Significado de “vingador de sangue” na Bíblia

Significado de “vingador de sangue” na Bíblia

Significado de “vingador de sangue” na Bíblia

O significado do verbo hebraico do qual é composto significa soltar, libertar livre, redimir, vindicar, nos casos de homicídio, vindicar o direito da vítima à vida, e libertar a terra da poluição que segue o derramamento de sangue sem justa causa. Neste sentido, vingar não é simplesmente buscar uma vingança mesquinha, mas vindicar a justiça em favor de alguém, reparar um erro exigindo do malfeitor satisfação pela ofensa cometida.

No Antigo Testamento, o go’el (redentor, vingador) é aquele — geralmente o parente mais próximo (o que “goel” conseqüentemente passou a significar) — encarregado de vindicar a justiça, tanto resgatando a propriedade da família, que foi desapropriada ou vendida à força, ou (no caso do go’el had’dam, vingador do sangue) vingando a morte ilegal de um membro da família. O vingador do sangue é uma figura que aparece na justiça primitiva. De acordo com os costumes antigos, era um direito, ou até uma obrigação do parente mais próximo vingar a morte de alguém da família. Talvez por isso Caim temeu por sua vida depois de matar Abel (Gn 4.14) e Lameque se justificou (Gn 4.23,24). Também é provável que Yahweh tenha sancionado esse tipo de justiça retaliativa na sociedade ainda não institucionalizada do período imediatamente após o dilúvio, quando anunciou o princípio de requerer e retaliar registrado em Gênesis 9.5,6.

Por ser a vingança individual de sangue muito comum no Oriente Médio, antes da formação do povo de Israel, é evidente que não foi Moisés quem instituiu o costume. A legislação mosaica, entretanto, o reconhecia e permitia; o Vingador do Sangue era uma figura bem conhecida em Israel, pelo menos até a época de Davi (2Sm 14.7,8). Deve-se notar, porém, que a legislação mosaica não deixou o costume da vingança individual sem regulamentação. Primeiro, a lei fez uma distinção entre homicídios acidentais e deliberados (Dt 19.4,5; Nm 35.22). Segundo, providenciava um escape da ira do vingador, estabelecendo cidades de refugio, para as quais qualquer homicida podia fugir para escapar da reação imediata e (talvez) equivocada do vingador (Nm 35.9-15). Terceiro, interpunha entre o homicida e o vingador o julgamento legal dos anciãos, representantes reconhecidos da sociedade como um todo (Dt 19.12). Quarto, estipulava que nenhuma pessoa devia ser morta pelo vingador mediante o testemunho de apenas uma pessoa (Nm 35.30). Por estas provisões, o antigo costume da vingança individual de sangue foi, de fato, considerado ilegal: o vingador, assim, tomou-se quase um carrasco público. Deus ordenou a Moisés que estabelecesse seis cidades de refúgio “para que, nelas, se acolha o homicida que matar alguém involuntariamente” (Nm 35.11). Se o homicida fosse apanhado e executado pelo Vingador antes de chegar a uma dessas cidades, a lei nada poderia fazer por ele. Entretanto, uma vez dentro da segurança da cidade de refúgio, o homicida seria julgado pelos anciãos. Se fosse considerado inocente de crime deliberado (assassinato), estaria isento da punição, podendo ficar naquela cidade até a morte do sumo sacerdote (Nm 35.25), quando então podia ir embora em segurança.

Se fosse considerado culpado, ser-lhe-ia negado asilo, ficando então à mercê do Vingador. Sob esta legislação está o princípio geral de que a vida deve ser paga com outra vida. Muitos cristãos acreditam que esta regra representa um princípio legítimo, sendo assim válido para todas as épocas. Consequentemente, acreditam que a pena de morte é um requisito divino perpétuo e inviolável. Outros cristãos acreditam que “vida por vida” não chega a ser um princípio, considerando a pena capital desumana e contrária ao princípio do Evangelho de amor. Outro grupo de cristãos, endossando o princípio da justiça retaliativa, acredita que a pena de morte é permissível, quando efetuada dentro de um processo judicial adequado — em bora não seja um mandamento; além disso, dentro das circunstâncias da nossa existência humana, não é desejável. Nenhum cristão hoje apoiaria o antigo Vingador do Sangue.