericórdia (cf. Ex 32.14; 2Sm 24.6; Am 7.3,6). Aparentemente há uma correspondência verbal com Jrs 18.9,10. A afirmação de Jeremias é uma lei geral demonstrada em particular no caso de Nínive. Não está claro se a regra precede a ilustração ou o caso real resultou na regra.


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