Estudo sobre Isaías 28
Isaías 28
III. JERUSALÉM SOB O DOMÍNIO ASSÍRIO (28.1—39.8)
A estrutura dessa seção é
semelhante à dos caps. 1—12; aqui também uma coleção de oráculos é seguida
de uma seção biográfica em que profeta e rei se encontram. Ezequias agora é o
rei, e provavelmente a maioria dos oráculos desses capítulos datam dos
anos finais do ministério de Isaías. Embora Jerusalém seja novamente o
tema central, há uma perspectiva mais ampla no fato de que a seção começa
com a queda do Reino do Norte e termina com o exílio na Babilônia. Os
ensinos proféticos em grande parte reforçam os dos capítulos anteriores: a
situação política varia, mas a palavra de Deus é a mesma.
1) Oráculos de advertência e promessa (28.1—35.10)
Não há padrão claro nesses
capítulos, mas certa progressão de ideias é visível. Os caps. 28—32 contêm
oráculos variados, principalmente de advertência ou repreensão. O cap. 33
é um salmo que oferece gratidão a Deus por seu livramento até então; e os
caps. 34ss apontam para o futuro, esperando a queda dos inimigos de
Deus e a libertação final do seu povo.
O trecho é um oráculo de
advertência ao Reino do Norte (Efraim), em que está incorporada uma
mensagem distinta de esperança (v. 5,6) para um número pequeno de pessoas
que vão sobreviver, o remanescente do povo de Deus. O
oráculo provavelmente pode ser datado do período inicial do
reinado de Oseias (c. 732—722 a.C.), quando muitos cidadãos do Reino
do Norte estavam num estado de euforia infundada. Isaías
protestou especialmente contra as festas e bebedeiras que eram
típicas naqueles dias; segundo a BJ, os bêbados parecem ser
retratados como quem usava grinaldas (coroa), mas a NVI
pode estar correta se pressupusermos que altos de vale fértil
é uma referência a Samaria. As grinaldas fizeram o profeta elaborar um
retrato agrícola, no qual ele prediz a chuva de granizo terrível
que está vindo (i.e., a conquista assíria) e a “colheita” breve demais — a
bonança antes da tempestade. Mas, em contraste com isso, o próprio Deus vai ser
para o remanescente fiel uma coroa gloriosa que
não murcha, garantindo ao povo tudo de que precisam (num dia futuro).
Isaías continua o seu
ataque aos despreocupados festeiros e faz a declaração conde-natória de que nem
sacerdotes nem profetas (v. 7,8) eram melhores do que os
cidadãos comuns. Os v. 9, 10 provavelmente são a réplica desdenhosa dos
profetas a quem Isaías estava atacando; Isaías, eles afirmam, está
tratando-os como se fossem criancinhas. Há dificuldades em traduzir o v.
10 (cf. outras versões, especialmente a BJ), mas Isaías
está balbuciando ou (mais provavelmente) tentando ensinar-lhes o alfabeto.
Muito bem, Isaías retruca
nos v. llss, se o povo de Israel não quiser dar ouvidos ao seu ensino
elementar, ele vai ser forçado a aprender uma lição mais difícil —
ensinada pelos assírios, aqueles homens de língua estranha — que,
aliás, deriva do próprio Javé. A tragédia é que antes Deus lhes havia
oferecido uma mensagem de conforto e consolo; mas eles tinham permanecido
surdos a ela (v. 12; cf. especialmente Mt 23.37).
Se os v. 1-13 castigam os
guias cegos do Reino do Norte, os v. 14-22 aplicam a lição a Judá e,
especialmente, aos principais políticos de Jerusalém (v. 14). Esses
podem ter sido os homens que deram a Acaz aquele conselho tolo em 734
a.C., mas mais provavelmente são os conselheiros de Ezequias, que zombaram
do conselho de Isaías e recomendaram a
Ezequias que se engajasse
na revolta malsucedida contra a Assíria em 705 a.C. No v. 15, Isaías
caracteriza toda a atitude deles (na verdade eles não disseram exatamente isso,
é claro); as suas predições acerca do que vai acontecer são pura falsidade
(e auto-engano), e aparentemente eles se imaginam imortais. Isaías se
opõe a essa atitude ao lhes transmitir um oráculo do Senhor. O oráculo
(v. 16,
17) é importante para o NT
(Rm 9.33; IPe 2.4-8); embora contendo uma verdade permanente, sua
importância imediata é de promessa e desafio comparáveis com a mensagem a
Acaz em 7.4,9. A pedra, o alicerce seguro — simbolizando a proteção
de Deus no caso dos ataques assírios que logo se abateriam sobre Judá — é
a promessa retratada como se estivesse inscrita na pedra: aquele que
confia, jamais será abalado, i.e., quem confia não vai enfrentar
perturbação sem esperança (assim Young). O verbo final do v. 16
é textualmente incerto; “oscilar”, “tremer”, é provavelmente o
sentido mais correto. Assim, jamais será abalado (NVI; cf.
também BJ) é melhor do que “não foge” (ARA) ou ”não se apresse”
(ARC); cf. 7.9 (“jamais será envergonhado”, no NT, deriva da LXX,
que é uma interpretação, e não uma tradução). O v. 17, que dá
prosseguimento à metáfora da construção, deixa claro que a pedra
significa proteção, por meio do contraste entre o refúgio
verdadeiro e o falso. Os conselheiros falsos serão arrastados pela calamidade
assíria (v. 18). O v. 20 provavelmente era um provérbio popular, e é usado
aqui para descrever a mesma perda da proteção adequada. Os v. 21,22,
lembrando quanto Deus havia protegido de forma tão maravilhosa o seu
povo em dias anteriores (cf. Js 10.1-11; 2Sm 5.17, 25), revelam que agora o mesmo Deus decretou destruição
[...] contra o território inteiro, por mais “misterioso” que isso seja
para os planos derradeiros para o seu povo. O decreto de juízo ainda não é
irrevogável, pois o v. 22 inclui um apelo para que se dê atenção às
palavras do profeta ainda agora.
V. uma lista abrangente de
outras interpretações do v. 16 em Kaiser ad loc.
c)
A parábola do agricultor (28.23-29)
O oráculo dos v.
14-22 já havia reconhecido que o castigo do seu próprio povo foi uma ação “estranha”
e “misteriosa” de Deus; evidentemente, este era um conceito estranho
demais para ser compreendido ou aceito por muitos em Judá: será que Deus
seria capaz de trazer desastre sobre o seu próprio povo? Por isso, Isaías
reafirma os seus argumentos e predições usando uma parábola
da agricultura; em geral, as habilidades do agricultor (v. 26) no cultivo
do solo não são questionadas pelas outras pessoas. A lição então é que o
Deus que ensina o agricultor não é menos hábil e sábio na sua própria “agricultura”;
somos lembrados inevitavelmente de que Judá era a “vinha” de Deus (5.1-7).
Destaca-se, assim, o fato de que para alcançar os melhores resultados os
agricultores precisam aplicar uma variedade de diferentes procedimentos (e
alguns talvez até deixem perplexos os observadores iniciantes). Em
especial, o agricultor precisa aplicar uma medida de atividades
violentas para alcançar resultados (v. 27,28); mas ele não se atreve a
exagerar no uso da força, ou então tudo estará perdido. Deus, então,
precisa tratar com severidade o seu próprio povo; mas as suas ações têm
um propósito, e ele certamente não irá longe demais na execução do
castigo. O profeta conclui a parábola com o lembrete (v. 29) de que o
Senhor não é somente magnifico em sabedoria em geral, mas também é maravilhoso
em conselhos, i.e., em oferecer o melhor conselho prático, por
meio dos seus profetas, quando ocorrem sérias crises políticas. A
expressão está em contraste com os conselheiros falsos dos v. 14ss e
lembra e destaca 9.6.Índice: Isaías 1 Isaías 2 Isaías 3 Isaías 4 Isaías 5 Isaías 6 Isaías 7 Isaías 8 Isaías 9 Isaías 10 Isaías 11 Isaías 12 Isaías 13 Isaías 14 Isaías 15 Isaías 16 Isaías 17 Isaías 18 Isaías 19 Isaías 20 Isaías 21 Isaías 22 Isaías 23 Isaías 24 Isaías 25 Isaías 26 Isaías 27 Isaías 28 Isaías 29 Isaías 30 Isaías 31 Isaías 32 Isaías 33 Isaías 34 Isaías 35 Isaías 36 Isaías 37 Isaías 38 Isaías 39 Isaías 40 Isaías 41 Isaías 42 Isaías 43 Isaías 44 Isaías 45 Isaías 46 Isaías 47 Isaías 48 Isaías 49 Isaías 50 Isaías 51 Isaías 52 Isaías 53 Isaías 54 Isaías 55 Isaías 56 Isaías 57 Isaías 58 Isaías 59 Isaías 60 Isaías 61 Isaías 62 Isaías 63 Isaías 64 Isaías 65 Isaías 66