Mateus 7:1-12 — Comentário Católico

Mateus 7:1-12 — Comentário Católico

Não Julgar, Pedir e Buscar (7,1-12)

Mateus abrevia e transforma a parataxe semítica original “não julgueis e...” na lógica grega mais clara e melhor de “não julgueis para não serdes julgados”. Este versículo nos livra da necessidade de ser a consciência ou o censor do outro, mas não nos livra de toda e qualquer necessidade do juízo. Inclusive uma proposição simples como “Esta vaca é marrom” é um juízo, e na vida adulta não podemos escapar da obrigação de formar alguns juízos mesmo sobre o caráter moral de outras pessoas. Pais, noivos, empregadores, juízes civis, administradores da igreja, etc. têm todos esse dever. O ensinamento de Jesus adverte contra a usurpação do julgamento definitivo de Deus, que é o único que vê o coração. Em contraposição ao seu, nosso julgar precisa ser sempre aproximativo, parcial e inadequado (veja ISm 16,7; Jr 17,10). Mas sempre que possível, deveríamos tentar cuidar de nossos próprios interesses e não nos intrometer na vida alheia. 2. sereis julgados... sereis medidos: As formas verbais são passivas teológicas: Deus é o agente (veja ZBG § 236). Cf. rn. Sota 1,7-9. A fórmula da medida pode remontar a papiros comerciais escritos em egípcio demótico e a textos gregos do primeiro milênio a.C. (B. Couroyer, RB 77 [1970] 366-70). 3-5. Estes versículos contêm uma advertência contra os juízes hipócritas, que, contudo, pressupõe o julgamento de outras pessoas como necessário. Cf. Jo 8,1-11. 6. O sentido deste versículo é incerto, sagrado: No AT, este termo refere-se à carne sacrificial (Ex 29,33); aqui significa a mensagem do reino de Deus; posteriormente será aplicado à eucaristia (Did 9,5; 10,6). pérolas: Neste contexto, as pérolas poderiam significar a mensagem do reino ou o próprio sermão, jogar pérolas: O termo hebraico para “jogar”, “atirar” é yãrâ. De um homônimo (yãrâ III) se deriva o termo tôrâ, “instrução” (possivelmente, a partir do pastor que joga uma pedra para indicar a direção a um viajante); assim, um jogo de palavras com os ensinamentos da Torá pode estar implicado. cães... porcos: Animais impuros no AT; figuras de homens sem instrução na literatura rabínica (cf. SI 22,17.21); também se aplica aos gentios (‘Abot R. Nat. 34,2; Mt 15,26) e heréticos (2Pd 2,20-22). Aqui talvez simbolize os ouvintes que não reagem positivamente.

7. Buscai: neste contexto, todos os verbos se referem à oração; como em 6,33, deve-se sobretudo buscar o Reino de Deus e a justiça também na oração. Em hebraico, “buscar” seria dãras; daí o termo do midrásh, “estudo” ou investigação das Escrituras. Talvez cientes deste uso mais intelectual, os protocristãos gnósticos tiraram esta expressão, “buscai e achareis”, de seu contexto e usaram-na para justificar suas especulações teológicas. No princípio, os Padres da Igreja resistiram a esta aplicação do texto, mas na época de Agostinho foi usada também pelos ortodoxos para fundamentar sua reflexão teológica. Questionar é a piedade do pensamento. 7-11. A resposta de Deus à oração. 11. vós que sois maus: Esta expressão sugere uma adoção não reflexiva da doutrina, do pecado original ou da pecaminosidade dos adultos, boas dádivas: Lucas apresenta, em vez disso, “o Espírito Santo”, que poderia ser uma espiritualização de uma expectativa material original. 12. A regra de ouro (36 acima). Do ponto de vista literário, este é o fim do sermão, um resumo de seu conteúdo, antes da conclusão com as maldições e bênçãos da aliança. Está relacionado com outros versículos estruturantes, 5,17.20; 6,1.33, mas também com 22,34-40, onde retorna a fórmula “esta é a lei e os profetas”. A regra tem uma longa pré-história. Algo parecido é sugerido em Dt 15,13; Tb 4,15; Ep. Arist. 207; Eclo 31,15; Ob 15. Mais tarde em b. Sabb. 31a Hillel dá ao prosélito inquiridor a regra na forma negativa de “prata” e diz então: “O restante é comentário, agora vá e estude”. A regra tem também uma pré-história helenística, surgindo na ética popular do séc. V a.C. promovida pelos sofistas (veja Aristóteles, Ret. 2.6.19 [1384b]). Esta ética se baseia na retribuição e na moral como um equilíbrio das obrigações. Ela precisa ser controlada por uma noção do bem. Um masoquista desvirtuaria esta regra (veja IDBSup 369-70).