Salmo 7 — Análise Bíblica

Salmo 7: Declara-me inocente

O salmo 7 é um exemplo claro daquilo que Salomão tinha em mente quando orou: “Se alguém pecar contra o seu próximo, e lhe for exigido que jure, e ele vier a jurar diante do teu altar, nesta casa, ouve tu nos céus, e age, e julga teus servos, condenando o perverso, fazendo recair o seu proceder sobre a sua cabeça e justificando ao justo, para lhe retribuíres segundo a sua justiça” (1Rs 8:31-32). O salmo contém a oração de alguém que foi acusado falsamente e não pode provar sua inocência num tribunal terreno. Apela, portanto, para o tribunal divino, onde Javé (o Senhor) governa como justo Juiz.

O salmo oferece encorajamento para as vítimas de acusações falsas, pois declara que Deus estabelecerá a justiça. Também é relevante para a igreja na África e nos lembra o papel que ela deve desempenhar na promoção da justiça. Não é raro a justiça ser corrompida em nosso continente. Os culpados pagam subornos ou usam sua posição social para escapar do castigo. Mas Deus é um juiz incorruptível, e a igreja deve incentivar todos os juízes a tomá-lo como exemplo.

7:1-2 Súplica a Deus

Esse salmo é atribuído a Davi. A Bíblia não indica a situação histórica à qual o título se refere, mas podemos obter algum esclarecimento na descrição de Cuxe como benjamita. Ele pertencia à mesma tribo de Saul, o rei de Israel morto em combate. A princípio, os benjamitas se mostraram hostis a Davi e se opuseram ao seu reinado (2Sm 16:5).

O salmista começa com um pedido urgente por socorro a Deus, a quem ele chama de Senhor, Deus meu (7:1), designação que expressa intimidade, proximidade e confiança. O autor necessita desesperadamente refugiar-se no Senhor e se coloca em suas mãos, invocando sua proteção. A súplica por proteção é urgente porque o salmista está sendo perseguido por seus inimigos. Eles são ferozes e perigosos como leões, e, a menos que Deus intervenha, o destino do suplicante será tão desagradável quanto o da presa do leão (7:2). Sua vida corre perigo em decorrência de falsas acusações.

7:3-5 Juramento de inocência

O salmista sofre perseguição em decorrência de falsas acusações de ter feito algo errado, daí sua negação de ter nas mãos iniquidade (7:3). O texto não fornece detalhes sobre a acusação. Impossibilitado de provar que é inocente, o salmista vale-se de um juramento de inocência (7:4-5). Juramentos desse tipo não são incomuns na cultura africana. Em geral, são feitos logo cedo e proclamados em alta voz para que todos possam ouvir. A pessoa que faz o juramento se declara inocente das acusações feitas contra ela e pronuncia uma maldição sobre si mesma se não estiver dizendo a verdade.

Uma vez que está certo de sua inocência, o salmista não teme as consequências da maldição em 7:5, que são exatamente o oposto daquilo que ele pediu em 7:1-2. Quem faz um juramento de inocência não declara que jamais pecou, mas nega acusações específicas. O salmista se entrega à justiça de Deus. 7:6-10 Súplica ao justo Juiz Depois de proclamar sua inocência, o salmista apela para Deus, o justo Juiz. Usa expressões que lembram o modo pelo qual os israelitas se dirigiam ao Senhor quando levavam a arca da aliança adiante de si na batalha: Levanta-te [...] desperta (7:6; cp. Nm 10:35). No contexto desse salmo, a arca provavelmente era considerada o trono no qual Deus se assentava como juiz e governante do mundo. Em 7:7, vemos o povo reunindo-se em um lugar público para ouvir o juiz pronunciar o veredicto.

O salmista espera confiantemente o veredicto pronunciado pelo justo Deus. Pede para ser julgado de acordo com sua própria retidão e [...] integridade (7:8-9). Não afirma que sempre demonstra essas qualidades nem que jamais pecou; antes, declara que não cometeu os pecados dos quais seus inimigos o acusam. O justo Juiz condenará os inimigos, pois conhece os segredos da mente e do coração de todos. Nada lhe é ocultado.

Deus dará cabo das iniquidades dos adversários e salvará os justos. O salmista vê o Senhor não apenas como um refúgio onde pode esconder-se (7:1), mas também como aquele que age energicamente em sua defesa ao se tomar seu escudo (7:10). Podemos confiar em que Deus protegerá o inocente.

7:11-16 O destino do inimigo

Como justo Juiz, Deus não apenas absolverá os inocentes, mas também castigará aqueles que levantam falsas acusa­ções (7:11). Na verdade, Deus se preparará para guerrear contra eles (7:12-13). Mas o Juiz não precisará usar suas armas, pois as armas dos malfeitores se voltarão contra eles. Agiram como caçadores e cavaram um buraco para pegar o salmista como se fosse um animal selvagem, mas cairão na armadilha que eles próprios prepararam (7:15)! O salmista muda de metáfora e diz que os inimigos tentaram dar à luz o mal, mas foram frustrados (7:14). Conseguiram apenas prejudicar a si mesmos (7:16).

7:17 Louvor ao Senhor

A situação muda radicalmente do início para o final do salmo. O salmista começou com um lamento, mas ao concluir percebe que a justiça do Senhor sobrepujará a perversidade dos inimigos. Declara: Renderei graças ao Senhor (7:17). O uso do tempo futuro pode indicar que a resolução definitiva dos problemas do salmista ainda está para acontecer. Ele tem certeza, contudo, de que Deus agirá, os acusados serão declarados inocentes e os inimigos serão sentenciados. Não causa surpresa sua convicção de que cantará louvores ao nome do Senhor Altíssimo.

Como o salmista, todos os que estão curvados sob o jugo de falsas acusações devem entregar sua causa ao Juiz justo e incorruptível, que providenciará para que “o cetro dos ímpios não [permaneça] sobre a sorte dos justos” (125:3).