Lucas 8 — Comentário Evangélico

Comentário Evangélico de Lucas 8






Lucas 8

Jesus continuou viajando pela Galileia com seus discípulos e as mu­lheres que ministravam a ele. Ele expulsou sete demônios de Maria Madalena (Mc 16:9). O marido de Joana trabalhava para Herodes Antipas, e não sabemos nada a respeito de Suzana. Lucas, com frequência, menciona mulheres em seu evange­lho, e, naquela época, não era in- comum que as mulheres judias divi­dissem suas posses com os rabis. No entanto, era incomum as mulheres viajarem com um rabi, e Jesus, sem dúvida, recebia críticas por isso. (Veja Gl 3:26-29.) Um dos temas desse capítulo é a Palavra de Deus e como respondemos a ela.

A. “Preste atenção no que você ouve!” (vv. 4-15)

Esses versículos usam nove vezes o verbo “ouvir”, pois é pelo ouvir que recebemos a Palavra em nosso co­ração, onde ela cria fé (Rm 10:17). A Palavra é como a semente porque possui vida em si e frutifica quan­do é plantada (quando é recebida e compreendida). O coração humano é o solo que deve ser preparado a fim de que a Palavra seja semeada e frutifique. Parece evidente que três quartos das pessoas têm coração estéril e, portanto, nunca serão sal­vas (3:8). É necessário perseverança para cultivar a semente e conseguir a colheita (v. 15), mas não devemos desistir (Gl 6:9). É importante que semeemos a semente em nosso co­ração e no dos outros.

B. “Preste atenção em como você ouve!” (vv. 16-18)

Agora, a imagem é de uma can­deia. Recebemos a Palavra e deve­mos compartilhá-la com os outros, e, quanto mais recebemos, mais temos para dividir. Se a recebe­mos de forma negligente, ou des­cuidada, não temos nada para dar. Somos como candeias sem óleo. Deus não compartilha seus segre­dos conosco para que os esconda­mos, mas para que possamos ensi­ná-los aos outros.

C. Preste atenção em por que você ouve!” (vv. 19-21)

Ouvimos a Palavra apenas para au­mentar nosso saber e nos vangloriar­mos disso (1 Co 8:1)? Ou ouvimos a Palavra de Deus porque queremos obedecer a ela? Jesus não foi rude com sua família. Ele usou a chegada dela para ensinar uma lição valiosa: se queremos ter intimidade espiritu­al com Jesus, devemos escutar sua Palavra, recebê-la e lhe obedecer. A obediência, além de capacitar-nos a aprender mais verdades (Jo 7:17), aproxima-nos mais do Senhor em sua família espiritual.

II. Crer na Palavra (8:22-25)

Sem dúvida, Jesus sabia que havia uma tempestade a caminho, contu­do ele adormeceu no barco. Só isso já seria suficiente para fazer com que os discípulos não tivessem medo. Qual era o problema deles? O mesmo problema que o povo de Deus enfrenta hoje: conhecemos a Palavra, mas não cremos nela quando enfrentamos os desafios da vida. Uma coisa é aprender a verdade, outra, bem diferente, é vivê-la. A pergunta-chave ainda é esta: “Onde está a vossa fé?” (v. 25). Acreditamos nas promessas de Deus, ou cremos em nós mesmos e em nossas circunstâncias?

III. Rejeitar a Palavra (8:26-40)

Jesus atravessou uma tempestade terrível para visitar dois homens possuídos pelo demônio em um ce­mitério no território gentio dos gera- senos. Marcos e Lucas mencionam apenas um homem — o mais falante dos dois —, porém Mateus informa que havia dois (Mt 8:28). Os demô­nios creem em Deus e tremem (Tg 2:19), mas nem a “fé” nem o temor deles pode salvá-los.

Observe a repetição da palavra “rogar”. Os demônios rogam a Jesus que não os enviem para o abismo, mas para os porcos (vv. 31-32). Os cidadãos rogam que Jesus deixe seu país (v. 37), e um dos ex-possuídos pelo demônio roga-lhe que o deixe ser seu discípulo (v. 38). Jesus aten­deu aos dois primeiros pedidos, mas não ao terceiro. Ele permitiu que os demônios entrassem nos porcos e, a seguir, deixou o país e retornou à Galileia. Todavia, não deixou o ho­mem curado ir com eles; mandou-o de volta para casa a fim de testemu­nhar do Senhor. Os novos converti­dos nem sempre estão prontos para servir ao Senhor em tempo integral; contudo, sem dúvida, podem contar aos outros o que ele operou na vida deles.

Alguns críticos da Bíblia cul­pam Jesus por destruir a proprieda­de alheia quando poderia enviar os demônios para qualquer outro lugar. Eles porém, não compreendem por que ele agiu desse modo. Ele não fez isso em resposta ao pedido dos de­mônios, mas porque queria mostrar aos espectadores o que estava acon­tecendo de verdade. Quando a ma­nada de porcos desceu a escarpa em direção à água, não restou dúvida de que os demônios tinham saído dos homens, e que Jesus fizera isso. Com esse ato dramático, Jesus deixou cla­ro que Satanás pega um porco ou um homem, e, se ele pega um homem, transforma-o em um animal! Afinal, nosso Senhor é o Criador de todas as coisas e Senhor de todas elas. Assim, ele não pode fazer o que lhe agrada com suas coisas?

O povo rejeitou a Palavra e pe­diu que Jesus o deixasse. Que opor­tunidade aquelas pessoas perderam! Viram uma dramática demonstração do poder da Palavra de Deus e não permitiram que ela operasse na vida delas. Na outra margem, o povo com­portou-se de forma oposta: esperava por Jesus e deu-lhe boas-vindas.

IV. Vivenciar a Palavra (8:41-50)

Uma mulher pobre e anônima e um rico líder religioso chamado Jairo vão a Jesus em busca de ajuda: ela para si mesma, e ele para sua filha. A mulher sofria havia 12 anos, e a menina esteve bem por 12 anos e, agora, estava prestes a morrer. O chão é plano aos pés de Jesus, e todos são bem-vindos para trazer a ele seja o que for que precisem.

Talvez a mulher tivesse uma fé um pouco supersticiosa, porém Je­sus respondeu a ela da mesma for­ma. Todavia, ele não permitiu que ela saísse às escondidas no meio da multidão e continuasse anônima. Ela nunca glorificaria a Deus com seu testemunho se tivesse feito isso e nunca ouviria suas palavras espe­ciais de bênção (v. 48; e veja 7:50). Ela vivenciou a bênção do poder dele, mas também precisava viven­ciar a bênção de sua Palavra. Ele chamou-a de “filha”, o que sugere que agora ela fazia parte da família. A frase “você sarou” (NTLH) é a tra­dução para a palavra que significa “ser salva”. (Cura simboliza salva­ção; veja 5:20-26.) Assim, o corpo dessa mulher fora curado, e a alma, salva, e ela foi embora em paz, tudo por causa da Palavra do Senhor!

Talvez Jairo tenha se sentido te­meroso e desencorajado enquanto esperava Jesus ministrar à mulher. Depois chegou a má notícia de que sua filha morrera. Nesse momento, Jairo vivenciou o poder da Palavra (v. 50). Ele creu na Palavra enquanto ele, Jesus e os discípulos passavam pela densa multidão a caminho de sua casa. O que ele encontrou ao chegar em sua casa deve tê-lo ame­drontado ainda mais: as pessoas choravam e pranteavam (Mt 9:23; Mc 5:38), e ele viu sua filha morta deitada sobre a cama.

Jesus sempre controla qualquer situação. Ele dispensou os pranteadores e disse-lhes que não chorassem. Por que chorar por uma menina que dorme? (Quando os crentes morrem, o corpo adormece, mas o espírito fica ao lado do Senhor — 1 Ts 4:13- 18; Fp 1:19-23. As Escrituras não apresentam nenhuma evidência de que o espírito dorme.) Ele ordenou: “Menina, levanta-te!” (v. 54), e o es­pírito retornou ao seu corpo, e ela saiu da cama e andou. Ela vivenciou o poder doador de vida da Palavra de Deus! “Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a existir” (SI 33:9). “Enviou-lhes a sua palavra, e os sarou” (Sl. 107:20). Sua Palavra ainda tem poder. Nós temos a fé que libera esse poder?