Salmo 112 — Análise Bíblica

112:1-9 As características do justo

O primeiro versículo retoma o que foi dito no último versículo do salmo anterior. Salmos 111:10 diz: “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria”, e 112:1a declara: Bem-aventurado o homem que teme ao Senhor. O termo traduzido por “bem-aventurado” significa, mais precisamente, “feliz”. O salmista não está falando de bem-aventurança evidenciada pelo acúmulo de bens. A felicidade não está necessariamente associada a riquezas ou coisas materiais. Antes, é a paz e alegria interiores decorrentes de conhecer e andar com Deus. De acordo com Salmos 1:1-2, essa alegria está presente naqueles cujo “prazer está na lei do Senhor ” e que se dedicam a meditar nela.

Nesse salmo, o bem-aventurado é aquele que se compraz nos seus mandamentos (112:16). Tendo em vista o paralelismo na poesia hebraica, também fica evidente que temer ao Senhor (reverenciá-lo) equivale a se comprazer em seus mandamentos (e, portanto, obedecer-lhes). Os justos receberão inúmeras bênçãos. Este salmo diz que eles terão muitos descendentes, os quais também serão abençoados e felizes (112:2). Suas bênçãos serão materiais e espirituais (112:3). Mesmo que os justos ocasionalmente enfrentem dificuldades, não temerão (112:7), mas se consolarão com a certeza de que nasce luz nas trevas (112:4a). Eles podem ter esperança e assim serão capazes de pensar nos próximos passos que deverão dar. Em suas interações com outros, o justo é benigno e misericordioso (112:46). Ele se compadece e empresta a quem precisa e é íntegro em todos os seus negócios (112:5). Jamais será abalado por ameaças e permanecerá firme em sua caminhada com o Senhor. Mesmo depois de morrer, será lembrado por seus atos piedosos (112:6-7).

O justo é firme e estável e, portanto, não se deixa levar de um lado para o outro. Permanece confiante no Senhor e não se atemoriza de más notícias. Seu coração está bem firmado no Senhor (112:8). No final, a descrição do justo volta à sua generosidade para com os pobres (112:9a). A piedade é uma característica interior que trasborda para o âmbito exterior em gestos feitos a outros. Quando comparamos os salmos 111 e 112, vemos que, na verdade, o justo demonstra várias características de Deus. A justiça de ambos permanece para sempre (111:3; 112:3); ambos são benignos e misericordiosos (111:4; 112:4); Deus é generoso na provisão de terra e alimento, e o justo é generoso no socorro aos necessitados (111:5-6; 112:5,9); as obras de ambos são justas (111:7; 112:5); os preceitos de Deus e o coração do justo são estáveis (111:8; 112:8); Deus é digno de toda a honra por seus feitos, e o justo também será honrado por seus atos, e o seu poder se exaltará em glória (111:9; 112:9). Nas Escrituras, o termo traduzido aqui por “poder” (lit., “chifre”) pode referir-se à salvação ou força. Nesse caso, o salmista pode estar afirmando que o Senhor é a força do justo e, portanto, ele não permitirá que seja abalado pelas tempestades da vida (112:96). O chamado para os fiéis demonstrarem o caráter divino em sua vida ressoa no AT e no NT. Jesus o enfatizou nas bem-aventuranças em Mateus 5-7. Como ele, devemos ser misericordiosos e compassivos. Paulo também nos lembra que fomos criados “segundo Deus, em justiça e retidão, procedentes da verdade” (Ef 4:24).


112:10 O destino do perverso 
O salmo termina com um versículo que nos convida a lançar nossa sorte com o justo ao descrever a amargura e insignificância da vida do perverso. Este exaspera-se de tal modo com a prosperidade do justo que range os dentes de raiva e frustração. Enquanto o nome do justo “será tido em memória eterna” (112:6), o perverso se consome. Ninguém se lembrará dele, e seus anseios serão frustrados (112:10). O versículo final do salmo nos lembra que colhemos aquilo que semeamos (Gl 6:7). Quando damos lugar a insinceridade, corrupção e injustiça e realizamos transações duvidosas, colhemos medo e insegurança. Na Nigéria, por exemplo, há funcionários públicos foragidos porque roubaram dos cofres públicos. Déspotas que impuseram regimes ditatoriais muitas vezes vivem com medo por causa de seus atos perversos. O justo, porém, não é corrupto e não tem o que temer.