Estudo sobre 1 Coríntios 11:11-13

1 Coríntios 11:11-13

Será que nessas explanações Paulo se esqueceu do que escrevera em Gl 3.28? Não, um enfático “todavia” constata, diante da ordem da criação: “No Senhor, todavia, a mulher não é sem o homem, nem o homem, sem a mulher.” Paulo visa combater o equívoco de que na realidade a condição de ser criada à imagem e glória de Deus não valeria para a mulher e de que o relacionamento com Deus somente lhe seria concedida pela interposição do homem, que seria para ela “a glória” dela. Não, “no Senhor”, em Cristo, homem e mulher estão firmemente coligados um com o outro. Vigora a afirmação do relato da criação em Gn 1.27 “homem e mulher os criou”. Nem o homem nem a mulher constituem o alvo de Deus em si mesmos. O “nem homem nem mulher” de Gl 3.28 obtém agora uma inequívoca confirmação também no contexto do presente trecho. “Nem homem nem mulher, mas todos um em Cristo”, significa agora: “No Senhor, todavia, a mulher não é sem o homem, nem o homem, sem a mulher.”

Até mesmo a natureza concede à mulher, que, pela criação, “é a partir do homem”, igualmente a posição superior ao homem: “Porque, como a mulher é a partir do homem, assim também o homem é através da mulher.” Cabe a cada homem reverenciar sua mãe, da qual obteve a vida. Paulo acrescenta “Tudo isso, porém, de Deus” [tradução do autor]. Não se trata de que o homem se arrogue uma posição superior diante da mulher ou que a mulher insista em questionar onde o homem estaria sem sua maternidade. Deus criou e ordenou tudo assim como é. Nesse ponto acaba qualquer murmuração e revolta. Cada pessoa pode assumir com disposição e gratidão sua posição, vivendo de conformidade com sua natureza e cumprindo sua missão.


É importante considerar nesse contexto que Paulo não tem ressalvas contra a oração e profecia de mulheres na igreja como tais! Aqui se reconhece a “igualdade de direitos da mulher”. Só se busca que nessas atividades permaneça verdadeiramente “mulher” e não se transforme, por meio de uma liberdade grosseira e repulsiva, em caricatura do homem.

Em todo o presente trecho cumpre considerar que Paulo não está escrevendo um tratado teológico de validade atemporal, mas visa dar uma instrução relativa à realidade de uma igreja bem específica, uma igreja que tem de viver sua vida numa época bem determinada e num contexto de cunho muito peculiar. Por isso diversos aspectos dessa orientação são condicionados ao tempo. Afinal, foi isso que ocorreu também na unidade anterior: Entre nós não existe mais “carne sacrificada a ídolos”. Não havia como aplicar as ponderações de Paulo diretamente a nós. Apesar disso expressaram algo importantíssimo também para nosso ser cristão atual. Por consonância, de um modo geral a condição da mulher hoje se tornou diferente. Para nós, a mulher sem a cabeça coberta em público é para nós uma visão natural. Não temos mais em absoluto a sensação de que a mulher e a moça sem véu na cabeça sejam “não-femininas” ou “provocantes”. Nesse ponto a “sensação” mudou.246 Quando Paulo convoca os coríntios: “Julgai por vós mesmos: porventura é conveniente que uma mulher ore a Deus sem usar véu?” [teb], ele podia esperar que os membros da igreja daquele tempo, apenas a partir da sensação de seu tempo, sem que agora o cristianismo e a fé tivessem um papel preponderante, lhe dessem razão e considerassem um comportamento assim como “inconveniente”, “escandaloso”. Hoje, porém, temos uma sensação diferente e, novamente, sem que cristianismo e fé tenham alguma interferência nisso.


Notas:
246 Sempre temos de manter viva a consciência da relatividade e mutabilidade dessas “sensações”. Há uma geração uma diaconisa de bicicleta ainda causava impacto chocante e inadmissível! Considerávamos “fatais” as saias cada vez mais curtas. Hoje nos acostumamos com essas coisas.