Lucas 6 — Comentário Evangélico

Comentário Evangélico de Lucas 6






Lucas 6

I. Jesus, o Soberano (6:1-5)

As pessoas podiam arrancar espigas dos campos alheios e comê-las, mas não podiam usar a foice (Dt 23:25). Jesus violou mais uma vez a tradi­ção dos anciãos ao permitir que seus discípulos fizessem isso no sábado. Pouco antes, ele curara um homem no sábado (Jo 5), e isso enraiveceu ainda mais os líderes religiosos. A defesa de nosso Senhor era simples: ele era o Senhor do sábado, e as tra­dições do homem não restringem o Rei. Ele citou um exemplo de Davi que confirma isso (1 Sm 21:1-9). De novo, Jesus afirmava ser o Filho de Davi, o Senhor, o Messias. Ele que­ria dar um novo sábado de descanso para as pessoas (Mt 11:28-30), toda­via elas não aceitaram sua oferta.

II. Jesus, o Médico(6:6-11)

Os escribas e fariseus comparece­ram ao culto da sinagoga não para adorar a Deus, mas para espionar Jesus. Eles sabiam que Jesus estaria lá ou, talvez, viram o homem com a mão ressequida lá. Jesus curou o homem e defendeu-se com base no valor da vida humana. Qualquer ju­deu salvaria um animal do rebanho no sábado (Mt 12:11-12), então por que não salvar um homem, feito à imagem de Deus? Devemos exami­nar e mudar as tradições quando se tornam mais importantes que as pes­soas. Eles o odiaram ainda mais por causa desse milagre, pois o milagre em si não muda o coração pecador. Os escribas e fariseus até juntaram- se aos herodianos em seu complô para destruir Jesus (Mc 3:6).

III. Jesus, o Mestre (6:12-16)

Mais uma vez, Lucas menciona que nosso Senhor se retira a fim de orar (5:16). Ele tinha de tomar decisões importantes, e seus inimigos esta­vam atrás dele, portanto precisava orar. Esse é um bom exemplo para seguir em nosso ministério (Tg 1:5).

Jesus, dentre uma multidão de seguidores, escolheu os Doze para serem seus apóstolos. O apóstolo é a pessoa autorizada a desempenhar uma tarefa especial. Esses homens viveram e aprenderam com Jesus, pois tomariam seu lugar após seu retorno para o Pai. A igreja primi­tiva seguiu qualificações específi­cas quando selecionou uma pessoa para substituir Judas, pois nem todos podiam ser apóstolos (At 1:21-22; 1 Co 9:1).

Em geral, crê-se que Bartolo- meu é Natanael (Jo 1:45-51), e Judas (não o Iscariotes) seja outro nome de Tadeu (Mc 3:18). Em todas as listas com os nomes dos apóstolos, sempre Pedro é o primeiro, e Judas Iscariotes, o último.

IV. Jesus, o Pregador (6:17-49)

Jesus desceu até uma “planura” (“lu­gar plano”, ARC) ao lado do monte e fez o “sermão de ordenação” para os apóstolos. Lucas, em seu relato do que chamamos “o Sermão do Monte” (Mt 5—7), eliminou as “se­ções judias”, pois não interessavam aos seus leitores gentios. Jesus pre­gou esse sermão para a multidão e para os apóstolos, e a mensagem dele aplica-se a nós hoje. Ninguém é salvo “guardando o Sermão do Monte”, pois se alcança a salvação apenas pela fé em Jesus Cristo.

O sermão trata do relaciona­mento dos discípulos com as posses (vv. 20-26), com as pessoas (vv. 27­45) e com o Senhor (vv. 46-49). Na seção a respeito do relacionamento entre as pessoas, Jesus ensina como nos darmos bem com nossos inimi­gos (vv. 27-36) e com nossos irmãos (vv. 37-45). Podemos resumir o ser­mão em quatro verbos: ser (vv. 20­26), amar (vv. 27-36), perdoar (vv. 37-45) e obedecer (vv. 46-49).

A. Posses (vv. 20-26)

As pessoas que seguiam Jesus eram, em sua maioria, pobres e mal ti­nham o necessário para viver. Elas invejavam os ricos e ansiavam ser como eles. A Bíblia não ensina que a pobreza é uma bênção, pois nos ordena a cuidar do pobre e do ne­cessitado. Todavia, essa pobreza não precisa tirar-nos as bênçãos. Diz-se com muita sabedoria que muitas pessoas sabem o preço de tudo, mas não sabem o valor de nada. Não é pecado ser rico, contudo é pecado confiar nas posses e achar-se uma pessoa especial aos olhos de Deus por causa da riqueza. O caráter é importante, não as posses.

B. Pessoas (vv. 27-45)

Quando seus valores são diferentes dos das pessoas do mundo, e quan­do você defende o que é certo, cer­tamente terá inimigos. Descemos ao patamar deles se revidamos, mas, se os amamos, fazemos o bem a eles, os abençoamos e oramos por eles, assim alcançamos um estágio mais alto e glorificamos ao Senhor. Não é necessário muito esforço para amar e servir aos amigos, mas é preciso fé para amar nossos ini­migos e fazer o bem a eles. Os ver­sículos 31 e 36 apresentam princí­pios que nos encorajam a praticar essas difíceis admoestações. Veja também 1 Pedro 2:13-25 e Roma­nos 12:1 7-21.

No que se refere a nossos ir­mãos em Cristo (vv. 37-46), deve­mos ter cuidado para não ser mais severos com eles que com nós mesmos. Quando vir uma falta em seu irmão, antes de falar com ele, examine seu coração a fim de ver se também não é culpado. Você é um cego que guia outro cego? Você está tentando “operar” os olhos de seu irmão quando os seus olhos estão danificados? Não é errado ajudar um irmão ou uma irmã (Gl 6:1 -5); todavia, se sua atitude for de julgamento, e sua vida não for reta para com o Senhor, isso é errado. O grande perigo é a hipocrisia (v. 42), quer dizer, fingir ser mais espiritual que realmente é. Ao tentar ajudar os outros, temos de ter cuidado em ser honestos para com Deus e para com nós mesmos (1 Jo 1:5-10).

As imagens da árvore (vv. 43­44) e do tesouro (v. 45) lembram- nos a importância do caráter. Se a árvore não é sadia, os frutos também não o são; se o coração está cheio de maldade, a boca fala maldades. Edifique seu caráter e poderá ajudar aos outros quando eles tiverem ne­cessidades espirituais.

C. O Senhor (vv. 46-49)

Jesus é Senhor e quer nossas obras, não nossas palavras (Mt 7:24-27). Construir “sobre a rocha” significa obedecer ao Senhor. Edificar “sobre a areia” significa professar nossa obediência, mas não praticá-la. As tempestades da vida testam o que construímos hoje, mas o teste final e maior será diante do tribunal de Deus (Rm 14:10-13).

Mateus relata que os ouvintes se maravilharam com a doutrina de Cristo (Mt 7:28-29). Todavia, hoje muitos cristãos leem o Sermão do Monte e veem apenas uma bela obra de filosofia religiosa. Perde­mos muito ao sermos ouvintes, e não praticantes!