Salmos 23 — Análise Bíblica
Análise Bíblica
Salmos 23
O salmo 23, uma das passagens mais conhecidas das Escrituras, é citado em várias circunstâncias diferentes. Constitui, em primeiro lugar, um cântico ou oração no qual o salmista, que provavelmente está no templo, expressa sua confiança em Deus. Para isso, baseia-se nas experiências passadas de seu povo, em especial durante a jornada pelo deserto depois do êxodo do Egito, e em sua própria experiência.
O salmo retrata o Senhor de duas maneiras. Na primeira seção (23:1-4), apresenta Deus como um pastor e, na segunda, como um anfitrião que prepara um banquete.
Só quem vem de um contexto pastoril consegue entender plenamente como o pastor é essencial para o bem-estar do rebanho. Quem é originário da parte central da África, onde a vegetação e a água são tão abundantes que as ovelhas tomam conta de si mesmas, também tem dificuldade em compreender o cenário que esse salmo retrata. Mas os leitores oriundos das regiões desérticas da África o entendem muito bem. Sabem que o papel do pastor é indispensável em locais onde, por vezes, é preciso andar até quinze quilômetros para encontrar água ou pasto para o rebanho.
23:1-4 O Senhor como pastor
O salmo 23 começa com palavras de confiança. No hebraico, a expressão inicial é composta de apenas duas palavras: Senhor e meu pastor. No antigo Oriente Médio, era comum chamar o rei de pastor do seu povo, e, em algumas passagens do AT, diz-se que o rei e o Senhor pastoreiam uma nação inteira (Nm 27:17; lCr 17:6; Jr 31:10). Nesse caso, porém, um indivíduo afirma que Deus é seu pastor (23:1). Sabe que com um pastor como esse não carecerá de nada. Durante os quarenta anos em que Israel vagou pelo deserto, Deus supriu todas as necessidades do seu povo (Ne 9:20-21).
Na sequência, o salmista explica como o Senhor se revela no papel de pastor, ao prover pastagem e água, necessidades fundamentais do rebanho (23:2-3). Os pastos são verdes, o que significa que a grama é fresca. As águas são calmas, de modo que as ovelhas não têm dificuldade em saciar a sede, como seria o caso se as águas fossem agitadas e perigosas. Os pastos verdes e águas calmas sustentam a vida das ovelhas. Semelhantemente, o modo de Deus guiar o salmista pelas veredas da justiça lhe proporciona uma vida serena e tranquila.
O vale da sombra da morte (23:4) talvez fosse um lugar onde havia perigo de encontrar animais selvagens, ou um vale íngreme que o rebanho precisava escalar ao se deslocar de um pasto para outro. Essa imagem também nos lembra a experiência dos israelitas no êxodo (cf. Jr 2:6). O bordão e o cajado eram os instrumentos usados pelo pastor para trazer de volta as ovelhas que se desgarravam ou para proteger de animais selvagens, o rebanho.
O salmo 23 limita o papel do pastor à provisão e proteção, mas Jesus, o Bom Pastor, vai mais longe. Está disposto a dar a vida por suas ovelhas (Jo 10:11).
Quem serve ao Senhor cuidando de seu rebanho também é chamado de pastor. O apóstolo Pedro adverte os pastores da igreja: “Pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade” (1Pe 5:2). Infelizmente, hoje em dia muitos se tomam pastores para fugir da pobreza ou do desemprego. Exercem o ministério visando seus próprios interesses, e não o bem-estar do rebanho.
Aqueles que procuram ser pastores autênticos devem valer-se desse salmo para entender seu papel. Sua tarefa consiste em prover sustento e proteção para o povo de Deus. Eles devem alimentar o povo de Deus com as Escrituras a fim de que as ovelhas tenham uma fé saudável e não fiquem subnutridas, tomando-se presas fáceis para falsos mestres. Também cabe aos pastores proteger o rebanho dos muitos inimigos que podem ameaçá-lo.
23:5-6 O Senhor como anfitrião
O salmista deixa repentinamente a metáfora do pastor e usa outra imagem para descrever Deus. Agora, retrata-o como um anfitrião que prepara uma refeição para alguém que está sendo perseguido por inimigos. Os inimigos observam sem poder fazer nada enquanto o salmista desfruta tranquilamente o banquete como convidado de honra, cuja cabeça é ungida com óleo (23:5). Sabem que ele está sob a proteção de Deus.
A combinação das experiências do Senhor como pastor e como anfitrião convence o salmista de que, sem dúvida, a bondade e a misericórdia de Deus o acompanharão no futuro. Ele viverá em segurança na Casa do Senhor (23:6).