Lucas 9 — Comentário Evangélico

Comentário Evangélico de Lucas 9





Lucas 9

Jesus está para embarcar em sua “campanha” final na Galileia antes de ir para Jerusalém a fim de morrer (v. 51). O pano de fundo desse capí­tulo é Mateus 9:35-38. Sua compai­xão pelas multidões e a necessidade enorme de colaboradores. Como Jesus respondeu a esse desafio? Ele enviou os apóstolos para ministrar e, em particular, preparou-os para o mi­nistério após seu retorno para a gló­ria. Os Doze ainda tinham um longo caminho pela frente antes que pudes­sem assumir posições de liderança e serviço, contudo Jesus era paciente para com eles, da mesma forma que o é conosco. Considere algumas das lições que ele tentou ensinar-lhes.

I. Aprender a servi-lo (9:1-17)

Jesus primeiro equipou os Doze pa­ra o serviço. Poder é a capacidade para fazer alguma coisa, e autori­dade é o direito para fazer isso. Os apóstolos tinham as duas coisas (Rm 15:18-19; Hb 2:1-4; 2 Co 12:12). Eles foram enviados apenas aos ju­deus (Mt 10:5-6; At 3:26; Rm 1:16) e deviam pregar as boas-novas e curar os aflitos. Essa viagem não eram fé­rias, por isso Jesus exortou-os a via­jar sem bagagem e a viver pela fé. À medida que partiam, dois a dois, para servi-lo, eles tinham de confiar em que Jesus os capacitaria para fa­zer o que lhes pedia (Mc 16:20).

O ministério deles foi tão efi­caz que até Herodes Antipas soube e começou a perguntar a respeito de Jesus. Herodes, ainda incomodado pela consciência, tinha certeza de que João Batista voltara para amea­çá-lo. De acordo com João 10:41, João Batista não fez milagres; por­tanto, certamente, Herodes era um homem desconcertado. Quando, por fim, Herodes encontrou-se com Jesus, o Senhor não fez nem disse nada (Lc 23:6-12).

Jesus e os apóstolos tentaram descansar um pouco depois da via­gem de ministério que exigira muito deles, mas as multidões não permi­tiram que descansasse. O que fazer com 5 mil pessoas famintas? Os Doze sugeriram que Jesus os man­dasse embora (v. 12; veja 18:15 e Mt 15:23). Filipe preocupou-se com o dinheiro (Jo 6:5-7), e André viu a dis­ponibilidade de alimento e informou a Jesus (Jo 6:8-9). Jesus ensinou-lhes uma lição importante para o futuro trabalho deles: não existe situação impossível se você pega o que tem e leva a Deus com ações de graças, e compartilha com os outros.

II. Aprender a conhecê-lo (9:18-36)

Agora, Jesus começa a “afastar-se” do ministério público a fim de po­der passar um tempo sozinho com os Doze e prepará-los para o que aconteceria com ele em Jerusalém. Jesus, a cada marco importante de seu ministério, passa um tempo es­pecial em oração (v. 18). Quando os apóstolos ministraram entre o povo ouviram o que era dito a respeito de Jesus, todavia Jesus não queria que os Doze adotassem a opinião do povo, mas que tivessem convicções pessoais. Ele queria que a confissão deles fosse uma experiência pessoal vinda do Pai (Mt 16:16-17).

Após todos serem claros em sua confissão de fé (com exceção de Ju­das — Jo 6:67-71), os Doze podiam aprender mais a respeito do sofrimen­to e da morte vindouros de Cristo. Mateus relata que Pedro opôs-se ao plano (Mt 16:21-23), portanto Jesus explicou a ele e aos outros o sentido da cruz. Pedro era um homem salvo, mas sabia pouco sobre discipulado, sobre tomar a cruz e seguir Jesus. A salvação é a dádiva de Deus para nós porque Jesus morreu por nós na cruz. O discipulado é a nossa dádiva para ele à medida que tomamos a cruz, morremos para nós mesmos e segui­mos o Senhor em tudo.

No monte da transfiguração, os três apóstolos escolhidos aprende­ram que o sofrimento leva à glória, uma mensagem que Pedro enfatiza em sua primeira epístola (1:6-8,11; 4:12—5:10). Moisés representa a Lei, Elias, os profetas, e ambos en­contram seu cumprimento em Jesus Cristo (Hb 1:1-3). No versículo 31, “partida” é a tradução da palavra grega exodus e refere-se ao minis­tério completo de nosso Senhor em Jerusalém: sua morte, ressurreição e ascensão. Da mesma forma como Moisés tirou os judeus da escravi­dão do Egito, Jesus tira os crentes pecadores da prisão do pecado.

Pedro queria transformar o even­to em uma Festa dos Tabernáculos contínua, porém o Pai interrompeu-o a fim de lembrá-lo: “A ele ouvi”. Essa foi a primeira de três interrupções que houve na vida de Pedro: aqui, o Pai interrompeu-o; o Filho o fez em Mateus 17:24-27; e o Espírito, em Atos 10:44-48. Com essa experiên­cia, Pedro aprendeu a crer na Palavra imutável de Deus (2 Pe 1:16-21) e no reino glorioso que viria, apesar do que os homens pecadores possam fazer para impedir isso (2 Pe 3).

III. Aprender a crer nele (9:37-43)

Os nove apóstolos deixados ao pé do monte estavam com problemas, pois não conseguiram curar um ra­paz possuído pelo demônio, trazido pelo pai ansioso. Além disso, alguns líderes religiosos discutiam com os apóstolos (Mc 9:14) e, provavel­mente, os ridicularizavam por causa do esforço vão. Jesus dera o poder e a autoridade que os nove precisa­vam para fazer isso (9:1 -2), contudo algo acontecera. Mateus 17:19-21 apresenta a explicação para isso. Aparentemente, os nove apóstolos deixaram de orar e jejuar, e isso en­fraqueceu a fé deles. A poderosa fé que exercitaram durante a viagem (v. 10) estava muito fraca para con­firmar a promessa de vitória que Je­sus lhes dera. Não podemos viver e servir fundamentados em vitórias passadas. Temos de estar sempre alertas e disciplinados, confiantes no trabalho do Senhor.

IV. Aprender a amar (9:44-56)

É estranha a forma como os Doze responderam a esse outro anúncio da cruz. Eles discutiram sobre quem entre eles era o maior, em vez de sentir-se humildes. Talvez o fracasso dos nove em expulsar o demônio e o privilégio dos três que foram ao topo do monte com Jesus criaram rivalidade entre eles. Pedro Tiago e João certamente gostariam de con­tar aos nove o que viram no monte, contudo Jesus ordenara-lhes silên­cio em relação ao assunto (Mt 17:9). Os Doze estavam andando pela carne (Cl 5:20) e pensando apenas neles mesmos. Se pretendiam servir ao Senhor com eficácia, tinham de aprender a amar uns aos outros.

Eles também tinham de apren­der a amar os outros que não fa­ziam parte desse grupo especial (vv. 49-50). Jesus não tinha apenas os doze apóstolos, também tinha ou­tros setenta homens que podia en­viar a serviço (10:1-2). João pensou ser algo espiritual proibir o homem anônimo de servir; todavia, Jesus, de forma afetuosa, o repreendeu por isso. Para uma situação paralela, veja Números 11:24-30, João 3:26- 30 e Filipenses 1:12-18.

Por fim, eles tinham de aprender a amar os inimigos (vv. 51-56). Ha­via séculos que judeus e samaritanos brigavam, porém Jesus não partici­pou dessa disputa (veja Jo 4 e 8:48- 49; Lc 10:25-37). Chamamos João de “o apóstolo do amor”, mas Jesus chamava a ele e ao irmão de “filhos do trovão” (Mc 3:17). Talvez a visão de Elias no monte os tenha incitado a querer fazer descer fogo do céu (2Rs 1). Contudo, essa não é a forma de transformar um inimigo em amigo (Rm 12:17-21; Mt 5:10-12,38-48).

V. Aprender a pôr Cristo em primei­ro lugar (9:57-62)

Esses três homens chamavam Jesus de “Senhor”, porém não fizeram o que ele pediu que fizessem (6:46; Mt 7:21-27). O primeiro homem não pôde negar a si mesmo quando sou­be da possibilidade de haver dificul­dades. O segundo estava preocupa­do com o funeral errado: ele deveria tomar sua cruz, morrer para si mes­mo e obedecer à vontade de Deus. O terceiro homem voltou os olhos para a direção errada e não pôde se­guir Cristo. Lucas 9:23 apresenta as condições para o discipulado, e es­ses três homens não as satisfizeram. Eles enfatizavam o “eu” em primeiro lugar. Não é de admirar que haja tão poucos colaboradores!