Comentário de João Calvino: João 1:51

Verás o céu aberto. Estes estão extremamente equivocados, em minha opinião, que ansiosamente investigam o local, e o momento, onde Natanael e outros viram o céu aberto, pois Ele, sim, recorda algo perpétuo, que sempre existiu em seu reino. Eu reconheço, de fato, que os discípulos, por vezes, viram anjos, que não são vistos nos dias de hoje, e reconheço também que a manifestação da glória celeste, quando Cristo subiu ao céu, foi diferente do que temos agora observado. Mas, se levamos devidamente em conta o que aconteceu naquela época, é de duração perpétua; porque o reino de Deus, que antigamente era fechado para nós, realmente se abriu em Cristo. Um exemplo visível disto foi mostrado em Estevão, (Atos 7:55), para os três discípulos na montanha, (Mateus 17:5), e para os outros discípulos na ascensão de Cristo, (Lucas 24:51, Atos 1:9.) Mas todos os sinais pelos quais Deus se mostra presente conosco dependem dessa abertura do céu, mais especialmente quando Deus se comunica a nós para ser nossa vida.

Subindo e descendo sobre o Filho do homem. Esta cláusula segunda refere-se aos anjos. Disse que estão a subir e descer, de modo a serem ministros da bondade de Deus para nós, e, portanto, este modo de expressão aponta a relação mútua que existe entre Deus e os homens. Agora temos de reconhecer que este benefício foi recebido por meio de Cristo, porque sem Ele os anjos têm sim uma inimizade mortal contra nós, do que um cuidado simpático para nos ajudar. Disse que estão a subir e descer sobre o filho do homem, não porque O ministravam, mas porque - em referência a ele, e por sua honra - incluem todo o corpo da Igreja, em seu cuidado amoroso. Também não tenho qualquer dúvida de que ele faz alusão à escada que foi exibida ao patriarca Jacó num sonho, (Gênesis 28:12) pois o que foi prefigurado por essa visão é realmente cumprida em Cristo. Em suma, esta passagem nos ensina que, apesar de toda a raça humana ter sido banida do reino de Deus, a porta do céu está agora aberta para nós, por isso que somos concidadãos dos santos, e companheiros dos anjos, (Efésios 2:19) e que, tendo sido designados para serem guardiões da nossa salvação, descendem do descanso abençoado da glória celestial [Nota: “De la gloire celeste,”] para aliviar as nossas angústias.


Fonte: John Calvin's Bible Commentary, da The Calvin Translation Society (1509-1564)