Os Macabeus — História e Legado

Os Macabeus — História e Legado

MACABEU (Μακκαβαῖοι, sobrenome dado a Judas, filho de Matatias [1 Macabeus 2.4,66; 3.1; Josefo, Ant. Xii, 6.1 § 266]; a derivação do nome é bem obscura e pode ter o sentido de “extintor”, ou “apagador” do Helenismo [’asa de nas, “ser extinto, apagado”], embora mais provavelmente signifique “martelo”, referindo-se às suas façanhas militares espantosas; ou “cabeça de martelo”, referindo-se a uma característica física, ou seja, devido ao formato de sua cabeça (cp. M. Bekhoroth 7.1  “um martelo”]. O segundo dos dois significados é preferível porque era comum, no mundo helenístico, designar as pessoas pelas suas características físicas e parece que este é o caso da designação dos irmãos de Judas (IMac 2.2-4). Este nome foi estendido à família e ao partido que defendeu os direitos e costumes judaicos no 2° sec. a.C. Por outro lado, de acordo com Josefo (Ant. Xii. 6.1 § 265) o nome da família veio do tataravô de Judas, Hashman, daí a designação de “Asmoneus” refletida na literatura rabínica (veja A sm o n e u s).

A. Alexandre o Grande (356-323 a.C.) Alexandre nasceu em 356 a.C. e, a partir dos treze anos de idade, foi ensinado por Aristóteles. Ele tinha convicção da forma grega de viver e, conseqüentemente, seu sonho era helenizar o mundo (veja Helenismo, Helenistas). Com a morte de seu pai Filipe da Macedônia em 336 a.C., Alexandre fez planos imediatos de atacar o Império Persa. Invadiu a Ásia Menor na primavera de 334 a.C., derrotando os persas no Rio Granico e continuou a empurrá-los para fora da região. Em outubro de 333 a.C., derrotou Dario III em Issus e marchou para o sul conquistando Tiro e Gaza. Finalmente assumiu o controle do Egito, por volta do inverno de 332/1 a.C. Enquanto estava na Palestina (difícil determinar a seqüência exata de eventos), de acordo com Josefo (Ant. xi. 8,5 § 329-39; cp. também BT: Yoma 69a), ele visitou Jerusalém e- ofereceu sacrifícios a Deus no Templo, sob a direção do sumo sacerdote Jadua. Os sacerdotes lhe mostraram, com base no livro de Daniel, que ele era aquele que fora predito que destruiria o Império Persa (Dn 8.5-7,20,21). Ele aceitou esta interpretação e, numa atitude favorável, cedeu ao pedido e permitiu que os judeus da Palestina, Babilônia e Média tivessem permissão de viver segundo suas leis ancestrais e fossem isentos de qualquer imposto em todos os anos sabáticos. Daí surgiu um relacionamento amigável entre Alexandre e os judeus. Na primavera de 331 a.C. ele marchou em direção leste, derrotou a Pérsia e declarou-se rei dos persas (por volta de julho de 330 a.C.). Alexandre morreu em 323 a.C.

B. Israel sob o domínio dos Ptolomeus (323-198 a.C.). Depois da morte de Alexandre, houve muita disputa entre seus generais, que tentavam adquirir e manter suas porções do império. Por volta de 311 a.C., Selêuco foi reconhecido como governante da Babilônia, marcando assim o início da dinastia/era selêucida. A Palestina foi o campo de batalha durante a maior parte dessa disputa. De 323 a 315 a.C. a região esteve sob o controle dos Ptolomeus, mas foi conquistada por Antígono (governante da Ásia Menor e norte da Síria) em 315 a.C., reconquistada por Ptolomeu em 312 a.C.; este, porém, teve de se retirar deixando a região sob o controle de Antígono. No entanto, em 301 a.C., Antígono foi morto numa batalha decisiva em Ipsus, na Frigia, e foi feito um acordo (em 3 0 3 a.C.), que dizia que, no caso de sua derrota, a Síria seria dada a Ptolomeu. Este não tomara parte na batalha e por isso os envolvidos decidiram dar a região a Selêuco. Ptolomeu, porém, se antecipou a Selêuco e tomou posse da Palestina. Esta ação foi o ponto de contenda entre as duas casas durante as décadas que se seguiram. A Palestina permaneceu sob controle ptolemaico até que foi perdida para os selêucidas na pessoa de Antíoco III (o Grande) na Batalha de Panias (Cesaréia de Filipe no NT) em 198 a.C. (Josefo, Ant. xii. 3.3. § 132-137 ; Dn 11.13-16). Os selêucidas tinham assim conquistado a terra que consideravam sua por direito.

C. Israel sob o domínio dos selêucidas (198-63 a.C.). Israel permaneceu sob domínio dos selêucidas até que Pompeu a transformou em província de Roma em 63 a.C. O escopo deste artigo trata somente dos primeiros 65 anos do remado deles, em conjunção com a reação de Israel para com eles (para o desenvolvimento posterior, veja Asmoneus). Depois da vitória sobre os ptolomeus em Panias, Antíoco III concedeu aos judeus liberdade de culto de acordo com suas leis; permitiu que terminassem e conservassem o Templo; isentou o concílio de líderes, os sacerdotes e os escribas do Templo do pagamento de taxas, cuja isenção todos os cidadãos de Jerusalém também gozaram pelos primeiros três anos e, depois desse período foram isentados da terça parte das taxas; também libertou os prisioneiros (Josefo, Ant. xii. 3.3,4 § 138-153). A partir daí os judeus gozaram um breve período de tranqüilidade sob o domínio selêucida. E claro que uma das razões para isto era que os dominadores, que estavam concentrando suas forças a oeste de Roma, tinham derrotado Aníbal em Zama (perto de Cartago) em 202 a.C. e depois, a monarquia Macedônia em 197 a.C. Depois de fazer um tratado de paz com Ptolomeu V Epífanes (cp. Políbia xx^iii. 20; Appiano, As Guerras Sírias, 5; Josefo, Ant. xii. 4.1 § 154; Dn 11.17), Antíoco invadiu a Trácia em 196 a.C. e, com a influência de Aníbal, invadiu a Grécia (de onde os romanos tinham se retirado) em 194 a.C.; no entanto, os romanos retaliaram, derrotando-o nas Termópilas em 191 a.C. e em Magnésia, na Ásia menor, em 190 a.C. Em 189 a.C., um tratado de paz foi assinado em Apaméia, no qual Antíoco concordou em desistir da Ásia Menor, do norte e oeste das montanhas de Tarso, o que consistia em grande parte de sua força militar, e pagar uma pesada indenização por um período de doze anos. Tinha de entregar doze reféns a Roma até que a indenização fosse paga, sendo que um deles tinha de ser seu filho, Antíoco IV Epífanes (Appian, The Syrian Wars, 36-39; Políbio xx-xxi; Lívio xxxvixxxvii; Dn 11.18,19; IMac 1.10; 8.6-8; Josefo, Ant. xii. 10.6 §414). O sucessor de Antíoco foi seu segundo filho, Selêuco IV Filopátor, que subiu ao trono em 187 a.C. Por causa da pesada indenização a ser paga a Roma, ele teve de se abster das aventuras de expansão. Os Judeus se lembram dele em uma mal sucedida tentativa de despojar o Templo de Jerusalém por meio de seu ministro chefe Heliodoro (2Mac 3.7; veja também Dn 11.20). Em 175 a.C. Heliodoro assassinou Selêuco e tentou usurpar o trono, mas o terceiro filho de Antíoco III, chamado Antíoco IV Epífanes, tendo acabado de ser libertado da condição de refém em Roma, foi à Síria, expulsou Heliodoro e se proclamou rei. Uma vez que o reino que acabara de adquirir, carecia de estabilidade política e financeira, Antíoco IV Epífanes tentou unificá.-lo por meio de um intenso programa de helenização (Tac. Hist. V. 8). A religião foi um dos fatores de unificação e encorajava o povo (169 a.C.) a adorar sua própria pessoa na forma de Zeus do Olimpo. Seu título “Theos Epiphanes”, que significa “o deus manifesto” foi mudado por seus inimigos para “Epimanes” , que significa “homem louco’ ou “insano” (Políbio xxvi, 10). Logo depois da ascensão de Epífanes ao trono, ele foi chamado para resolver uma disputa entre o sumo sacerdote Onias III, que erapró-Ptolomeu, e seu irmão Jasão (nome grego que ele preferia em lugar do nome hebraico Josué/Jesus), o qual era pró-selêucida. Em 174 a.C., Jasão assegurou para si o sumo sacerdócio, oferecendo uma grande soma de dinheiro como pagamento a Antíoco e garantindo seu pleno apoio na helenização do povo de Jerusalém (IMac 1.10-15; 2Mac 4.7-17; Jos. Ant. xii. 5.1 § 237-241). Em 171 a.C. Menelau, amigo de Jasão, ofereceu a Antíoco 300 talentos a mais do que Jasão, em troca da posição de sumo sacerdote. Antíoco aceitou alegremente, pois necessitava de ajuda financeira; uma vez que Menelau não pertencia à linhagem de Arão (de acordo com 2Mac 4.23 e 3.4 ele era benjamitá), sua nomeação quebraria uma grande força de unificação entre os judeus. Jasão escondeu-se na região dos amonitas. No ano seguinte, em 170 a.C., os dois regentes corruptos aconselharam o rei Ptolomeu VI Filomé- tor (veja P t o lo m eu) — ainda menor de idade — a vingar a derrota sofrida em Panias e reconquistar a Celessíria. Antíoco tomou conhecimento dos seus planos e, reunindo um grande exército, invadiu o Egito e criou uma rivalidade na região, coroando Ptolomeu VI Filométor, rei de Mênfis, e seu irmão Ptolomeu VIII Evergetes, como rei de Alexandria (Dn 11.25-27). Ao retomar do Egito, Antíoco soube que os moradores de Jerusalém, com a ajuda de Jasão (que saíra do seu esconderijo), tinham forçado Menelau a se refugiar em Acra. Os judeus tinham se revoltado contra Menelau porque ele saqueara o Templo; considerando esses atos como uma rebelião contra ele, Antíoco decidiu conquistar Jerusalém (2Mac 5.11-17). Junto com Menelau, Antíoco profanou o Templo e saqueou seus tesouros, deixando a cidade sob o domínio de um comandante militar, Filipe da Frigia (IMac 1.20-29; 2Mac 5.18-22; Jos. Ant. xii. 5.3 § 246,247). 

Área Controlada pelos Macabeus




II. Revolta dos Macabeus 


A. A vingança de Antíoco (168-166 a.C.). O próximo contato que Jerusalém teve com Antíoco IV foi depois de sua segunda campanha militar no Egito, na primavera de 168 a.C. Os irmãos rivais tinham concordado em se unir contra o tio Antíoco IV. Este dominou Mênfis e, quando estava em Eleusis, um subúrbio de Alexandria, o representante romano Popillius Laenas (que Antíoco conhecera em Roma) lhe entregou um ultimato, enviado pelo Senado, para que evacuasse o Egito imediatamente (cp. Políbio xxix. 2.1-4; 27.1-8; Lívio xiv. 12.1-6; Diodoro xxxi. Velleius Paterculus i. 10.1,2; Appian, The Syrian Wars, 66; Justino, Epítome xxx‘iv. 3; Dn 11.28-30). Tendo conhecimento do poderio romano, devido ao tempo que passou em Roma como refém, ele se retirou rapidamente. Amargurado, Antíoco recuou até a Palestina (Políbio xxix. 27.9; Dn 11.30) e decidiu impor lealdade a toda a região, a fim de que esta funcionasse como um estado vassalo entre ele e os romanos. Considerando a si próprio como Zeus, Antíoco impôs na Palestina uma política de helenização. Em 167 a.C. ele decidiu exterminar a religião judaica, proibindo que os judeus vivessem de acordo com suas leis ancestrais. Proibiu a guarda do Sábado, os festivais, os sacrifícios tradicionais e a circuncisão dos meninos, ordenando também a destruição das cópias da Torá. Altares idólatras foram erigidos e os judeus foram obrigados a oferecer sacrifícios impuros e a comer carne de porco (2Mac 6.18). O ápice dessas ações foi no dia 25 do mês de quisleu (16 de dezembro de 167 a.C.), quando o Templo de Jerusalém se tomou local de adoração de Zeus, do Olimpo e carne de porco foi oferecida sobre um altar edificado sobre o altar das ofertas queimadas (Dn 11.31,32; IMac 1.41-64; 2Mac 6.1-ll). Tais sacrifícios deviam ser oferecidos todos os meses, no dia 25, desde que era o dia do aniversário de Antíoco Epífanes; daí, os sacrifícios eram oferecidos em sua homenagem. 

B. Matatias (166 a.C.). Todas as vilas da Palestina receberam ordem de erigir o altar pagão e emissários imperiais deviam estar presentes para supervisionar a oferta dos sacrifícios. Na vila de Modim (27 km ao noroeste de Jerusalém) vivia um idoso sacerdote chamado Matatias, que morava junto com seus cinco filhos: João, Simão, Judas, Eleazar e Jônatas. O emissário de Antíoco chegou a Modim, compelindo o povo a renunciar a Deus e a oferecer sacrifícios impuros. Matatias, como líder reconhecido na vila, foi instruído a dar o exemplo, sendo o primeiro a oferecer o sacrifício; ele, porém, recusou. Quando outro judeu se adiantou para oferecer o sacrifício, Matatias matou-o e ao emissário imperial. Depois, destruiu o altar e proclamou: “Todo o que tiver zelo da Lei e quiser manter firme a Aliança, saia após mim” (IMac 2.15-27; Jos. Ant. xii. 6.1,2 § 265-272; Dn 11.32-35). Matatias, seus filhos e muitos seguidores fugiram para as montanhas. Este fato marcou o início da revolta dos Macabeus. Enquanto ainda estavam escondidos, ouviram a notícia de que mil pessoas, entre homens, mulheres e crianças, tinham sido mortas porque se recusaram a lutar no Shabbath (Sábado). Para evitar o extermínio, Matatias e seus amigos decidiram que podiam se defender mesmo no Sábado (IMac 2.19-41). Foi por este tempo que os assideus, um grupo religioso dentro do Judaísmo com um grande zelo pela Lei de Deus (veja Hasidim), se uniram a Matatias na luta contra a helenização. As tropas de Matatias declararam guerra contra os judeus que se aliaram a Antíoco, destruíram altares pagãos, circuncidaram as crianças que tinham sido deixadas incircuncisas e exortaram os judeus em toda parte a se unirem à sua luta. Matatias morreu durante este conflito (166 a.C.), deixando a causa nas mãos de seu terceiro filho, Judas, com quem se iniciou uma nova era na luta (IMac 2.42-70; Jos. Ant xii. 6.2-4 § 273-286). 


C. Judas Macabeu (166-160 a.C.). 1. A nova dedicação do Templo (166-164 a.C.). A escolha de Matatias em favor de Judas provou ser correta, pois ele era o terror dos inimigos e o orgulho do seu povo. Sob sua liderança, o conflito dos Macabeus passou das guerrilhas para batalhas bem planejadas. Em seu primeiro ano de liderança, ele se tomou popular, atraiu mais voluntários para lutarem pela liberdade e derrotou os governadores sírios Apolônio e Seron (IMac 3.10-26; Jos. Ant. xii. 7.1 § 287-292). Desde que estava tendo problemas no leste, Antíoco ordenou a Lísias, regente da parte ocidental do império, que pusesse um fim na rebelião e destruísse o povo judeu (IMac 3.32­ 36; Jos.Ant. xii. 7.2 § 295,296). Lísias despachou um grande exército sob o comando de Ptolomeu, Nicanor e Górgias, seguido de mercadores que estavam esperando comprar escravos judeus (IMac 3.38-41). Entretanto, Judas derrotou Górgias em Emaús, fazendo com que os soldados sírios fugissem (IMac 4.1-22; Jos. Ant. xii. 7.4 § 305-312). Em 164 a.C., Lísias liderou pessoalmente um exército maior, para atacar Jerusalém pelo sul, mas foi totalmente derrotado em Betsur e fugiu para Antioquia (IMac 4.28-35; Jos. Ant. xii. 7.5 § 313-315). Judas reconquistara todo o país e seu próximo movimento era restaurar a adoração no Templo. Ele marchou para Jerusalém e ocupou toda a cidade, à exceção de Acoa. Com isso, teve liberdade de restaurar o Templo. Selecionou sacerdotes que tinham se mantido fiéis, destruiu o altar de Zeus e construiu um novo, reformando e restaurando o próprio Templo. Assim, no dia 25 do mês de quisleu, exatamente três anos depois de sua profanação, o Templo e o altar passaram por uma nova dedicação e os sacrifícios diários foram instituídos novamente (1 Mac 4.36-59; 2Mac 10.1­ 8; Jos. Ant. xii. 7.6,7 § 316-326). Este fato marcou o início da Festa judaica da Dedicação das Luzes (hebr. Hanukkah). Imediatamente depois Judas fortificou os muros de Jerusalém e a cidade de Betsur na fronteira da Iduméia. Isso completa o primeiro estágio da guerra dos Macabeus. Até este ponto eles nunca tinham sofrido derrota. 2. Conquista da liberdade religiosa (163 a.C.) .As vitórias de Judas tinham tomado a região de Judá razoavelmente segura. Ainda havia duas coisas que Judas precisava realizar. Primeiro, embora a região de Judá fosse relativamente segura, Judas e seus irmãos, Jônatas e Simão, decidiram conquistar a independência de toda a Palestina. Todos os judeus que viviam na região tinham de ser colocados sob o seu governo. Portanto, Judas realizou várias campanhas militares contra os idumeus no sul, os beanitas na Transjordânia e os amonitas a nordeste do Mar Morto (IMac 5.1-8). Outras comunidades judaicas pediram sua ajuda e por isso ele enviou Simão com um exército para a Galiléia, enquanto ele e Jônatas foram para Gileade. Posteriormente, Judas atacou a Iduméia, capturando Hebrom e depois atacou a Filistia, capturando Asdode (IMac 5.9-68; Jos. Ant. xii. 8.1-6 § 327-353). Tendo alcançado seu primeiro objetivo, ele se concentrou no segundo, a saber, destruir o controle sírio sobre Aco, em Jerusalém. O domínio deles ali era uma lembrança constante de que o decreto de Antíoco, proibindo a prática da religião judaica, não tinha sido anulado. Na primavera ou verão de 163 a.C., Judas sitiou Aco. Alguns soldados sírios e judeus helenistas fugiram para Antioquia, em busca de socorro (IMac 6.18-27). Antíoco IV já tinha morrido e seu sucessor era seu filho Antíoco V Eupátor. Em seu leito de morte, Antíoco IV nomeou um dos seus amigos, Filipe, como regente e guardião de Antíoco V, mas Lísias, a quem esses privilégios tinham sido dados anteriormente, assumiu a responsabilidade de coroar Antíoco V como rei (ambos estavam em Antioquia, onde Antíoco IV morrera) (IMac 6.5-17). Imediatamente, Lísias e o rei garoto foram para o sul, onde ele derrotou Judas em Bete-Zacarias e sitiou Jerusalém (IMac 6.28-54). Judas, que se encontrava numa situação desesperadora devido à escassez de alimentos (devido ao início do ano sabático), foi salvo quando Lísias ouviu que Filipe estava marchando da Pérsia para a Síria, para reivindicar o reino para si. Daí Lísias se apressou em firmar um tratado de paz com Judas, garantindo-lhe liberdade religiosa, embora tivesse derrubado os muros de Jerusalém (IMac 6.55-63). Os judeus continuavam sob o domínio sírio, mas tinham obtido liberdade de culto. 


3. Liberdade política desejada (162­ 160 a. C.). Tendo alcançado o objetivo da revolta dos Macabeus, Judas então desejava a independência política da nação. O governo sírio não desejava tal coisa, de modo que teriam de fortalecer o elemento helenista entre os judeus. Embora as informações sejam conflitantes, parece que Lísias nomeou Alcimo (hebr. Jakim ou Jeoiaquim) como sumo sacerdote. Embora pertencesse à linhagem araônica, ele era helenista por ideal (IMac 7.14; 2Mac 14.3-7; Jos. Ant. xii. 9.7 § 384-388; xx. 10.3 § 235). Tal fato era inaceitável para Judas (provavelmente porque Alcimo era um agente do Helenismo e também porque é possível que Judas desejasse para si a posição de sumo sacerdote), o qual impediu que Alcimo assumisse o cargo em Jerusalém. Enquanto isso, ocorriam sublevações políticas na Síria. Demétrio, sobrinho de Antíoco IV, escapou de Roma, atacou e matou Lísias e seu primo Antíoco V, assumindo o trono da Síria como Demétrio I Sóter. Os judeus helenistas e Alcimo fizeram reclamações contra Judas e, por isso, em 162 a.C, Demétrio confirmou Alcimo como sumo sacerdote, enviando-o para Jerusalém com um exército liderado pelo general Báquides. Alguns escribas, junto com os assideus, tentaram estabelecer a paz com Alcimo e Báquides, o que representava uma grande divisão nas forças de Judas. A razão dessa iniciativa não é mencionada, mas é provável que os assideus estivessem satisfeitos que Alcimo pertencesse à linhagem de Arão e que os sírios tivessem garantido aos judeus a liberdade de religião. Alcimo, porém, que prometera não fazer nenhum mal a eles, matou 60 homens dentre os assideus; daí eles se viraram contra ele e voltaram para Judas (IMac 7.15-20; Jos. Ant. xii. 10.2 § 393-397). Este fato é visto no registro onde Alcimo pediu a Demétrio mais ajuda militar contra Judas e seus seguidores, chamados de assideus [derivado do termo Hasidim], que estavam causando problemas (2Mac 14.6). Demétrio enviou um exército liderado pelo general Nicanor, a fim de capturar Judas e confirmar Alcimo como sumo sacerdote. No dia 13 do mês de Adar (9 de março de 161 a.C.), Nicanor foi derrotado e morto em Adasa (os judeus comemoravam esta vitória anualmente, no dia de Nicanor)e seu exército fugiu para Gazara, onde foi desbaratado. Alcimo fugiu para a Síria (IMac 7.26-50; Jos. Ant. xii. 10.3-5 § 398-412). Neste ponto, Judas enviou embaixadores a Roma pedindo proteção contra a Síria. Esta iniciativa demonstrava suas aspirações políticas. Um tratado foi firmado e os romanos advertiram Demétrio que qualquer agressão contra Judas significaria guerra contra Roma. Entretanto, antes que o novo aliado pudesse fazer qualquer coisa, Demétrio já tinha tomado providências para vingar a derrota de Nicanor. Poucas semanas depois da derrota, ele enviou tropas lideradas por Báquides, acompanhado de Alcimo. Devido ao poderio do exército sírio, muitos judeus desertaram e na batalha de Elasa (cerca de 16 km ao norte de Jerusalém), Judas foi morto. Seus irmãos Jônatas e Simão levaram seu corpo para ser sepultado em Modim (IMac 8.1—9.22; Jos. Ant. xii. 10.6-11.2 § 413-434). 


D. Jônatas (160-143 a.C.). A morte de Judas foi um duro golpe no moral dos judeus. Sea irmão mais novo, Jônatas, foi escolhido como seu sucessor. Os helenistas assumiram o controle temporário da região, enquanto Jônatas e seus seguidores estavam no deserto de Tecoa, capazes apenas de empreender pequenos ataques guerrilheiros. Báquides fortificou Jerusalém e outras cidades de Judá, prevenindo-se contra um possível ataque Macabeu. Em maio de 159 a.C., Alcimo morreu e logo depois Báquides abandonou seu comando em Judá e retomou a Antioquia. Depois de dois anos de paz, os helenistas pediram a Báquides que retomasse a Judá, onde ele sofreu uma derrota em Bete-Basi (9 km ao sul de Jerusalém). Báquides firmou um tratado de paz com Jônatas. Este tratado de paz enfraqueceu grandemente os helenistas, pois deixaram de gozar apoio incondicional do governo sírio. Além do mais, por Demétrio I não ter nomeado um sumo sacerdote depois da morte de Alcimo, eles não tinham uma liderança real e, certamente, com o novo tratado de paz, Jônatas se oporia a qualquer nomeação de sumo sacerdote, desde que este teria mais autoridade do que ele próprio. Depois que o tratado foi assinado, Báquides retomou a Antioquia e Jônatas montou seu quartel-general em Micmás (14 km ao norte de Jerusalém), onde julgava o povo, punindo os helenistas (IMac 9.23-73; Jos. Ant. xiii. 1.1-6 § 1-34). Nos cinco anos seguintes Judá experimentou paz e, desde que nenhum sumo sacerdote foi nomeado, o poder de Jônatas aumentou. Em 152 a.C., Jônatas foi ainda mais beneficiado por disputas internas pelo poder na Síria. Um pretendente ao trono, Alexandre Balas, que afirmava ser filho de Antíoco Epífanes, desafiou Demétrio I. Ambos disputavam o apoio de Jônatas. Demétrio primeiro ofereceu entregar reféns judeus que se encontravam em Aco e permitir que Jônatas formasse um exército. Demétrio também abandonou todas as fortalezas na região, exceto Betsur, Aco e Gazara (IMac 10.14; 11.41; 13.43). Jônatas tratou de tirar proveito da situação e mudou seu quartel-general de Micmás para Jerusalém (IMac 10.1-14; Jos. Ant. xiii. 2.1 § 35-42). Alexandre Balas, por sua vez, nomeou Jônatas sumo sacerdote (não havia um sumo sacerdote desde a morte de Alcimo em maio de 159 a.C.) e lhe deu o título de “Amigo do Rei” (IMac 10.15-21; Jos.Ant. xiii. 2.2 § 43-45). Para não ser superado, Demétrio fez mais promessas: isenção de muitos impostos, entrega de Aco, anexação de três toparquias de Samaria a Jerusalém, subsídio financeiro para o exército judaico e o Templo, e dinheiro para reconstruir os muros de Jerusalém. Felizmente, Jônatas se aliou a Alexandre Balas, pois em 150 a.C. Demétrio foi morto numa batalha entre os dois. Alexandre promoveu Jônatas a general e governador de Judá, considerando-o um dos seus principais amigos (IMac 10.22-66; Jos. Ant. xiii. 2.3,4 § 46-61; 4.1,2 § 80-85). Certamente tratava-se de uma estranha aliança, quer dizei, Alexandre Balas, que reivindicava ser filho de Antíoco Epífanes, aliado dos Macabeus! Em 147 a.C., Alexandre Balas foi desafiado pelo filho de Demétrio, Demétrio II Nicator, sendo finalmente derrotado e assassinado, dois anos mais tarde. Ao subir ao trono em 145 a.C., Demétrio II tinha apenas dezesseis anos de idade. Jônatas tirou proveito de sua inexperiência e sua insegurança no trono, atacando Aco, onde os judeus helenistas ainda mantinham o controle. Demétrio ordenou que ele suspendesse o cerco e fosse conversar com ele em Ptolemaida. Jônatas com ousadia ordenou aos seus homens que continuassem o cerco, enquanto ele próprio foi a Ptolemaida com muitos presentes para o rei sírio. Impressionado com sua audácia, Demétrio II nomeou-o “Amigo do Rei”, confirmou sua posição como sumo sacerdote e atendeu seu pedido de anexação de três distritos de Samaria a Judá, bem como a isenção dos impostos. Demétrio ficou enfraquecido por essas concessões e teve problemas dentro do seu próprio exército. Diodotus Trifão (um general de Alexandre Balas), reivindicou o trono da Síria para Antíoco VI, o filho de Alexandre Balas. Jônatas tirou vantagem da situação e aliou-se a Trifão, o qual, em troca, nomeou-o líder civil e religioso, nomeando Simão como líder militar. Jônatas entrou para o campo diplomático, enviando embaixadores a Roma para confirmar a aliança. Suas campanhas bem sucedidas de Gaza a Damasco e as cidades por ele fortificadas por toda a Judá, deixaram Trifão apreensivo. Usando de engodo, Trifão convenceu Jônatas a ir com ele a Ptolemaida, acompanhado de poucos homens. Na chegada, o general mandou prendê-lo. Em Adida (perto de Modim), Trifão barganhou com Simão a libertação de seu irmão, mediante o pagamento de cem talentos de prata e dois dos filhos de Jô­natas como reféns. Simão concordou (e enviou o que foi exigido), mas Trifão não libertou Jônatas, matando-o em Bascama (na praia nordeste do Mar da Galiléia) em 143 a.C. Jônatas foi sepultado em Modim (IMac 10.67— 13.30; Jos. Ant. xiii. 4.3-6 § 86-212). O único filho remanescente de Matatias, Simão, tomou-se sucessor de Jônatas. Para saber sobre seu reinado e o reinado Asmoneu subseqüente, veja Asmoneus. 



Veja também 



BIBLIOGRAFIA. E. Schürer, HJP, I, i, 186-254; E. R. Bevan, The House o f Seleucus, 2 vols. (1902), passim; E. Bevan, Jerusalem under the High-Priests (1904), 69-108; 4 |L Bevan, “Syria and the Jews”, CAH, VIII (1930), 495-533; E. Bickerman, From Ezra to the Last of the Maccabees (1947), 93-145; S. Tedesche e S. Zeeitlin, The First Book of Maccabees, trad, inglês, Introd. E Coment. (1950), passim; J. C. Dancy, A Commentary on I Maccabees (1954), passim; W. R, Farmer, Maccabees, Zealots and Josephus (1956), 47-158, passim; R. A. Parker e W. H. Dubberstein, Babylonian Chronology 626B.C. —A.D. 75, 2 ed. (1956), 40,41; V. Tcherikover, Helenistic Civilization and the Jews (1959), 117-239; S. K. Eddy, The King is Dead (1961), 183-238; S. Zeitlin, The Rise and Fall of the Judaean State, I (1962), 37-140; D. S. Russell, The Jews from Alexander to Herod, vol. V of The New Clarendon Bible (1967), 1-57; B. Reicke, New Testament Era (1968), 42-62; Y. Aharoni and M. Avi-Yonah, The Macmillan Bible Atlas (1968), 110-128. 




H . W . Hoehner