Mateus 6:1-13 — Comentário Católico

Mateus 6:1-13 — Comentário Católico

Oração, Justiça e Esmolas (6,1-13)

Os versículos 1-18 tratam de três obras de piedade - dar esmolas, orar e jejuar. Elas dizem respeito a nosso relacionamento com Deus e constituem uma reforma das atitudes convencionais. É uma lista judaica, embora não haja nada sobre o Templo, e ela pode estar baseada em Dt 6,5. Após o versículo introdutório, seguem-se três unidades de estrutura muito similar, 2-4,5-6,16-18, que não têm paralelos entre os sinóticos. Este padrão é quebrado pela inserção de material mais antigo nos vv. 7-15, incluindo o Pai-Nosso. Formalmente assemelha-se a um catecismo. 1.guardai-vos de praticar a vossa justiça diante dos homens: dikaiosyne, “retidão” “justiça”, representa uma palavra temática no evangelho e conduz de maneira inteligente ao tema das esmolas, uma vez que seu equivalente no aramaico é sêdãqâ, que veio a significar “dar esmolas”. recompensa: Veja o comentário sobre 5,46. cf. m. Abot 1,13; Sêneca, Ep. 19.4.32: “Quem quer tornar públicas sua virtude não labora pela virtude, mas pela glória.” O texto está interessado que nosso relacionamento com Deus seja vivo e pessoal. 2. deres esmolas: Era uma ação que estava bem organizada no judaísmo antigo (ver Moore, Judaism 2. 162-79) e recebia um valor alto; em m. ’Abot 1,2, é uma das três colunas do mundo; cf. m. Abot 2,7; m. Pe’a 1,1. hipócritas: Esta é uma ênfase especialmente mateana no conjunto dos evangelhos, que se converte em um núcleo temático aqui em 6,1-18 e no cap. 23, onde está associada com os escribas e os fariseus. Originalmente, o termo grego hypokritês era um termo do teatro, significando “ator”; ele é usado em Mt 23 para designar os falsos intérpretes das Escrituras, os mestres religiosos que falham em sua responsabilidade.

Nos vv. 5-8, o ensinamento positivo é que a oração deve ser uma sincera comunhão pessoal com Deus e que deveria ser breve, pois é para nosso benefício, não para o de Deus, uma vez que ele já sabe o que necessitamos. A oração é o alimento da fé. Este ensinamento não deprecia a adoração pública como tal, uma vez que Jesus participava nos cultos da sinagoga (Mc 1,21) e se baseia nela no Pai-Nosso, embora ele também orasse sozinho. 9-13. Estes versículos dão um exemplo de uma oração curta, semelhante às 18 Bênçãos e ao Qaddish da liturgia da sinagoga, à qual se acrescentam o vocativo a Deus como Pai (característico de Jesus) e a nota sobre o perdão (veja Ecl 28,2). Mateus provavelmente acrescenta à forma mais antiga que se encontra em Lc 11,2-4 as palavras “nosso... que estás no céu”, uma vez que fica incomodado pela familiaridade íntima de Abba. Ele explica que o reino significa a vontade de Deus na terra, e termina a última petição com um pedido positivo por salvação. 9. Pai nosso que estás no céu: Veja o comentário sobre 5,16. Este vocativo substitui o Iahweh do AT como a maneira característica de dirigir-se a Deus do NT, sugerindo confiança infantil, intimidade e facilidade de acesso; veja Rm 5,2; Ef 2,18; 3,12; Hb 10,17-20. 10. venha o teu reino: Este pedido está em paralelismo rigoroso com “seja feita tua vontade”. A vontade de Deus é paz e justiça (Rm 14,17). A oração pressupõe que o reino não está ainda aqui em sua plenitude e representa, assim, uma escatologia futura, na terra, como no céu: A oração espera uma realização terrena da vontade de Deus neste mundo. Pressupõe uma certa analogia entre o céu e a terra, que se encontra na filosofia grega (o mito da caverna de Platão) e no antigo Oriente Próximo (ideias babilônicas do templo e zigurate; Ex 25,9.40). Como o reino é trazido pelo Filho do Homem, há uma cristologia implícita, reino: Veja comentário sobre 4,17. 11. pão: Pode referir-se às necessidades diárias, ao banquete messiânico ou, como na interpretação protocristã, à eucaristia como um antegosto do banquete messiânico, de cada dia: Epiousion é uma palavra grega rara cujos significado e etimologia exatos continuam em discussão. As quatro possíveis traduções principais são: “de amanhã”, “de cada dia”, “necessário” ou “futuro”. Esses quatro termos podem ser combinados: “o pão é, então, o pão terreno, o pão dos pobres e necessitados, e, ao mesmo tempo, por causa da hora escatológica na qual se o pede e come, é o pão futuro para hoje, o pão dos eleitos e dos abençoados” (Lohmeyer). 12. perdoa-nos as nossas dívidas: veja Mc 11,25. As dívidas são um eufemismo aramaico para os pecados. Como também nós perdoamos: Esta oração pressupõe reciprocidade e afirma que há alguma conexão entre nosso tratamento do próximo e o tratamento de Deus para conosco, mas não uma proporcionalidade exata. Deus é mais misericordioso e generoso do que nós; cf. 18,21-35; 20,1-16. Temos uma responsabilidade de imitar a Deus, seguindo sua iniciativa no perdão. O perdão é uma necessidade social para que a sociedade não seja paralisada por um acúmulo de queixas de uns contra os outros. Tradicionalmente, ele é alcançado por meio do sacrifício, mas a sexta das 18 Bênçãos é uma oração por perdão. 13. não nos submeta: Isto significa, provavelmente, “não nos deixes sucumbir à tentação do fim dos tempos” ou “não nos deixes cair quando formos tentados”. Maligno: Quase certamente refere-se ao Maligno, ao diabo, ao mal personificado. O Pai-Nosso é a base para todos os tratados patrísticos sobre a oração. Assim, a oração não é algo difícil, visto que todos podem pronunciar esta oração. Tertuliano diz que ela é o resumo de todo o evangelho.