Salmo 113 — Análise Bíblica

Salmo 113: Grandeza e graça de Deus

O salmo 113 faz parte de três categorias de salmos. Pode ser agrupado com os dois salmos anteriores, pois todos começam com a palavra Aleluia. Também pode ser agrupado com os salmos 145 a 149, os grandes salmos de louvor. Enquanto os salmos 145 e 149 louvam a Deus como Senhor da história, Criador do universo e protetor e benfeitor de Israel, o salmo 113 o louva por sua grandeza e graça para com todos os seus servos. Por fim, o salmo faz parte de nm grupo chamado Hallel Egípcio, que abrange os salmos 113 a 118. Esses costumam ser entoados na Páscoa dos judeus para comemorar o livramento de Israel do Egito. Provavelmente, foram os últimos salmos que Jesus entoou antes de ser preso (Mc 14:26), e, ao estudá-los, podemos compreender melhor o que se passava na mente de Cristo pouco antes de sua morte e ressurreição. 113:1-3 Convocação para louvar a Deus 0 salmo começa e termina com uma convocação sonora: Aleluia! (“Louvai ao Senhor”; 113:1). Especifica, em seguida, que o Senhor deve ser louvado agora e no futuro (113:2) e do nascimento do sol até ao ocaso (113:3). Essa expressão pode indicar que Deus deve ser louvado a todo tempo desde a aurora até o poente ou que deve ser louvado no mundo inteiro, como é o caso em Malaquias 1:11. 0 hinista John Ellerton expressou bem essa ideia ao escrever: 0 sol que de nós se despede Desperta nossos irmãos sob o céu ocidental E a cada hora outros lábios proclamam Teus feitos sem igual. 

113:4-6 A grandeza de Deus 
De acordo com a descrição do salmista, Deus é excelso [...] acima de todas as nações (113:4a). O melhor comentário sobre a diferença entre Deus e as nações talvez seja o de Isaías: “Eis que as nações são consideradas por ele como um pingo que cai de um balde e como um grão de pó na balança; as ilhas são como pó fino que se levanta. [...] Todas as nações são perante ele como coisa que não é nada; ele as considera menos do que nada, como um vácuo” (Is 40:15- 17). Sua habitação e glória estão acima dos céus (113:46). O salmista faz uma pergunta retórica: Quem há semelhante ao Senhor, nosso Deus [...]?(113:5). Alguns nomes israelitas expressam a mesma pergunta. Miguel, por exemplo, significa “Quem é como Deus?”, e Miqueias quer dizer “Quem é como Javé?”. Em todos os casos, a resposta é sempre “Ninguém”. Nenhum deus adorado por outras na­ções pode ser comparado ao Deus de Israel. Deuses como Osíris dos egípcios, Dagom dos filisteus (1Sm 5— 6), Baal dos fenícios (1Rs 18:20-40), Quemos dos moabitas e Marduque dos babilônios não puderam resistir a Javé (cf. tb. Is 40:2— 41:4; Hc 2:18-20). O mais extraordinário acerca desse Deus não é apenas sua grandeza, mas sua disposição de se inclinar para ver o que se passa no céu e sobre a terra (113:6). Deus se rebaixa para ver o que está acontecendo no universo que ele mesmo criou. 

113:7-9 A graça de Deus 
Apesar de sua grandeza, o Senhor se preocupa com os pobres. Cuida deles e dos necessitados, que incluem as viúvas, os órfãos, os estrangeiros e os oprimidos (113:7). Em sua infinita misericórdia e graça, ergue o pobre de sua condição humilde no pó, ou seja, de estar assentado no chão, e tira o necessitado do monturo, o lugar onde se jogavam as cinzas dos fomos domésticos. Não os considera imprestáveis; antes, coloca-os em assentos reservados para príncipes (113:8). Em sua misericórdia e graça, Deus consola os abatidos, rejeitados e perseguidos que a sociedade despreza. Dá até filhos às mulheres estéreis para que possam viver em famí­lia e alegrar-se com aqueles que têm filhos (113:9a). Na África, a infertilidade não é vista com bons olhos e, com frequência, é associada a espíritos malignos. Por vezes, mulheres estéreis são maltratadas na casa do marido. Mas Deus pode abençoá-las com filhos. Ele permitiu que Sara (Gn 18:1-15), Rebeca (Gn 25:21), Raquel (Gn 30:22-23) e Ana (ISm 1) concebessem e pode fazer o mesmo por outras mulheres hoje. Deus não cura, contudo, apenas a esterilidade física. Também vê nossa pobreza e esterilidade espiritual e, em sua misericórdia e graça, nos alcança por meio de seu Filho, Jesus Cristo. Os cristãos podem ser pobres e necessitados no que se refere a bens materiais, mas no âmbito espiritual são ricos em Cristo (2Co 8:9; Fp 2:5-11; Jo 13:1-20). Com essa verdade em mente, podemos repetir o Aleluia! final do salmo (113:9b).