Significado de 1 João 1

Significado de 1 João 1




1 João 1

1.1-4 — Esses versículos têm semelhanças com o prólogo do Evangelho de João (João 1.1-18). No entanto, enquanto o Evangelho de João ressalta a natureza metafísica de Jesus, o Verbo, esses versículos ressaltam a experiência pessoal dos apóstolos com o Verbo encarnado. A lembrança de Jesus Cristo estava ainda muito vívida na mente de João enquanto ele refletia sobre os três anos e meio que ele e os demais discípulos passaram junto ao Senhor. Agora ele queria assegurar-se de que as igrejas sob seu cuidado teriam comunhão com o Senhor ressurreto e com outros discípulos.

Os versículos 1-4 também esboçam a mensagem do livro. O prólogo contém uma declaração

de missão no versículo 3, que há quem veja como a dominante da epístola, fazendo da comunhão a principal mensagem do autor. Por outro lado, a maior parte dos estudiosos vê 1 João 5.13 como a declaração de missão da epístola, ressaltando a necessidade de crer em Cristo para obter a salva­ção eterna. Na verdade, ambos os objetivos são trabalhados na carta.



1.1 — O que pode referir-se: (1) à revelação sobre Cristo, (2) aos ensinamentos de Cristo, (3) à vida eterna manifestada por Cristo, ou (4) a Cristo em pessoa. As palavras ouvimos (1 Jo 1.4), vimos, contemplado e tocaram indicam que provavelmente se trata da pessoa de Jesus Cristo. O princípio pode estar aludindo à criação ou ao início do ministério de Cristo. Se for à criação, é semelhante à declaração a respeito de Cristo e à criação no Evangelho (Jo 1.1). Mas o contexto torna provável que a referência seja ao princípio do ministério de Cristo, semelhantemente a 1 João 2.7,24 e 3.11.


O uso da primeira pessoa do plural provavelmente se refere aos apóstolos. Palavra da vida pode estar referindo-se a Jesus, que é o Verbo (Jo 1.1) e a vida (Jo 14.6), ou talvez ainda à mensagem do evangelho e a tudo o que ela diz sobre a vida eterna. Provavelmente a referência é a Jesus, o Verbo que traz a vida, a qual é uma dádiva de Deus que não pode ser obtida por mérito nem arrancada de nós.


1.2 — A vida que foi manifestada aos apóstolos agora é declarada por eles. A vida não estava oculta nem camuflada para que poucos ou ninguém a encontrassem. Essa vida foi, antes, dada a conhecer abertamente e originava-se de Deus. Pai. Deus expôs a verdade sobre si mesmo na natureza e por meio dos antigos profetas, mas a revelação de Seu Filho (Hb 1.1,2) é a melhor e mais clara apresentação que Deus faz de si próprio. Essa relação pessoal com Jesus não dava a João qualquer vantagem indevida sobre os demais cristãos, nem mesmo sobre aqueles a quem escrevia, que nunca haviam estado com o Cristo humano.



A experiência de João com Jesus foi de revelação e fé (Mt 16.17; 1 Pe 1.7-12). Não devemos pensar que ter conhecido Jesus pessoalmente resultaria numa fé maior nele. Muitos dos que viram Jesus fisicamente o rejeitaram. Aceitar Cristo é um ato de fé, é receber a revelação de Deus nas Escrituras. Até mesmo quando a experiência pessoal com Cristo estava distante no tempo, os apóstolos e os que conheceram Jesus apegavam-se a Ele pela fé, e não pelo que viram (João 20.29). Deus deu certeza de que a revelação de Cristo garantira o testemunho por meio dos Evangelhos escritos.


1.3 — A razão principal por que João escreve é orientar seus leitores quanto ao que devem fazer para ter comunhão com os apóstolos e com Deus. Comunhão transmite tanto a ideia de um relacionamento positivo compartilhado pelas pessoas como a participação em um interesse ou objetivo comum. A comunhão promovida por João não é apenas vertical, entre o cristão e Deus. Ele escreve que os cristãos podem ter comunhão conosco. Como João considerava que seus leitores seriam cristãos (1 Jo 2.12-14), não devemos interpretar ter comunhão como sinônimo de ser cristão.

1.4 — O cristão não pode sentir gozo verdadeiro sem relacionar-se bem com Deus e os outros (SI 16.11; 51.12; Jo 15.11). Se os falsos mestres contra os quais João escreve tiverem um excessivo impacto sobre os leitores, estes podem não conseguir manter os laços de comunhão nem a alegria cristã. Sendo assim, ele escreve para lhes dizer a verdade de que precisam para conservar seu relacionamento com o povo de Deus e com os apóstolos.

1.5 — Deus é luz por natureza, em Seu ser essencial, bem como também é Espírito (Jo 4.24) e amor (1 Jo 4.8). Luz refere-se ao caráter moral de Deus. Não há nele treva nenhuma. Deus é santo, intocado por qualquer tipo de mal ou pecado. Como Deus é luz, quem deseja ter comunhão com Ele também deve ser puro. Nenhuma ressalta que a ênfase dada por João é absoluta, o que é essencial para o livro ter o peso que tem.



1.6 — Os versículos 6 a 10 contêm três contrastes entre palavras e obras, ou entre dizer uma

coisa e fazer outra. Depois de cada comparação há o produto da ação. Se dissermos. A primeira falsa alegação é a de que temos comunhão com Deus ao mesmo tempo em que não refletimos Seu caráter moral. Andarmos refere-se a uma forma de vida ou prática cotidiana. Andar em trevas significa viver contrariamente ao caráter moral de Deus, viver em pecado. Alegar ter comunhão com Deus sem levar uma vida moral correta nem praticar a verdade é viver uma mentira, pois Deus não pode comprometer Sua santidade sendo complacente com o pecado.



1.7 — Andar na luz é viver de tal forma que se esteja iluminado pela verdade da pessoa de Deus. João não disse “conforme” a luz, o que implicaria uma exigência de perfeição livre de todo pecado.


Uns com os outros. Quando a conduta do cristão reflete o caráter moral de Deus, é possível uma verdadeira comunhão com os demais cristãos. N ossa comunhão com Deus depende de andar na luz de Deus, onde o pecado fica evidente. Essa evidenciação nos permite permanecer limpos perante Ele. Só o sangue de Jesus Cristo pode purificar-nos de todo pecado, tornando possível aos cristãos imperfeitos manter a comunhão com um Deus santo.



1.8 — A segunda declaração falsa (1 Jo 1.6) é a de que não temos pecado. A ideia é de que nossa natureza pecam inosa estaria completamente extinta. Dizer isso é nos enganarmos (2 Cr 6.36; Jo 9.41). O fato de não termos consciência do pecado não significa que estejamos livres dele. E muito fácil encobrir o pecado (Pv 28.13). Não enganamos os outros, no entanto; eles costumam ver-nos com clareza. O problema é não nos vermos como somos de verdade. Todo cristão pode identificar-se com Davi porque ele é um excelente exemplo do crente que cometeu um grande pecado, mas não via que era pecador. Ele tentou continuar agindo como o ungido do Senhor sem ter a Sua bênção. Quando o profeta Natã o confrontou, Davi indignou-se com o homem que tirou e matou a ovelha de outro homem, mas ainda assim não enxergou a si mesmo na história de Natã (2 Sm 11; 12). A verdade é a revelação de Deus, que diz exatamente o contrário. Não ter pecado é não precisar de um Salvador, o que tornaria a vinda de Jesus desnecessária.



1.9 — Embora João use mais a primeira pessoa do plural (nós) para se referir a si próprio e aos outros apóstolos como testemunhas oculares de Cristo (1 Jo 1.1), aqui o tratamento abarca todos os cristãos que confessarem (reconhecerem) o pecado. Deus diz que somos pecadores e precisamos do perdão. Confessar é concordar com Ele, admitir que somos pecadores e que necessitamos de Sua misericórdia. Se o cristão confessar seus pecados específicos a Deus, Ele purificará toda injustiça dessa pessoa. O cristão não precisa martirizar-se pelo pecado que não conhece. O perdão e a purificação estão garantidos, pois Deus é fiel às Suas promessas. Tais promessas são legítimas, pois Deus é justo. Deus pode conservar Seu caráter perfeito e ainda assim nos perdoar por causa do sacrifício perfeito e justo de Jesus, Seu próprio Filho (1 Jo 2.2). Nossa salvação não custa nada para nós; é uma dádiva de Deus. Mas a salvação tem um preço; ela custou a Deus a morte de Seu Filho. Como João está falando aos cristãos, o perdão aqui não se refere à sua justificação e salvação iniciais. Ele está preocupado com a salvação e santificação deles. Cristo concretizou a primeira parte de nossa salvação na cruz aqui na terra (Jo 17.4). A segunda parte de nossa salvação é diante do trono de Deus, onde Cristo intercede por nós (Hb 4-15,16; 7.23-28).


Os pecados. O texto em grego de fato não diz nossos pecados na segunda ocorrência da palavra. Provavelmente isso quer dizer que os pecados de que João está falando são aqueles que confessamos, e não simplesmente todo e qualquer pecado que cometemos. João prossegue e diz que Cristo, além de dar-nos o perdão, purifica nosso coração de toda impiedade. Devemos ter o cuidado de distinguir este perdão familiar do Pai a Seus filhos do perdão que recebemos ao sermos redimidos.



Essa passagem foi escrita para aqueles que já estão salvos do juízo eterno por causa de seus pecados, mas agora são filhos de Deus que precisam ser perdoados dos tropeços em sua caminhada na fé.


1.10 — Se dissermos que não pecamos. Podemos admitir que temos uma natureza pecaminosa e, ainda assim, negar qualquer pecado pessoal e, portanto, a necessidade de confissão. O verbo grego traduzido como não pecamos indica uma negação no passado que continua valendo no presente. Diferente de 1 João 1.8, que trata da culpa pelo pecado ou pela natureza pecaminosa, este versículo fala sobre a negação de qualquer tipo de pecado individual. Negar tal realidade é chamar Deus de mentiroso, porque a palavra de Deus ressalta como o pecado é traiçoeiro (Rm 7.14-24). Negar que o pecado está em nós indica que a palavra de Deus não está em nós. Em outras palavras, a pessoa que nega pecar não tem a Palavra de Deus transformando sua vida.

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