Teologia do Livro de Daniel
Teologia do Livro de Daniel
por R. K. Harrison (2008)
Sob o ponto de vista teológico, Daniel tem muito em comum com Ezequiel. Deus é visto como um Ser transcendente que, por natureza é superior a todos os deuses dos pagãos. Por ser Deus todo-poderoso, os acontecimentos se desenrolam de acordo com propósitos divinos predeterminados, sendo isto consistente com o pensamento profético do 82° séc., que afirmava que Deus mantinha firme controle de todos os acontecimentos. Da mesma maneira Daniel tinha o advento do Reino Messiânico como a conclusão dos tempos, e como assunto para decisão puramente divina e não humana.
Embora a vinda do reino fosse contemplada em termos largamente materiais, os conceitos sobre a ressurreição no capítulo 12 são um adiantamento da escatologia dos profetas preexílicos. A angelologia de Daniel e semelhante à de Ezequiel, e embora meio vaga em algumas ocasiões, ela reconhece que os anjos possuem personalidade e até mesmo nomes. Todavia, a angelologia não é de maneira alguma tão elaborada quanto a das obras apocalípticas judaicas posteriores, como 1 Enoque. O caráter apocalíptico das visões deve ser distinguido cuidadosamente do apocalipsismo oriental em geral, visto que Daniel não contém dualismo do tipo encontrado no Zoroastrismo e não reflete uma passividade ética, que impossibilitaria Daniel de anunciar o julgamento divino sobre indivíduos ou nações.
As seções apocalípticas do livro tem sido discutidas amplamente, em parte por causa da interpretação a ser dada aos quatro reinos do capítulo 2, onde os críticos dividem o Medo-Persa em dois impérios separados, compondo os reinos da Babilônia, Média, Pérsia e Grécia respectivamente.
Contudo, a história do reino medo impede tal divisão, de modo que a ordem dos impérios seria Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia e Roma. A identidade do quarto reino é importante para as últimas visões de Daniel. É bastante diferente, em natureza, do “bode” (Dn 8.5) e, consequentemente, não representa a Grécia como os estudiosos liberais têm assegurado. Novamente, o “pequeno chifre” (8.9) representando Antíoco IV Epifanes, não é o mesmo que “o pequeno” (7.8), e é também diferente do sucessor dos dez reis (7.24). O “chifre pequeno” emergindo da quarta besta foi representado em conflito com os santos de Deus antes do estabelecimento do reino divino (7.21).
Alguns estudiosos conservadores, ao tentar interpretar as profecias, têm considerado as predições relativas à imagem (2.31-49), as quatro bestas (7.2-27) e as setenta semanas (9.24-27) como culminando com a encarnação de Cristo e o nascimento da Igreja Crista. Neste conceito, a pedra (2.34,35) aponta para a vinda de Cristo, enquanto que os dez chifres da quarta besta (7.34), o pequeno chifre (7.8) e o conceito de “tempo, dois tempos e meio tempo” (7.25) são interpretados simbolicamente. O trabalho do Messias é completado durante o período de setenta semanas (9.24), presumivelmente datando a partir do decreto de Ciro em 538 a.C., incluindo o trabalho de Esdras e culminando com o advento e ascensão de Cristo.
A morte do Messias faz cessar o sacrifício judaico, e a “abominação a desolação” (9.27) e Tito, que destruiu Jerusalém em 70 a.C. Outros estudiosos conservadores têm relacionado a passagem apocalíptica ao Segundo Advento de Cristo e não a sua encarnação, e tem visto na imagem de Daniel duas formas sucessivas de reino humano dominadas por Satanás representado pelos impérios da Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia e Roma, a última sendo retardada de alguma forma até a segunda vinda de Cristo. Este termina com a ascensão de dez reis (2.41-44; cp. Ap. 17.12) que é destruído por Cristo e a sua Segunda Vinda. O reino divino e estabelecido (cp. Mt 6.10; Ap. 20.1 -6) se tomando uma “grande montanha”, que enche toda a terra (Dn 2.35). Daniel 7.25 mostra um avanço no pensamento sobre Daniel 2, porém, com o anticristo sendo introduzido como decimo primeiro chifre que persegue os santos “por um tempo, e tempos e meio tempo” i.e. três anos e meio (cp. Dn 7.6; 8.5 e Ap 12.14). Um como o filho de homem (Dn 7.13) realiza a destruição final do anticristo, dos quatro reinos, e dos dez reis. As setenta semanas de anos são contadas sob este ponto de vista a partir do decreto de Artaxerxes I, em 444 a.C., para reconstruir Jerusalém (Ne 2.1-8) e conclui com a fundação do reinado milenar (Dn 9.24). Um intervalo ocorre para separar a sexagésima nona semana da septuagésima (9.62), visto que Cristo estabelece a abominação da desolação no final do tempo presente (cp. 9.27, Mt 24.15). Os intérpretes milenistas veem a septuagésima semana como um período de sete anos imediatamente antes da Segunda Vinda de Cristo, durante qual o anticristo se levanta e persegue os santos de Deus.
A transição da situação puramente histórica representada pelos regimes persa, grego, ptolemaico e selêucida, que culmina com a perseguição por Antíoco IV Epifanes (Dn 11.2-35a), e marcada pela frase “porque se dará ainda no tempo determinado” (11.35b), a qual introduz a situação especificamente escatológica relacionada com a Segunda Vinda de Cristo. Alguns intérpretes premilenistas tem visto o “rei do norte” subjugando o anticristo juntamente com o “rei do sul” antes de ser ele próprio destruído (cp. 11.40-45; Ez 39.4,17), mas finalmente o anticristo se recobra e começa sua era de dominação mundial (Dn 11.44;cp. Ap 13.3; 17.8). A grande tribulação de três anos e meio (Dn 7.25) ou 1260 dias (Ap 12.6) termina com a ressurreição corporal dos santos que morreram na tribulação (Dn 12.2,3; cp. Ap 7.9-14). Depois de um pequeno intervalo no qual o Templo e purificado (Dn 12.11), e profetizado o reino do milênio (12.12).
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