Estudo sobre Apocalipse 6:2

Estudo sobre Apocalipse 6:2

Apocalipse 6:2

Vi, então, e eis (nota 245) um cavalo branco e o seu cavaleiro com um arco; e foi-lhe dada uma coroa; e ele saiu vencendo e para vencer. Este cavaleiro caracteriza-se de maneira singular. Não se pode depreender dele de forma tão inequívoca o caráter das pragas dos demais cavaleiros, sendo que também está ausente da síntese do v. 8b. Acima de tudo, no Oriente seu cavalo na cor branca pode ser identificado como cavalo do rei. Este cavaleiro lidera os demais.

A cor branca, no entanto, também poderia apontar para o Leste. Desde o ano 62 os vizinhos orientais do Império Romano, os partos, eram a potência inimiga mais temida. Nunca foi possível derrotar estes hábeis arqueiros, que sabiam até disparar para trás quando galopavam em retirada. Todos os que gemiam debaixo do domínio dos romanos esperavam ardentemente por um ataque dos partos. Será que João profetizou isto aqui? O arco, porém, é arma de ataque de todos os povos montados e a cor branca não é identificada em nada com um quadrante (excurso 3c), mas expressamente com a vitória.
Ou deve-se pensar de forma bem genérica em guerras mundiais e conquista do mundo? Em favor desta leitura pode-se aduzir o texto paralelo de Mt 24.6. Desta maneira, porém, desaparece a diferença com o segundo cavaleiro, que sem dúvida alguma representa a guerra. Como subterfúgio, os comentaristas servem-se, neste caso, da subdivisão em guerras entre nações (v. 2) e guerras civis (v. 4). Isto, porém, parece arbitrário, pois o v. 4 não se deixa restringir a guerras civis.

Desde a Antiguidade este cavaleiro branco também foi interpretado como sendo Cristo, de acordo com a passagem muito evidente de Ap 19.11-16. Aquele cavaleiro branco, porém, distingue-se do presentemente analisado pelo seu séquito totalmente diferente (Ap 19.14), que lidera seus colegas vermelho, negro e pálido. Cristo jamais traz guerra, fome e peste. Sua arma igualmente jamais é o arco, mas sempre a espada de juiz que lhe sai da boca (Ap 1.16; 2.12,16; 19.15,21). E finalmente, nesta leitura da visão, Cristo estaria presente ao mesmo tempo como Cordeiro (v. 1) e como cavaleiro branco, dando ordem a si próprio para vir.

De forma impressionante, esta interpretação foi modificada no sentido de que o cavaleiro branco representaria a proclamação do evangelho em dimensões universais. Como ponto de apoio recorre-se a Mt 24.14; Mc 13.10: a última oferta de amplitude universal como sinal do fim dos tempos. Desta maneira persiste também certa conexão com o cavaleiro branco no fim do Apocalipse, que afinal tem o nome: “A Palavra de Deus” (Ap 19.13 [blh]). Além disto, esta leitura faz justiça ao dado de que o primeiro cavaleiro de fato se distingue dos sombrios cavaleiros posteriores como uma figura de luz. No AT o arco frequentemente constitui uma “arma” de Deus, com a qual ele atira longe para dentro das nações.

Neste ponto, porém, já começam as dificuldades da interpretação. No AT e no judaísmo o arco é no máximo um instrumento de juízo (Dt 32.23,42; Jó 6.4; 34.6 [teb]; Sl 38.2; Lm 2.4; 3.12; Hc 3.9-14), mas não uma metáfora para o evangelho gerador de salvação. Já por estar armado com um arco, esta arma temida, o cavaleiro branco parece ser um personagem negativo.

De fato não se deveria perder de vista a relação com o cavaleiro branco no cap. 19. Contudo, trata-se da relação entre grandezas contrastantes. O Apocalipse tem predileção por estas imagens duplas, que sempre contêm o mais agudo contraste, p. ex., duas figuras de mulher (“mulher” e “prostituta”), ou duas cidades (a “nova Jerusalém” e “Babilônia”), ou dois personagens sacrificados (“Cordeiro” e “besta”, Ap 13.3,12) etc. Assim, o anticristo estaria contraposto ao Cristo. Em Ap. 13.7 afirma-se que o anticristo tem a mesma capacidade de vitória como a do presente trecho. Desde o princípio ele se apresenta como vencedor coroado, para também repetida e irresistivelmente conquistar a vitória. Uma série extraordinária de sucessos o conduz de triunfo a triunfo. Há mais pessoas que seguem a ele do que aquelas que seguem ao Cordeiro. “Quem é semelhante à besta? Quem pode pelejar contra ela?” (Ap 13.4). A causa de Jesus parece estar perdida.

Também o arco na sua mão finalmente obtém uma explicação satisfatória. Num dos dois capítulos sobre o anticristo no at, a saber, em Ez 39 – João o acolhe em Ap 19.17-21! – o arco aparece igualmente na mão do inimigo de Deus.

Por fim, também a cor branca repetidamente desempenha uma função quando surge o anticristo. Contudo, ela não é apenas a cor da vitória, mas de acordo com Ap 1.14; 3.4,5,18; 14.14 simultaneamente a cor da pureza e da luz. Neste caso, trata-se de uma inocência encenada, fingida, de uma luz falsa: o anticristo é um deslumbrador.