Milagres no Novo Testamento — Curso de Teologia Sistemática
O uso das três palavras básicas no Novo Testamento para milagres é
diretamente paralelo ao do Antigo Testamento.
Uso da palavra “sinal” no Novo Testamento
No Novo Testamento, “sinal” (gr.: semeion) é usado setenta e sete vezes (quarenta e oito vezes nos
Evangelhos). Ocasionalmente, é usado para eventos comuns, como a circuncisão
(Rom. 4:11) ou um bebê enrolado em panos (Lucas 2:12). Aqui, novamente, esses
sinais têm um significado divino especial, mas na maioria das vezes a palavra é
reservada para o que chamaríamos de milagre. Muitas vezes é usado para os
milagres de Jesus, como cura (João 6:2; 9:16), transformação da água em vinho
(João 2:11) e ressurreição de mortos (João 11:43–44). Da mesma forma, os
apóstolos realizaram milagres de cura (Atos 4:16, 30), “grandes sinais e
milagres” (Atos 8:13) e “sinais e maravilhas milagrosos” (Atos 14:3; 15:12); “Muitos
prodígios e sinais miraculosos foram feitos pelos apóstolos” (Atos 2:43). Até
mesmo as autoridades judaicas disseram: “O que vamos fazer com esses homens?...
Todos os que vivem em Jerusalém sabem que fizeram um milagre notável e não
podemos negá-lo” (Atos 4:16).
A palavra “sinal” também é usada para o milagre mais significativo
do Novo Testamento, a ressurreição de Jesus Cristo da sepultura. A ressurreição
não foi apenas um milagre, mas também um milagre que Jesus predisse (João 2:19;
Mat. 12:40; 16:21; 20:19). Jesus disse à Sua geração incrédula: “Mas nenhum
[nenhum “sinal”] será dado, exceto o sinal do profeta Jonas. ... [O] Filho do
Homem estará três dias e três noites no seio da terra” (Mt. 12:39–40). Jesus
também foi solicitado por um “sinal” em Mateus 16, momento em que Ele repetiu
essa garantia de Sua ressurreição.
Uso da Palavra
Maravilha no Novo Testamento
A palavra maravilha (gr.: teras)
é usada dezesseis vezes no Novo Testamento e quase sempre se refere a um
milagre. Na verdade, em todas as ocorrências, ele é usado em combinação com a
palavra signo. É usado para os eventos sobrenaturais antes da segunda vinda de
Cristo (Mateus 24:24; Marcos 13:22; Atos 2:19), dos milagres de Jesus (João 4:48;
Atos 2:22), dos apóstolos milagres (Atos 2:43; cf. Atos 4:30; 5:12; Hb 2:3-4),
dos milagres de Estevão (Atos 6:8), dos milagres de Moisés no Egito (Atos 7:36)
e dos milagres de Paulo (Atos 14:3; 15:12; Rom. 15:19). Teras significa “um sinal
milagroso, prodígio, presságio, presságio, maravilha” (Brown, DNTH, 2:633).
Traz consigo a ideia do que é surpreendente ou surpreendente (ibid., 623-25).
Uso do poder da palavra no Novo
Testamento
A palavra poder (grego: dunamis)
é usada em várias ocasiões no Novo Testamento. É ocasionalmente usado para
poder humano (2 Coríntios 1:8) ou habilidades (Mateus 25:15), e às vezes é
usado para poderes espirituais (satânicos) (Lucas 10:19; Rom. 8:38). Como seu
paralelo no Antigo Testamento, o termo do Novo Testamento para “poder” é
frequentemente traduzido como “milagres”. Dunamis
é usado em combinação com “sinais e maravilhas” (Heb. 2:4), dos milagres de
Cristo (Mateus 13:58), do poder de ressuscitar os mortos (Fp 3:10), do
nascimento virginal de Cristo (Lucas 1:35), do dom especial de milagres (1
Coríntios 12:10), do derramamento do Espírito Santo no Pentecostes (Atos 1:8),
e do “poder” do evangelho para salvar pessoas pecadoras (Rom. 1:16). A ênfase
da palavra está no aspecto energizante divino de um evento milagroso.
A NATUREZA TEOLÓGICA DE
UM MILAGRE
Cada uma das três palavras para eventos sobrenaturais (“sinal”,
maravilha, poder) delineia um aspecto de um milagre. Um milagre é um evento
incomum (maravilha) que transmite e confirma uma mensagem incomum (“sinal”) por
meio de uma habilidade incomum (poder). Do ponto de vista divino, um milagre é
um ato de Deus (poder) que atrai a atenção do povo de Deus (maravilha) para a
Palavra de Deus (por meio de um “sinal”). Respectivamente, essas palavras
designam a “fonte” (o poder de Deus), a “natureza” (maravilhoso, incomum) e o “propósito”
(para significar algo além de si mesmo) de um milagre. Eles são frequentemente
usados como um “sinal” para confirmar um sermão; uma maravilha para verificar
as palavras do profeta; um milagre para ajudar a estabelecer sua mensagem (João
3:2; Atos 2:22; Hb 2:3-4).
Um milagre, então, é uma intervenção divina ou uma interrupção do
curso regular do mundo que produz um evento proposital, mas incomum, que não
teria (ou não poderia) ter ocorrido de outra forma. Por esta definição, as leis
naturais são entendidas como a maneira normal, regular e geral de operação do
mundo. Mas um milagre ocorre como um ato incomum, irregular e específico de um
Deus que está além do universo.
Isso não significa que milagres sejam contra as leis naturais;
simplesmente significa que eles encontram sua fonte além da natureza. Em outras
palavras, os milagres não violam as leis naturais de causa e efeito, eles
simplesmente têm uma causa que transcende a natureza.
O PROPÓSITO DOS MILAGRES
A Bíblia declara pelo menos três propósitos de um milagre:
(1) para glorificar a natureza de Deus (João 2:11; 11:40);
(2) para credenciar certas pessoas como porta-vozes de Deus (Atos
2:22; Hb 2:3-4); e
(3) para fornecer evidências para a crença em Deus (João 6:2, 14;
20:30–31).
Claro, nem todas as pessoas acreditam que o evento é um ato de
Deus, mesmo quando testemunham um milagre. Mas neste caso, diz o Novo
Testamento, o milagre é uma testemunha contra eles. João lamentou: “Mesmo
depois de Jesus ter feito todos esses sinais miraculosos na presença deles,
eles ainda não creram nele” (João 12:37). O próprio Jesus disse a respeito de
alguns: “Eles não ficarão convencidos, mesmo que alguém ressuscite dos mortos”
(Lucas 16:31). Portanto, neste sentido, o resultado (não o propósito) de
descrer em milagres é a condenação do incrédulo (cf. João 12:31, 37).
AS VÁRIAS DIMENSÕES DOS
MILAGRES
Milagres têm um caráter
incomum
Primeiro, os milagres têm um caráter incomum. Um milagre é um
evento fora do comum, em contraste com o padrão regular de eventos no mundo
natural. É uma “maravilha” que chama a atenção pela sua singularidade. Fogo do
céu, caminhar sobre as águas e uma sarça ardente que não é consumida não são
ocorrências normais. Consequentemente, por seu caráter incomum, atrairão o
interesse dos observadores.
Milagres têm um
contexto teológico
Em segundo lugar, os eventos sobrenaturais têm um contexto
teológico. Um milagre é um ato de Deus (gr.: theos); portanto, um milagre pressupõe que existe um Deus que pode
agir. A visão de que existe um Deus além do universo que o criou, controla e
pode interferir nele é chamada de teísmo. Milagres, então, implicam em uma
visão teísta do universo.
Milagres têm uma
dimensão moral
Terceiro, os milagres têm uma dimensão moral. Eles trazem glória a
Deus; isto é, eles manifestam Seu caráter moral. Milagres são atos visíveis que
refletem a natureza invisível de Deus. Tecnicamente, não há milagres ruins,
então, porque Deus é bom. Todos os milagres, por natureza, visam produzir e/ou
promover o bem.
Milagres têm conteúdo
doutrinário
Quarto, os milagres têm conteúdo doutrinário. Milagres na Bíblia
estão relacionados direta ou indiretamente com “afirmações da verdade”, o que
significa que há uma mensagem no milagre. São maneiras de diferenciar um
verdadeiro profeta de um falso profeta (Deuteronômio 18:22); eles confirmam a
verdade de Deus por meio do servo de Deus (Hb 2:3-4). Um milagre é o “sinal”
que confirma o sermão; nova revelação e confirmação divina caminham lado a lado
(cf. João 3:2).
Milagres têm um aspecto
teleológico
Finalmente, os milagres bíblicos têm um aspecto teleológico. Ao
contrário da magia, eles nunca são realizados para entreter (ver Lucas 23:8).
Os milagres têm um propósito distinto: glorificar o Criador e fornecer
evidências para as pessoas acreditarem, acreditando na mensagem de Deus por
meio do profeta de Deus. Essas cinco facetas de um milagre formam um contexto
teísta para identificar um milagre.
Existem duas maneiras básicas de saber se os milagres são
possíveis:
(1) para mostrar que existe um Deus sobrenatural (o que já foi
feito no capítulo 2);
(2) para responder às objeções levantadas contra a possibilidade e/ou plausibilidade de milagres.
TEÍSMO
TORNA MILAGRES POSSÍVEIS
C.
S. Lewis bem disse,
Se
admitimos Deus, devemos admitir milagres? Na verdade, você não tem segurança
contra isso. Essa é a barganha... A teologia diz a você com efeito: “Admita
Deus e com Ele o risco de alguns milagres, e eu em troca ratificarei sua fé na
uniformidade no que diz respeito à esmagadora maioria dos eventos”
(Lewis,
M, 109).
Milagres,
no sentido mais estrito da palavra, são possíveis apenas em um mundo teísta,
pois nenhuma outra cosmovisão admite que haja um Poder pessoal infinito,
sobrenatural, além do mundo natural, exceto o deísmo, que nega que Deus pode
(ou faz) realizar milagres. Portanto, não apenas o teísmo torna os milagres
possíveis, mas apenas o faz.
Além
disso, o teísmo demonstra que o milagroso é real, uma vez que o teísmo afirma a
Criação do universo, que é o maior evento sobrenatural de todos. Alguns deístas
podem admitir que milagres são possíveis, mas não reais. No entanto, isso é
inconsistente, uma vez que eles já admitem que o maior milagre - a Criação -
realmente aconteceu.
Se o teísmo for verdadeiro, não apenas os milagres são possíveis, mas o mais surpreendente já ocorreu. A única questão que permanece é se mais aconteceram e como podemos identificá-los. Em suma, a filosofia pode mostrar que milagres são possíveis (fornecendo evidências de que houve um Criador do universo), mas somente a história pode demonstrar que milagres subsequentes realmente aconteceram. Mas se milagres acontecem, eles podem acontecer; o real prova o possível (não o contrário).