Comentário de John Gill: Apocalipse 4:6

APOCALIPSE, COMENTÁRIO, ESTUDO BIBLICO, TEOLOGICOE diante do trono havia um mar de vidro como cristal,... Cujo significado é, não os céus, nem as almas do benditos ali, nem a multidão dos anjos santos, nem os primeiros convertidos aos Cristianismo em Jerusalém; pois aqueles que obtém a vitória sobre a besta são mencionados como estando sobre o mar, Ap 15:2, cujos significados, especialmente os três últimos, não serão admitidos de forma alguma. Alguns entendem com isso o mundo, que pode ser comparado a um “mar”, pela multidão das pessoas nele, assim como muitas águas nesse livro significa pessoas e nações, Ap. 17:15; e a um mar de vidro, que é frágil, pois a fragilidade e transitoriedade do mundo, os homens e as coisas do mundo; e a  um “cristal” claro, porque todas as coisas nele são abertas e manifestas ao olho onisciente de Deus; mas o mundo, e os homens nele, que não é normalmente comparado a um mar quieto, como esse é, mas um turbulento e balançado pelos ventos e tempestades, cujas águas lançam lama e sujeira, Isa 57:20. Outros acreditam que a ordenança do batismo é o significado aqui, do qual o mar Vermelho, por onde os Israelitas passaram debaixo da nuvem, era um emblema; e que pode ser comparado a um “mar de vidro”, pela sua transparência, claramente expressando os sofrimentos, enterro e ressurreição de Cristo; e ao cristal, devido a sua pureza; ae tudo isso pela sua natureza clara, como conduz ao sangue de Cristo; e estando diante do trono pode denotar o caminho de entrada no Evangelho da Igreja. Outros acreditam que signifique o sangue de Cristo, em alusão ao mar de bronze no tabernáculo, que foi feito os espelhos trazidos pelas mulheres, e para os sacerdotes se lavarem antes que eles entrassem em suas atividades, Exo 30:18, e o mar de fundição do Templo, que era usado com o mesmo propósito, 1Rs 7:23. O sangue de Cristo é a fonte aberta para a lavagem do pecado, e pode ser comparado a um mar pela sua eficácia abundante em purificar de todo pecado; e é isso que abre caminho para o trono e para Aquele que está sentado no mesmo; e é um privilégio especial desfrutado por aqueles por aqueles que vão ao Monte Sião, ou em uma Igreja do Evangelho; há sempre essa pia para se lavar suas vestimentas para fazê-las brancas: embora esse mar, sendo de vidro, não parece ser designado para se lavar nela; E, portanto, eu acredito que isso significa o Evangelho, comparado a um “mar” devido as coisas profundas de Deus e os mistérios da graça que estão nele; a um mar de “vidro”, pois ele é contemplado, como em um espelho, a glória do Senhor, de Sua pessoa, ofício, e justiça, bem como muitas outras coisas maravilhosas; e a um como “cristal”, pela sua clareza, perspicácia e evidência das verdades contidas nela; e a um firme e quieto mar, porque é o Evangelho de paz, amor, graça, e misericórdia e trás paz, alegria e tranqüilidade as mentes atribuladas, quando a lei opera ira: mas não é aqui agitado, espumante, com ondas de ira e fúria, mas bom, estável, sólido e tranqüilo. E é dito como estando diante do trono, onde está o arco-íris do pacto, do qual o Evangelho é uma transcrição; e onde os vinte e quatro anciãos, ou membros das igrejas estão, para o deleite deles e conforto; e onde os sete espíritos de Deus estão, para suprir os homens com os dons para pregar; e onde as quatro criaturas viventes, ou ministros da palavra, têm o lugar deles. Em harmonia com essa forma figurativa de falar, os Judeus chamam (p) a lei, ימא דאוריתא, “o mar da lei”, e “mar da sabedoria”; e frequentemente dão características aos doutores, por serem muito eruditos בים התלמוד, “no mar do Talmude”, ou “doutrina” (q). A cópia Alexandrina, a edição Complutense, a Vulgata Latina e a versão Siríaca, leem “havia um mar de vidro”, de alguma forma que parecia um. A palavra “vidro” é omitida na versão Etíope, mas muito apropriadamente é assim descrito, a cor do mar sendo, às vezes, verde como do vidro.

E no meio do trono, e ao redor do trono, havia quatro bestas;... Ou  “criatura vivente”, como a palavra pode ser melhor vertida, de acordo com Eze 1:5, cuja referência é dada aqui; e por quem significa não os anjos, embora haja muitas coisas que se harmonize com eles; eles são mencionados como os “quatro espíritos” dos céus, dos quais procedem diante do Senhor de toda a terra, Zac 6:5. Eles podem ser corretamente chamados de criaturas viventes, visto que eles vivem uma vida muito feliz nos céus; a posição deles é diante do trono, e na presença de Deus; e eles sendo assim assíduos, diligentes, e atentos em fazer a vontade de Deus, podendo isso ser representado por eles serem “cheios de olhos atrás, e na frente, e dentro”; a força deles podendo ser apropriadamente expresso pelo “leão”; a perseverança deles no serviço de Deus, pelo "boi": a sabedoria deles, prudência, e conhecimento, pela “face de um homem”; e a prontidão deles em obedecer a ordem divina pela “águia alada”; o número de asas deles harmonizando-se com a dos serafins em Isa 6:2; para a qual a alusão parece ser; e o trabalho deles, em atribuir continuamente a glória a Deus, se harmoniza com eles: para o qual pode ser acrescentado, que os Judeus frequentemente falam de quatro anjos, סביב לכסאו, “ao redor de Seu trono”, ou seja, do trono de Deus; cujos nomes são Miguel, Gabriel, Uriel, and Rafael; os três primeiros eles colocam dessa forma, Miguel à sua mão direita, Uriel à sua esquerda, e Gabriel diante dele (r). Às vezes, Miguel à sua direita, Gabriel à sua esquerda, Uriel  diante dEle, e Rafael atrás dele, e o santo e bendto Deus no meio; e eles são expressamente chamados (s) por eles as quatro criaturas viventes, querendo dizer as da visão de Ezequiel; e eles fazem menção da inteligente criatura vivente que estão סחרין לכרסיא, “ao redor do trono” (t). Apesar de tudo isso, os anjos são podem ser referidos aqui, pois essas quatro criaturas viventes são mencionadas como redimidos  pelo sangue de Cristo, e são distinguidos dos anjos em Ap 5:8; nem são os quatro Evangelhos, com os quatro evangelistas aqui o significado; pois qualquer harmonia que possa ser fantasiada entre esses, e a semelhança com as criaturas viventes; como Mateus que pode significar a criatura que tem a face de homem, porque ele inicia o evangelho com a genealogia de Cristo, como homem; e Marcos pelo leão; porque ele inicia seu Evangelho com a voz de alguém clamando no ermo; e Lucas pelo boi, porque ele inicia seu evangelho com o relato de Zacarias, o sacerdote, oferecendo no templo; e João pela águia, porque ele inicia o seu evangelho de uma forma bem especial, com a própria divindade de Cristo: e com qualquer verdade que possa ser dita desses que eles estão cheios de luz divina e conhecimento, e rapidamente espalhado no mundo, e continuamente dão glória a Deus; ainda, não pode ser dito deles, com qualquer propriedade, como é dito dessas quatro criaturas viventes, que eles se ajoelham diante de Deus, e O adoram, e são redimidos pelo sangue do cordeiro; além disso, esses quatro são representados como chamando João no inícios dos quatro selos para vir e ver o que estava para acontecer; e um deles é dito como dando aos sete anjos um tigela com a ira de Deus para despejar, Ap 5:8, para o qual pode ser acrescentado que esse sentido pode ser sustentado de forma inconveniente, visto fazer de João uma das quatro criaturas: nem são particularmente quatro apóstolos, como Pedro, João, Paulo e Barnabé, como outros pensam; nem a igreja apostólica pura, pois a igreja é representada pelos vinte e quatro anciãos e essas quatro criaturas são diferenciadas  dos cento e quarenta e quatro mil no Monte Sião em Ap 14:1. Dr. Goodwin htem um pensamento muito ingênuo sobre essas palavras; ele acha que essas quatro criaturas viventes se referem a quatro oficiais na igreja Cristã, o ancião presidente, o pastor, o diácono, e o instrutor; o ancião presidente pelo “leão”, que precisa de coragem para ligar com homens em caso de pecados; o pastor pelo “boi”, por sua laboriosidade ao pisar o grão; o diácono pelo que tem a “face de um homem”; para que ele possa demonstrar misericórdia e piedade pelo pobre,como é o coração do homem; e o instrutor pela “águia alada”, que é rápida para encontrar erros, e investigar os mistérios: mas, então, pode ser observado, de que não há tal oficial como ancião presidente na igreja, distinto do pastor; e que o pastor e o instrutor são um, de forma que há apenas dois oficiais na igreja, o pastor e o diácono; veja Filip 1:1; do qual pode ser acrescentado que as quatro criaturas viventes estão todas na mesma situação, e são igualmente cheias de olhos, e têm o mesmo número de olhos, e têm o mesmo número de asas, e são empregados no mesmo trabalho; tudo isso não pode ser dito também dos oficiais na igreja. Por essas quatro criaturas viventes, eu entendo, são os ministros do Evangelho no geral, nas eras sucessivas da igreja, e a quem todas as características bem se harmonizam. E embora não possa ser achado em todo mundo, pelo menos uma coisa em todos eles, ainda são um, e neles todos considerados. Eles são mencionados como sendo “quatro”, sendo poucos em número do que os membros das igrejas, que são significados pelos vinte e quatro anciãos, e ainda um número suficiente; e em alusão aos quatro padrões do acampamento de Israel no ermo, a qual parece haver alguma referência ao inteiro relato: como o tabernáculo era colocado no meio, assim o trono de Deus aqui; assim como os sacerdotes e os Levitas estavam ao redor dele, assim os vinte e quatro anciãos aqui; e havia sete lâmpadas com os candelabros no tabernáculo, queimando continuamente, de forma que há sete espíritos aqui diante do trono; e havia quatro príncipes, que eram os sustentadores das colunas, colocadas nos quatro cantos do acampamento, assim aqui quatro criaturas, ou ministros da palavra, que são sustentadores das colunas da verdade: a coluna de Judá, com Issacar e Zebulão com ele, estava no Leste do Tabernáculo, e Efraim, de Manassés e Benjamim, no oeste; Rúben, com Simeão e Gade, ao sul, e Dan, com Asher e Naftali , no norte, e os escritores judaicos dizem (u), que a coluna de Judá era a figura de um leão, na figura de Efraim, de um boi, a figura de Rubem o de um homem, e na figura de Dan a de uma águia; e para a qual os quatro seres viventes são comparados aqui. E este número “quatro” pode ser o bastante mencionado, no que diz respeito às quatro partes do mundo, e os cantos da terra, onde os ministros do Evangelho, são enviados a pregar, e para onde sua comissão deve atingir; havendo dos eleitos de Deus em todas as partes a serem recolhidos pelo ministério deles, e eles podem muito bem ser chamado de “criaturas vivas”, porque eles estão vivos em si, sendo vivificados pelo Espírito de Deus, ou de outra forma não seriam aptas para o trabalho e porque o seu trabalho exige vivacidade no exercício da graça, e fervor no cumprimento do dever: e porque eles são um meio na mão de Deus de vivificar os pecadores mortos, e de reviver santos caídos pela palavra da vida, que eles discorrem: a situação dos quatro seres viventes concorda com eles, que estão a ser dito, tanto no meio, e ao redor do trono, e assim estavam mais próximos a Ele do que os vinte e quatro anciãos, que estavam entre eles e, como os ministros do Evangelho são definidos em primeiro lugar na igreja, tem proximidade com Deus, e muito de Sua presença, que é particularmente lhes prometido, ficar entre Deus e o povo, e receber um e comunicar outro, e levar à adoração de Deus, como estes quatro fazem; ver Ap 4:9. E estes devem ser dito:

Cheio de olhos;... De luz espiritual, e conhecimento evangélico, e têm necessidade de que todos os olhos possam  olhar para as Escrituras da verdade, a buscar e descobrir o sentido e o significado dos mesmos; vigiar o rebanho que eles tomaram;por supervisão; ao olhar para si mesmos, a sua doutrina e a sua conduta, a espiar os inimigos e perigos, e dar conhecimento dos mesmos para as igrejas, a olhar para Deus sobre o trono, e ao Cordeiro, no meio, para novos suprimentos de dons e graça, e para ver a ele, que todas as suas ministrações tendem para a glória de Deus, a honra de um Redentor, e para o bem das almas. E tinham os olhos


Na frente e atrás;... “Na frente” deles, para olhar para a palavra de Deus, e as coisas no fundo, o que continuamente se encontra diante de si, e para as coisas que ainda estão por vir relacionadas com o Reino e a Igreja de Cristo, e “atrás” deles, para observar como todos os sacrifícios e os tipos, as previsões e promessas, tiveram a sua realização em Cristo; eles têm os olhos diante de si para a atenção sobre a igreja que está no meio, e que é o rebanho que está diante deles, e os olhos para trás, para os proteger contra Satanás e seus emissários, os falsos mestres, que, por vezes, às escondidas e em segredo, vem sobre eles, pois eles têm os olhos, na frente deles, para olhar para Aquele que está sentado no trono, a Quem está a dependência deles, e de quem são as suas expectativas, e eles têm os olhos por trás deles, para olhar para os vinte e quatro anciãos, os membros das igrejas, a quem eles ministram.


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Notas
(p) Zohar em Numb. fol. 90. 3; 92. 1; em Lev. fol. 24. 3; em Deut. fol. 118. 4. Tikkune Zohar apud Rittangel. not. em Jetzira, p. 133, 134.
(q) Ganz. Tzemach David, par. 1. fol. 46. 2; 47. 1, 2.
(r) Bemidbar Rabba, sect 2. fol. 179. 1. Vid. Pirke Eliezer, c. 4.
(s) Zohar em Numb. fol. 91. 3.
(t) Raya Mehimna em Zohar em ib. fol. 95. 4.
(u) Aben Ezra em Numb. ii. 2.


Fonte: John Gill's Exposition of the Entire Bible de Dr. John Gill (1690-1771)