Salmo 8 — Análise Bíblica

Salmo 8: Louvores ao Criador

O salmo 8 é o primeiro cântico de louvor de Salmos. Come­ça e termina com as mesmas palavras e, entre esses dois pontos, celebra Deus como Criador e nos lembra da posição privilegiada que ele concedeu aos seres humanos.

8:1-2 O majestoso nome de Deus

O salmista inicia seu cântico informando o tema do louvor. Na tradução, ele parece repetir-se ao dizer: Ó Senhor, Senhor nosso (8:1a), mas o original hebraico emprega duas palavras diferentes: Javé e Adonai. “Javé” é a forma hebraica do nome pessoal do Deus de Israel, o nome que ele revelou a Moisés em Êxodo 3:14. “Adonai” significa “Senhor”, título que reconhece a posição de autoridade de Deus.

Depois de usar duas designações para o Senhor, o salmista fala do nome de Deus (8:16). Na África, considera-se por vezes que o nome próprio reflete algo muito importante sobre seu portador, um conceito presente também no antigo Israel. O nome de uma pessoa não era apenas uma forma útil de se referir a ela; antes, estava intimamente associado à sua identidade. Um exemplo é o terceiro mandamento: “Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão, porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão” (Êx 20:7; Dt 5:11). Insultar o nome de Deus correspondia a insultar o próprio Deus. Ao dizer, portanto, que o nome de Deus é magnífico em toda a terra, o salmista está afirmando que a grandeza de Deus inspira reverência universal.

Diante de tal majestade, ninguém pode permanecer calado. Até mesmo os pequeninos, as crianças, os fracos, louvam ao Senhor (8:2a). A referência ao louvor oferecido pelas crianças não tem paralelo no AT. Quando, porém, as crian­ças louvaram a Jesus, ele citou esse versículo para aqueles que o criticaram por aceitar o louvor (Mt 21:16). Jesus calou seus adversários, os principais sacerdotes e mestres da lei com essas palavras, conforme predito em 8:26.

Hoje em dia, a igreja na África tem experimentado uma nova dimensão no louvor a Deus. Muitas igrejas, senão todas, separam um tempo específico para louvar durante os cultos. Trata-se de algo positivo, desde que o louvor sirva para nos lembrar da grandeza do Senhor, seu poder ao criar o mundo e sua misericórdia ao nos salvar. Não devemos cantar e dançar apenas para o nosso próprio prazer.

8:3-9 A grandeza de Deus na criação o salmista começa esse salmo como se estivesse falando à comunidade e se dirige a Deus como “Senhor nosso” (8:1). Quando se assenta ao ar livre à noite e observa as miríades de estrelas, porém, deixa de falar em nome de outros e louva a Deus pessoalmente: Quando contemplo (8:3). Ele considera os céus [...] a lua e as estrelas obra das mãos do Senhor que leva suas impressões digitais. A vastidão do céu acima do salmista o faz lembrar de quão pequeno e insignificante ele é e do minúsculo valor dos seres humanos em comparação com os céus e a terra ao seu redor (8:4). Ao mesmo tempo, contudo, ele tem consciência do lugar e da função singular dos seres humanos na criação. O Deus poderoso e majestoso que criou o universo não nos despreza. Somos insignificantes em nós mesmos, mas Deus nos honrou com um lugar especial na criação e nos colocou numa posição inferior apenas a ele próprio (8:5). Em termos hierárquicos, poderíamos dizer que os seres humanos ocupam o segundo lugar na criação!

Em decorrência dessa posição elevada, receberam uma coroa de glória e de honra. Seu domínio sobre a criação fica evidente em 8:6, em que se diz que o próprio Deus os nomeou governantes. A nomeação é mencionada em Gênesis 1:26, em que Deus declara: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra”. As palavras sob seus pés tudo lhe puseste enfatizam o domínio da humanidade sobre o restante da criação. Na sequência, o salmista relaciona algumas das áreas nas quais a autoridade dos seres humanos sobre os elementos da criação de Deus é mais visível: a domesticação de ovelhas e bois, a caça de animais do campo (8:7) e de aves do céu e a pesca de peixes do mar (8:8). Os seres humanos receberam poder para governar sobre essas criaturas em nome do grande Criador. (A licença para governar, contudo, não é sinônimo de permissão para abusar dos recursos naturais. Devemos cuidar da criação de Deus, e não destruí-la.)

Existe uma ligação estreita entre o papel e o lugar da humanidade nesse salmo e o relato da criação dos seres humanos em Gênesis 1 e 2. O fato de termos sidos criados à imagem de Deus significa que todo ser humano merece ser tratado com respeito e considerado precioso aos olhos do Senhor.

Não é de admirar que o salmista encerre da mesma forma que começou: O Senhor, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome! (8:9)