Milagres — Curso de Teologia Sistemática

Milagres — Curso de Teologia Sistemática




MILAGRES: O SOBRENATURAL

CONDIÇÃO PRÉVIA

INTRODUÇÃO A MILAGRES 

 

A teologia evangélica é construída sobre o sobrenatural. O nascimento virginal de Cristo, Seu ministério cheio de milagres, Sua ressurreição física dentre os mortos e Sua ascensão corporal ao céu são apenas alguns dos inúmeros milagres essenciais para o cristianismo bíblico. Tanto o sobrenatural é uma pré-condição da teologia ortodoxa que sem ele o cristianismo histórico entraria em colapso. Para citar o apóstolo Paulo: “Se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é inútil e também a vossa fé. Mais do que isso, somos então considerados testemunhas falsas sobre Deus... E se Cristo não ressuscitou, vossa fé é fútil; vocês ainda estão em seus pecados. Então, também os que dormiram em Cristo estão perdidos” (1 Cor. 15: 14–18). Antes que um milagre possa ser identificado, para não dizer verificado, ele deve ser definido; não há como encontrar um milagre a menos que saibamos o que estamos procurando. Os teólogos definiram milagres de duas maneiras diferentes.

 

DUAS DEFINIÇÕES DE MILAGRES

Historicamente, os milagres foram definidos em um sentido fraco ou forte. Seguindo Agostinho (354-430), alguns descrevem um milagre como “um presságio [que] não é contrário à natureza, mas contrário ao nosso conhecimento da natureza” (CG, 21,8). O problema com essa visão fraca dos milagres é que o evento pode não ser sobrenatural; pode ser simplesmente um evento natural para o qual o observador, ainda, não tem uma explicação natural.

 

Isso significaria que todas as anomalias naturais, incluindo meteoros, terremotos, vulcões e eclipses, foram milagres para todos - e ainda são para muitas pessoas. Certamente, esses tipos de chamados milagres não teriam valor apologético como aqueles na Bíblia afirmam ter (Mat. 12: 39–40; Marcos 2: 10-11; João 3: 2; Atos 2:22; Hebreus 2: 3-4; 2 Coríntios 12:12). Outros, seguindo Tomás de Aquino, definem um milagre no forte sentido de um evento que está além do poder da natureza de produzir e que apenas um poder sobrenatural (Deus) pode fazer (SCG, Livro 3). Novamente, somente nesta visão forte os milagres podem ser identificados como atos de Deus, uma vez que no sentido fraco eles são indistinguíveis de eventos naturais incomuns. Além disso, apenas no sentido forte os milagres têm valor apologético, uma vez que ocorrem com intervenção sobrenatural direta.

 

Nesse sentido, um milagre é uma intervenção divina no mundo natural. Como disse o ateu Antony Flew, “Um milagre é algo que nunca teria acontecido se a natureza, por assim dizer, tivesse sido deixada à sua própria sorte” (Flew, “M,” em Edwards, ed., EP, 346). A lei natural descreve regularidades causadas naturalmente; um milagre é uma singularidade causada de forma sobrenatural. 


DISTINGUINDO MILAGRES DA LEI NATURAL 

Para explicar o que se entende por ato sobrenatural, precisamos de uma compreensão inicial do que se entende por lei natural. A lei natural é entendida como a maneira usual, ordenada e geral de funcionamento do mundo. Em contraste, um milagre é minimamente uma maneira incomum, irregular e específica pela qual Deus age no mundo. Milagres são sobrenaturais, mas não antinaturais. Como disse o famoso físico Sir George Stokes: “Pode ser que o evento que chamamos de milagre tenha sido provocado não pela suspensão das leis em operação normal, mas pela adição de algo que não está normalmente em operação” (ISBE , 2063). Em outras palavras, se um milagre ocorre, não é uma violação ou contradição das leis comuns de causa e efeito, mas sim um novo efeito produzido pela introdução de uma causa sobrenatural. Neste ponto, o que precisamos é uma descrição bíblica dos milagres. A Bíblia usa três palavras básicas para descrevê-los: sinal, maravilha e poder. Um estudo do uso de cada um ajudará a entender o que significa “milagre”.