Mateus 4:12-17 — Comentário Católico


Mateus 4:12-17 — Comentário Católico

O início do Ministério na Galileia (4,12-17)

12. O deslocamento de Jesus para a Galileia, após João Batista ter sido “entregue” à prisão e à execução, tem sido compreendido como uma assunção corajosa de sua missão e como uma busca de uma segurança maior. 13. Nazara: (cf. Lc 4,16), era central demais se pensarmos em questões de segurança, perto do centro do governo de Séforis. foi morar: o verbo katoikein implica adquirir uma casa em Cafarnaum (Geografia Bíblica, 73:61) na costa noroeste do mar da Galileia. Fugir para Decápole ou para alguma outra jurisdição política seria fácil; poder-se-ia fugir de barco à noite. Mateus usa os antigos nomes das tribos de Israel (Cafarnaum fica em Neftali), mesmo que tivessem deixado de ser usados naquela época, porque desejava defender a ação do Messias neste lugar inesperado, e não na capital religiosa, que era Jerusalém, ou no deserto. 14. A sexta fórmula de citação procede de Is 8,23- 9,1 (7 acima). 15-16. A citação se baseia no TM, mas a primeira metade é condensada de modo que somente as referências geográficas são retidas. Estes cinco pontos de referência apontam para o norte da Galileia e para a Transjordânia, que haviam caído nas mãos dos assírios em 734 a.C. (História, 75:102-104). Mateus vê cumprida a promessa de sua libertação, feita por Isaías na chegada de Jesus, caminho do mar: esta poderia ser a estrada de Damasco para o mar (a provável rota da invasão assíria, 2Rs 15,29), ou, como muitas vezes, a estrada da costa. De qualquer forma, “o mar” referia-se originalmente ao Mediterrâneo, não ao mar da Galileia. Galileia das nações: significando originalmente “o círculo dos gentios”, isto é, cercada pelos gentios, pelo menos metade da Galileia era constituída, na época de Mateus, por população gentílica, semipagã em questões cultuais (cf. Vênus de Dã) e bilíngue (falavam grego e aramaico). Estes fatos podem ter tido alguma influência sobre Jesus e o protocristianismo, abrindo-o para a missão aos gentios, expressando-se muitas vezes em grego, modelando sua mensagem, originada numa matriz judaica, de tal forma que se tornou prontamente compreensível para os gentios de boa vontade. O ambiente era diferente do judaísmo da Judeia. O evangelho surge num tempo e num lugar específicos, o povo que jazia nas trevas: originalmente refere-se aos israelitas oprimidos, mas talvez aqui “o povo” inclua também os gentios. O simbolismo da luz e das trevas não é tão frequente em Mateus como em João, em 1QM, ou nos escritos gnósticos, mas está presente aqui: a pregação do reino por Jesus é a luz da consolação para o povo que está sofrendo (cf. Lc 1,79). 17. a partir desse momento, começou Jesus: esta fórmula introdutória (usada outra vez somente em 16,21) inaugura solenemente o ministério de Jesus, arrependei-vos: veja o comentário sobre 3,2. está próximo o Reino dos Céus: a proclamação da chegada próxima do reino de Deus é a mensagem central de Jesus e, junto com a ressurreição, a base e o objeto da esperança cristã.

Derivada da visão noturna de Daniel (7,13-14), representa o futuro, a salvação definitiva de toda humanidade de modo social, político e espiritual por meio do exercício da soberania de Deus, estabelecendo justiça e paz na terra, assim como no céu (6,33; Rm 14,17). Em Dn 7,13-14, ele é dado a “um como Filho de Homem”, e Q e Mateus identificam esta figura misteriosa com Jesus vindo novamente em glória. Assim, para os cristãos, a esperança do reino inclui a fé em Cristo como salvador do fim dos tempos. Uma vez que Cristo já veio (em humildade e sofrimento), temos um antegosto de seu reino (12,28), especialmente em seu ministério de cura e alimentação das multidões, embora ainda não seja a plenitude. Mateus evita mencionar Deus diretamente por reverência. Esta reverência é notada na expressão “reino dos céus”, embora ele não seja consistente nessa escolha, pois por quatro vezes escreve “reino de Deus” (12,28; 19,24; 21,31.43), como os outros sinóticos. A circunlocução é infeliz porque faz as pessoas pensarem erroneamente que o reino está somente no céu e não na terra (6,10). O reino também deveria ser o conteúdo da pregação dos discípulos (10,7).