Jesus foi Grosso com Sua Mãe?

MALTRATOU, JESUS, MARIA, MÃE, ESTUDO BIBLICOS, TEOLOGICOS
Certa vez um Senhor me disse que achava Jesus uma pessoa extremamente grossa. Perguntei-lhe porque pensava assim. Ele me disse que sua esposa estava ouvindo a Bíblia sendo narrada por Cid Moreira, e relatou uma passagem onde Jesus havia dito a sua mãe: “mulher, eu não tenho nada a ver com você.”

Na hora, eu logo me lembrei da provável referência que ele estava fazendo de memória. Ele estava citando, mesmo que de maneira distorcida, João 2:4. Antes de responde a essa acusação, vamos comentar um pouco sobre o contexto dessas palavras em nosso estudo bíblico.

Fazia apenas um ou dois dias que André, Pedro, João, Filipe, Natanael e talvez Tiago se tornaram os primeiros discípulos de Jesus. Agora eles estão a caminho de casa, para o distrito da Galiléia, de onde todos são. Seu destino é Caná, a cidade natal de Natanael, situada nas colinas não muito distantes de Nazaré, onde o próprio Jesus foi criado. Eles foram convidados para uma festa de casamento em Caná.

A mãe de Jesus também veio ao casamento. Como amiga da família dos noivos, parece que Maria está envolvida em atender às necessidades dos muitos convidados. Assim, ela logo nota que está faltando uma coisa e conta isto a Jesus: “Eles não têm vinho.”

Assim, quando Maria, com efeito, sugere que Jesus faça algo a respeito da falta de vinho, de início Jesus reluta. “Que tenho eu que ver contigo?”, pergunta ele. (Cf. O Primeiro Milagre de Jesus)

Em primeiro lugar, consideremos o uso do termo “mulher” por Jesus. Na linguagem moderna, dirigir-se alguém à mãe chamando-a de “mulher” talvez parecesse desrespeitoso, como pareceu para esse senhor a quem me referir no início desse estudo bíblico. Mas, conforme observa o tradutor E. J. Goodspeed, a palavra grega usada em João 2:4 “não é nem tão distante como [a moderna palavra mulher], nem tão afetuosa como” mãe. Sua força de expressão tem um alcance amplo, e, conforme é usada neste caso, dá a entender certo grau de respeito e afeto. — Greek-English Lexicon, de Liddell e Scott.

Tanto os anjos como o ressuscitado Jesus usaram esta palavra para se dirigir a Maria Madalena, quando ela chorava de tristeza junto ao túmulo de Cristo; eles certamente não teriam sido ríspidos ou desrespeitosos. (João 20:13, 15) Na sua execução, Cristo usou a mesma maneira de se dirigir à sua mãe ao mostrar preocupação com ela, encomendando-a aos cuidados de seu amado apóstolo João. (João 19:26; veja também João 4:21; Mateus 15:28.) Por conseguinte, Jesus não era desrespeitoso quando usou esta palavra em Caná. Antes, podemos ter a certeza de que, ao falar, Ele se dava conta de Sua obrigação bíblica de honrá-la, assim como mais tarde salientou aos escribas e fariseus. — Mat. 15:4.

A expressão: “O que tenho eu que ver contigo”, é uma antiga forma de pergunta hebraica encontrada muitas vezes na Bíblia. (2 Sam. 16:10; 1 Reis 17:18; 2 Reis 3:13; Mar. 1:24; 5:7) Pode ser traduzida literalmente: “O que temos nós [ou eu] e tu em comum?” e é uma forma de rejeição. A severidade dela dependeria, naturalmente, do tom do orador. Indica objeção à coisa sugerida. — Compare isso com Esdras 4:3 e Mateus 27:19.

Quando Jesus usou esta expressão, Ele já era o Cristo e Rei designado de Deus. Não era filho jovem que vivesse na casa de sua mãe e sob a supervisão direta dela. Aceitava então a sua orientação de Deus, Quem o enviara. (1 Cor. 11:3) Portanto, quando a mãe dEle, pela sua declaração, de fato lhe dizia o que devia fazer, Jesus resistiu ou objetou. No que se referia ao Seu ministério e Seus milagres, não se deixaria orientar pelos amigos ou pela família. (João 11:6-16) A resposta de Jesus mostra que, quando chegasse o tempo para Ele agir em certa situação, Ele o faria. Sabia quando era o tempo de ação nesta questão e não precisava ser incitado.

Maria, evidentemente, não tomou as palavras de Jesus como séria repreensão, mas compreendia o tom dEle. Tanto que, ao invés de chocada, ela disse: “Fazei tudo quanto ele vos disser.” (v. 5) Ela jamais diria isso se Ele tivesse respondido de um jeito que a deixasse ridicularizada na frente dos outros. O versículo dá a entender que Cristo falou de maneira bondosa, compassiva, e de tal forma que Maria sentiu que Ele estava disposto a fazer algo para o bem daquelas pessoas.

Pode-se acrescentar que, “no grego, qualquer brusquidão na pergunta era abrandada, não aumentada, pelo uso da palavra [mulher] junto com ela, como termo de afeto ou respeito”. — Problems of New Testament Translation, p. 100.

Assim, concluímos claramente que Jesus Cristo, de forma alguma, tratou mal, ou de forma grosseira, Sua mãe, mas cooperou em ajudar a acabar com a preocupação altruísta da dela. — Cf. Como Deus e Cristo Encaram as Mulheres